sábado, 11 de abril de 2009

W.


Ao assistir a W. o espectador pode, à primeira vista, ter a impressão de que Oliver Stone esteja pegando leve com George W. Bush, já que o Bush retratado no longa parece mais um moleque inconsequente do que o presidente com estratosféricos níveis de rejeição do qual ninguém sentirá falta. Mas por que logo Stone, cineasta conhecido por sua verve política impiedosa, passaria a mão na cabeça do grande desafeto mundial? Não se deixem enganar pelo tom de sátira do filme, meus caros. Pura opção dramatúrgica, que prefere ridicularizar o personagem ao invés de atribuir-lhe esse poder de destruição todo. E se o Bush da telona chega a inspirar pena em algumas passagens, não se pode dizer o mesmo dos republicanos que o cercam. No final das contas, a tese de Stone parece ser a de que um vagabundo alcoólatra nunca causaria tamanho dano a um país se não estivesse ali como resposta aos anseios de uma sociedade retrógrada que não apenas o colocou no poder como teve coragem de reelegê-lo. É essa verdade inconveniente que faz de W. um filme extremamente feroz a despeito da leveza de sua abordagem.

O roteiro trabalha em duas linhas narrativas: uma, que abrange vários anos, mostra a trajetória de Bush a partir da faculdade; e outra que se concentra nos dias que antecederam sua decisão de invadir o Iraque – a decisão teria sido sua mesmo?. Na porção biográfica, vemos uma representação daquilo tudo que Michael Moore já dizia em seus documentários: Bush era um universitário fanfarrão, alcoólatra e pouco inteligente. Engravidou uma menina, mas nunca assumiu o filho. Depois de formado, não queria nada com o trabalho e se demitia de todos os empregos arranjados pela influência do pai. Aos quarenta anos, já casado com Laura, ainda era o “júnior” e não produzia o próprio sustento. É nessa época que ele pára de beber, se rebatiza como novo cristão e passa a ajudar na campanha do pai – não sem uma certa mágoa de só estar ali porque Jeb, o irmão de ouro, não podia. Aparentemente, foi a partir daí que ele tomou gosto pela política. Nas eleições seguintes, consagrou-se como governador do Texas e o resto todo mundo já sabe.

Josh Brolin, em excelente fase na carreira, pode até não ter muita semelhança física com o ex-presidente (com toda caracterização, Brolin continua bonito), mas incorpora de tal forma o jeito aparvalhado, o modo de falar e as bravatas de Bush que ao longo do filme passamos a achá-lo muito parecido com ele. Seu Bush é multifacetado, misturando o estilo grosseiro e arrogante com uma motivação nascida do desejo desesperado de mostrar-se à altura de seus antecessores. O ator consegue criar uma versão mais complexa para um personagem do qual já pensávamos conhecer tudo. A única mancada da produção foi não ter escalado um ator mais jovem para retratá-lo nos tempos de faculdade. Brolin, que tem quarenta anos, ficou um pouco forçado como calouro. Também estão ótimos Elizabeth Banks como Laura Bush (quase um clone mais jovem da própria), James Cromwell como Bush pai e Ellen Burstyn Barbara Bush. Já Thandie Newton não convence nada como Condoleezza Rice e Jeffrey Wright, apesar de atuar bem, faz um Colin Powell excessivamente ponderado.

W. é um ótimo filme, que retrata com tom de deboche um período de trevas da história americana. Se Bush foi o agente principal desse Mal ou apenas alguém idiota o bastante para deixar o seu na reta para a posteridade, cabe ao espectador decidir.

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