terça-feira, 6 de outubro de 2009

Bastardos Inglórios


Cada vez que Quentin Tarantino realiza um novo longa, a expectativa que antecede seu lançamento é imensa. Só que nem sempre o tão aguardado filme faz jus ao nível de excitação dos cinéfilos. A crítica e o público alçaram o diretor ao patamar de gênio depois de Pulp Fiction – que é, de fato, um trabalho genial –, mas nem tudo que saiu de sua mente depois disso é tão inquestionavelmente bom. O primeiro volume de Kill Bill, por exemplo, é bem inferior ao segundo. E não vamos nem comentar À Prova de Morte, sua metade do projeto Grindhouse, já que se trata mais de curtição do que cinema pra valer. Mas não é o caso de Bastardos Inglórios, que é realmente uma produção caprichada e de alto nível.

No início da ocupação nazista na França, a jovem Shosanna Dreyfus testemunha o extermínio de sua família pelo coronel Hans Landa. Ao fugir para Paris, forja nova identidade e vira dona de um cinema. O tenente Aldo Raine reúne um grupo de destemidos soldados judeus americanos que logo ficam conhecidos como “os bastardos”, por organizarem eficazes e brutais atos de resistência contra os nazistas. As duas tramas se unem quando uma pré-estreia de um filme de Goebbels ocorre no cinema de Shosanna, que também tem seus próprios planos de vingança.

De um roteiro escrito por Tarantino sempre se espera ousadia e um alto grau de inventividade. Nesse sentido, Bastardos Inglórios apresenta uma condução mais convencional. Não possui uma cronologia inusitada, discussões filosóficas acerca de nada e muito menos as tão características cenas fetichistas com pezinhos descalços – o que, convenhamos, não combinaria muito com este longa. A orginalidade fica mais por conta da concepção de realizar um filme com temática de guerra usando os códigos do western. A homenagem a Sergio Leone é clara, desde as cenas de tiroteio que lembram duelos do velho oeste até a trilha sonora que remete ao estilo do maestro Ennio Morricone.

Outro ponto curioso é a cara-de-pau incrível de não estar nem aí para a História (com H maiúsculo) e concluir o longa com um desfecho que qualquer criança de cinco anos sabe que é diferente da realidade. O que causa um efeito-surpresa no espectador e uma divertida novidade, já que a maioria dos filmes que tem alguma ambientação histórica se sentem na obrigação de não desrespeitá-la – pelo menos não tão absurdamente como o faz Bastardos Inglórios.

No elenco superstar – que inclui Brad Pitt, Diane Kruger e Daniel Brühl – o grande destaque é o austríaco Christoph Waltz, que interpreta o Coronel Landa e venceu o prêmio de melhor ator no último Festival de Cannes por esse papel.

Bastardos Inglórios não é da mesma safra de obras-primas como Pulp Fiction ou Cães de Aluguel, mas quem foi que disse que Tarantino tem que ser sempre revolucionário? É um bom filme-pipoca, desde que o espectador retire o cineasta dessa posição incômoda de gênio e entre na sala de cinema disposto a se divertir.

Nota: 8,0

(Inglourious Basterds, de Quentin Tarantino. EUA / ALE, 2009. 148 minutos. Panorama do Cinema Mundial)

Um comentário:

  1. Eu vou ver de novo quarta. Fiquei embasbacado, Erika. Achei uma obra-prima, do início ao fim. Todos os capítulos.

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