terça-feira, 28 de junho de 2011

A Falta Que Nos Move


Os limites entre realidade e ficção podem ser facilmente confundidos e aproximados. O quanto um ator doa de si mesmo para um papel é assunto que vem sendo discutido desde sempre e não se chega a um consenso. Isso é pergunta sem resposta, mesmo porque cada um tem seu próprio e particular processo nessa subjetiva arte de criar uma personagem. E o quanto do que acontece em um filme pode ser controlado pelo roteiro, pela direção e demais limites profissionais? São questionamentos como esses que a diretora teatral Christiane Jatahy investiga com extrema perspicácia e originalidade em sua estreia atrás das câmeras.

A Falta Que Nos Move é a versão cinematográfica da peça homônima e foi rodada num único dia, durante treze horas ininterruptas de filmagem. Ao longo da noite de 23 de dezembro de 2007, três câmeras acompanharam os cinco atores. O cenário? A casa de Christiane, que pré-estabeleceu um roteiro que deveria ser seguido e dirigiu os atores durante a filmagem exclusivamente através de torpedos de celular. Vale lembrar que o elenco vinha trabalhando tal pesquisa de linguagem há quatro anos. A trama é simples: os atores se encontram para uma celebração e devem cozinhar, conversar e beber, preparando o jantar para uma sexta pessoa que pode chegar ou não.

Como bem definiu Eduardo Coutinho a respeito de seu filme Jogo de Cena, “diante de uma câmera, todo mundo atua”. Mas o contrário também é válido, ou seja, todo ator acaba doando algo de si para atingir um nível de interpretação verdadeiro. Seria possível viver exclusivamente um personagem ao longo de treze horas? Dificuldade imposta pelo fato dos personagens serem os próprios atores, com seus nomes reais. Nesta arrojada proposta, cabe ao espectador investigar em que momentos os atores estão sendo eles mesmos. Teriam sido pré-programados todos os conflitos ou algumas desavenças afloraram naturalmente depois de algumas taças de vinho? Conseguiram os atores manter seus papéis na íntegra, mesmo quando confrontados com a tensão máxima?

A pesquisa de Christiane encontra ecos no teatro do oprimido de Augusto Boal, dentre outros, mas, ao mesmo tempo, também se presta perfeitamente à linguagem moderna do cinema e mixa de maneira engenhosa o filme a seu making of, que acontecem simultaneamente e sem separação. Por diversas vezes o mecanismo por trás da ilusão é desvelado, ao mostrar o roteiro escrito nas paredes da cozinha, o torpedo que um ator recebe ou até mesmo fazer rebobinar uma cena que aconteceu antes do previsto. Outro ponto curioso é quando os atores discutem como deve ser interpretado um trecho do roteiro. Seria a discussão sobre o roteiro uma parte do roteiro em si, numa dupla metalinguagem?


Mas o melhor na produção é que ela não se limita a ser um filme-pesquisa. A Falta Que Nos Move vai além de sua forma e, como cinema, conta uma história tensa e comovente sobre as crises de identidade e angústias de um grupo de amigos vivendo um momento de ruptura em suas vidas e confrontados com a ausência de algo. Seja amor, rumo profissional ou qualquer outra falta que lhes mova, estão todos precisando se afirmar. O roteiro encontra ecos no cinema de Bergman e também de algumas obras anteriores de Woody Allen e é por si só interessante, mesmo sem considerarmos a pesquisa envolvida.

E certamente nada disso seria possível sem a incrível disponibilidade e entrega de Pedro Brício, Marina Vianna, Kiko Mascarenhas, Cristina Amadeo e Daniela Fortes a essa abordagem radical de desnudamento diante das câmeras. Os atores conseguem deixar bastante difuso o limite da realidade, mergulhando sem pudores na proposta do longa.

Uma mentida bem contada, como se diz em determinado momento? Uma realidade exposta? Revelações inesperadas? Ou estava tudo previsto? Cada espectador pode ter sua conclusão particular e é justamente isso que torna A Falta Que Nos Move não apenas um grande filme, mas também um projeto de absoluta relevância para a linguagem artística contemporânea. Imperdível. Sexta nos cinemas, finalmente.

(Texto publicado originalmente em outubro de 2009, quando da apresentação do longa no Festival do Rio. Tive oportunidade de rever o filme recentemente e mantenho minha opinião inalterada) 

domingo, 19 de junho de 2011

Meia-Noite em Paris


É curioso como um cineasta singelo como Woody Allen atrai reações radicais a seu trabalho. Quase ninguém gosta “mais ou menos” de Woody Allen. Os que o apreciam são fãs incondicionais de seus filmes artesanais, roteiros inteligentes e humor ácido e relevam mesmo suas recorrências. Já os que não o curtem costumam odiá-lo com todas as forças, desgostando de seus filmes antes mesmo de vê-los. Sou assumidamente do primeiro time, e acredito que mesmo um Allen fraco é superior à média do que se vê atualmente no cinema. Mas se tem um filme que pode diminuir um pouco este abismo, convertendo detratores em apreciadores, é este Meia-Noite em Paris. Desde que você, caro leitor, dê a si mesmo a oportunidade de assisti-lo.

O filme demonstra ser um Allen meio diferente já na longa abertura, que passeia sem pressa pela cidade-musa da trama por vários minutos. Seria cansativo se as imagens não fossem absurdamente lindas. Depois de devidamente ambientado, o espectador é apresentado ao casal Gil e Inez. Ele é um roteirista de Hollywood bem-sucedido, mas que gostaria mesmo de ser escritor; ela é uma mulher prática que não entende porque o noivo quer jogar uma carreira vitoriosa para escanteio em nome de pretensões intelectuais.

O grande sonho de Gil é morar em Paris, ao menos por um tempo, e se inebriar na atmosfera que já inspirou tantos grandes artistas. Na verdade, o grande sonho dele seria ter vivido a efervescência parisiense da década de 20, quando personalidades como Ernest Hemingway, Pablo Picasso, Salvador Dalì, Cole Porter, F. Scott Fitzgerald, Luis Buñuel e tantos outros podiam ser encontrados em qualquer café ou esquina. Enquanto isso sua Inez só pensa na futura casa em Malibu e nos discursos pseudo-intelectuais do amigo Paul.

O ótimo roteiro é construído de modo que o espectador perceba a insatisfação e os problemas de Gil antes dele mesmo. Como qualquer sensibilidade artística poderia sobreviver àquela noiva fútil, àqueles sogros truculentos e esnobes e, principalmente, àquele amigo insuportável que gruda no casal como uma moléstia? Como o sujeito pode se inspirar em companhia de uma mulher que está em Paris e se recusa a caminhar na chuva? Poucos filmes de Woody Allen até hoje equilibraram com tamanha perfeição os sentimentos-chave de sua obra: intelecto, humor e ternura, tríade que pode ser sentida em doses iguais ao longo de toda projeção deste encantador Meia-Noite em Paris.


É como dizem, há que se tomar cuidado com o que se deseja. Através de um divertido mecanismo temporal, Gil se vê em meio a seu sonho de consumo. De repente, ele pode ir a uma festa com o casal Fitzgerald ou pedir conselhos literários a Gertrude Stein. Ou sentar à mesa com os surrealistas e dar sugestões a Buñuel. Ou se apaixonar pela musa de um famoso pintor. Mas seria o passado tão resplandecente como ele parece aos nossos olhos de hoje ou é a impossibilidade de vivê-lo que o torna tão perfeito? Com essa questão em foco, o filme nos brinda com sequências de puro deleite, à medida que Gil tem encontros divertidos e surpreendentes com seus ídolos. As referências são incontáveis, além do fato de Allen ter recrutado ótimos atores para essas participações, conferindo ainda mais categoria ao filme. Destaque para o alucinado Dalì de Adrien Brody. Fica ainda a curiosidade de ver a primeira-dama francesa, Carla Bruni, como uma guia de turismo.

Como é hábito de Woody Allen, o protagonista é concebido como um alter ego dele mesmo. O ator escolhido costuma se transformar até mesmo fisicamente, assumindo a postura decaída e o modo rápido de falar do cineasta. A grande surpresa é ver não apenas como Allen extrai essas características de Owen Wilson como também que, por trás dessa mudança física, se revela um insuspeitadamente bom ator. Mas mesmo Woody Allen pode errar, e infelizmente ele não consegue o mesmo milagre de Rachel McAdams. Menos mal que a função de sua Inez seja justamente a de nos irritar, porque a moça irrita como personagem e também como atriz. Por outro lado, temos o contraponto de uma ensolarada Marion Cotillard. Quando a atriz entra em cena, ilumina não somente a vida do pobre Gil, mas o filme como um todo.

Meia-Noite em Paris é filme para ver, se encantar, ter na prateleira. Para assistir de coração aberto e se deixar levar. Para se apaixonar. Por alguém. Pelo filme. Por Paris. Por Woody Allen. 

Já nos cinemas.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Viena – O Que Faltou Comentar

Parece que as rodas-gigantes andam me perseguindo. Depois da muvuca em torno da London Eye – que eu olhei bem de longe, obrigada – eis que conheço outra, e das famosas. A roda-gigante situada no parque Präter tem história, inclusive na sétima arte. Quem viu o clássico O Terceiro Homem (1949) certamente se lembra da cena na qual o vilão interpretado por Orson Welles tem um diálogo tenso com o protagonista lá no alto, dentro de uma das cabines panorâmicas. A roda foi construída para um evento em 1897 e é uma das mais antigas do mundo ainda em funcionamento.

No mesmo parque fica a filial vienense do museu de cera Madame Tussauds. Menorzinho, mais barato e infinitamente mais tranquilo do que sua matriz londrina, o museu tem a seu favor o cuidado com que cada personagem é inserido em um cenário completo, com direito a diversos acessórios para o público usar e incrementar as fotos. No consultório de Freud, por exemplo, a gente pode deitar no divã para se analisar. Ou entrar no chuveiro de Psicose e ser dirigido pelo mestre Hitchcock. Claro que há um foco maior em personagens que tenham a ver com a cultura austro-germânica, em referências nem sempre muito diretas, como, por exemplo, o fato da estátua de Quentin Tarantino estar dirigindo Brad Pitt no set de Bastardos Inglórios.


Naquele mesmo dia, fui até a marina da cidade para dar uma olhada no famoso Danúbio, aquele que é azul na valsa de Strauss. De azul, o rio não tem nada. É barrento, de uma cor suja. Feio mesmo. Quando retornava ao hotel, um episódio muito esquisito aconteceu: estava andando na rua quando algo me atingiu na cabeça. Não vi o que, só ouvi um ruído estridente. Olhei para um poste antigo e vi um corvo enorme me encarando. Puro Poe. De repente, o corvo deu outro rasante na minha cabeça. Sim, era fato, ele estava me atacando. Investia contra mim, voltava a pousar no poste, encarava e atacava de novo. Embora eu não tenha entendido até hoje se ele bicava ou me batia com as garras, aquilo doía pra caramba. Eu estava no ponto do desespero quando avistei uma família – casal e dois adolescentes – e o homem me disse que eu deveria jogar uma pedra. Não foi preciso, porque o corvo debandou com a chegada deles. Perguntei se aquilo era normal, ao que ele, imperturbável como todos
os austríacos, respondeu “it happens” (acontece).

Outra curiosidade que eu reparei é que por toda a cidade existem balanças (dessas que a gente põe uma moeda para se pesar) nos lugares mais inusitados. Ao invés de estarem em farmácias, elas ficam no meio da rua. Essa que eu fotografei, por exemplo, estava bem na saída de um bonito jardim.

Para completar meu final de tarde em um domingo ensolarado (o sábado foi bem chuvoso e lúgubre) encontrei um simpático grupo que apresentava danças típicas em pleno centro da cidade. Vestidos de tiroleses, o animado grupo incentivava os visitantes a entrarem na roda para dançar também. Ao final, alguns deles posaram para uma foto comigo. E eu, afinal, consegui registrar um grupo de austríacos sorridentes. 





quinta-feira, 9 de junho de 2011

Museus e Centro Histórico de Viena


Pertinho do meu hotel (Hotel Regina, ótimas instalações e localização excelente) fica a Berggasse. No número 19 está situada a antiga casa de Sigmund Freud, o pai da psicanálise. Freud de fato morou e atendeu seus pacientes no imóvel, hoje transformado em um museu. É emocionante ver o lobby original, com a plaquinha informando o horário de atendimento do psicanalista, assim como ver os muitos documentos, fotografias e até parte do mobiliário original.


A pouca distância dali (10 a 15 minutos de caminhada) fica a chamada Praça dos Museus, que abrange desde um museu de história natural até diversas pinacotecas. Também faz parte do conjunto o imponente palácio imperial – onde o visitante pode conhecer os aposentos da famosa imperatriz Sissi – e alguns dos mais belos e bem-cuidados jardins e praças públicos.


É muito museu, não dá para sequer pensar em visitar todos. Tendo apenas três dias de estadia, eu tentei escolher duas opções bem diversificadas. O primeiro a ser visitado foi o badalado Leopold Museum, que contém vários quadros de Gustav Klimt. Klimt é o artista mais célebre por lá, tendo suas obras mais famosas – como Salomé – estampadas em praticamente todo tipo de souvenir. No dia seguinte, escolhi o Museu de História Natural. OK, eu sei que esse tipo de museu é parecido em qualquer cidade do mundo, mas eu nunca tinha entrado em um. E o de Viena, completíssimo, valeu cada centavo (a média dos ingressos por lá é de 10 euros).



Outra figura onipresente na cidade é Mozart, seja visual ou auditivamente. Depois de um tempinho, até cansa ouvir os acordes do gênio soando no seu ouvido o tempo todo, seja em elevadores, lojas de doces ou até mesmo nos banheiros públicos. No entorno das muitas (e belas) igrejas em estilo gótico, os turistas também costumam ser abordados por pessoas vestidas como o compositor, que vendem ingressos para recitais clássicos. As igrejas e catedrais capricham, ainda, nos jogos de luzes e vitrais coloridos.



Alguns prédios públicos também acabam virando atrações turísticas. O edifício do parlamento, com suas colunas gregas e seu belíssimo chafariz, se destaca no centro da cidade. A poucos metros dali, a prefeitura mais parece o castelo da Disney. Tudo muito bonito, elegante, classudo, com um charme austero.



Vale lembrar que todas as atrações e belezas aqui citadas ficam em um perímetro que pode ser visitado todo a pé.  


quarta-feira, 8 de junho de 2011

Namorados Para Sempre


É preciso tomar muito cuidado com certos títulos de filmes em português. Mais do que não corresponder ao original, assim desvirtuando as intenções de quem o realizou, alguns chegam ao extremo de passar uma mensagem diametralmente oposta sobre o que se está por assistir. Um exemplo? O espectador que estiver a fim de curtir um romancezinho a dois neste Dia dos Namorados e se deixar levar pela promessa de singeleza contida em um título como Namorados para Sempre (tradução mais do que infiel para Blue Valentine) pode se sentir bem lesado ao final da sessão, visto que o excepcional filme de Derek Cianfrance não tem nada de leve e nem de fofinho. Pelo contrário, é um dos mais pungentes e doloridos retratos do esfacelamento de uma história de amor.

Através de um roteiro corajoso e isento de concessões, o filme narra dois momentos distintos na vida do casal Cyndi e Dean: o início do relacionamento, quando ambos mergulham em uma paixão avassaladora, capaz de superar os mais complicados obstáculos; e o momento atual, quando já estão juntos há alguns anos, tem uma filha pequena e lutam para manter de pé um casamento que parece agonizar e caminhar para o inevitável precipício. A montagem, que intercala esses dois recortes da relação, faz com que o espectador se envolva profundamente e se compadeça mesmo durante as cenas felizes, justamente por ter conhecimento de que aquela harmonia está fadada a ruir em um futuro não tão distante assim.

Alguns acusarão o argumento de prosaico, banal. Mas talvez o grande diferencial do filme seja justamente esse senso de familiaridade. O filme não se apóia em traições, problemas insuperáveis, grandes motivos para justificar a decadência amorosa. Não se pode identificar uma única razão, é o cotidiano, é a rotina, são as pequenas decepções que se infiltram sem que se perceba, minando a confiança, o carinho, o companheirismo. Quando se dá conta, Cyndi não suporta mais ser tocada pelo marido e se exaspera com defeitos que Dean já possuía quando se conheceram, mas que agora ganham uma dimensão mítica. Em um primeiro momento, o espectador tenderá a simpatizar mais com Dean; afinal de contas, ele demonstra ainda amar a mulher e é constantemente repelido por ela com rispidez. Mas esse não é um filme de mocinhos e vilões e logo passamos a ver também a ótica de Cyndi, cansada da miopia do marido em relação aos problemas, decepcionada com sua falta de ambição, farta de ser a única adulta no relacionamento.


Michelle Williams (indicada ao Oscar por este papel) e Ryan Gosling estão nada menos do que soberbos em seus papéis. Os atores passaram um mês inteiro se familiarizando um com o outro antes das filmagens, técnica que parece ter dado ótimo resultado. Michelle e Ryan passam uma atmosfera de total intimidade de casal quando se amam e – o mais difícil – também quando se desentendem. Ponto também para o excelente trabalho de caracterização, que consegue refletir no rosto dos protagonistas não somente os anos passados, mas também a carga de desesperança, cansaço e desilusão sofrida por cada um.

Chama a atenção que um filme tão visceral como esse venha de um cineasta com uma carreira quase exclusivamente voltada para o documentário. Por outro lado, pode ser que seja justamente a experiência com a vida real de Cianfrance que tenha permitido que o resultado final desta obra de ficção soe tão devastadoramente verdadeiro. Impossível não sentir um nó na garganta ao ouvir a marcante frase “como podemos confiar nos sentimentos se eles simplesmente desaparecem?”. Até o último fotograma, Blue Valentine se mantém humano, realista, sóbrio e, por isso mesmo, assustadoramente próximo de todos nós.

Sexta nos cinemas.

domingo, 5 de junho de 2011

Os Austríacos

Os austríacos provavelmente são as pessoas mais sérias do mundo. Coisa rara ver algum que não seja carrancudo, mesmo dentre aqueles que lidam com atividades turísticas. Não é que sejam antipáticos ou pedantes; pelo contrário, são pessoas educadíssimas e gentis, mas eles simplesmente desconhecem o que é um sorriso. Seja a qual for a situação, eles parecem inabaláveis em suas boas maneiras. Um exemplo: a expressão com a qual o garçom traz o cardápio é exatamente a mesma com a qual ele agradece a gorjeta.

Eles são tão confiantes em seu modelo de educação e civilidade que o metrô deles não tem sequer uma catraca (ao contrário do londrino, onde tem catraca para entrar e para sair). Você mesmo compra seu bilhete, escolhe por quantos dias e ninguém te pergunta mais nada. E não foi um acaso fortuito, já que eu andei bastante de metrô durante três dias inteiros sem que ninguém me pedisse para ver o bilhete uma vez sequer.


A língua deles é o alemão, mas você se vira bem por lá (ao menos em Viena) se souber inglês. Também não é raro encontrar alguns falantes de italiano, inclusive muitos cardápios vem escritos em alemão, inglês e italiano. Também facilita o fato deles sempre colocarem uma foto do prato. Sobre comida e bebida, falaremos mais adiante, por enquanto deixo registrado o momento da primeira cerva bebida em domínios austríacos – que foi uma cerveja alemã, a Beck’s.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Dias Vienenses


Como alguns podem ter notado (ou não), eu não postei nada no blog durante o mês de maio. Isso porque passei esse mês em uma imersão completa na língua italiana e na minha cidade preferida em todo o mundo: a estonteante, histórica e mítica Firenze – Florença, aqui para nós. Aliás, uma coisa que eu nunca entendi direito é essa coisa de traduzir o nome de algumas cidades estrangeiras. Como foi que Firenze virou Florença? Mas digressiono, voltemos ao que interessa.

Minha vida andava sem direção, com trabalhos que não iam bem e amores que iam piores ainda. Desde o ano passado, pensava em fazer esse curso e passar um mês estudando italiano na Itália. Não apenas para aprimorar o conhecimento do idioma, mas também para me afastar daqui, olhar tudo por um novo ângulo, me reciclar. Foi assim que, no dia 30 de abril de 2011, eu embarquei com duas malas e um caminhão de expectativas rumo a Firenze.

Como eu tinha o mês livre, tive a ideia de aproveitar que já estava na Europa e fazer, ainda, um pouquinho de turismo. Para onde seguir? Olhando o mapa da Itália e da Europa, comecei a pesquisar quais cidades poderiam ser alcançadas de trem a partir da Toscana. Primeiro, cogitei Munique; mas não queria ir à Alemanha e conhecer apenas uma cidade. Meus planos para o país eram mais abrangentes e eu tinha poucos dias sobrando. Acabei optando por Viena, capital da Áustria. Confesso que a lembrança do romântico Antes do Amanhecer teve um peso considerável na minha escolha. Quem sabe também eu encontraria um belo e misterioso estranho no trem? Não foi o que aconteceu, mas valeu a intenção.

Minhas quatro semanas fiorentinas renderam, e como. Cultura, diversão, amores, de tudo um pouco. Aliás, de tudo muito. Mas por enquanto não posso falar sobre elas aqui, já que pretendo explorar o assunto em um projeto literário – claro que, se o livro não vingar, daqui a um tempo terei que falar sobre isso aqui no blog mesmo. Mas torçam por mim, eu acho que mereço um espacinho nas prateleiras das livrarias.

Quanto aos meus dias vienenses... A respeito desses vamos falar aqui e agora. Na noite do dia 27 de maio de 2011, deixei Firenze rumo a Viena no Euronight das 21h50. Aguardem o próximo post!