terça-feira, 30 de setembro de 2014

Corações Famintos


O filme retrata a profunda transformação que ocorre na vida de um jovem casal com a chegada do primeiro filho. Mina não confia em médicos, considera os antibióticos um veneno e alimenta o bebê com produtos da própria horta. Jude a princípio respeita as ideias radicais da esposa, mas com o passar dos meses se preocupa porque o filho parece sempre faminto e não se desenvolve como deveria. O dilema é que ele a ama e teme que enfrentá-la acabe com a relação.

Alba Rohrwacher e Adam Driver foram premiados melhor atriz e ator no Festival de Veneza deste ano e é na intensa e irrepreensível atuação da dupla que reside a grande força deste filme, que derrapa em diversos outros quesitos. Em um momento Mina é um doce de menina, mas assim que se torna mãe vira uma extremista que não se comove nem mesmo diante dos claros sinais de inanição da criança. O marido, por sua vez, se omite até precisar tomar medidas igualmente radicais.

O que parece fazer mais falta é uma progressão na curva dramática dos personagens, que é muito brusca. O roteiro ainda tece uma série de analogias estranhas entre carnívoros e herbívoros, sendo bastante preconceituoso com estes últimos. Outro problema é a trilha sonora com acordes de filme de suspense, tocada nos momentos mais inapropriados possíveis. Equívocos que poderiam ser esquecidos caso o filme apresentasse uma boa resolução, o que definitivamente não ocorre.

O italiano Saverio Costanzo, em seu primeiro filme em inglês, não consegue repetir a sensibilidade demonstrada no belo A Solidão dos Números Primos. Em todo caso, vale muito a pena ver para conferir o trabalho dos bravíssimos Alba e Adam.

Corações Famintos (Hungry Hearts), de Saverio Costanzo. Com Adam Driver, Alba Rohrwacher, Roberta Maxwell. EUA, 2014. 109’. Panorama do Cinema Mundial


segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Fantasia


Independentemente do que se possa argumentar, os motivos que levam alguém a gostar ou não de um filme são quase sempre subjetivos. O que fica mais evidente durante um festival, repleto de longas que ainda não passaram pelo crivo da crítica. Quantas vezes se recomenda entusiasticamente um filme aos amigos... e eles odeiam? Há, porém, unanimidades. Para o bem e para o mal. Imaginem uma sessão durante a qual muitos abandonam a sala, outros tantos bocejam e todos os seus conhecidos presentes detestam o filme. Assim foi com este Fantasia.

O roteiro é um fiapo de história que alinhava cenas aleatórias do começo ao fim. Vejamos o que diz a sinopse: “Lin vive em um lar em frangalhos. A mãe está desempregada e vive pedindo dinheiro para o tratamento do marido com leucemia. A irmã mais velha começa a trabalhar como faxineira e rapidamente se torna prostituta em uma boate. Lin está cansado de ser marginalizado na escola pela doença do pai. Um dia, à beira do rio, o garoto descobre um navio abandonado onde vive um pai com uma estranha filha, de quem Lin se torna amigo. A aproximação entre eles acaba por afastar Lin da escola e obriga seu professor a visitar sua mãe para compreender o porquê.” Sim, é isso que vemos na tela. Basicamente. Como se tais cenas tivessem sido filmadas e pronto, sem nenhuma dramaturgia alinhavando-as. Em determinado momento, aparece uma pessoa ao longe com um trompete tocando uma versão estranhíssima de ‘O Sole Mio. Não me perguntem o motivo.

Detalhe: o filme foi exibido na mostra Un Certain Regard de Cannes 2014. O que prova que o mais prestigiado festival do mundo também dá bola fora. Fujam.

Fantasia (idem), de Chao Wang. Com Jian RenZi, Hu RuiJie, Su Su. Chi, 2014. 85’. Panorama do Cinema Mundial.


Os Nossos Meninos


Este longa italiano, exibido há pouco no Festival de Veneza, pode desde já ser considerado uma das grandes surpresas deste Festival. Com um elenco ótimo, um roteiro atual e uma direção acertadíssima, Os Nossos Meninos põe em xeque o mais sagrado dos valores italianos: a família.

Massimo e Paolo são irmãos com personalidades diversas e pouca coisa em comum: Massimo faz fortuna como advogado de defesa criminal enquanto Paolo, que é pediatra, recrimina o irmão devido à sua clientela. Para alargar o abismo, Clara, esposa de Paolo não suporta a segunda mulher de Massimo, Sofia. Apesar das divergências, os casais mantém o hábito de se encontrar para jantar uma vez por mês em um luxuoso restaurante onde Massimo é tratado como rei, Paolo se ressente disso e Clara alfineta Sofia. Quando surge a suspeita de que seus filhos adolescentes teriam se envolvido em um ato de violência, os quatro sabem que precisam resolver o impasse juntos. Conseguirão eles se unir na crise ou a hostilidade até então controlada aflorará de vez?

Curioso como este filme dialoga com o candidato italiano ao Oscar 2015, Il Capitale Umano, provando que a desagregação familiar é algo que vem preocupando um país onde os conflitos familiares sempre foram amenizados pelo afeto que circulava ao menos entre os parentes mais próximos. É interessante notar como os dois irmãos parecem competir para ter a família mais perfeita, um exibindo o sucesso financeiro enquanto o outro tenta compensar com uma suposta superioridade moral. Enfim, cada um parece feliz em potencializar os defeitos do outro.

Acima de tudo, é interessante como o roteiro trabalha com a inversão de expectativas, induzindo o espectador a algumas conclusões que ao longo da projeção se revelam equivocadas. Como se cada personagem fosse mostrado antes de acordo com sua própria autoimagem e, com a intensificação dos conflitos, sob a ótica da realidade. Os personagens são muito bem delineados, ricos em ambiguidades e contradições. O quarteto principal é interpretado com intensidade por Alessandro Gassman (filho de Vittorio Gassman), Luigi Lo Cascio, Giovanna Mezzogiorno e Barbora Bobulova. Também vale destacar a ótima presença dos adolescentes Jacopo Olmo Antinori (de Eu e Você) e Rosabell Laurenti Sellers.

Os Nossos Meninos, acima de seus personagens representativos da burguesia romana, discute uma questão universal: a ética pela qual guiamos nossas vidas continua inalterada quando algo de realmente grave ocorre?

Os Nossos Meninos (I Nostri Ragazzi), de Ivano de Matteo. Com Alessandro Gassman, Luigi Lo Cascio, Giovanna Mezzogiorno, Barbora Bobulova. Ita, 2014. 90’. Expectativa 2014


domingo, 28 de setembro de 2014

Metamorfoses


Deuses e homens se encontram neste novo filme do francês Christophe Honoré (de A Bela Junie e Bem Amadas). Tomando como ponto de partida a obra homônima de Ovídio, Metamorfoses faz uma releitura contemporânea de narrativas mitológicas e tem Europa como fio condutor. Depois de ter sido raptada e seduzida por Jupiter/Zeus, a princesa grega segue testemunhando as grandes provações pelas quais passam os homens quando caem em desgraça perante os caprichosos deuses. O filme foi exibido no Festival de Veneza 2014.

É sempre revigorante ver um projeto que caminha na contramão das tendências. A mitologia tem sido largamente utilizada no cinema, é claro, mas quase sempre em filmes de aventura hollywoodianos, transformando os deuses em protagonistas de blockbusters barulhentos. Já uma trama adulta enfocando os habitantes do Olimpo e suas interações com os humanos não é coisa que se veja com tanta frequência.

Certamente compor um roteiro a partir de um dos grandes poemas épicos da antiguidade é um projeto bastante ambicioso, mas Honoré dá conta do recado. Trabalhando com pequenos extratos e poucos personagens (mesmo porque a obra completa é dividida em quinze segmentos e deve ter mais histórias do que As Mil e Uma Noites), o que vemos na tela é uma acertada transposição de mitos como o de Europa, Narciso, Orfeu e outros para um contexto atual. O foco está sempre no satírico e no sensual. O espectador, porém, precisa ter um conhecimento básico de mitologia para compreender e apreciar o filme.

Metamorfoses (Métamorphoses), de Christophe Honoré. Com Amira Akili, Sébastien Hirel, Damien Chapelle, Mélodie Richard, Georges Babluani, Vimala Pons. França, 2014. 102’. Panorama do Cinema Mundial


sábado, 27 de setembro de 2014

O Pacote Completo


Depois de uma série de relacionamentos desastrosos, Apple só confia em um único ser: seu cachorro e terapeuta, Dr. Freud. Ela atribui a culpa de seus problemas à criação caótica que recebeu de Ingrid, a mãe hippie para a qual acaba de pagar uma viagem de convalescença para a mesma praia espanhola onde, 30 anos antes, elas viveram em uma barraca. Ingrid, por sua vez, não é mais a garota livre daquela época e tem uma série de contas a acertar com seu passado.

Uma boa surpresa esse divertido filme alemão de pegada almodovariana. Com uma galeria de personagens deliciosamente neuróticos e situações extremas com as quais, apesar disso, podemos nos identificar, a trama vai progressivamente enlaçando passado e presente para mostrar que certas pendências da vida sempre retornam, não importa quantos anos se passem ou quanta distância se percorra. Uma história agridoce sobre pais, filhos e segundas chances interpretada por um elenco muito afinado, com destaque para o ótimo Axel Prahl. A direção e o roteiro são de Doris Dörrie, a partir de livro de autoria da própria cineasta. O único senão é que algumas situações se estendem um pouco além do necessário: com uns vinte minutos a menos seria um filme impecável. Outro que vale a pena priorizar, pois sua chegada ao circuito parece pouco provável.

O Pacote Completo (Alles Inklusive), de Doris Dörrie. Com Hannelore Elsner, Nadja Uhl, Hinnerk Schönemann, Axel Prahl. Ale, 2014. 124’. Panorama do Cinema Mundial


Corrente do Mal


Em um subúrbio de Detroit, uma estranha praga começa a se disseminar entre os adolescentes: após uma relação sexual, a pessoa passa a ser seguida por uma entidade maligna e o único modo de se livrar dela é passar adiante, ou seja, transar com outra pessoa o mais rápido possível. Jay descobre o problema tarde demais, depois do que deveria ser uma romântica primeira noite com o novo namorado. Com a ajuda da irmã e dos amigos, eles correm contra o tempo em busca de um modo de parar a maldição.

Parece incrível que esse filme tenha sido exibido na Semana da Crítica do Festival de Cannes, já que ele representa o que há de mais banal, batido e mal-ajambrado no cinema americano. Nem tanto pelo argumento pouco crível, já que filmes bem legais já foram feitos a partir de propostas absurdas – afinal de contas, é cinema de terror. A questão de só poder se livrar de uma maldição passando-a adiante imediatamente remete a filmes como O Chamado, que também partia de uma ideia pouco verossímil, mas, ao contrário deste, desenvolvia a contento sua trama. Corrente do Mal não assusta, não faz rir (o que seria uma opção) e muito menos apresenta uma história bem encadeada. Os sustos são os mais óbvios possíveis, sempre sublinhados por trilha sonora estridente. O elenco é genérico e sem brilho e a direção é preguiçosa, mas o pior de tudo mesmo é o roteiro. A parte final é especialmente ruim, quando eles bolam um plano cujo objetivo simplesmente não dá para entender.   

Corrente do Mal (It Follows), de David Robert Mitchell. Com Maika Monroe, Keir Gilchrest, Danny Zovatto, Olivia Luccardi, Jake Weary. EUA, 2014. 100’ Midnight Terror


sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Em Busca do Sentido da Vida


Clive toma uma decisão inusitada para entender melhor a sua vida: a cada semana, ele abrirá mão de um dos sentidos. Primeiro a audição, depois a fala e, por fim, a visão. O principal, para ele, é não se desviar de seu planejamento ao primeiro empecilho e dar um jeito de viver normalmente e se comunicar com as demais pessoas como se aquela fosse a sua realidade. Os colegas da aula de teatro parecem incomodados e o amigo com quem divide a casa se exaspera, mas Clive não desanima e consegue até conquistar uma garota sem um dos sentidos. Através de recursos auditivos e visuais, também o espectador será convidado a fazer parte da experiência.

O filme parte de uma ideia bastante original, embora em termos de execução paire uma grande dúvida quanto ao fato de tal experiência se adequar ou não à linguagem cinematográfica, ainda mais por se tratar de uma obra de ficção. Por mais pertinente que seja a proposta e apesar do roteiro criar situações divertidas a partir da incompreensão gerada pela decisão de Clive, ao final da projeção o espectador pode ter dificuldade em ver o sentido – não da vida, mas do filme. Afinal de contas, uma coisa é experimentar tais sensações (como o protagonista) e outra muito menos significativa é ver numa tela outra pessoa fazê-lo. Ferrari tenta emular as sensações tolhidas, o que funciona melhor quando se trata da audição, mas tudo permanece experimental demais. Com um início curioso, um miolo bom e uma resolução aquém da esperada, a média final é positiva. Mas por pouco. 

Em Busca do Sentido da Vida (Simple Being), de Marco Ferrari. Com Sol Mason, Jasmin Radibratovic, Jeff Adler. Estados Unidos, 2014. 92’. Expectativa 2014.


Asteroide


Após o divórcio, Cristina deixa a Espanha e retorna ao México depois de muitos anos afastada da família. A acolhida não é exatamente a esperada: seu irmão Mauricio vive na casa dos falecidos pais com a namorada 20 anos mais nova e Cristina sente-se uma intrusa desde a sua chegada. Existem questões pendentes que ela gostaria de passar a limpo, mas Mauricio parece uma pessoa muito diferente agora. Os antigos conhecidos, por sua vez, parecem nunca tê-la perdoado pelo incidente que resultou na sua mudança para outro país.

Eis o típico drama existencial latino que vemos com tanta frequência no Festival do Rio. Traumas familiares do passado que voltam à tona depois de anos de negação. Asteroide tem seus momentos inspirados, mas não decola. O ritmo é tão arrastado e há uma quantidade tão grande de cenas fora do tom que o resultado é insatisfatório. Também o elenco contribui para que o filme fique aquém do seu potencial: Arturo Barba e Sofía Espinosa, intérpretes de Mauricio e Elda, não conseguem imprimir a carga emocional requerida por seus personagens. Somente Sophie Alexander-Katz compõe sua Cristina com nuances interessantes. O filme não chega a ser ruim, mas sua dramaturgia é excessivamente plana, ainda mais considerando os temas doloridos que o argumento se propõe a abordar.

Asteroide (idem), de Marcelo Tobar. Com Sophie Alexander-Katz, Arturo Barba, Sofía Espinosa, Ari Brickman. México, 2014. 102’. Foco México.




quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Party Girl


Party Girl tem uma proposta curiosa: para seu primeiro trabalho como diretor, o ator Samuel Theis escala a si mesmo e à própria família para interpretar eles mesmos em uma história baseada na nada ortodoxa vida de sua mãe. A direção é dividida com as também estreantes na direção de longas Marie Amachoukeli e Claire Burger. O resultado final surpreende pela delicadeza e maturidade.

A trama se inicia no ponto em que Angélique está com 60 anos e ainda trabalha em um cabaré na fronteira franco-alemã, embora seja cada vez menor o número de homens dispostos a pagar-lhe bebidas. Quando Michel, cliente regular da casa, a pede em casamento, aquela parece ser a solução definitiva para sua vida. Ou não? Filme de abertura da mostra Un Certain Regard de Cannes 2014 e ganhador do prêmio Caméra D'or.

O filme discute a grande diferença entre o que é conveniente para uma pessoa e o que a faz feliz. Embora seja um argumento que remeta a tantas outras histórias já contadas antes, o diferencial de ver essa família real se desnudar diante da câmera dá uma nova dimensão ao longa. Ao contrário do que ocorre nos reality shows, em nenhum momento este filme apela para o sensacionalismo barato. Pelo contrário, a trama é conduzida sempre de modo bastante introspectivo e sensível. Outro ponto forte é a naturalidade de Angélique Litzenburger e seus grandes olhos azuis, que a câmera parece amar. Uma bela estreia para todos os envolvidos.

Party Girl, de Marie Amachoukeli, Claire Burger e Samuel Theis. Com Angélique Litzenburger, Joseph Bour, Mario Theis, Samuel Theis, Séverine Litzenburger, Cynthia Litzenburger. França, 2014. 95’. Mostra Expectativa 2014


O Sal da Terra (filme de abertura)


O filme faz um retrospecto dos 40 anos de carreira de Sebastião Salgado, intercalando sua biografia com os temas escolhidos para seus famosos ensaios fotográficos ao redor do mundo. Das denúncias sociais e causas humanitárias às questões ecológicas, a vida do fotógrafo é reconstruída pelas lentes do filho Juliano em parceria com o cineasta alemão Wim Wenders. Vencedor do Prêmio do Júri da mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes deste ano.

Não se pode negar que Sebastião Salgado é um dos grandes artistas da fotografia no mundo, e um dos maiores méritos deste documentário é justamente a oportunidade de ver parte de seu trabalho ampliado para uma tela de cinema. Da beleza de uma paisagem desértica aos horrores do genocídio de Ruanda, não tem como ficar indiferente à força esmagadora de tais imagens. E esse é um atrativo do filme que beneficia tanto quem já conhece o trabalho de Salgado como quem o está contemplando pela primeira vez.

Como obra cinematográfica, porém, O Sal da Terra peca pelo excesso de reverência ao mestre. O tom não é exatamente o de um documentário e sim de uma homenagem apaixonada que exalta o fotógrafo – não somente como profissional, mas também como pessoa – de tal maneira que o coloca numa dimensão de herói sem mácula. Ao pintar um retrato sem nuances, o filme acaba por negar a seu homenageado a dimensão humana. Sente-se falta de um Sebastião enriquecido por suas fraquezas ou de alguma menção a críticas feitas às suas imagens mais fortes (o que, de certo modo, até engrandece as mesmas). O roteiro por vezes também parece indeciso entre focar em Salgado e suas motivações ou aprofundar-se nos assuntos por ele fotografados, impasse que poderia ter sido solucionado com uma edição mais rigorosa.   

O Sal da Terra (Salt of the Earth), de Juliano Ribeiro Salgado e Wim Wenders. Com Sebastião Salgado. Fra/Ita/Bra, 2014. 109’. 



quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Delírio & Vertigem


Acaba de estrear no Rio para curtíssima temporada o espetáculo Delírio & Vertigem. Com direção e roteiro de Rita Clemente e onze atores no elenco, a trupe mineira se debruça sobre a dramaturgia do carioca Jô Bilac (mesmo autor dos elogiados Cachorro! e Rebu) e constrói um variado painel das relações humanas com um tom bastante pautado pelas sensações do título.

As treze minitramas que compõem o espetáculo sempre surpreendem pelo inusitado e pela provocação que, em diversos momentos, flerta com o teatro do absurdo. São tragédias rodrigueanas que despontam em meio ao cotidiano, desbundes carnavalescos que são levados para a vida real, rompantes de superficialidade que provocam risos nervosos na plateia e, quando menos se espera, até mesmo uma tocante declaração de amor. Não faltam referências cinematográficas, metalinguagem, intertextualidade e muitas cutucadas sarcásticas nos relacionamentos modernos. Um exemplo disso é o trecho Las Vegas, no qual pessoas que acabaram de se conhecer marcam um casamento como quem combina um programa qualquer. A pitada extra de ironia está no modo como a situação se repete ao longo da peça.

Também vale destacar o dinamismo da montagem e o modo como os atores ocupam o espaço cênico, com cenas que se entrecruzam e personagens de diferentes núcleos que se esbarram sem que haja uma separação definida de cenário. O elenco é coeso e possui excelente timing, o que fica ainda mais interessante quando diferentes atores assumem o mesmo papel. O cenário é simples e funcional e os figurinos são criativos, permitindo que cenas sejam rearranjadas com muita rapidez.

O espetáculo estreou em Belo Horizonte em 2012, como resultado do projeto Oficinão de reciclagem de atores do Galpão Cine Horto. Aqui no Rio de Janeiro, a temporada vai até 28 de setembro na Caixa Cultural (Av. Almirante Barroso, 25), de terça a domingo, sempre às 19h. Ingressos a R$ 16,00.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Confira as atrações do Festival do Rio

Ben Affleck em uma cena de Garota Exemplar, de David Fincher

A organização do Festival do Rio acaba de divulgar uma primeira lista de atrações já confirmadas. Dentre mais de 350 filmes, vindos de 60 países, destacam-se produções bastante aguardadas, como Mapas para as Estrelas, de David Cronenberg, Boyhood, de Richard Linklater, Garota Exemplar, de David Fincher, Mommy de Xavier Dolan, e Hungry Hearts, de Saverio Costanzo. Para conferir a lista completa, clique aqui.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Stephen Daldry virá ao Festival do Rio


Foi anunciada a produção de encerramento do próximo Festival do Rio: trata-se de Trash – A Esperança Vem do Lixo, do britânico Stephen Daldry – diretor de Billy Elliot, As Horas e O Leitor. O cineasta já confirmou presença no tapete vermelho da première do dia 7 de outubro, que provavelmente este ano terá como palco o Cinépolis Lagoon. O longa foi todo rodado no Rio de Janeiro e conta com Martin Sheen, Rooney Mara, Selton Mello e Wagner Moura no elenco. A trama é centrada em três meninos que vivem diversas aventuras por conta de uma carteira encontrada no lixão onde vivem. O filme entra em circuito logo após o término do Festival, no dia 9 de outubro.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Se Eu Ficar


O tema do grande amor interrompido pela morte ou doença de um dos apaixonados costuma ser garantia de sucesso desde Love Story e seu “amar é nunca ter que pedir perdão”. Como na sétima arte nada se perde e tudo se recicla, esse tipo de melodrama tem retornado às telas com força total, ainda que ultimamente direcionado a um público ainda mais jovem. Só este ano já tivemos A Culpa é das Estrelas e agora este Se Eu Ficar, que ainda aproveita para pegar uma parcela do público dos filmes espíritas.

Baseado no romance da americana Gayle Forman, que também está sendo lançado aqui no Brasil, o filme conta a história de Mia, uma tímida violoncelista de dezessete anos que aguarda ansiosamente sua aceitação na renomada escola de arte Juilliard. Caso consiga, sua vida mudará radicalmente e ela terá que tomar difíceis decisões. Porém, antes de saber o resultado da audição, Mia sai com a família de carro e sofre um violento acidente que a deixa em coma. De alguma forma, ela sai do próprio corpo e consegue transitar pelos corredores do hospital, embora não possa se comunicar com ninguém. A partir daí, a trama se desenvolve entre a realidade e flashbacks onde ela relembra a vida em família, a descoberta do amor e seu envolvimento com a música clássica.

O filme se sustenta a partir da crença de que uma pessoa em coma pode circular fora do próprio corpo, ainda que a personagem não consiga se afastar do hospital nem atravessar portas ou paredes. O outro pilar da história seria o de que caberia muito mais ao próprio paciente, independentemente dos cuidados médicos, a decisão definitiva de morrer ou lutar pela vida – daí o título do livro/filme. O que equivale a dizer que toda a trama e os conflitos do filme são, na verdade, decisões internas, memórias e pensamentos da protagonista.


O cinema já lidou muitas outras vezes com questões metafísicas e certamente não é preciso estar de acordo com elas para apreciar um filme, mesmo porque existe a chamada suspensão de descrença, ou seja, o espectador “compra” uma ideia e decide acreditar nela. A questão aqui não é filosófica e sim dramatúrgica. Enquanto o livro tem o mérito de apresentar personagens tridimensionais, no filme eles são bastante rasos. Como se Mia e sua família fossem protagonistas de uma peça publicitária ou filme institucional, com uma mensagem bem definida a passar. Sem contar que a produção sacrifica a humanidade da protagonista em favor de uma visão exageradamente adocicada. A representação de Mia como menina tímida e certinha chega a interferir no figurino de Chloë Grace Moretz, que usa uma roupa leve e cheia de rendinhas para sair em um dia de neve.

Também as cenas em flashback – que têm como função mostrar como foi a vida de Mia até aquele instante – carregam todos os clichês imagináveis: a garota retraída com pais moderninhos que chama a atenção do carinha descolado da escola justamente por ser diferente, os hesitantes primeiros encontros, o jantar em família, os inevitáveis conflitos e discussões bobas, sendo a pior delas quando ela esconde dele algo que fatalmente viria à tona, etc. Tudo muito previsível, do começo ao fim. Chloë Grace Moretz é uma gracinha, mas precisa começar a escolher melhor seus trabalhos. Indicado para adolescentes ou aficionados com temas como experiência de quase morte ou viagens para fora do corpo.  

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Festival do Rio divulga filmes nacionais selecionados


A Première Brasil deste ano vai exibir um total de 69 produções (41 longas e 28 curtas), de diretores estreantes e veteranos vindos de todas as partes do país. A novidade é a inclusão de duas novas categorias na premiação: melhor direção para documentário e Prêmio especial do Júri para Novos Rumos. O público participa através do voto popular nas categorias ficção, documentário e curta. O Festival do Rio este ano será de 24 de setembro a 8 de outubro. Confiram abaixo todos os filmes selecionados: 

Mostra Competitiva

Longas Ficção
1. Ausência, de Chico Teixeira (SP)
2. Casa Grande, de Fellipe Barbosa (RJ)
3. Love Film Festival, de Manuela Dias (RJ)
4. O Fim De Uma Era, de Bruno Safadi e Ricardo Pretti (RJ)
5. O Fim e os Meios, de Murilo Salles (RJ)
6. O Outro Lado do Paraíso, de André Ristum (SP)
7. Último Cine Drive-in, de Iberê Carvalho (DF)
8. Obra, de Gregorio Graziosi (SP) 
9. Prometo um dia deixar essa cidade, de Daniel Aragão Brasil (PE)
10. Sangue Azul, de Lírio Ferreira (SP)

Longas Documentário
1. À Queima Roupa, de Theresa Jessouroun (RJ)
2. A Vida Privada dos Hipopótamos, de Maíra Bühler e Matias Mariani (SP)
3. Campo de Jogo, de Eryk Rocha (RJ)
4. Esse Viver Ninguém me Tira, de Caco Ciocler (DF)
5. Favela Gay, de Rodrigo Felha (RJ)
6. Meia Hora E As Manchetes Que Viram Manchete, de Angelo Defanti (RJ)
7. My Name is Now, Elza Soares, de Elizabete Martins Campos (MG)
8. O Estopim, de Rodrigo Mac Niven (RJ)
9. Porque Temos Esperança, de Susanna Lira (RJ)
10. Samba & Jazz, de Jefferson Mello (RJ)

Curtas em Competição
1. Cine Paissandu: Histórias de uma Geração, de Christian Jafas (RJ) 
2. E o amor foi se tornando cada dia mais distante, de Alexander de Moraes (RJ)
3. Mater Dolorosa, de Tamur Aimara e Daniel Caetano (RJ) 
4. Cloro, de Marcelo Grabowsky (RJ) 
5. Barqueiro, de José Menezes e Lucas Justiniano (SP) 
6. Outono, de Anna Azevedo, (RJ) 
7. O Clube, de Allan Ribeiro (RJ 
8. Edifício Tatuapé Mahal, de Carolina Markowicz e Fernanda Salloum (SP) 
9. Menino da Gamboa, de Pedro Perazzo e Rodrigo Luna (BA) 
10. Diário de Novas Lembranças, de João Pedro Oct (SP) 
11. Historia Natural, de Julio Cavani (PE) 
12.
The Yellow Generation, de Daniel Sake (RJ) 
13. Kyoto, de Deborah Viegas (SP) 
14.
Loja de Répteis, de Pedro Severien (PE) 
15. Max Uber, de Andre Amparo (MG)
16. Sem Título # 1: Dance of Leitfossil, de Carlos Adriano (SP)

Mostra Novos Rumos

Longas
1. A Revolução do Ano, de  Diogo Faggiano (SP)
2. Castanha, de Davi Pretto (RS)
3. Deserto Azul, de Eder Santos (MG)
4. Hamlet, de Cristiano Burlan (SP)
5. Permanência, de  Leonardo Lacca (PE)
6. Seewatchlook o que você vê quando olha o que enxerga?, de  Michel Melamed (RJ)
7. Tudo vai ficar da cor que você quiser, de Letícia Simões (RJ)

Curtas
1. A Deusa Branca, de Alfeu França (RJ) 
2. Indícios 3 - quanto tempo a gente precisa ficar andando no mesmo lugar para dar um passo, de Dannon Lacerda (RJ) 
3. La Llamada, de Gustavo Vinagre (SP) 
4. O Bom Comportamento, de Eva Randolph (RJ) 
5. O Rei, de Larissa Figueiredo (PR) 
6. Tenho um dragão que mora comigo, de Wislan Esmeraldo, (CE)

Filmes Fora De Competição - Hors Concours

Ficção - longas

1. A Luneta Do Tempo , de Alceu Valença (PE)
2. Boa Sorte, de Carolina Jabor (RJ)
3. El Ardor, de Pablo Fendrik (RJ)
4. Infância, de Domingos Oliveira (RJ)
5. Trinta, de Paulo Machline (SP)

Documentário - longas
1. Brincante, de Walter Carvalho (SP)
2. Cássia, de Paulo Henrique Fontenelle (RJ)

Curtas 
1. Compêndio, de Eugenio Puppo e Ricardo Carioba (SP 
2. Pé sem chão, de Sérgio Ricardo (RJ) 

Mostra Retratos

Longas

1. O Vento Lá Fora, de Marcio Debellian (RJ)
2. De Gravata e Unha Vermelha, de Miriam Chnaiderman (SP)
3. Guardiões do Samba, de Eric e Marc Belhassen (SP)
4. Ídolo, de Ricardo Calvet (RJ)
5. Para Sempre Teu Caio F., de Cande Salles (RJ)

Curtas
1. Andrea Tonacci, de Rodrigo Grota (PR)
2. Araca - O Samba em Pessoa, de Aleques Eiterer (RJ) 
3. Caetana, de Felipe Nepomuceno (RJ) 
4. Nora, de Gabriel Mendes e Fernando Munõz (RJ)

Filmes Brasileiros em Outras Mostras do Festival
Mostra Expectativa: Na Quebrada, de Fernando Grostein Andrade (SP)

Mostra Geração: Encantados, de Tizuka Yamasaki (RJ)