quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Matadores de Vampiras Lésbicas





Jimmy acaba de levar um fora da namorada pela enésima vez e seu amigo Fletcher, tentando melhorar seu astral, sugere que os dois tirem alguns dias de férias no campo. Por um lance do destino, o local escolhido é um vilarejo de aspecto medieval que sofre com uma terrível maldição, lançada séculos antes pela rainha-vampira Carmilla: todas as meninas, ao completarem 18 anos, se transformam em vampiras lésbicas. E o bom povo da cidade costuma oferecer viajantes desavisados em sacrifício, o que fará de Jimmy, Fletcher e um quarteto de belas garotas as próximas vítimas.

Eu confesso: desde que botei os olhos na primeira lista de filmes que seriam exibidos neste Festival, fiquei morrendo de curiosidade para ver este. Como resistir a um argumento tão deliciosamente trash? Mas, por incrível que pareça, muitos cinéfilos tem criticado o filme. Injustiça, já que o longa cumpre exatamente o que promete: diversão em doses cavalares. Afinal de contas, o que mais esperar de algo com esse título? Matadores de Vampiras Lésbicas não é o melhor filme a que assisti neste Festival, mas até o presente momento é, de longe, o mais engraçado. Uma viagem muito bizarra, que esculhamba não apenas os cânones dos filmes de vampiros, mas também faz uso de referências de outros gêneros – como o mito de Excalibur, por exemplo.

Cheio de intencionais “defeitos especiais”, como uma música estridente acompanhando as cenas pseudo-assustadoras, uma fumaça constante que se espalha pelo cenário do modo mais fake possível, vampiras que deslizam no ar com roupas esvoaçantes, um caçador de vampiros que parece uma mistura de Van Helsing com o padre de O Exorcista, o visual medieval em pleno século XXI, enfim, um festival de deboche que não deixa pedra sobre pedra. Outro detalhe engraçado é que as atrizes que incorporam as jovens nórdicas (não fica claro a nacionalidade, mas elas se chamam Anke, Trudi, Heidi e Lotte) interpretam seus papéis da forma mais artificial possível, ou seja, tirando o maior sarro dos parcos recursos dramáticos das gostosonas dos filmes de terror.


Outro acerto é o saudável desprezo do filme ao bom gosto, atitude sempre corajosa nesses tempos de ditadura do politicamente correto. James Corden, que interpreta Fletcher e parece uma versão britânica do Seth Rogen, é o responsável pela tiradas mais anárquicas do roteiro. São dele falas como “essas garotas estão mortas e preferem transar umas com as outras do que comigo”, “agora só me falta ser atacado por um lobisomem gay” ou seu impagável grito de guerra “vocês querem me pegar, suas sapatões?”.

Com um único longa-metragem anterior (Alone, 2002) e um curta no currículo, o diretor inglês Phil Claydon entrega um longa muito divertido e cheio de espirituosas referências à cultura pop e também a diversas produções de outros gêneros. Outro detalhe para se notar é o modo como o filme debocha do próprio mecanismo da sétima arte, com uma montagem assumidamente grosseira e movimentos de câmera que celebram os clichês e cacoetes repetidos à exaustão nos filmes terror. E o melhor de tudo é que, embora seja uma sátira, o filme não se limita a fazer colagens – como a série Todo Mundo em Pânico – e se dá ao trabalho de contar uma história com início, meio e fim. Bisonha, mas coerente.

Matadores de Vampiras Lésbicas é mais do que um título engraçadinho. É uma saudável celebração do bom humor, do deboche e da anarquia. As pessoas podem até não admitir depois que saem do anonimato da sala escura, mas eu fui não apenas testemunha como também participante ativa das gargalhadas coletivas. E esse é o melhor termômetro.

Nota: 8,0

(Lesbian Vampire Killers, de Phil Claydon. UK, 2009. 88min. Mostra Midnight Movies)

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