quarta-feira, 22 de abril de 2009

Eu Te Amo, Cara


Nos casamentos americanos, existem duas figuras quase tão míticas quanto os nubentes: a dama de honra, responsável por ajudar a noiva com cada mínimo detalhe da cerimônia, e o padrinho do noivo (o chamado best man). O padrinho, embora não tenha uma função tão executiva quanto a dama, tem uma posição igualmente invejada. É aquele sujeito que faz um discurso engraçado à mesa, não raro revelando indiscrições sobre o noivo, e que invariavelmente termina com um efusivo “eu te amo, cara” - daí o título do filme.

Entender a importância desses papéis dá a medida exata do quanto eles são disputados pelos que se acham “melhores amigos” de alguém que vai se casar. Muitas amizades já foram destruídas ou solidificadas pela simples decisão de convidar ou não alguém para ser dama de honra ou padrinho. Mas e quando o grande problema não é saber quem escolher e sim não ter ninguém íntimo o suficiente para convidar? É com esse dilema que se depara Peter Klaven, protagonista desta divertida comédia.

Peter sempre gostou de namorar sério, desde adolescente. Cada vez que terminou um namoro, iniciou outro logo em seguida. Não que ele seja um galinha; pelo contrário, é apenas um rapaz afetuoso e sincero que gosta de estar em um relacionamento. Somente depois de se apaixonar por Zooey e pedi-la em casamento, ele se dá conta de que seu jeito pacato de ser o manteve totalmente à parte do mundo masculino e que nunca cultivou nenhuma grande amizade. Não querendo passar vergonha no próprio casamento, Peter resolve sair à caça de um amigo. Mas como encontrar de uma hora para outra o que ele não procurou a vida inteira?

A situação rende uma série de momentos engraçados, com Peter enfrentando alguns bizarros “encontros às escuras” com possíveis candidatos ao posto de melhor amigo. Desde programas insuportáveis na companhia de caras que não tem absolutamente nada a ver com ele até um jantar que termina com o sujeito beijando-o na boca, o coitado sofre tanto quanto o tipo solitário para quem todos tentam conseguir uma garota. O irônico é que o personagem não tem problemas em arrumar garotas e sim amigos. Outra inversão curiosa é o fato de Peter se aconselhar nesse assunto com seu irmão gay e o fato deste, sob muitos aspectos, ter atitudes muito mais masculinas e agressivas do que ele.

Quando tudo parece perdido, Peter conhece Sydney Fife. O cara tem muito em comum com ele, o papo rola às mil maravilhas e Sydney não tenta beijá-lo no fim da noite. Peter fica eufórico, pois parece que não apenas vai conseguir um padrinho como também o seu primeiro amigo de verdade. O efeito colateral disso tudo é que ele passa a questionar seu relacionamento com Zooey. Estaria ele se casando para afugentar a solidão? E seria Sydney alguém tão bacana quanto parece a princípio?


Mais do que um mero buddy movie, Eu Te Amo, Cara levanta questões interessantes sobre as relações humanas e também sobre identidade: até que ponto você se define pelo outro? Outro que, nesse caso, pode ser tanto a pessoa com quem você se relaciona romanticamente quanto seu círculo de amizades. Isso fica claro no perfil de Peter que, por sempre ter andado mais na companhia de garotas, não tem o seu lado “testosterona” muito desenvolvido. E o mais legal no filme é que mesmo quando ele desenha algumas discussões um pouco mais sérias, faz isso sem perder de vista o tom bem-humorado.

Paul Rudd e Jason Segel têm ótima química nos papéis de Peter e Sydney, fazendo com que o espectador torça para que a amizade dos dois realmente tenha um final feliz. Rashida Jones tem presença ao mesmo tempo discreta e carismática como Zooey. O filme ainda se dá ao luxo de ter ótimos comediantes como Jon Favreau e J.K. Simmons em papéis coadjuvantes. A direção é de John Hamburg, também responsável pelo simpático Quero Ficar com Polly.

Em tempos de comédias preguiçosas que se limitam a satirizar outros filmes ou intermináveis sequências que recriam situações já esgotadas, é um prazer assistir a um filme com o frescor de Eu Te Amo, Cara. Um roteiro engraçado, que aborda um assunto plausível e relevante, interpretado por um elenco afinado e dirigido com mão leve, como convém a uma boa comédia. Diversão garantida.

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