quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Um Namorado para Minha Esposa


Tenso não aguenta mais o mau humor crônico de sua esposa, Tana. Ela reclama de tudo, critica seus amigos, já acorda de maus bofes. Radialista desempregada, nenhum emprego lhe parece bom o suficiente. Tenso quer se divorciar, mas sempre que encara Tana falta-lhe a coragem. Até que um amigo lhe fala sobre El Cuervo, um notório galanteador que fora expulso da região por sua lábia irresistível e seu pendor por mulheres casadas. Tenso acredita que seria essa a solução perfeita: fazer com que a própria Tana o deixe. Assim, ele procura El Cuervo e contrata-o para seduzir sua mulher.

OK. O argumento não chega a ser uma novidade do outro mundo, mas Um Namorado para Minha Esposa é tão bem escrito e interpretado com tanta convicção que confere um inacreditável frescor à trama pouco original. A começar pela personagem Tana que, mesmo sendo reclamona e mal-humorada a maior parte do tempo, provoca empatia no espectador pelo fato de suas reclamações serem bastante pertinentes. Um exemplo: ela odeia ir a festas de aniversário porque crê que fatalmente alguma mãe coruja vai lhe encher a paciência falando sobre fraldas e mamadeiras de seu rebento. Quem nunca passou por isso? Tem coisa mais desagradável do que um interlocutor que acha que as maiores banalidades são assuntos de segurança nacional?

Tampouco é surpresa que, com a mexida na vida conjugal, Tana passa a tornar-se mais interessante aos olhos de Tenso e reacende nele o ciúme, a vaidade, o desejo. Sendo ele um homem inseguro que, no fundo, não tem lá essa certeza toda de querer se separar, também é um personagem que cria bastante identificação. A impressão que fica é a de que Tenso, na verdade, embarcou nesse plano desesperado mais por “entrar na pilha” dos amigos do que por opção própria. E o filme se isenta de tomar um partido claro, o que só torna a história mais interessante.


Um Namorado para Minha Esposa chegaria bem perto da perfeição se não escorregasse tão feio nos vinte minutos finais, quando perde completamente o senso de humor, torna-se discursivo e muda de tom, baixando consideravelmente a qualidade de um filme que até então beirava a excelência. A última cena do casal com a terapeuta é de um despropósito completo. Uma pena. Errar no desfecho de um filme é o pior dos erros.

Uma curiosidade: Valeria Bertucelli, intérprete de Tana, é protagonista de outro longa que está sendo exibido no Festival: Chuva, de Paula Hernández. É bastante impressionante a versatilidade da atriz, que em Chuva interpreta uma mulher retraída e calada e, neste filme, é um poço de energia e uma metralhadora giratória de sarcasmo. Também é curioso o quanto Adrián Suar, o Tenso, lembra o David Duchovny.

Nota: 7,0

(Un Novio Para Mi Mujer, de Juan Taratuto. Argentina, 2008. 100min. Première Latina)

Um comentário:

  1. Eu vi esse num festival do Bourbon que tem todo ano aqui em Porto Alegre e gostei consideravelmente do que vi. Apesar de que, como você bem disse, o argumento não traz nada de novo, o boa condução da história pelos atores garante a boa seção.

    ResponderExcluir