quinta-feira, 31 de julho de 2008

Trailer do novo Harry Potter (legendado)


Já está na rede o arrepiante trailer de Harry Potter e o Enigma do Príncipe, sexto e penúltimo filme da série, que chega aos cinemas no dia 21 de novembro. No papel de Voldemort aos onze anos, Hero Fiennes-Thiffin, sobrinho de Ralph Fiennes. Confiram!


quarta-feira, 30 de julho de 2008

Era Uma Vez... No Oeste


A merecida badalação em torno do Coringa, personagem derradeiro e inesquecível de Heath Ledger, despertou em mim uma súbita urgência de rever Brokeback Mountain. Queria ver se a dolorida história do amor proibido dos caubóis me emocionaria pela terceira vez (na época de seu lançamento nos cinemas, assisti ao filme duas vezes e me peguei chorando em ambas). Queria, sobretudo, comparar essas duas interpretações tão distintas criadas por um mesmo talentoso ator. De um lado, a brutal repressão dos desejos; de outro, a liberação irrestrita dos mesmos.

Muitas piadinhas já foram feitas a respeito de Brokeback Mountain. É o preço que se paga por desmistificar o último rincão da masculinidade americana: o caubói. Ennis Del Mar e Jack Twist vivem de pastorear ovelhas. Twist por vezes se arrisca em rodeios, no lombo do touro, mas ambos são, basicamente, trabalhadores braçais. Durante um desses trabalhos, na montanha Brokeback do título, os dois se apaixonam após alguns meses de convivência em que o sedutor Jack de Jake Gyllenhaal pouco a pouco vence as resistências do taciturno Ennis de Heath Ledger. Ambos têm dezenove anos e Ennis está prestes a se casar, tão logo a temporada na montanha esteja concluída. A partir deste momento, a trama acompanha vinte anos na vida dos dois.

Brokeback Mountain é um filme tão árido quanto suas paisagens. Seco, de poucas palavras, ausente de juras por um amor que nem deveria estar acontecendo na opinião de Ennis. Não deveria conseguir induzir o espectador a se identificar, mas apesar disso – ou talvez por causa disso – é difícil reprimir um nó na garganta em diversas passagens do longa, que emociona justamente pela força e angústia do não-dito, do não-realizado. Pela busca desesperada em superar um sentimento tão violento quanto inconveniente. Pelo avassalador buraco que a ausência da cara-metade abre no peito dos protagonistas. Aliás, podemos eleger “ausência” a palavra-chave da história. Podemos sentir isso na compulsão que leva Jack a procurar consolo em garotos de programa mexicanos, só para aplacar a dor que sente por Ennis não conseguir assumir a relação deles nem mesmo depois de divorciado.

O argumento essencial de Brokeback Mountain não está restrito ao universo do amor entre pessoas do mesmo sexo. Pelo contrário, trata-se de uma questão de alcance universal. O ponto nevrálgico do filme é ter coragem ou não de jogar tudo pro alto para ficar ao lado de quem se ama. Disposição que Jack parece ter de sobra enquanto Ennis sempre é paralisado por seus horrores. O que leva a outro aspecto bacana do filme, que é o de não vilanizar fatores externos. Claro que existe uma sombra de ameaça no ar, mas Ennis, assim como Macbeth, é seu maior antagonista. Um trauma de infância e o medo de dar um passo irreversível o congelam numa atitude de infeliz resignação. A sociedade e a família, embora presentes, não são determinantes no destino dos protagonistas.

O filme acendeu todas as fogueiras, dividindo opiniões e incomodando os conservadores por conta da abordagem direta da atração entre os rapazes. A seqüência da primeira noite entre Jack e Ennis, além de inesperada, mostra sem pudores o tesão incontrolável que leva Ennis a esquecer, naquele instante de entrega, tudo que ele pensava a respeito de si mesmo. Poucos filmes têm coragem de colocar na tela uma cena assim, totalmente isenta do caricato que costuma estar associado a tal situação.

Por fim, não se pode falar deste filme sem exaltar o talento e disponibilidade de Heath Ledger e Jake Gyllenhaal. Notoriamente heterossexuais, os atores deixaram de lado qualquer acanhamento para viver com entrega cativante esses dois grandes personagens. Heath, em especial, teve uma atuação inesquecível. Ennis Del Mar é um personagem complexo, repleto de contradições e silêncios eloqüentes. E o ator encontrou o ponto de equilíbrio perfeito. Atenção para a cena dele com a filha no trailer, é de cortar o coração. Heath conseguiu sua primeira indicação ao Oscar com esse papel – existe toda uma comoção no sentido de que a segunda, póstuma, venha pelo Coringa. Tomara que dessa vez a indicação de converta em prêmio, já que não haverá uma nova chance de que isso aconteça.

De qualquer modo, Brokeback Mountain é um filme que vale a pena rever. O longa deu ao taiwanês Ang Lee seu primeiro Oscar de melhor direção e só perdeu a estatueta de melhor filme graças à amarelada final da Academia (vocês devem se lembrar da perplexidade da equipe de Crash ao ser anunciada como vencedora). Mas tudo bem. O filme começou sua trajetória vitoriosa no Festival de Veneza de 2005 e, depois disso, conquistou mais de quarenta prêmios por todo o mundo.

Frase do Dia



- "Eu odeio múmias. Elas nunca jogam limpo."

(John Hannah, em A Múmia - A Tumba do Imperador Dragão, ao ver que a dita cuja está usando os elementos da natureza contra ele e seu grupo)

A Múmia – A Tumba do Imperador Dragão


A Múmia, primeiro filme desta trilogia, surgiu em 1999 como uma tentativa de preencher o vácuo cinematográfico deixado por Indiana Jones. Ambição que logo de cara se revelou exagerada, quase herética. Porque, como qualquer cinéfilo bem sabe, Indiana Jones é único e insubstituível. O que não quer dizer que A Múmia seja um filme ruim. É uma aventura com tons de comédia bem agradável de se assistir. Pipoca pura, claro, mas ainda assim um filme simpático. Grande parte do mérito repousa sobre os ombros largos de Brendan Fraser e o sorriso bonito de Rachel Weisz, já que a boa química da dupla central era, juntamente com a despretensão, o grande acerto do filme. Sua inevitável sequência, O Retorno da Múmia (2001), podia não possuir o charme de seu antecessor – além de ser uma espécie de campeão de erros de continuidade –, mas continuava sendo ótima diversão. É mais ou menos como certos filmes dos anos 80: você até admite que não são lá essas coisas, mas não consegue evitar gostar. Já este terceiro filme deixa claro que a graça se esgotou no segundo. Mesmo alguém que, como eu, é simpática à franquia não pode deixar de constatar que retomar as aventuras do caçador de tesouros Rick O'Connell foi um erro.

Em primeiro lugar, há o problema incontornável da agora oscarizada Rachel Weisz ter se recusado a participar do longa. Via de regra, eu já acho complicado por natureza essa história de um ator assumir o papel de outro. Mas algumas vezes funciona. A troca foi quase imperceptível no caso de Richard Harris por Michael Gambom em Harry Potter e até mesmo um ganho no caso de Katie Holmes por Maggie Gyllenhaal em Batman. Mas no caso deste filme, a substituição ficou estranha. O que não é culpa de Maria Bello, que é boa atriz e se esforça a ponto de reproduzir um sotaque e tom de voz bem parecido com o de Rachel Weisz... Mas simplesmente não é a mesma coisa. Não há aquela mesma atmosfera de paixão pelo perigo e um pelo outro que rolava entre o casal anterior.

A trama desta vez foi deslocada para a China (aproveitando o oba-oba das Olimpíadas?) e se passa uns dez anos após o segundo filme – dedução feita pelo fato do menino Alex estar adulto, já que Brendan Fraser continua com a mesma cara. O prólogo conta a história do imperador Han, que por conta de sua crueldade e obsessão pela imortalidade, foi amaldiçoado por uma feiticeira e virou uma estátua de terracota juntamente com seu imenso exército. Corta para nossos protagonistas. Rick e Evy estão aposentados: ela escreve livros inspirados nas aventuras vividas nos filmes anteriores e Rick... Bom, Rick parece não estar fazendo nada da vida. Já seu cunhado Jonathan agora vive na China e é dono de uma badalada boate chamada Imhotep (boas piadas o filme continua tendo). Alex, que deixou a faculdade sem pedir permissão aos pais, encontra-se numa escavação na China e descobre a tumba amaldiçoada do imperador. O que ele não sabe é que seus pais aceitarão uma missão diplomática para levar um perigoso artefato de volta ao governo chinês. Preciso dizer que o tal artefato tem a ver com ressuscitar mortos?


Não vou nem criticar a incrível cara-de-pau dos roteiristas, que se valeram de uma relíquia arqueológica real – o exército dos guerreiros de terracota, parcialmente exposto em São Paulo há alguns anos – para criar essa trama maluca. Verossimilhança nunca foi o forte de nenhum filme deste gênero. E o grande problema deste A Tumba do Imperador Dragão nem é fazer uma salada com direito a abominável homem das neves e tudo. O problema é parecer uma cópia pálida de O Retorno da Múmia, apenas trocando a nacionalidade das mesmas. A sequência do enfrentamento entre o exército do imperador Han e dos cadáveres de seus inimigos é quase um clone daquela do segundo filme em que os beduínos enfrentam o exército do escorpião-rei. E não é só: de novo, temos o aviãozinho teco-teco que faz peripécias, nossos heróis enfrentando elementos da natureza, a múmia decrépita que vai ficando jovem, museólogos corruptos, guardiões do Bem misteriosos e, para piorar, um dos personagens centrais sendo salvo das garras da morte por forças ocultas. A sensação de deja vu é inevitável!

O que salva o longa do desastre ainda é seu bom humor e leveza, que continuam intactos. Isso pode ser constatado na quantidade de piadinhas internas. Um exemplo? Quem não se lembra em O Retorno da Múmia quando Rick as vê pelas primeira vez e resmunga “Ah, eu odeio as múmias” como quem acha natural encontrá-las? Pois bem. Nesse filme, ele repete a fala, destacando “Eu realmente odeio as múmias”. Já Jonathan, ao ver Han usando os quatro elementos para atingi-los, bate o martelo sobre o caráter das ditas cujas: “Eu odeio múmias. Elas nunca jogam limpo”.

Sobre o elenco, além da já citada troca de atrizes, há a desvantagem de parte da trama se apoiar no casalzinho insosso formado por Alex O'Connell e Lin, uma das guardiãs da tumba. Será que o interesse romântico deles não convence por não fazer sentido ou pelos personagens serem interpretados pelos fraquíssimos Luke Ford e Isabella Leong? Difícil saber. Sem contar que Ford parece adulto demais para ser filho do jovial Brendan Fraser (na vida real, eles têm 12 anos de diferença). Em contrapartida temos o carismático Fraser cada vez mais à vontade no papel e o alívio cômico de John Hannah (o Jonathan), além da bela presença de Michelle Yeoh como a feiticeira que frustrou os planos do ambicioso imperador. Já o astro Jet Li, a múmia da vez, parece estar mais no elenco como uma participação luxuosa. Seu personagem é mal-construído e lembra um lutador de kung-fu dos dias de hoje ao invés de um imperador. De qualquer modo, vale a curiosidade de ver Li e Michelle lutando – não me lembro desses dois ícones das lutas marciais terem se enfrentado antes.

Assim como os sarcófagos, existem outras coisas que devem ser deixadas em seu descanso eterno. Espero que os produtores sejam mais sábios do que a família O' Connell e não voltem a desenterrar essas múmias.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Will no Topo


Eis que a Revista Forbes publicou seu tradicional ranking dos atores mais bem pagos de Hollywood. A medalha de ouro foi para Will Smith, que engordou sua conta em nada menos que 80 milhões de dólares nos últimos doze meses. Em segundo lugar, com oito milhões a menos, vem o incrível Johnny Depp e, em terceiro, Eddie Murphy (55 milhões). Entre as mulheres, a mais bem paga, Cameron Diaz, ganhou menos do que o terceiro da lista masculina: 50 milhões. O segundo e terceiro lugar ficaram, respectivamente, com a inglesa Keira Knightley (32 milhões) e a ex-estrela do seriado Friends Jennifer Aniston (27 milhões).

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Ensinando a Viver


John Cusack é um ator de primeira. Tê-lo no elenco de qualquer filme é uma espécie de selo de qualidade. O cara não apenas abrilhanta histórias que já seriam boas de qualquer modo – como Alta Fidelidade – como também eleva o nível de filmes que dificilmente sairiam do terreno da mediocridade sem ele. Exemplos não faltam, desde a comédia romântica Escrito nas Estrelas até o terror 1408. Quando se junta com a também ótima irmã Joan, então, é bom programa na certa. Pois são justamente os irmãos Cusack, dividindo a telona pela nona vez, o grande acerto de Ensinando a Viver.

John é David Gordon, um imaginativo escritor de livros de ficção científica que cresceu se sentindo como alguém que não pertencia a este planeta. Por trás da imagem de excêntrico que sempre o acompanhou, David é um solitário. Sua esposa morreu há dois anos, o que o deixou ainda mais retraído, a despeito de seu desejo reprimido de ser pai.

Tudo muda quando ele conhece Dennis, um órfão problemático que vive mergulhado em um mundo de fantasia onde ele seria um extraterrestre numa expedição de reconhecimento pela Terra. David imediatamente se identifica com o garoto e decide adotá-lo, porque acredita que somente ele será capaz de integrar Dennis ao mundo real. Mas é claro que conquistar o coração e a confiança do pequeno marciano não será tão fácil assim.

OK. Esse é mais um daqueles filmes fofos com mensagens edificantes sobre a importância de ter uma família e pessoas que te amem exatamente do jeito que você é. Confesso que não simpatizo muito com o estilo, o que só torna mais meritório para o filme o fato de eu ter gostado dele. É claro que a já citada presença de John & Joan Cusack contribui, e muito, mas o filme tem lá seus méritos. O roteiro é redondinho e bem-humorado e sabe tirar partido da boa química entre John e o garoto Bobby Coleman.

Pena que, mais uma vez, o título em português seja de uma falta de criatividade impressionante. Além, é claro, de sacrificar a ótima sacada do original Martian Child (criança marciana). Mas quem seria essa criança marciana, Dennis ou David? Um duplo sentido semelhante ao que ocorre em Um Grande Garoto. Não por acaso, ambos os filmes têm diversos pontos em comum.

Vale a pena dar uma espiada, nem que seja para descansar um pouco dos super-heróis.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Viagem a Darjeeling


Já saiu em DVD o mais recente longa de Wes Anderson. O cineasta costuma dar uma pausa de três a quatro anos entre seus filmes. O último foi o ruinzinho A Vida Marinha com Steve Zissou (aquele em que o Seu Jorge cantava versões de músicas do David Bowie), em 2004. Antes dele, Anderson dirigiu, em 2001, o surpreendente Os Excêntricos Tenenbaums. Felizmente, seu novo trabalho está mais para Tenenbaum do que para Zissou. Este Viagem a Darjeeling – no original, O Expresso Darjeeling – tem como protagonistas três irmãos que não se vêem há mais de um ano, desde o traumático funeral do pai, e que se reencontram para uma viagem de trem pelos confins da Índia, durante a qual supostamente deveriam se reconciliar e, de quebra, empreender uma jornada espiritual.

O longa é muito original e sarcástico. Logo na cena de abertura, vemos Bill Murray - ator de estimação de Anderson - correndo para pegar um trem. Enquanto estamos concentrados no seu esforço, Murray é ultrapassado por Adrien Brody, que literalmente surge do nada e consegue pegar o trem. E fica por aí a participação de Bill Murray, como se ele não aparecesse mais no filme justamente por ter perdido o trem. E é esse tipo de humor bizarro e inteligente que pontua toda a louca jornada desses irmãos cheios de traumas e idiossincrasias, sempre explorando a máxima “olhando de perto, ninguém é normal”. Também há que destacar a perfeita sintonia do elenco com o espírito de anarquia do longa e a adequada trilha sonora. Enfim, o filme é diversão garantida. Ótima pedida.

Confiram vocês mesmos. Se eu contar muita coisa, perde a graça.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

A Ilha da Imaginação


Ao final de A Ilha de Imaginação a pergunta que não quer calar é apenas uma: por que cargas d'água Jodie Foster, do alto do poder conferido por seus dois Oscars, se meteu nessa roubada? A história não tem a mínima plausibilidade e resulta num misto de aventura e fantasia que deve parecer esquizofrênica até para as mais crédulas crianças. Claro que no universo da magia tudo é possível, desde que os códigos deste universo sejam definidos e respeitados. E, para começo de conversa, o filme não chega nem a se decidir entre enveredar pela aventura pura e simples ou abraçar a fantasia. O resultado é um longa frouxo e sem unidade.

A história é centrada em Nim, uma garotinha de onze anos que vive numa ilha paradisíaca com seu pai, o cientista Jack. Como ela mesma frisa numa narração no começo do filme, seu pai não permite que ninguém ponha os pés na ilha porque quer manter o local intocado e escondido de outras pessoas (o que não fica claro é com que direitos, mas tudo bem). Até mesmo o navio de suprimentos é proibido de ancorar muito perto da praia, tendo que esperar que Jack e Nim os encontrem longe da costa. Mas, inexplicavelmente, a casa deles tem luz elétrica, telefone e internet de última geração.

Nim é aficionada pelos livros de aventura pseudo-autobiográficos de Alex Rover, mas desconhece que as aventuras que tanta a encantam são escritas por Alexandra Rover, uma agorafóbica que não sai de casa há vários meses. Um dia, quando Jack está fora numa espécie de expedição, Nim percebe que seu pai recebeu um e-mail de Alex Rover, pedindo informações sobre o vulcão da ilha onde eles vivem (estranho que Jack seja tão ferrenho em esconder sua ilha e não se importe em dar entrevistas sobre ela). Nim começa a se corresponder com Alex – na verdade, Alexandra – e é a pessoa para quem ela pede ajuda quando Jack se perde no mar e não retorna para casa no dia previsto.

Já viram tudo, né? A mulher que tem medo até de pegar a correspondência na caixa de correio pega um avião e se dispõe a ir ajudar uma garotinha que ela nunca viu antes. Pior do que isso só o paizão perdido no meio do mar e gritando para o infinito “Nim, eu prometo que voltarei para você”. Patético.

No meio disso tudo, ainda tem uns animais que se comunicam com as pessoas e sabem do que elas precisam e a intrepidez de Nim para afugentar uns turistas que desembarcam para um piquenique em sua ilha justo quando o pai está ausente. A pequena vira uma espécie de Indiana Jones misturado com o garotinho Kevin de Esqueceram de Mim. Ah! Já ia esquecendo de mencionar: Alexandra tem um amigo imaginário que seria a projeção do herói que ela mesma criou e ele tem as feições do pai de Nim. Conveniente, né?

Abigail Breslin, a miss sunshine, é sempre uma gracinha em cena. Mas até mesmo esse trunfo não pode ser apreciado a contento aqui no Brasil, já que o filme chega aos nossos cinemas com 100% das cópias dubladas. No mais, Gerard Butler se esforça para dar conta de seu papel duplo, apesar de suas falas não ajudarem muito, e Jodie Foster precisa rever seus critérios de aceitação de novos trabalhos. Porque realmente não dá para entender uma atriz do seu escalão num filme desses.

Para quem tiver que levar os pimpolhos ao cinema, é bem mais negócio optar pelo engraçadinho Kung Fu Panda. Ou até mesmo a aventura meia-boca Viagem ao Centro da Terra. A Ilha da Imaginação exige muito mais boa-vontade do que nossa imaginação pode suportar.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Cine-Teatro Limite


Imaginem a exuberância visual e musical de Moulin Rouge misturada com a piração metalinguística dos roteiros de Charlie Kaufman, com algumas pinceladas dos dilemas existenciais dos personagens de Woody Allen. Imaginaram? Agora embalem esse caldeirão de influências num texto dinâmico, inteligente e extremamente bem-humorado. E entreguem o produto final a oito atores de primeiríssima linha. Habemus um dos espetáculos mais surpreendentes (no bom sentido) do ano.

Cine-Teatro Limite é ambientado no Rio de Janeiro dos anos quarenta. Conflitos presentes no cotidiano dos cidadãos, como o temor de lutar na guerra, a crise econômica que tirava a carne da mesa e o dualismo entre a popularidade de Getúlio Vargas e a truculência de sua polícia especial convivem lado a lado com o glamour dos shows do Cassino da Urca e as divas hollywoodianas que invadem as telas de cinema. É nessa atmosfera que somos apresentados ao protagonista Sábato, um jovem desempregado e inconformado que sonha se tornar um comediógrafo de sucesso e, assim, escapar da pressão do pai para que se acomode num empreguinho qualquer. E ele já tem um plano traçado: venderá o roteiro de sua comédia musical Deu o Breque em Berlim ao famoso comediante Totorito e finalmente sairá da casa dos pais para viver sua vida do jeito que bem entender. Durante o processo de criação, Sábato começa a basear seus personagens nas pessoas com as quais convive e o limite entre realidade e ficção vai se tornando cada vez mais difuso.

A descrição que Sábato faz de seu roteiro como uma "comédia dramática musical romântica e metafísica" bem poderia se aplicar ao espetáculo que assistimos. Porque Cine-Teatro Limite tem de tudo um pouco: a trama provoca risadas, nostalgia e ternura. E também é muito agradável em termos estéticos. Um grande destaque é o modo como o texto dialoga com o espectador, fazendo referências intertextuais externas. Isso fica bem evidente na figura do apresentador, responsável por essa conexão entre a platéia e os personagens. Também é muito bem-feita a apresentação dos desdobramentos entre as pessoas "reais" da história e os personagens do roteiro de Sábato. A direção precisa e o preparo corporal e vocal dos atores faz com que essa diferenciação seja sempre muito clara, resultado que nem sempre é fácil de obter no teatro considerando as limitações de um espetáculo ao vivo. Aliás, o elenco composto por Erica Migon, Isaac Bernat, Rodrigo Pandolfo, Celso André, Alex Pinheiro, Gustavo Wabner, Keli Freitas e Álvaro Diniz consegue o feito de ser tão afinado a ponto de não conseguirmos eleger um único ator como destaque. Todos, sem exceção, conjugam um excelente timing para comédia com uma intensidade dramática que faz com transitem do escracho para o sentimental com grande naturalidade. Trabalho de grupo mesmo, coisa que anda faltando na arte em geral.

O autor Pedro Brício, que se firma cada vez mais como expoente da nova dramaturgia carioca, está aí para contrariar essa idéia meio institucionalizada de que há escassez de novos autores para teatro. Pedro, que já foi agraciado com um Prêmio Shell há dois anos (por A Incrível Confeitaria do Senhor Pellica), usa as influências de sua formação cinematográfica para criar um texto original e de apelo universal e ainda divide a direção do espetáculo com Sergio Módena. A dramaturgia passeia entre os mais diversos gêneros mas, ao mesmo tempo, não deixa de manter uma unidade harmoniosa.

Cine-Teatro Limite está em cartaz no Teatro Glória (quinta a sábado às 20h e domingo às 19h) e a temporada vai até 31 de agosto. Não deixem de conferir!

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Viagem ao Centro da Terra - O Filme


Os filmes em 3D foram uma febre que se extinguiu rápido nos anos 80. Era meio incômodo – para não dizer constrangedor – ter que assistir ao filme inteirinho usando aqueles óculos de papelão. Passadas duas décadas, o problema foi solucionado e agora finalmente é possível assistir aos filmes em 3D sem tal artifício. Seria ótimo, se não fosse a escassez de salas de cinema equipadas para projetar um filme em 3D. Quem quiser assistir a Viagem ao Centro da Terra com tudo que tem direito aqui no Rio tem apenas duas opções: o Cinemark Downtown e o UCI Kinoplex Norteshopping. Quem ficar com a versão unplugged, vai ver apenas uma aventura juvenil dessas que passam aos montes na Sessão da Tarde.

O roteiro faz uma releitura da história de Julio Verne, escrita em 1864, trazendo-a para os dias de hoje e adaptando uma série da situações. O geólogo americano Trevor Anderson finalmente encontra uma pista para o desaparecimento de seu irmão Max, um obstinado pesquisador de fenômenos sísmicos, e parte para a Islândia disposto a encontrá-lo. O problema é que seu sobrinho Sean, de 13 anos (filho de Max), acabou de chegar para passar dez dias com ele enquanto a mãe está arranjando a mudança de ambos para o Canadá. Impaciente, Trevor não vê outra solução a não ser levar o garoto com ele na expedição. Para guiá-los, eles contarão com a ajuda da islandesa Hannah.

Brendan Fraser interpreta aqui uma versão mais moderada de Rick O' Connell, seu personagem em A Múmia e O Retorno da Múmia. Coincidentemente, o terceiro filme da série está para estrear dentro de algumas semanas. Uma curiosidade é ver Josh Hutcherson – o garotinho precoce que se apaixona pela melhor amiga em ABC do Amor – bem crescidinho no papel de Sean. Os dois são simpáticos e passam uma boa química como tio e sobrinho. Já Anita Briem parece estar no longa só para enfeitar e servir de alívio romântico para os rapazes. Detalhe: na história original, o guia era um homem.

O filme marca a estréia na direção de Eric Brevig, supervisor de efeitos visuais de filmes como O Dia Depois de Amanhã e Twister. E, tirando o barato dos efeitos, sobra apenas uma aventura infanto-juvenil das mais requentadas. Cavernas, monstros, espécimes exóticos de todos os tipos, quedas espetaculares... e por aí vai. Até corrida de carrinhos em mina abandonada tem, no melhor estilo Indiana Jones. Destaque para a seqüência na jangada, com os personagens cercados por peixes ferozes. O filme distrai, é verdade. Mas nada além disso para quem tem mais de quinze anos.

sábado, 12 de julho de 2008

Frase do Dia


- "Ou você morre como herói ou vive o bastante para se tornar o vilão."


(Harvey Dent, o futuro vilão Duas Caras, em Batman - O Cavaleiro das Trevas)

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Veja de Novo, Sam!


Afinal, qual o segredo do eterno fascínio que Casablanca vem exercendo sobre as platéias ao longo das décadas? O filme, rodado em 1943, já tem a respeitável idade de 65 anos e continua apaixonando cinéfilos de todas as idades à medida que o tempo passa, como diz a inesquecível música-tema. Alguns atribuem tamanha longevidade ao carisma dos astros Humphrey Bogart e Ingrid Bergman. Outros, aos acordes mágicos de As Time Goes By, capazes de provocar imediata nostalgia e evocar amores perdidos em qualquer um. Ou seria a equilibrada mistura de romance e drama político que tanto encanta? Não importa. Casablanca é daqueles clássicos eternos que sempre terão destaque em qualquer lista que se faça. Não é à toa que foi o campeão em uma pesquisa feita pela AFI – American Film Institute – a respeito dos 100 maiores filmes de amor de todos os tempos, embora não seja exatamente um filme de amor. Ou, pelo menos, não é um filme apenas sobre isso.

Até mesmo o sarcástico Woody Allen se rendeu ao charme do filme em seu projeto conjunto com Herbert Ross, Sonhos de um Sedutor, onde recebia conselhos do fantasma de Bogart. Bryan Singer foi outro a homenagear o clássico, batizando seu longa de estréia como The Usual Suspects (em português, apenas Os Suspeitos) em referência a uma famosa frase do filme, quando o inspetor Renault diz: arrest the usual suspects (prendam os suspeitos habituais). A verdade é que diferentes gerações já se renderam a essa excepcional história que conjuga amor, drama, ironia, patriotismo, suspense, mas sobretudo magia... muita magia! Parada obrigatória para qualquer um que se julgue amante da sétima arte.

A trama todo mundo já conhece: durante a Segunda Guerra, Casablanca, no Marrocos, torna-se o principal entreposto na rota de fuga de toda a Europa. Em Casablanca é possível embarcar para Lisboa e, de lá, num navio para a América. O problema é que muitas pessoas vagam anos pela cidade atrás de um visto. O cínico americano Rick, que “não arrisca seu pescoço por ninguém”, dirige o bar mais famoso e bem-freqüentado da cidade. Sua famosa imparcialidade é ameaçada com a chegada de Ilsa, seu grande e único amor que o abandonou no passado. Ela chega em companhia de Victor Laszlo, herói da resistência. Eles precisam de vistos para fugir. Rick pode ajudar mas, obviamente, reluta em fazê-lo. Na famosa seqüência que entrou para a história como “a cena do aeroporto”, um corajoso Rick convence uma chorosa Ilsa a partir em companhia de Laszlo que, a essa altura, já se sabe ser o marido dela.

Muitas gerações debateram a pergunta que não quer calar: por que Rick deixou Ilsa partir, assim perdendo a mulher que amava pela segunda vez? Alguns engraçadinhos argumentam que “só em filme alguém deixaria Ingrid Bergman ir embora”. Outros sugerem indícios de homossexualidade entre Rick e o chefe de polícia, por conta da última fala do filme (“Louie, acho esse é o início de uma bela amizade”). Brincadeiras à parte, todo cinéfilo parece ter uma teoria para o desenlace de Casablanca.

Na minha opinião, Rick sente-se tão envergonhado e diminuto diante de seu rival que não tem coragem de tirar-lhe a esposa. E talvez essa seja a grande ousadia de Casablanca, no final das contas: o herói do filme não é Rick e sim, Victor Laszlo. Não vamos confundir herói com protagonista. Rick é cínico, amargurado e, em certa medida, tornou-se um covarde após sua desilusão amorosa. Sem contar que ele trata as mulheres como lixo, castigando tolamente o resto do mundo pelo mal que ele acha que Ilsa lhe causou. Já Laszlo é a personificação da integridade: corajoso, inteligente e, como se não bastasse, profundamente apaixonado pela esposa. Inesquecível a bela cena em que ele se levanta e, desafiando os abusados oficiais nazistas, insufla os freqüentadores do bar a cantarem a Marselhesa com ele.


Rick, no fundo de seu coração, compreende que se Ilsa ficar com ele um dia virá a comparação. E que ele não é páreo para um herói. Preocupação que ele deixa transparecer no final quando diz à amada que ela se arrependeria “talvez não hoje, nem amanhã, mas logo e pelo resto de sua vida”. Compreender este fato acaba sendo a redenção de Rick, que finalmente toma consciência de que o mundo vai além de seus problemas pessoais.

Embora seja sem dúvida um belo filme de amor, Casablanca fala, acima de tudo, de coragem. De um homem e uma mulher que enfrentam seus fantasmas e têm coragem de seguir em frente. De fazer o que é preciso. O encontro com Ilsa “salva” Rick e retira-o de sua confortável condição de espectador da vida. Ele acorda. Se envolve, se compromete. Enfim, volta a ser uma peça no tabuleiro.

Casablanca ganhou três Oscars: filme, roteiro adaptado e direção. Também tornou célebre a fala Play it again, Sam (Toque de novo, Sam) que, na verdade, nunca foi dita no filme. O mais perto que há disso é a cena em que Ingrid Bergman pede, sedutora: Play, Sam. Play As Time Goes By (Toque, Sam. Toque As Time Goes By). E ele toca a música. Quem ousaria decepcionar Ingrid e milhões de espectadores devotados?

terça-feira, 8 de julho de 2008

O Amor nos Tempos do Cólera


Chega essa semana às locadoras O Amor dos Tempos do Cólera, adaptação para o cinema do deslumbrante romance homônimo de Gabriel García Márquez. Em sua breve carreira nas telonas, o longa esteve longe de ser uma unanimidade. Adaptações são sempre problemáticas, ainda mais quando se trata de um livro tão consagrado como este. García Márquez é daquele tipo de escritor que consegue ser cultuado tanto pela crítica quanto pelo público e suas histórias ainda têm o fator complicador de lidar com o realismo mágico.

A história narra a saga de Florentino Ariza, que dedica sua vida inteira a obter o amor da inalcançável Fermina Daza. Entretanto, sua obstinação em conquistar a amada não impede que ele amenize sua solidão com todas as outras mulheres do mundo. Resumindo dessa maneira, parece uma história de amor clássica. Não deixa de ser, mas a intensidade com que o autor destrincha os sentimentos de seus personagens é algo que só quem leu consegue dimensionar.

Justiça seja feita: Mike Newell realizou uma transposição competente, mantendo-se bastante fiel ao espírito do livro. O roteiro é bem estruturado e só peca por soar um pouco literário demais em algumas falas, mas nada que comprometa seriamente o trabalho geral. O elenco também é bom, com destaque para Javier Bardem e sua incrível capacidade de conferir veracidade a qualquer personagem. Para decepção dos brasileiros, nossa grande diva Fernanda Montenegro, que interpreta a mãe do personagem, aparece pouco em cena. Mas, quando aparece, só a expressão de seu olhar faz valer a pena.

A direção de arte e os figurinos retratam com requinte um período que engloba o final do século XIX e o começo do século XX. A maquiagem e o processo de envelhecimento dos personagens também são bons, com algumas exceções. Ainda assim, na tela, O Amor nos Tempos do Cólera não possui a mesma força dramática da obra original. Por quê? Difícil explicar, já que a produção é bastante cuidadosa e não apresenta nenhuma grande falha. Talvez algumas coisas simplesmente fiquem melhor no papel do que na tela. Pode ser que a explicação seja simples assim.

Uma curiosidade: o livro O Amor dos Tempos do Cólera já foi usado como parte essencial da trama de uma comédia romântica. Em Escrito nas Estrelas, é dentro deste livro que a personagem de Kate Beckinsale escreve seu número de telefone, o que faz com que o personagem de John Cusack, assim como Florentino Ariza, passe anos buscando o rastro da amada.

domingo, 6 de julho de 2008

Revendo Closer


Grande parte dos filmes românticos termina quando o relacionamento vai de fato começar, enfocando os caminhos que levam o casal a ficar junto e não a relação em si. Mas o que vem depois do “felizes para sempre”? É isso que o excelente Closer tenta investigar, a partir dos encontros e desencontros entre quatro pessoas: o escritor Dan, a fotógrafa Anna, o médico Larry e a stripper Alice. Revi o filme neste domingo chuvoso e, mais uma vez, não pude evitar a incômoda sensação de que a maioria daquelas situações já aconteceu – ou pior, ainda vai acontecer – a qualquer ser humano ao longo de sua vida.

O longa começa do modo mais convencional possível: Dan e Alice cruzam olhares na rua e, graças a um providencial acidente, se apaixonam perdidamente. O que poderia rechear um filme inteiro aqui ocorre em poucos minutos. É quando a história dá um salto no tempo e percebemos que mudaram sentimentos e convicções. O filme, que abrange cerca de quatro anos da vida de seus protagonistas, é repleto de pequenas elipses. Felizmente, o inteligentíssimo roteiro evita o recurso fácil das legendas e nos informa o tempo decorrido através dos diálogos.

O filme é baseado numa peça do inglês Patrick Marber, sucesso desde sua estréia nos palcos londrinos em 1997 - foi montada aqui no Brasil há sete anos como Mais Perto, sob direção de Hector Babenco. O próprio Marber se encarregou de adaptar o texto para essa versão cinematográfica, o que deve ter contribuído para o resultado final coeso e vigoroso. O filme é teatral, mas no melhor sentido do termo: salvo um ou outro figurante, toda dramaturgia se apóia nos quatro atores que, diga-se de passagem, estão estupendos. Especialmente Natalie Portman e Clive Owen, vencedores dos Globos de Ouro 2005 de melhor atriz e ator coadjuvante - embora considerá-los coadjuvantes seja uma manobra discutível.


Closer faz um assustador painel da relação entre homens e mulheres no mundo moderno, onde a disputa pelo amor acaba se confundindo com poder e dominação. Os personagens usam o amor como desculpa para suas ações, mas parecem estar sempre visando seu próprio bem-estar e a cada nova volta da roda-viva têm um diferente objeto de desejo. A certa altura, Alice expõe a Dan sua mágoa: “Você não pode me abandonar. Sou eu quem sempre abandona as pessoas”. O que dá a medida exata do egoísmo humano, já que as traições mais cruéis sempre são as que sofremos e nunca as que infligimos.

Por outro lado, o texto resiste à tentação de fazer o inferno a partir dos outros. Cada um é seu maior antagonista e é o peso de suas próprias inseguranças que põe tudo a perder. Mas embora os personagens sejam desprovidos de qualquer traço de heroísmo, nenhum deles poderia ser considerado um vilão clássico. Não há o simplismo das grandes maldades e sim a complexidade das mentiras e traições cotidianas. Reações vingativas e rancorosas que a maioria de nós já teve vez ou outra, mas não confessa nem à própria sombra. Absolutamente desconcertante o modo como todos são adoráveis em determinadas passagens e desprezíveis em outras. O mesmo personagem de quem nos apiedamos e que se comporta com a maior dignidade quando está por baixo, mostra sua face tirana logo que a fortuna o favorece.

A estréia do diretor Mike Nichols no cinema foi pra lá de promissora: seu primeiro filme foi o bombástico Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (1966), seguido do também clássico A Primeira Noite de um Homem (1967). Mas, nas décadas seguintes, a produção de Nichols começou a oscilar entre coisas razoáveis como Lembranças de Hollywood e constrangimentos como Lobo. Mesmo tendo dirigido a premiada série televisiva Angels in America (2003), o diretor andava em débito com a sétima arte até brindar os cinéfilos com este pungente filme.

Hancock


Você, caro espectador, nunca se perguntou quem paga pelos carros destruídos, vidraças estilhaçadas e tantos outros efeitos colaterais que ocorrem cada vez que um super-herói enfrenta um arquiinimigo? Esse é o mote inicial de Hancock, agravado pelo fato do herói em questão estar a anos-luz de ser um modelo de respeitabilidade. Hancock é mal-humorado, alcoólatra, se veste mal e exala burrice por todos os poros, o que faz com que os cidadãos o odeiem ao invés de idolatrá-lo. Mas também não é para menos: sua carência de neurônios faz com que o cara cometa disparates como descarrilhar um trem inteiro tentando detê-lo ao invés de simplesmente tirar a pessoa em perigo do caminho. Inteligência e super-poderes não necessariamente estão correlacionados, esta é a ótima sacada da trama.

O relações públicas Ray Embrey compreende o potencial desperdiçado por Hancock e resolve ajudá-lo a melhorar a imagem como retribuição a um salvamento. Para tanto, aconselha o herói a aceitar a ordem judicial que o condena à prisão pelos inúmeros danos causados ao patrimônio público. A teoria de Ray é que uma temporada voluntária na cadeia, além de melhorar sua imagem perante a opinião pública, fará com que a população sinta falta de Hancock e entenda que precisa dele.

Que Will Smith é um ator muito talentoso já foi mais do que provado. Desde sua interpretação como Muhammad Ali até, mais recentemente, o drama À Procura da Felicidade e a aventura existencialista Eu Sou a Lenda. Mas o impressionante no ator é a facilidade com que ele consegue interpretar os mais diferentes estilos de personagens, do mais descerebrado ao reflexivo. E neste filme ele transita perfeitamente do escracho da parte inicial do filme com a virada na história que mostra um Hancock mais consciente e necessitado de descobrir suas origens. E é essa competência, mesmo num papel que não exige grande profundidade, que faz com que seu personagem soe humano e transmita emoções verdadeiras num filme que poderia ser apenas mais um besteirol.

Faz bom contraponto com Smith o simpático Jason Bateman, como o bom samaritano que acredita piamente na recuperação de Hancock. Charlize Theron, que a princípio parecia subaproveitada no filme, diz a que veio em seu terço final. Também é engraçado ver o roteirista Akiva Golsman e o diretor Michael Mann, produtores do longa, fazendo uma ponta como executivos presentes a uma demonstração de Ray.

O efeito colateral na virada de rumo da história é que, ao se tornar mais profunda do que se esperaria num filme vendido como pura comédia, também o ritmo do longa se desacelera um pouco. Isso não chega a ser um defeito, mas pode desagradar àqueles que forem ao cinema atrás de boas risadas apenas. No geral, Hancock é um filme bastante original em sua abordagem diferenciada da figura do herói. E não deixa de ser curioso que esteja estreando apenas duas semanas antes do aguardado Batman – O Cavaleiro das Trevas.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Jogo de Amor em Las Vegas


Não vamos desprezar o poder da inversão de expectativas. Assim como é muito frustrante quando um filme comentado e/ou premiado não se mostra essa cocada toda, é uma gostosa surpresa conseguir se divertir assistindo a um filme que você julgava que seria um lixo. O que esperar de uma comédia romântica que tem como tema aquele manjadíssimo argumento em que duas pessoas incompatíveis são forçadas a conviver e a suposta repulsa não consegue esconder uma forte atração? Nada, certo? E o que dizer se essa mesma história for protagonizada pelos insossos Cameron Diaz e Ashton Kutcher? Aí é apostar no desastre completo.

Mas, a exemplo do recente O Melhor Amigo da Noiva, Jogo de Amor em Las Vegas é um filme tão engraçadinho que consegue agradar ao espectador apesar de ser parecido com pelo menos duzentas outras produções feitas anteriormente. A história – embora isso não faça lá muita diferença – é a seguinte: Joy é uma executiva controladora que planeja cada mínimo detalhe de sua vida. O que ela não podia prever é que o noivo terminaria a relação por não suportar mais seu excesso de energia; Jack, ao contrário, não consegue terminar nada do que se propõe a fazer. Sua apatia constante faz com que ele seja despedido da firma do próprio pai. Arrasados e munidos de seus melhores amigos, os dois se encontram em Las Vegas completamente bêbados enquanto afogam as mágoas. No dia seguinte, acordam de ressaca e com uma aliança no dedo. Uma anulação seria simples e rápida se nesse meio-tempo Jack não tivesse jogado num caça-níqueis e faturado três milhões de dólares. Um juiz de mau humor resolve congelar o dinheiro e os condena a seis meses de casamento forçado.

Uma estadia em Las Vegas, para os americanos, simboliza o mesmo que o carnaval para alguns brasileiros: uma oportunidade de tirar as máscaras e fazer coisas que nunca ousariam em seu ambiente cotidiano. Deve ser por isso que eles vivem cometendo loucuras desse tipo e desfazendo-as logo em seguida. É claro que, juntando o porre casamenteiro e mais a bolada do caça-níqueis, a coisa toda fica muito improvável, mas não vamos entrar nesse mérito. O filme segue a fórmula-padrão do gênero: tanto Jack como Joy têm melhores amigos cínicos e engraçados que só botam mais lenha na fogueira, o casal faz de tudo para provocar um ao outro, trapaceiam para fazer a cara-metade perder sua parte na grana e, claro, ao longo do caminho vão percebendo que o cônjuge não é tão ruim assim, as qualidades vão sobressaindo, os defeitos vão sendo minorados... Enfim, o roteiro segue à risca o caminho esperado.

Então, se não há nada de novo, por que o filme é bom? Não há uma explicação concreta. Talvez porque Cameron Diaz e Ashton Kutcher tenham ótima química em cena. Ou, indo mais além, talvez porque seus papéis sejam perfeitos para eles, aproveitando tanto o jeito meio lesado de Ashton como a pose de chata de Cameron a favor de seus personagens. Outro fator que certamente contribui é a boa qualidade dos coadjuvantes, com destaque para Rob Corddry, que interpreta o melhor amigo de Jack, um advogado bizarro que aparentemente nunca teve um único cliente na vida. Abrilhantam o elenco, ainda, Treat Williams e Queen Latifah.

Detalhe: dizem as más línguas que a trama do filme foi inspirada naquele fatídico episódio em que Britney Spears tomou um porre em Las Vegas e casou com um amigo. Atenção para a última cena antes dos créditos, que mostra em flashback a noite do casamento. Impagável. O diretor Tom Vaughan, que vem de uma carreira basicamente televisiva, fez uma boa aposta. Não daquelas de quebrar a banca, mas vencer quando todas as chances são contra já é uma proeza e tanto.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Kung Fu Panda


Kung Fu Panda é um filme bonitinho, não há como negar. A figura simpática do urso panda Po, que já vem sendo divulgada há um bom tempo, ajuda. Jack Black dando vida ao personagem ajuda mais ainda. A musiquinha dançante (Kung Fu Fighting) também gruda no ouvido. Enfim, o espectador já entra no cinema meio predisposto a gostar do que vai ver. E embora o roteiro não traga absolutamente nada de original, o filme, como um todo, é agradável de se assistir.

A trama vai pela velha linha do “você pode ser o que quiser se desejar o suficiente”. Neste caso, é um urso panda balofo e meio preguiçoso que sonha em ser um lutador de kung fu. Po trabalha no restaurante de seu pai (vale ressaltar que o pai é um pato), mas seus sonhos vão muito além de servir tigelas de macarrão. Apaixonado por artes marciais, tem como ídolos os guerreiros Tigresa, Garça, Macaco, Víbora e Louva-Deus, também conhecidos como os cinco furiosos, discípulos do famoso mestre Shifu. Quando a paz no vale é ameaçada pelo retorno de Tai Lung, ex-aluno de Shifu que se voltou para o mal, o mestre decide que é hora de escolher o profetizado guerreiro que irá defendê-los do traiçoeiro vilão. Para surpresa de todos, o escolhido não é um dos habilidosos discípulos e sim o desajeitado Po. A partir daí, ele tem que provar a todos e a ele mesmo que a seleção não foi um equívoco.

No geral, Kung Fu Panda é um filme mais direcionado para o público infantil. A situação inusitada do protagonista poderia render momentos hilários, caso o filme fosse fundo na linha do escracho. Não vai. A abordagem lembra a de Babe, o Porquinho Atrapalhado. Até mesmo o argumento é bastante parecido: uma criatura inconformada com o destino reservado a ela e que ousa sonhar com algo totalmente fora de seu alcance. E que, de tanto acreditar, acaba alcançando. Já o vilão Tai Lung parece inspirado num velho conhecido dos cinéfilos: o melhor e mais habilidoso dos guerreiros que, consumido pelo orgulho, se volta para o mal e trai o mestre que o ama como um filho. Ou seja, uma versão felina do Anakin Skywalker.

O ponto alto de Kung Fu Panda são os talentos vocais por trás da animação, principalmente nas vozes de Jack Black como Po e Dustin Hoffman como o mestre Shifu. As cenas entre os dois personagens, aliás, são de longe as melhores. Destaque para a seqüência de treinamento motivada a comida, em especial a hilária disputa pelo último bolinho. Também Ian McShane empresta credibilidade ao vilão Tai Lung, enquanto Lucy Liu, Angelina Jolie e Jackie Chan parecem figurar no elenco mais para dar prestígio ao filme do que por qualquer outro mérito interpretativo.

Noves fora, é boa diversão. Mas só isso.