sábado, 10 de outubro de 2009

Salve Geral


É preciso falar, ainda que tardiamente, de Salve Geral. Ao mesmo tempo em que seu lançamento passava meio despercebido aqui no Rio de Janeiro (por ter ocorrido em meio ao Festival do Rio), o filme estreou com a chancela de ter acabado de ser eleito o candidato do Brasil para disputar uma das cinco vagas para o Oscar 2010 na categoria melhor filme estrangeiro. Nas preliminares em casa, Salve Geral derrotou pelo menos um filme de excelência inequívoca: Feliz Natal, de Selton Mello.

Sem fazer juízo de valor quanto ao filme em si, é muito esquisita essa insistência do Brasil em enviar, ano após ano, o mesmo estilo de filme que vem sendo desprezado pela Academia. Vale lembrar que Carandiru, Última Parada 174 e até mesmo a obra-prima Cidade de Deus foram rejeitados nesta categoria, o que só reforça os boatos sobre o conservadorismo dos votantes da mesma. É bem verdade que no ano seguinte Cidade de Deus deu a volta por cima e obteve indicações nas categorias principais, mas isso não invalida o fato do longa ter sido rejeitado quando submetido à disputa por filme estrangeiro.

Quanto a Salve Geral, é um filme correto quanto à recriação do fatídico domingo de maio de 2006 no qual o PCC (Primeiro Comando da Capital) promoveu um caos que conseguiu parar a maior cidade do país. A rotina carcerária e as disputas de poder entre as facções também são mostradas em todas as suas nuances cinzentas. Mas o longa sempre parece menos convincente em sua porção fictícia, ao se apoiar em personagens cujas ações e reações não parecem lógicas. Andréa Beltrão é uma excelente atriz e dá seu sangue para defender Lúcia, mas a personagem é cheia de contradições esquisitas: primeiro é uma mãe amorosa que se envolve com o crime para proteger o filho, mas subitamente se apaixona por um criminoso e deixa o filho – que foi a origem de tudo – em segundo plano, chegando a parar de visitá-lo para se encontrar com o amante. O ator Lee Thalor, que interpreta Rafa (o filho de Lucia), tem 26 anos. Embora a idade do personagem não seja dita explicitamente em nenhum momento, suas atitudes infantis e inseguranças soam típicas de um adolescente. E Thalor tem a imagem de um homem já mais maduro, mesmo caracterizado como um garotão.

Salvo essas ressalvas, é um filme competente. Agora se vai comover os membros da Academia... aí já é outra história.

2 comentários:

  1. Erika, na minha opinião as pessoas têm sido muito injustas com "Salve Geral", pois eles parecem deixar de expor qualquer mérito do longa, por menor que ele seja, para demonstrar somente a sua insatisfação pessoal enquanto a chance que conseguiu de representar o nosso país no Oscar 2010, imaginando que, na verdade, outro filme deveria estar com esta vaga. O mesmo aconteceu com "Última Parada 174", um filme que gostei. E eu estou aguardando pelo par de ingressos que ganhei para assistir ao filme nos cinemas, rs. Em tempo: tenho medo dessa história da personagem da Andréa se envolver com um presidiário. Ela soa bem equivocada.

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  2. Pois é, Alex, no lugar de simplesmente difamar o filme, creio que deveria ser discutido o porquê da comissão que escolhe o representante brasileiro optar sempre pelo mesmo estilo de filme. Vale lembrar que o filme mais diferente desse perfil, O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, foi o que chegou mais perto de ser escolhido nos últimos anos, chegando a ficar entre os 9 pré-selecionados.

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