sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Aquário


Mia tem 15 anos e sua vida é um verdadeiro caos: mora com a mãe e a irmã em um conjunto habitacional, foi expulsa da escola e vive puxando briga com as outras meninas da vizinhança. A única coisa que a faz temporariamente feliz é ouvir rap e criar coreografias, e ela ocupa todo o seu tempo com isso. Quando o simpático Connor começa a namorar sua mãe e frequentar sua casa, tem-se a impressão de que as coisas mudarão para melhor. A mãe fica menos agressiva e Connor se esforça para que todos fiquem mais unidos, como uma família. Filme vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes 2009.

Aquário é um filme extremamente violento do ponto de vista emocional. Embora ninguém leve um tiro ou seja mutilado, trata-se de uma história que causa verdadeira devastação sentimental. E geralmente são essas que impressionam mais. Mia, aos quinze anos, já é uma menina com um futuro deprimente à sua frente. Tem uma mãe que a trata da maneira mais desrespeitosa possível, já que enxerga ambas as filhas como estorvos. Uma cena chocante é aquela em que a mãe diz a uma assistente social que Mia é irrecuperável e a irmã menor certamente seguirá o mesmo caminho, como se estivesse falando de personagens fictícios e não de suas duas filhas.

A diretora e roteirista Andrea Arnold cria um longa dolorosamente impressionante a partir de um tema batido. É bem verdade que a temática do filme é semelhante a muitos outros realizados antes dele, mas o que torna Aquário tão especial e comovente é sua abordagem desprovida de grandes exageros dramatúrgicos. Mia vive pequenas tragédias a cada dia, mas, ao mesmo tempo, elas são totalmente previsíveis – justamente porque nós, adultos, já podemos antecipar o que está para acontecer antes da própria personagem.

Outro aspecto original é que a trama por vezes anuncia grandes tragédias e acaba seguindo pelo caminho da menor das dores - e esta nos parece ainda mais terrível justamente por ter a medida do real. Nada é tão ruim quanto poderia ser, considerando o evoluir das situações, mas é péssimo o suficiente. A cada sonho destruído, a cada esperança que se converte em mais uma decepção, a cada esforço em troco de nada, a protagonista luta para não submergir nesse aquário de miséria humana.

Katie Jarvis, a Mia, tem 18 anos e foi premiada melhor atriz no Festival de Edimburgo. Aquário é seu primeiro filme e diz a lenda que ela foi descoberta por um agente quando estava brigando com o namorado numa estação de trem. Assim como a personagem, ela tinha abandonado a escola e estava desempregada. Vamos ficar de olho nessa moça daqui para a frente e torcer para que ela não seja atriz de um papel só.


Nota: 9,0

(Fish Tank, de Andrea Arnold. UK, 2009. 124 minutos. Panorama do Cinema Mundial)

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