quinta-feira, 9 de abril de 2009

Território Restrito


O que leva pessoas de diferentes culturas a tentarem o mesmo sonho desesperado de migrar para os Estados Unidos, mesmo considerando a crescente xenofobia pós-onze de setembro? Pior: mesmo para os que conseguem entrar ilegalmente e se manter a salvo da “migra”, tanto esforço acaba se convertendo em mais uma garçonete ou lavador de pratos. É claro que muitos dos que se arriscam em tal aventura fogem de países em guerra civil ou sob regimes ditatoriais, mas o que dizer, por exemplo, dos brasileiros de classe média que jogam seu dinheiro e suas vidas nas mãos de um “coiote”?

Com uma temática que lembra dois filmes recentes, Crash e Babel, Território Restrito discute não apenas a ilusão do eldorado americano, mas também o mosaico de culturas presentes nos Estados Unidos. O estrangeiro absorve hábitos americanos ao viver lá; mas não estaria também a cultura americana se tornando uma nova mistura, fruto de todas as outras culturas que ela tenta assimilar? Sendo a cidade de Los Angeles uma expressão máxima dessa diversidade por ainda agregar os sonhos de estrelato vendidos por Hollywood, o filme faz um painel das diferentes raças que formam uma nova geração de americanos que, dependendo da origem, usam véu, têm olhos puxados ou falam espanhol.

Num dos núcleos termos o americano Max Brogan, personagem de Harrison Ford, um agente especializado na captura de imigrantes ilegais. Seu parceiro é Hamid, filho de um imigrante islâmico (não lembro de qual nacionalidade) que está prestes a se naturalizar e cuja família tem dificuldades em lidar com o espírito liberal da caçula Zahra – a única da família genuinamente americana. A parceria entre os dois exemplifica uma outra questão interessante, que é o fato da polícia americana estar repleta de estrangeiros. E, no caso da imigração, cria-se a estranha possibilidade do policial ter que perseguir um conterrâneo que quer nada mais do que o direito de ficar ali também. A brasileira Alice Braga interpreta uma mexicana que é presa por Max, deportada e se desespera por ter deixado o filho com uma vizinha.
O longa acerta ao se não deter no batido trânsito EUA-México e realmente amplia o espectro ao abordar a imigração ilegal vinda de países desenvolvidos. Um bom exemplo é o caso da atriz australiana Claire Shepard, que tenta a sorte no cinema. Claire já conseguiu um papel, mas para trabalhar precisa do visto permanente. Seu caminho cruza com o de Cole Frankell, um analista de pedidos de visto que lhe promete o green card em troca de favores sexuais. Frankel é casado com Denise, advogada idealista que defende pessoas ameaçadas de deportação.


Denise tem dois casos difíceis em mãos: o de uma menininha africana que perdeu a mãe e pode ser mandada de volta caso não se encontre alguém para adotá-la e o de Taslima, uma adolescente de 15 anos que vive no país desde os três, mas está em vias de ser deportada. Seu crime? Fazer observações humanitárias sobre os terroristas de onze de setembro na sala de aula, ou seja, exercer o tão decantado direito de liberdade de expressão. Talvez seja essa a situação mais complexa, a de uma família ilegal que já criou raízes profundas no país. Acrescente-se a isso o fato da menina ter dois irmãos mais novos nascidos nos Estados Unidos e está armado o problema.

Escrito e dirigido por Wayne Kramer, o mesmo de The Cooler - Quebrando A Banca, o filme tem o mérito de evitar o maniqueísmo e humanizar todos os personagens – até mesmo personagens difíceis de serem vistos com condescendência, como é o caso de Cole Frankel. Por outro lado, o filme também apresenta o lado desonesto de personagens que são, de um modo geral, gente boa. Caso de Gavin Kossef, que finge ser judeu praticante para conseguir um emprego e depois mente descaradamente para obter seu visto, mas condena Claire por tentar conseguir o seu indo para a cama com Cole.


Nada do que é mostrado em Território Restrito chega a ser novidade, mas o filme certamente merece uma conferida graças a seu olhar humanitário e abrangente. Questões batidas sim, mas expostas de modo bastante interessante na tela. Estréia amanhã.

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