terça-feira, 14 de abril de 2009

Sinédoque, Nova Iorque


O diretor teatral Caden Cotard perdeu completamente o rumo de sua vida. Sente-se deprimido, com problemas de saúde e ainda foi abandonado pela esposa, que viajou com a filha deles para fazer uma exposição em Berlim e nunca mais voltou. Ele se envolve com outras mulheres, como a bilheteira Hazel e a atriz Claire, mas todas as suas relações parecem confusas. É quando ele recebe uma subvenção para seu próximo trabalho e, pensando cada vez mais na morte, leva sua equipe para um velho armazém onde pretende realizar uma obra verdadeira e profunda sobre o sentido da vida e a mazelas do cotidiano. Exibido no Festival de Cannes 2008.

Eu adoro os roteiros de Charlie Kaufman. Quero ser John Malkovich, Adaptação e Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças são incríveis, sendo que o último alcança momentos sublimes e faz do filme um dos meus preferidos. Então claro que a expectativa para ver o que ele faria atrás das câmeras era imensa. O início do filme dá a impressão de que Kaufman, assim como a já comentada Madonna, resolvera pegar leve em seu primeiro filme. A história parecia – como dizer? – normal. Nada contra, achei até bem sensato.

Mas, passado algum tempo, o estilo Kaufman surge. Para ser mais exato, numa cena em que a personagem de Samantha Morton compra um casa que vem com um incêndio de brinde. Sim, um fogo que fica lá o tempo todo. Logo o dramaturgo vivido por Philip Seymour Hoffman faz as vezes de alter-ego do diretor, transformando sua nova peça no retrato de sua vida bagunçada e se colocando em sua própria história, num exercício metalinguístico já realizado com muita competência no roteiro de Adaptação. E parecia que o filme seguiria um rumo parecido, mostrando a ficção como tábua de salvação para a solidão e desespero da vida real do protagonista. O problema é que na segunda metade de Sinédoque, Nova Iorque Kaufman pesa demais a mão e acaba errando feio. Como já diziam os teóricos da comunicação, excesso de novidade é tão entediante quanto excesso de redundância.

Não há dúvida de que Charlie Kaufman tem uma imaginação privilegiada, mas talvez seu gênio delirante necessite de alguém que o puxe de volta à realidade e dê um mínimo de foco ao filme. Um diretor, no caso. Ou pode ser que ele apenas esteja deslumbrado com seu primeiro filme. De qualquer modo, é uma pena. A trama estava se desenvolvendo muito bem antes do diretor/roteirista soterrar as ótimas idéias iniciais debaixo de camadas e mais camadas de viagens loucas entre realidade e delírio numa segunda metade histérica e tão cheia de histórias dentro de histórias que tudo ficou parecendo uma imensa boneca russa.

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