quarta-feira, 8 de abril de 2009

Presságio


Peguem os filmes mais fracos de M. Night Shyamalan (ou seja, Fim dos Tempos e Sinais), misturem com Guerra dos Mundos e batam por noventa minutos. Depois adicionem pitadas de O Dia em Que a Terra Parou e Impacto Profundo e sirvam acompanhados de Nicolas Cage – o Nicolas Cage de hoje e não o de Despedida em Las Vegas, que fique bem claro. Deve ser mais ou menos assim que se prepara uma mistureba como Presságio.

O roteiro já parte de um argumento pouco convincente: em 1959, como parte de uma comemoração numa escola infantil, uma professora pede aos alunos que façam um desenho de como imaginam o futuro. Os desenhos ficarão guardados numa “cápsula do tempo” (sim, isso mesmo!) que será aberta por outros estudantes somente 50 anos depois. Uma das crianças, ao invés de desenhar, cobre a folha com sequências numéricas que aparentemente não têm sentido algum.

Meio século depois, Caleb, filho do astrofísico John Koestler, vivido por Nicolas Cage, está entre os alunos que abrirão a tal cápsula. Claro que a folha com os números vem parar justamente nas mãos dele. Mediunicamente, John enxerga no meio daquela bagunça a data onze de setembro de 2001, seguida pelo número exato da vítimas do WTC. Para resumir, os números prediziam com exatidão as datas e o número de mortos de todas as grandes tragédias dos últimos 50 anos. Faltam ocorrer ainda três, das quais John sabe a data mas não a localização. Ele também começa a temer que aquilo tudo tenha alguma relação direta com ele e seu filho, e resolve procurar pistas sobre a aluna que escreveu a mensagem no passado.

Estão achando meio esquizofrênico? Bom, a má notícia é que essa é a melhor parte do filme. Até então, a coisa é meio batida e não convence muito... mas ainda faz sentido. Descontando o fato de John e Caleb terem a profundidade emocional de uma folha (alguém ainda aguenta ver o viúvo desconsolado que se afunda no trabalho e o filho metido a espertinho?), até esse ponto o filme ainda consegue despertar interesse a respeito das profecias e do porquê delas serem reveladas justamente quando falta tão pouco para fechar o ciclo.

Mas a coisa não fica por aí. De repente, John e Caleb começam a ser perseguidos por uma galera muito pálida e esquista e a a trama começa a se afundar cada vez mais no terreno do risível. Conforme mais elementos vão sendo acrescentados, não há suspensão da descrença que resista. Tudo se avoluma e nada faz sentido, mesmo considerando a lógica interna de uma história que já havia começado meio absurda. E quando a suposta grande revelação é feita, o espectador não pode deixar de se perguntar o que havia de especial com “os escolhidos”. Com base em que critério aquela decisão foi tomada? E por que, afinal de contas, os seres precisavam da permissão de John? Para não dizer que nada se salva no longa, as cenas dos desastres são extremamente bem-feitas. É a única qualidade a ser destacada no filme.


Alex Proyas, diretor de Eu, Robô e O Corvo, realiza um filme apático e nada original, que mais parece uma colagem de vários outros longas. Presságio atira para todas as direções e não consegue tomar nenhum rumo, culminando num desfecho preguiçoso e pseudo-emocionante. Mas também, o que poderíamos esperar de mais um filme-cachê com o decadente Cage bancando o herói? O cara não faz um filme decente desde Adaptação, e isso foi em 2002. Exagero? Vejamos um retrospecto da carreira do ator nos últimos anos: A Lenda do Tesouro Perdido (1 e 2), World Trade Center, O Vidente, Motoqueiro Fantasma, Perigo em Bangkok... e por aí vai. Então, caro espectador, no fundo a culpa é nossa. Por ainda acreditar em Nicolas Cage. E cuidado: 2009 mal começou e ele já tem quatro outros filmes em pós-produção.

Estréia sexta-feira.

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