quarta-feira, 19 de maio de 2010

Fúria de Titãs



É com certa nostalgia que recordo da primeira versão desse filme, de 1981. Deuses gregos impiedosos, heróis valentes, monstros ferozes e, sobretudo, a enigmática Medusa e seus cabelos ofídicos foram elementos terrivelmente fascinantes para uma pré-adolescente que vivia com a cabeça mais na lua do que na terra. Por muitos anos, o fascínio do longa permaneceu intocado nos escaninhos das recordações. Qual não foi minha decepção ao rever o filme depois de adulta e perceber que a trama era fraca e os efeitos especiais, toscos de dar dó. A versão 2010 de Fúria de Titãs é um ótimo upgrade visual em relação a seu antecessor, embora o restante continue deixando a desejar.

Numa versão pouco fiel à mitologia grega, o filme narra as aventuras do semideus Perseu. A princípio inconsciente de sua origem divina, Perseu é um pescador que vive com a família nas proximidades de Argos e presencia um momento de descrença e desrespeito aos deuses quando o rei ordena a derrubada da estátua de Zeus, enfurecendo todo o Olimpo. É quando o traiçoeiro Hades convence o irmão a deixá-lo dar uma lição nos mortais e lhes dá um ultimato: se, dentro de dez dias, os homens não sacrificarem a princesa Andrômeda para aplacar a ira dos deuses, ele libertará o Kraken, monstro marinho incontrolável que destruirá tudo e todos. Mesmo relutante em considerar-se filho de Zeus, Perseu aceita sua condição por ser a única esperança de salvação para Andrômeda e parte com uma tropa em busca de conhecimentos que lhe permitam derrotar o Kraken.

Fúria de Titãs faz uma opção clara pelo público infanto-juvenil e, ao focar na plateia abaixo dos quinze anos, concentra-se muito mais em criar sequências de luta empolgantes do que em contar uma história bem estruturada. O resultado é um filme interessante esteticamente, mas fragilizado por um roteiro mal-estruturado (e olha que eu nem estou considerando a infidelidade mitológica) e uma direção de atores frouxa. O diretor Louis Leterrier (Hulk 2) não consegue imprimir personalidade própria ao filme e mantém tudo muito asséptico, limando todo e qualquer teor de sexualidade ou violência. Mesmo quando pessoas são mortas ou feridas, o impacto é o mesmo de um videogame. Também é estranha a concepção do Olimpo à semelhança da Liga da Justiça e o parentesco do Hades de Ralph Fiennes com o Voldemort da série Harry Potter.


O filme fica bem mais rico e interessante quando parte para o segmento das criaturas – exemplos disso são a sensacional concepção das três bruxas e o belo Pegasus negro. Os cenários e paisagens também são bacanas e, claro, não podemos deixar de fora o novo e criativo design da Medusa. Por outro lado, o uso do 3D é absolutamente desnecessário. Mesmo porque o processo usado, que foi a conversão para o formato depois do filme pronto, dá um efeito meio distorcido em algumas cenas. As criaturas grandiosas, os monstros pavorosos e as cenas de ação bem coreografadas podem ser plenamente apreciadas bidimensionalmente, e sem o inconveniente dos óculos ou do ingresso mais salgado.

Sexta nos cinemas.

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