quarta-feira, 16 de abril de 2014

O Grande Mestre


O Grande Mestre é um filme que levou muito tempo para ser feito e representa a realização de um sonho antigo do cineasta chinês Wong Kar Wai, que há anos acalenta estre projeto de contar a biografia do lendário mestre do kung-fu Ip Man (que foi mentor de Bruce Lee) na forma de um grandioso épico das artes marciais que tem como pano de fundo a China dos anos 30 e sua sofrida dominação por parte dos japoneses. Como protagonista, Kar Wai escalou um dos principais astros asiáticos – e seu colaborador habitual – Tony Leung. Já o papel da lutadora que foi rival e, ao mesmo tempo, paixão proibida de Ip Man coube à atriz Zhang Ziyi, que ganhou fama mundial graças ao oscarizado O Tigre e o Dragão.

Kar Wai sempre foi um cineasta muito pautado pela estética, e esse apuro é mantido neste O Grande Mestre. Tudo que diz respeito à parte visual do longa é absolutamente impecável. Os figurinos luxuosos e a fotografia deslumbrante foram (merecidamente) indicados ao Oscar. As lutas coreografadas ganham um toque especial, ao serem fotografas em lindas tomadas em câmera lenta sob delicados flocos de neve ou gotas de chuva (as imagens são tão bonitas que o próprio cineasta não resistiu a rodar mais de uma sequência desse modo).


O maior problema do filme é quando os personagens não estão lutando. O contexto histórico é apresentado de modo bastante apressado e superficial – o que seria compreensível se o filme apoiasse sua linha narrativa mais nas cenas de ação, mas não é o caso – e os diálogos ganham um ar pretensamente filosófico, com metáforas que deveriam soar profundas, mas no final das contas apenas ralentam o ritmo da história. Evidente que, sendo o áudio original em uma língua totalmente desconhecida por esta que vos escreve, permanece o benefício da dúvida: teria o filme sido prejudicado por uma tradução/legendagem ineficiente? Nunca saberemos ao certo.

Terminada a projeção, a conclusão a que se chega é a de que, apesar de sua extrema beleza, O Grande Mestre morre na praia. Ao tentar acumular as funções de filme de artes marciais e drama histórico, Kar Wai acaba por somar deficiências em ambos os estilos. Não consegue realizar nem um wuxia empolgante como os feitos pelo seu conterrâneo Zhang Yimou (Herói, O Clã das Adagas Voadoras) e muito menos um longa historicamente consistente, já que lhe falta estofo para sustentar a parte “cabeça” da história. O resultado final é lindo e irrelevante.


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