sexta-feira, 11 de junho de 2010

Cartas para Julieta


Cartas para Julieta, que estreou de maneira oportuna às vésperas do dia dos namorados tupiniquim, tem tudo para fazer a alegria não somente dos casaizinhos apaixonados, mas também dos românticos em geral e ainda dos apreciadores das incontestáveis belezas da Itália. Como toda comédia romântica, é claro que o filme já começa prometendo um indefectível e redentor final feliz. Mas o que realmente importa nesses casos é que toda a previsibilidade do roteiro é recheada com uma história fofinha, um elenco simpático e todo o charme extra das paisagens italianas.

A trama inicia em Nova Iorque, onde Sophie trabalha para uma revista como checadora de fatos e sonha dar seu upgrade para escritora. No que deveria ser uma viagem romântica com o noivo para Verona, o rapaz – um chef obcecado com seu restaurante prestes a ser inaugurado – passa os dias mais interessado em obter fornecedores incríveis do que em estar com sua Sophie. Logo começam a fazer programas em separado – ele visita vinícolas, queijarias, etc. – enquanto ela vai conhecer os atrativos da cidade.

Existe em Verona a “casa de Julieta”, uma reprodução da mansão dos Capuleto descrita por Shakespeare, e em seu jardim há um muro onde mulheres de todas as idades e nacionalidades deixam bilhetes para Julieta, desabafando suas mágoas ou pedindo conselhos. E a prefeitura tem funcionárias para recolhê-las e respondê-las – fato real. Remexendo no muro, Sophie encontra uma carta escondida. A remetente é Claire, uma inglesa que 50 anos antes foi a Verona e se apaixonou perdidamente por um italiano. Sophie responde à carta e Claire, hoje uma senhora viúva, vê nas suas palavras sonhadoras um sinal de que deve voltar à Itália para tirar a limpo o passado. Está estabelecida a base para que o filme se transforme num road movie divertido, levando-nos a deslumbrantes recantos da Toscana. Somando isso à beleza da própria Verona, o longa vira um prato cheio para os italomaníacos.


Não deixa de ser curioso que a grande força do filme esteja nas duas mulheres e não em um casal. A bonitinha Amanda Seyfried faz de Sophie uma jovem moderna e ativa, mas cheia de romantismo. Uma personagem com a qual é difícil não simpatizar. Já a personagem Claire cabe à grande Vanessa Redgrave, que a interpreta com tanta delicadeza e beleza que ilumina a tela a cada aparição. Comentou-se muito o fato de Vanessa aparecer em cena ao natural, quase sem maquiagem – o que não a torna menos charmosa e encantadora. A química entre Amanda e Vanessa é muito legal, com uma cumplicidade impressionante. Pena que não se possa dizer o mesmo do australiano Christopher Egan, que interpreta o neto mal-humorado e cético de Claire, por quem Sophie está fadada a se interessar. Fica um pouco difícil crer que a moça o prefira ao charme latino de Gael García Bernal – o noivo Victor –, mesmo porque o longa resiste à tentação de pintar Victor como um canalha.

Completando o elenco está o italiano Franco Nero como Lorenzo Bartollini, a paixão inesquecível de Claire. E é este casal em particular que dá nova dimensão à história, já que Franco e Vanessa foram casados na juventude, tiveram filhos, se separaram e há uns cinco anos resolveram voltar a se casar. Esse detalhe da arte imitando a vida torna Cartas para Julieta ainda mais bonitinho. Dirigido por Gary Winick – que fez o pavoroso Noivas em Guerra, mas também o divertido De Repente, 30 –, trata-se de um filme para curtir sem maiores pretensões, mas realizado com eficiência e muito charme. Ideal para ver a dois, com o namorado(a) ou até mesmo para tentar um approach com aquela pessoa especial.

sábado, 5 de junho de 2010

Príncipe da Pérsia


Assim como a enxurrada de adaptações oriundas das graphic novels, outro filão aparentemente interminável para o cinema hollywoodiano são as aventuras em carne e osso dos personagens de videogame. E foi-se o tempo em que eram apenas celebridades virtuais como Super Mario e Lara Croft. Hoje em dia o cidadão que não tem intimidade alguma com esse universo se perde. Eu confesso que desconhecia completamente que existia um game chamado Príncipe da Pérsia. Portanto, as opiniões abaixo se referem estritamente ao filme feito a partir dele.

Dastan é um garoto pobre adotado pelo sultão da Pérsia, criado como príncipe ao lado de seus dois outros filhos legítimos, com a única diferença de não ter direito ao trono. Adulto, torna-se um guerreiro destemido e, ao lado do tio e dos irmãos, se vê em meio ao delicado dilema de invadir ou não uma cidade sagrada acusada de fornecer armas aos inimigos dos persas (qualquer semelhança com uma invasão recente certamente não é coincidência). Dastan é contra, mas seu irmão mais velho, o príncipe herdeiro, é convencido pelo tio, conselheiro do rei ausente. Sempre leal à família, Dastan lidera o ataque e captura a princesa Tamina. Mas não tem tempo de colher os louros da vitória, já que é vítima de um complô. O rei é assassinado, Dastan é acusado do crime e logo descobre que tudo foi engendrado por causa de um artefato capaz de controlar o tempo.

Príncipe da Pérsia não nega suas origens de videogame. Cenas acrobáticas, peripécias juvenis e muito corre-corre realmente podem ser divertidos em um jogo. Em um filme, onde temos que assistir a tudo sem nenhuma interação, nem tanto. Pelo menos, não sem uma boa história embasando tudo isso. E esse é o grande problema do filme: limitar-se a copiar as regras de diversão de seu meio de origem e não ter o mínimo de ambição para transpor os limites do game em busca de atrativos cinematográficos. Certamente um longa bem ao estilo do cinema produzido por Jerry Bruckheimer, ainda que cause estranheza que um cineasta de prestígio como Mike Newell assine a direção.

Com uma história atravancada e cheia de incoerências, resta ao filme investir pesado em coreografias espantosas, cenários exóticos e muito deslumbre visual. Por vezes sentimos que não há sequer uma transição entre uma situação e outra. Vamos resumir da seguinte maneira: depois de Príncipe da Pérsia, o espectador pode até chegar a pensar que Fúria de Titãs é um filme profundo.


Podia ser pior? Sim, podia. Sem o talento, carisma e simpatia desse ator maravilhoso chamado Jake Gyllenhaal a coisa ficaria realmente feia. Tendo Jake em cena praticamente em todos os fotogramas, o espectador tem a alternativa de se concentrar nele e dar um voto de confiança ao seu príncipe aventureiro.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Eu Te Amo, Phillip Morris


O Golpista do Ano (título que beira o constrangimento para I Love You, Phillip Morris) é um filme curioso. Como produto cinematográfico, é irregular e salpicado de pequenos defeitos narrativos, escorregadelas de ritmo e confusões de estilo, indeciso entre mergulhar na comédia ou narrar com maior sentimento a sui generis história de amor entre um estelionatário e seu companheiro de cela. No entanto, mesmo estando longe de ser uma produção perfeita, há algo no filme que conquista e comove, tornando impossível não simpatizar com ele.

Baseado no livro do jornalista Steve McVicker, Eu Te Amo Phillip Morris acompanha a inusitada (e verídica) trajetória de Steven Russell, pai de família cristão e conservador que leva uma vida de aparências até o dia em que sofre um grave acidente de trânsito e resolve que a vida é curta demais para ser passada dentro do armário. Steve se assume, arruma um bofe luxo (interpretado por Rodrigo Santoro) e tudo estaria perfeito não fosse um detalhe: a vida de jóias extravagantes e viagens fabulosas que ele tanto aprecia custa caro, muito caro. Para manter o padrão, Steve passa a aplicar os mais diversos golpes, desde forjar acidentes para receber indenizações indevidas até falsificar cartões de crédito. Capturado, vai para a prisão e lá apaixona-se perdidamente por outro detento – o Phillip Morris do título original.


Com uma história que lembra o delicioso Prenda-Me se For Capaz, o filme alterna comédia rasgada com romance. A mistura por vezes atravanca um pouco o ritmo da trama, já que o roteiro nem sempre consegue transitar com fluência entre esses dois aspectos. A atuação de Jim Carrey como Steve funciona às maravilhas no quesito comicidade (suas fugas e armações são impagáveis), mas resvala na caricatura em cenas que deveriam ser mais românticas. Já a composição de Ewan McGregor como Phillip Morris é bem mais delicada e precisa, sempre focada nos pequenos detalhes ao invés de cair na fórmula fácil dos trejeitos – e, cá entre nós, ele fica lindo de uniforme de presidiário. McGregor rouba a cena cada vez que aparece, provando mais uma vez sua versatilidade e competência. E Rodrigo Santoro, cada vez mais à vontade em sua carreira internacional, faz bonito em participação pequena porém fundamental para a trama.

O filme também se utiliza de Steve como um narrador não confiável de sua própria história. O recurso, que pode ser uma faca de dois gumes, aqui surpreende mais do que atrapalha. Um exemplo disso é o personagem de Rodrigo Santoro, que desaparece da trama sem explicações e deixa o espectador com a sensação de que tiraram ele de cena apenas para abrir espaço para a chegada de Phillip Morris, ou seja, uma tremenda falha no roteiro. Mais tarde, quando Steve esclarece aquela parte da história, os pedaços se encaixam e o personagem inclusive ganha maior importância na história.


Ameaçado de lançamento direto em DVD, I Love You, Phillip Morris finalmente chega às telonas brazucas mas não sem antes sofrer algumas distorções. A começar pelos cartazes e trailers, que tentam destacar a parte cômica do filme numa clara manobra para desviar a atenção da situação romântica. Não que o filme não tenha seus momentos pastelão, mas é evidente que fazer rir não é seu foco primordial. O longa, na verdade, é quase uma fábula sobre o que acontece quando uma pessoa sem limites encontra uma razão para ficar ainda mais desmedida. É sobre o patético e terno sentimento de estar loucamente apaixonado. Os estreantes na direção Glenn Ficarra e John Requa (roteiristas do bacaninha Como Cães e Gatos) começaram muito bem, demonstrando originalidade e ousadia já em seu primeiro filme.

Na vida real, Steven Russell escapou da prisão quatro vezes, sempre em uma sexta-feira 13. Recorrendo aos mais criativos estratagemas e disfarces, o cara chegou a extremos que ameaçaram sua vida para ficar perto do homem que amava. Chega a ser difícil para a ficção concorrer uma realidade dessas.

Sexta nos cinemas.