Por mais que a imaginação humana seja capaz de inventar perversões, não existe história de horror mais impressionante do que a realidade. O serial killer conhecido como o Zodíaco aterrorizou São Francisco por décadas, sem que nunca se tenha chegado a uma conclusão satisfatória sobre sua identidade. Um mistério tão intrigante quanto o de Jack, o Estripador e que perdurou por muito mais tempo, já que o assassino zombou da polícia e da imprensa por anos a fio. O mais desconcertante no Zodíaco é que, ao contrário da maioria dos serial killers, ele não seguia um padrão rígido. Seus assassinatos não eram ritualisticamente repetidos nos mínimos detalhes. Ele parecia estar mais interessado em confundir as autoridades e provar a própria esperteza de que propriamente em seguir padrões. Por isso, o número de vítimas nunca será conhecido com exatidão.
Tudo começa em 1969, quando três jornais recebem três diferentes cartas, cada uma contendo parte de uma mensagem cifrada. O autor, que se auto-intitula “O Zodíaco”, fornece detalhes só conhecidos pela polícia sobre o assassinato de três pessoas e a tentativa de homicídio de uma quarta e exige que as cartas sejam publicadas, do contrário mais pessoas morreriam. Mesmo tendo seu desejo atendido, as mortes e as cartas se multiplicam, deixando cidadãos em pânico e autoridades desnorteadas. David Toschi, detetive responsável pelo caso, vira celebridade, assim como o repórter Paul Avery. Mas é Robert Graysmith, um tímido cartunista que trabalha no mesmo jornal que Avery, quem chega mais perto de solucionar o caso. Recentemente, li o livro de Graysmith que relata minunciosamente a cronologia dos assassinatos, bem como o rumo das investigações policiais e suas próprias pesquisas para o livro. A leitura por vezes pode ser pesada por seu excesso de detalhamento, mas sem dúvida é um trabalho intrigante e completíssimo. Zodíaco, o livro, também me fez reavaliar o filme homônimo realizado em 2007.
Com uma história dessas e um nome como David Fincher na direção, a expectativa a respeito do filme era das maiores. Afinal de contas, à frente do projeto estava o cara que revitalizou o gênero com o cultuadíssimo Seven – Os Sete Crimes Capitais e ainda dirigiu o surpreendente e polêmico Clube da Luta. Este foi o terceiro filme feito sobre o Zodíaco: os anteriores foram The Zodiac Killer, de 1971 (o filme deve ser muito ruim, já que o diretor Tom Hanson encerrou a carreira por aí) e O Zodíaco, de 2005. Sem contar Perseguidor Implacável (primeiro dos filmes de Dirty Harry), também de 1971, que mostra Clint Eastwood caçando um serial killer que ataca em São Francisco chamado Scorpio.
A idéia inicial para a nova versão era criar uma ficção em cima dos fatos relatados por Robert Graysmith no livro. Mas quando o roteirista James Vanderbilt e o produtor Bradley Fischer, dois apaixonados pela história, conseguiram os direitos do livro, acabaram optando por uma adaptação fiel. O que criou um problema de ordem dramatúrgica, já que, como a identidade do Zodíaco nunca foi confirmada e o principal suspeito nem chegou a ser preso, não existe exatamente um desfecho para a trama.
O filme é muito bom até a metade, quando o ritmo fica arrastado e o espectador tem a impressão de que pouca coisa está acontecendo na tela. Perto do final, ganha fôlego novamente. Não é que o longa tenha um grande defeito, é mais uma falha em segurar a atenção do espectador – como Seven faz ao longo de toda a projeção. O que nos leva à questão que seria, no final das contas, a grande deficiência do filme: Zodíaco tem 158 minutos. Nada contra filmes longos, desde que tal duração seja justificada. Não é. Daí a sensação de quebra no ritmo narrativo. O que é uma pena, porque fora isso o filme tem todos os elementos certos: uma história interessantíssima, um clima de suspense bem estabelecido e trilha sonora caprichada. Sem contar o elenco de primeira, encabeçado pelos ótimos Jake Gyllenhaal (Robert Graysmith) e Robert Downey Jr. (Paul Avery). Rodado com câmeras digitais de alta definição e com um orçamento de US$ 85 milhões, era para ser o thriller do ano. Não foi isso tudo, mas o saldo final ainda pende para o positivo. Vale reservar um tempinho (ou melhor, um tempão) para conferir a produção.
Pois é, infelizmente a longa duração marcou presença (principalmente depois de 120 minutos). Gostei pouco do filme. Esperava mais do Fincher!
ResponderExcluirAchei esse filme chatíssimo! Tanta divulgação, não consegui ver no cinema, aluguei o DVD e nem o Robert Downey Jr. salvou.
ResponderExcluirBeijo,
Nina Z.