sábado, 30 de agosto de 2008

O Nevoeiro


Fãs de Stephen King e dos filmes de terror em geral, alegrai-vos! Acaba de chegar ao circuito um dos melhores filmes do gênero feito nos últimos anos. O Nevoeiro foi escrito a partir de um conto publicado originalmente na coletânea Tripulação de Esqueletos, lançada em 1985, e é dirigido por Frank Darabont. Darabont, que dirigiu os ótimos Um Sonho de Liberdade e À Espera de um Milagre, certamente é o cara que até hoje melhor transpôs a obra do escritor para a telona, embora suas incursões anteriores não tivessem nada a ver com as famosas histórias de horror de King. Com O Nevoeiro, o diretor prova que é igualmente competente com o material sobrenatural de Stephen King.

David Drayton (interpretado pelo charmoso Thomas Jane) é um ilustrador de posters de cinema que vive em uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos com a esposa e o filho pequeno, Billy. Após um forte vendaval que derruba árvores e danifica o sistema de comunicações, David vai com Billy e um vizinho até o supermercado buscar mantimentos. Enquanto estão no estabelecimento, a cidade é tomada por um estranho nevoeiro e eles ficam isolados junto com outros moradores dentro do supermercado. O terror se instala quando as pessoas descobrem que o nevoeiro abriga várias criaturas monstruosas. Mais incontrolável do que os monstros escondidos na névoa serão os conflitos gerados pela convivência forçada entre essas pessoas, quando submetidas ao pânico e confinamento.

O mais intenso na história não tem nada a ver com as assustadoras criaturas que cercam as pessoas dentro do supermercado e sim com as reações que os seres humanos têm quando confrontados com a luta pela sobrevivência. É sempre chocante constatar o quanto é frágil o verniz de civilização que cobre a sociedade. Como diz um personagem a certa altura, as pessoas são loucas por natureza. Basta tirá-las de ordem estabelecida. Também chama a atenção a personagem de Marcia Gay Harden (a melhor atriz em cena), uma fanática religiosa que se aproveita do terror do desconhecido para cooptar seguidores e proclamar-se mensageira de Deus.

Trata-se de um excelente filme de horror, calcado muito mais no que a situação causa às pessoas do que nos monstros propriamente ditos. O retorno a uma espécie de lei da selva revela preconceitos, expõe fragilidades e endurece corações, embora também cause aproximação entre os que são realmente solidários. Da crescente tensão até o final amargo, a névoa que encobre a razão e torna todos prisioneiros de seus próprios medos é, com certeza, uma grande metáfora de diversos momentos, sejam políticos ou sociais, vividos pela humanidade. E o desfecho perturbador e isento de concessões eleva ainda mais o nível de um filme que já se apresentava surpreendentemente bom, tornando-o um verdadeiro tratado sobre a natureza humana.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Reflexos da Inocência


Neste longa, Daniel “007” Craig é Joe Scott, um ator rico e famoso que começa a ter dificuldades em conseguir papéis por conta de seu estilo de vida regado a orgias e drogas. Em meio a essa crise emocional e profissional, Joe fica sabendo que seu melhor amigo da adolescência morreu. A partir da notícia, começa o grande flashback que é, na verdade, o miolo do filme. Daí o título original, Flashbacks of a Fool (Flashbacks de um Tolo, bem mais elucidativo que o nosso título aqui no Brasil).

Ambientado nos anos 70, essa parte central da história acompanha as primeiras descobertas e equívocos de Joe: a primeira namorada, as amizades, a família, a vizinha que o assedia, tendo como pano de fundo a música e o estilo psicodélico de David Bowie e Roxy Music. Também descobrimos o motivo que fez com que Joe fugisse da família e se isolasse, embora o espectador fique sem saber como ele foi do ponto A ao ponto B. Ou seja: como se transformou de um adolescente confuso em um completo idiota.

Perto do desfecho, a história retorna para Daniel Craig e a atualidade. O que só torna mais evidente o quanto o segmento passado nos anos 70 é mais interessante, mesmo tendo a desvantagem de contar com um ator fraquíssimo (Harry Eden) como a versão jovem de Joe. Mas se considerarmos que Craig atua no piloto automático, a despeito de ser um ator competente... Bom, acaba não fazendo diferença.

Reflexos da Inocência não é um filme ruim, mas tampouco pode ser considerado satisfatório. Digamos que ele tem seus bons momentos, apenas isso. E ainda tem uma péssima costura entre passado e presente, como se fossem dois filmes isolados. Baillie Walsh, diretor de clipes do Massive Attack e de um documentário sobre a banda Oasis, deixa evidente sua falta de preparo para encarar um longa-metragem. Melhor sorte para ele na próxima vez.

Um Amor de Tesouro


Mais um lançamento meia-boca nas prateleiras das locadoras é Um Amor de Tesouro, misto de comédia romântica e aventura repleto de situações absurdas e com um roteiro mais direcionado para mostrar seus protagonistas em belas tomadas do que propriamente para fazer algum sentido. Todas as fichas são apostadas na boa química entre os astros Kate Hudson e Matthew McConaughey e não se pode negar que os dois funcionam em cena, mas até isso já foi explorado com mais habilidade em Como Perder um Homem em 10 Dias.

Matthew vive o personagem de sempre: um sujeito meio malandro e irresponsável, porém de bom coração. E que também não perde uma chance de aparecer com os músculos à mostra (faria o maior sucesso nas novelas de certo autor brasileiro). Eu me pergunto que tipo de papel o ator fará quando ficar mais velho. No filme, seu personagem é um caçador de tesouros que, de tanto se meter em roubadas, encheu a paciência da ex-esposa e ex-sócia, que agora só quer uma vida sem sobressaltos. Mas é claro que o sarado aventureiro finalmente descobre uma pista de sua obsessão particular: um lendário galeão espanhol que teria afundado por ali repleto de tesouros há quase trezentos anos. Como não poderia deixar de ser, o casal, ainda apaixonado, se une novamente em torno do objetivo em comum e é perseguido por rivais nada escrupulosos.

O filme alterna previsibilidade e implausibilidade, compilando de uma só vez todos os clichês dos dois gêneros que tenta abarcar. O roteiro se dobra ao esquema de uma sorte quase mediúnica norteando as atitudes dos mocinhos e uma burrice congênita afetando todos os vilões. Uma cena logo no início exemplifica bem isso: um dos desafetos do protagonista manda matá-lo e seus capangas, apesar de armados, têm o maior trabalho para tentar afogar o cara ao invés de simplesmente dar-lhe um tiro. Além da estupidez dos homens maus, ainda tem a típica menina rica, fútil e burra como contraponto à descolada e esperta personagem de Kate Hudson - pelo menos dessa vez a loura é inteligente e a morena, burra.

Está achando que já viu isso antes? Viu sim, caro leitor. Muita coisa parecida em filmes melhores.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Antes do Amanhecer + Antes do Pôr-do-Sol


Desde que foi lançado, em 1995, o filme Antes do Amanhecer conquistou seu lugar nos corações românticos ao falar com sinceridade e despretensão do inesperado sentimento entre dois jovens desconhecidos. O americano Jesse e a francesa Cèline se conhecem em um trem. Ambos seguirão caminhos diferentes ao amanhecer, e decidem saltar em Viena e passar as horas restantes juntos. Romance, humor e até filosofia permeiam o papo dos estranhos cada vez menos estranhos, com a linda Viena a emoldurar a cena. No dia seguinte, no último instante, Cèline pede a Jesse que a encontre naquele mesmo lugar dentro de exatamente seis meses. E essa ficou sendo a grande dúvida dos fãs do filme: eles se reencontrariam? Pergunta que ficou respondida apenas nove anos depois, com Antes do Pôr-do-Sol. Só o fato do filme ter sido feito já levantava novas questões: Eles se desencontraram? Alguém furou o encontro? Quem? Por quê?

Nesta seqüência, Jesse se tornou um escritor e seu livro narra o romance dele com Cèline. Durante a turnê de lançamento, a última parada é justamente na terra natal da moça: Paris. Um repórter pergunta a ele o que teria acontecido com seus personagens, numa deliciosa brincadeira com a curiosidade dos fãs de Antes do Amanhecer. Jesse esquiva-se de uma resposta direta e diz “isso vai depender se você é um cínico ou um romântico”. É então que, no último instante, Cèline aparece na livraria diante de um estupefato Jesse prestes a embarcar num avião de volta. Ele a convida para um café e, como no encontro anterior, o tempo corre contra eles. Deja vu pouco é bobagem. Como recuperar nove anos em pouco mais de uma hora?

O grande encanto do filme é a extrema sensação de realidade. Talvez um dos motivos de tudo soar tão verdadeiro seja o fato do roteiro ter sido escrito pelo diretor Richard Linklater em conjunto com os atores Ethan Hawke e Julie Delpy. Além disso, a história se passa nove anos depois: exatamente o tempo decorrido entre um filme e outro. Essa passagem de tempo se traduz não apenas no rosto dos atores, mas também no amadurecimento de seus personagens. Eles estão diferentes: menos românticos e inocentes, deixando claro que cresceram as responsabilidades sobre seus ombros. Por outro lado, mostram que os reveses da vida não os tornaram pessoas desagradáveis. Ter personagens tão humanos na tela cria uma incrível identidade com o público, que também amadureceu na mesma proporção e pode entender exatamente o que se passa com eles. Reside aí o que talvez seja o único senão do filme: Antes do Pôr-do-Sol joga todas as fichas para seduzir seu público cativo e pode, portanto, não ser tão atraente para quem não viu Antes do Amanhecer.


O filme é rodado quase em tempo real, acompanhando a conversa do casal durante um curto passeio pelas ruas de Paris. Embora eles falem e se expliquem o tempo todo, o que mais emociona é o que fica nas entrelinhas. E isso é um grande mérito de Ethan Hawke e Julie Delpy, que transmitem o quanto um foi – e ainda é – importante para o outro desde a primeira troca de olhares. Todo mundo que já se apaixonou sabe da dificuldade de expressar em palavras o quanto um breve encontro pode ter de mágico.

Outro mérito, em ambos os filmes, é provar que verborragia não é, necessariamente, chatice. Os longas são sobrecarregados de diálogos, mas o fato dos personagens estarem sempre se deslocando e terem cenários deslumbrantes como Viena e Paris torna ambas as produções surpreendentemente dinâmicas.

Vale destacar que os dois filmes são melhor apreciados quando vistos em conjunto e na sua devida ordem cronológica. Mas não se iludam os que gostam de todas as questões respondidas preto-no-branco: mesmo sendo o segundo filme mais definitivo, o desfecho também deixa muita coisa no ar. E aí, parafraseando Jesse, vai depender de você ser um cínico ou um romântico.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Encarnação do Demônio

Eu demorei para comentar esse filme. Não que tenha visto somente agora; pelo contrário, assisti a Encarnação do Demônio no dia de sua estréia, há duas exatas semanas. Mas minha reticência em falar a respeito do filme não tem nada a ver com superstição e sim com um certo desânimo em ser a voz dissonante na multidão. Porque, aparentemente, eu sou a única pessoa que não achou o longa no mínimo genial. Minha atitude em relação ao cinema de José Mojica Marins, o Zé do Caixão, é bastante neutra. Certamente não sou uma fã, mas acho que é preciso respeitar o único cara que se dispõe a fazer cinema de terror no Brasil. E, ainda por cima, sem patrocínio. Seus filmes anteriores, À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964) e Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1967), têm personalidade e até um certo charme. E vale lembrar que o cara tem fã até nos States (por lá, ele é o Coffin Joe). Portanto, estava bastante curiosa para ver como Mojica se sairia com esse terceiro filme – quarenta anos depois e, desta vez, com um orçamento mais substancial.

O longa começa muito bem. Luís Melo, numa pequena participação, encarna (sem trocadilho) um delegado que acaba de receber a ordem de soltura para Zé do Caixão e está morrendo de medo de ir lá soltar o homem. Essa primeira seqüência é, sem dúvida, instigante. Depois de quarenta anos atrás das grades, Zé não tem tempo a perder: logo convoca seu fiel ajudante Bruno e seus seguidores a ajudá-lo na sua eterna procura pela mulher perfeita que lhe dará o filho perfeito. Podemos dizer que a trama é um prolongamento dos filmes anteriores.

Claro que em um filme de terror, ainda mais nesse estilo gore, a história não é tão importante quanto o impacto das cenas. E, uma vez estabelecido o argumento básico, começa o festival de sadismo e tortura. Tem de tudo: mutilação, tortura, escatologia, erotismo e, claro, litros e mais litros de sangue. Gente pendurada pela pele, olhos e bocas sendo costurados, baratas, ratos e mulheres nuas a granel (todas loucas para gerar o filhote de demônio). E ainda temos participações bizarras de Milhem Cortaz como um padre masoquista – estilo frei Silas do Código da Vinci –, Zé Celso Martinez Corrêa como um capeta psicodélico e Jece Valadão, em seu último filme, como um PM vingativo.

Encarnação do Demônio é um filme de terror para um público de estômago mais forte. Algumas cenas fazem a série Jogos Mortais parecer um passeio no parque. Nesse ponto, o orçamento folgado foi bem aproveitado. O filme é muito bem realizado tecnicamente. Por outro lado, não tem o charme de “filme B” de seus antecessores. Impressão reforçada pela decisão (equivocada, na minha opinião) de inserir trechos dos filmes antigos na forma de memórias do protagonista, já que isso torna a comparação evidente. Minha conclusão? Encarnação do Demônio é um filme de horror bem-feito. Ponto. Não tem sentido enxergar vôos artísticos mais elevados.

Ah! Reparem na cena da transa entre Zé e a sobrinha das feiticeiras. É idêntica a uma cena de Coração Satânico.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Um Crime Americano


A perversidade que se esconde por detrás de pessoas aparentemente normais, que levam vidas aparentemente prosaicas, é um filão que já foi explorado à exaustão na sétima arte. Ainda assim, é sempre incômodo ver o que o ser humano é capaz de infligir a seu semelhante, muitas vezes sem que haja ao menos uma razão para justificar a crueldade. E quando o roteiro é inspirado por uma história real... Bom, aí mesmo é que dá um nó nas entranhas de qualquer um com um mínimo de sensibilidade. Faço essas ressalvas para tentar explicar o porquê de um filme mal conduzido como Um Crime Americano causar uma impressão tão forte no espectador.

O longa se propõe a reconstruir a trágica história de Sylvia Likens, uma menina de dezesseis anos que, em 1965, foi vítima de um crime que chocou a cidade de Indiana. Os pais de Sylvia trabalhavam em um circuito de feiras itinerantes e, para que as filhas não perdessem aulas, optaram por deixar Sylvia e sua irmã Jennie aos cuidados de Gertrude Baniszewski, uma mãe solteira com seis crianças que se oferecera para cuidar das meninas por alguns meses em troca de uma ajuda de custo. Uma desavença entre Sylvia e Paula, filha mais velha de Gertrude, desencadeia uma reação vingativa da mãe que vai tomando proporções cada vez mais devastadoras: pressionada pelo aperto financeiro, Gertrude revela-se instável emocionalmente e começa a perseguir a indefesa garota progressivamente, o que culmina em cárcere privado e torturas brutais.

A primeira estranheza que senti em relação ao filme foi constatar que uma história com essa intensidade dramática tenha sido confiada ao inexperiente Tommy O’Haver, cuja filmografia tem como ponto alto – se é que se pode dizer isso – o teen Uma Garota Encantada. O’Haver, que também assina o roteiro, realiza um filme nos moldes mais tradicionais e evita ser muito explícito nas cenas que mostram o nível de brutalidade cometida contra Sylvia Likens. Sua direção é pouco criativa e fracassa no único momento em que tenta fugir do convencional. O filme tem uma espécie de pista falsa perto do desfecho que soa totalmente desconexa com o restante, cabendo ao espectador tentar adivinhar o que, exatamente, o diretor e roteirista quis dizer com aquilo.


Mas, mesmo enfraquecido por suas limitações como produto cinematográfico, Um Crime Americano ainda é um filme difícil de digerir. Em primeiro lugar, pela força da história contada, que se impõe de maneira terrivelmente poderosa acima das deficiências do filme em si. Em segundo, pela atuação fantástica de Catherine Keener e Ellen Page. Catherine, no melhor papel de sua carreira, constrói uma Gertrude que oscila entre uma desesperança comovente e a crueldade patológica. Passando da mera instabilidade emocional para a insanidade total sem que ninguém à sua volta se dê conta do quanto ela está descontrolada. Pateticamente apegada à idéia de que está sendo apenas rigorosa e, com isso, criando monstros dentre seus próprios filhos, que se moldam pelo caráter desumano da mãe. A jovem e talentosa Ellen Page assume o papel da frágil vítima, um contraponto interessante para a imagem da atriz, que é mais conhecida como a grávida confusa e espirituosa de Juno e também como a adolescente esperta e vingativa de Menina Má.com. É uma grata confirmação de seu talento ver que Ellen também é ótima num estilo de personagem totalmente diverso dos anteriores.

Mesmo sugerindo mais do que mostrando, Um Crime Americano dá uma boa idéia do calvário por que passou Sylvia. O mais bizarro na situação é o fato de tanta gente estar a par da tortura e, mesmo assim, não fazer nada para deter tal monstruosidade. Ao contrário do caso recente do pai que trancafiava a filha em um compartimento secreto no porão, o cárcere de Sylvia era de conhecimento geral. Inclusive de pessoas de fora da casa. Uma cena interessante é a que mostra o promotor do caso perguntar, chocado, a Jennie porque, afinal de contas, ela nunca pediu a ajuda de ninguém para libertar a irmã. A resposta da menina – de que estava apavorada e com medo de despertar a fúria de Gertrude contra ela também – é uma explicação. Mas não uma boa justificativa. É fácil se calar quando não é a sua pele que está em carne viva.

O filme estréia sexta-feira.

Harry Potter só em 2009


Isso mesmo. A estréia de Harry Potter e o Enigma do Príncipe, que deveria ser no dia 21 de novembro, foi transferida para 17 de julho de 2009. A Warner justificou a súbita mudança dizendo que a greve dos roteiristas, que paralisou parte da produção hollywoodiana por vários meses, teria deixado vários projetos inacabados e, portanto, algumas estreias tiveram que ser rearranjadas. Sei não, parece história para boi dormir... O que, afinal de contas, teria motivado essa estranha decisão? E por que um adiamento para mais de seis meses além do previsto?

Em contrapartida, com o vácuo deixado por Harry Potter, corre o boato de que a estréia de Crepúsculo teria sido antecipada para 21 de novembro. Vale lembrar que não somente os dois filmes têm um público-alvo semelhante como também existe a coincidência de Crepúsculo ser estrelado por Robert Pattinson, que foi o Cedric Diggory de Harry Potter e o Cálice de Fogo.

sábado, 16 de agosto de 2008

O Sonho de Cassandra


Está saindo em DVD um dos melhores filmes de 2008: O Sonho de Cassandra, de Woody Allen. Essa safra recente do cineasta, composta de longas rodados na Europa, impressiona pela maturidade e domínio tanto na parte cinematográfica quanto dramatúrgica. O modo como ele induz o espectador a concluir o que ele quer – apenas para depois empurrá-lo numa direção oposta – é algo que me assombrou em Match Point e pode ser sentido novamente em O Sonho de Cassandra. E isso é um tapa na cara de seus detratores, que o acusam de: a) fazer sempre os mesmos filmes; b) impor ao espectador sua presença; c) fazer sempre o papel dele mesmo. Nenhuma das opções anteriores é válida para este longa.

O Sonho de Cassandra retoma alguns temas já discutidos no brilhante Match Point, tais como ambição, amoralidade, sorte e impunidade. Colin Farrell e Ewan McGregor são dois irmãos aparentemente opostos: enquanto o educado e elegante Ian ajuda – mesmo a contragosto – o pai a gerenciar o restaurante da família, o grosseiro Terry trabalha numa oficina mecânica e vive endividado devido à sua compulsão por todo e qualquer tipo de jogo. Então isso significa que Ian é o mocinho e Terry, o vilão? Não necessariamente. A verdadeira natureza de cada um vem à tona quando os dois são confrontados com a possibilidade de realizar seus sonhos. Como diz o velho ditado, é preciso tomar cuidado com o que se deseja.

Talvez o maior ponto de tangência entre O Sonho de Cassandra e Match Point esteja na falta de escrúpulos do personagem de Ewan McGregor. Ian tem objetivos, deseja alcançá-los e, para isso, fará o que for preciso. Tal mentalidade o aproxima do tio rico e o afasta do irmão com quem até então tinha o mais íntimo dos relacionamentos. É muito interessante reparar como o roteiro trabalha bem esses dois momentos: num primeiro segmento, os dois irmãos se protegem e parecem indissoluvelmente unidos contra o resto do mundo. Nem mesmo os pais ou as namoradas conseguem penetrar nesse universo fraterno. Mais adiante, vemos o abismo que vai progressivamente se interpondo entre eles. Também vale destacar o modo sempre inesperado com que a máscara de cada personagem cai. Terry, o mau elemento; Ian, o certinho; Angela; a libertina; Howard, o self-made man. Isso é o que eles aparentam, mas só à primeira vista.

Sobre o elenco, é evidente a superioridade de Ewan McGregor em relação a Colin Farrell. Farrell até está bem dirigido (afinal de contas, Woody Allen deu jeito até no Jason Biggs), mas é inegável seu desnível em relação ao companheiro de cena. Muitas vezes, Farrell falando é menos expressivo do que McGregor de boca fechada. Mas Woody Allen foi esperto o suficiente para lhe dar o personagem menos complexo, já que a sofisticada dissimulação de Ian não seria páreo para ele. Tom Wilkinson, sempre eficiente, completa o triângulo familiar como o tio pródigo.

Outro aspecto que chama a atenção é o fato do longa ser inqualificável em termos de gênero. Podemos considerá-lo um thriller ou um drama, embora o filme não seja um exemplar perfeito de nenhum dos dois. Eu, particularmente, o acho mais próximo dos filmes de gângster. Estão lá alguns alicerces constantes do gênero: obrigatoriedade de lealdade à família (neste caso, família nos dois sentidos), relutância de um membro a fazer parte dos "negócios", elasticidade moral da parte dos envolvidos, etc. Mas não espere ver sangue esguichando nem membros decepados na tela. Allen reinventa a seu modo os códigos, misturando-os, por exemplo, com diversas referências às tragédias gregas.

Resumindo em uma única frase, O Sonho de Cassandra é imperdível.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

MovieMobz

Aqui no Rio ultimamente só se fala em MovieMobz. Eu andava curiosa, mas sem muito tempo de conferir a que, exatamente, se propunha esse site que anda sendo tão festejado pela comunidade cinéfila. Pela rápida visita que fiz há algumas semanas, apurei que, mais do que uma espécie de Orkut para quem gosta de cinema, o objetivo principal seria mobilizar determinado número de espectadores para fazer acontecer uma sessão especial de um filme previamente escolhido. Interessante, é claro, mas eu confesso meu erro... não levei muita fé na idéia.

Até que pude conferir o poder de mobilização dos internautas na noite de ontem justamente com um filme que eu lamentava amargamente ter perdido por ocasião de sua carreira-relâmpago em circuito: o delicioso Persépolis. E, como um presente do Olimpo, eis que Persépolis surge nas telas do Odeon, cinema maravilhoso a poucas quadras da minha casa. O horário foi uma conveniente sessão de 21h e o preço do ingresso, convidativos R$6 (meia-entrada, R$3). Mais perfeito, impossível!

Ao chegar ao cinema, a primeira coisa a chamar minha atenção foi a boa freqüência de público para uma noite de segunda-feira. Cerca de 60 pessoas foram assistir à animação de Marjane Satrapi. E a comparação podia ser feita pela sessão anterior (do filme em circuito) que havia terminado há pouco. A única mancada: o filme estava anunciado no letreiro do cinema como uma pré-estréia. Como assim, pré-estréia? Persépolis já esteve em cartaz.

Persépolis é uma pequena jóia. Animação adulta, inteligente, politizada e cheia de ironia. Adaptado pela própria autora a partir de seus quadrinhos autobiográficos, conta a história da iraniana Marjane, da infância à idade adulta. O filme mostra desde a inocência de sua visão infantil a respeito das turbulências políticas de seu país até a difícil busca pela emancipação após um casamento desastrado, passando por uma adolescência rebelde numa espécie de exílio voluntário na Áustria. Mas tudo isso sin perder la ternura jamás, pois Persépolis é, sobretudo, um filme muito meigo e sensível.

Depois desse presente incrível para o que seria uma tediosa noite de segunda-feira, tomei vergonha na cara e já me cadastrei no MovieMobz. Não apenas me cadastrei como já estou participando de algumas mobilizações interessantes. São quase 400 opções de filmes no acervo, de inéditos a cópias restauradas de grandes clássicos. Confiram vocês também:

sábado, 9 de agosto de 2008

Revendo Pecados Íntimos


A classe média sempre foi excelente tema para análise. Nem rica nem pobre, tentando alcançar o nível dos privilegiados e, ao mesmo tempo, fazendo de tudo para não cair na vala comum dos desprovidos. Enfim, o tipo de gente que vive em eterno estado de tensão, já que basta um passo em falso para derrubá-los do frágil pedestal sobre o qual se equilibram. E na sociedade americana, tão fortemente norteada pela obsessão em dividir todos em winners (vencedores) ou losers (perdedores), essa luta para se afirmar ganha dimensões de tragédia. É preciso se agarrar a conceitos e símbolos - de preferência conservadores - que afirmem sua identidade. E ai de quem tentar bagunçar o equilíbrio desse castelo de cartas.

Logo na seqüência de abertura de Pecados Íntimos, somos apresentados a Sarah Pierce. Uma jovem sagaz e inteligente, com mestrado em literatura, que passa seus dias em silenciosa angústia, desempenhando o papel de mãe amorosa e esposa dedicada. Todos os dias Sarah leva o filho ao parquinho e fica ali, à margem do mundo de perfeição e eficiência das outras mães. Richard, marido de Sarah, é um executivo de marketing bem-sucedido cujo ponto alto do dia é interagir virtualmente com uma garota num site pornográfico. Brad Adamson, advogado que não consegue passar no exame da Ordem, também costuma fazer as vezes de mãe do pequeno Aaron enquanto sua eficientíssima esposa sustenta a casa. Frustrados com a própria vida e desesperados por algo que os tire da monotonia, Sarah e Brad logo iniciam um caso. Já Larry, ex-policial afastado após atirar acidentalmente em um garoto, continua obcecado em manter a cidade em ordem e inicia uma verdadeira cruzada quando descobre que Ronnie, solteirão com distúrbios sexuais preso por se exibir para menininhas, foi libertado e está de volta à vizinhança. Mas a mãe de Ronnie acredita que tudo se ajeitará se conseguir arrumar para o filho uma namorada da sua idade.

O filme trabalha de acordo com a máxima “olhando de perto, ninguém é normal”. Volta e meia o cinema produz uma ácida análise da suposta perfeição e paz das cidadezinhas ou subúrbios americanos. Um exemplo é o premiado Beleza Americana, com o qual, aliás, Pecados Íntimos guarda inúmeras semelhanças. Por trás de uma vida idílica, casas bem-estruturadas e ausência de problemas financeiros, esconde-se uma rotina massacrante. As famílias perfeitas, dignas de comercial de margarina, servem de fachada para uma existência anestésica, só restando a um espírito livre como Sarah a traição. Não por acaso, uma das seqüências mais interessantes do filme é justamente a que a mostra numa roda de leituras dando sua opinião sobre as razões que teriam levado Madame Bovary a cometer adultério. Ao que uma agressiva vizinha só consegue argumentar que a personagem seria uma “vagabunda”, insulto que fere diretamente Sarah. Interessante também o modo como as mulheres mais velhas parecem mais receptivas à experimentação do que a mais jovem.

Já o segmento que enfoca a dificuldade de readaptação do personagem pedófilo lembra a abordagem do ótimo O Lenhador, ao desmistificar um tabu como o da disfunção sexual. Ronnie tem consciência de seu distúrbio e gostaria de levar uma vida normal, embora tenha dúvidas quanto à sua capacidade em superar tal problema. É óbvio que ninguém gostaria de ter alguém como ele perto de seus filhos, mas daí a promover um clima de Ku-Klux-Klan vai uma grande diferença. Donde se conclui que as “criancinhas” do título original não têm nada a ver com pedofilia e sim com a dificuldade dos chamados adultos em se comportarem como tal.

O roteiro inteligente e bem amarrado encontra ótima contrapartida em seu elenco. Jackie Earle Haley surpreende com sua interpretação minimalista de um personagem extremamente complexo. E Kate Winslet, mais uma vez, prova que é uma das grandes atrizes da atualidade. Sua interpretação sóbria, porém intensa, cativa o espectador desde a primeira tomada, quando ela observa com expressão irônica o comentário orgulhoso da mulher que marca dia e horário para ter relações com o marido. Por este filme, Kate obteve sua quinta indicação ao Oscar - a terceira como atriz principal. Creio que já está mais do que na hora da atriz ser premiada. Kate tem um histórico profissional irretocável e uma filmografia pra lá de diversificada que vai desde filmes alternativos como Almas Gêmeas até grandes produções como Em Busca da Terra do Nunca. Nem mesmo o malfadado Titanic abalou seu prestígio, já que até os maiores detratores do filme de James Cameron se apressam em reconhecer a apaixonada atuação de Kate como a melhor coisa da produção.

Pecados Íntimos, que teve o modesto orçamento de US$ 14 milhões, recebeu três indicações ao Oscar: atriz (Kate Winslet), ator coadjuvante (Jackie Earle Haley) e roteiro adaptado. Infelizmente, não venceu em nenhuma das três categorias. Mas, premiações à parte, trata-se de um grande filme. O diretor Todd Field, que tem como único filme relevante de seu currículo o mediano Entre Quatro Paredes, conseguiu para si um excelente cartão de visitas com este longa.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

As Favoritas


Quando alguma coisa cala nossa boca é preciso ter coragem e dar a mão à palmatória: OK, eu voltei a assistir novela. E a responsável por isso é a ótima A Favorita. Eu tenho várias restrições quanto às novelas, sempre tive. Alguns dizem que é preconceito, outros esnobice intelectual. Mas a verdade é que eu acho que as novelas, em geral, seguem fórmulas parecidas: uma mocinha sofredora, um herói desejado e um vilão que morre no último capítulo. Um núcleo “pobre” responsável pelo alívio cômico e um núcleo "rico" responsável por ditar a moda que logo estará nas ruas. Sem contar a irritante mania de “esticar” a trama quando esta faz algum sucesso e o critério midiático que faz com que atores medianos se sobressaiam às custas de usar atores mais experientes como seus coadjuvantes de luxo. Enfim, creio que vocês entendem do que eu estou falando: isso tudo cansa.

Eis que chega A Favorita quebrando a maioria dos cânones de novela das oito (que há muito tempo é das nove, mas tudo bem): duas protagonistas no lugar de uma, cada qual com seu charme e apelo. A princípio, Flora parecia a boazinha. Agora o espectador já sabe que ela também joga sujo. A que ponto? Donatela parecia a vilã absoluta, mas fica difícil continuar pensando assim depois de acompanhar seu sofrimento. Causado pelas armações de Flora... Que deveria ser a boazinha. Vingança ou dissimulação? E, entre as duas, a filha gerada por uma e criada pela outra. Um argumento e tanto!

Claro que o melhor dos argumentos não se sustentaria se o elenco não estivesse à altura. E Claudia Raia e Patrícia Pillar estão dando show. As atrizes conseguem manter o suspense e a empatia de seus personagens em doses tão equilibradas que é realmente muito difícil saber em quem acreditar. Some-se a isso uma Mariana Ximenes talentosa como sempre e temos a base da trama apoiada em ótimos pilares. Sem contar a graça cafajeste de Murílio Benício em seu melhor papel na TV e mais um time de coadjuvantes de dar inveja, como por exemplo, o ótimo Leonardo Medeiros em sua primeira novela.

João Emanuel Carneiro, que despontou na Globo com A Cor do Pecado, chega ao horário nobre dando o que falar. E mais: em entrevista ontem, ele prometeu inovar mais uma vez ao revelar o culpado da morte de Marcelo Fontini já no capítulo de amanhã. Chega disso de assassino revelado no final. Claro que o autor deve ter novas cartas na manga, caso contrário não abriria mão de um trunfo dramatúrgico dessa importância logo no início da trama.

Não sei não, mas eu estou mais predisposta a acreditar na Donatela. Acho que ela está se dando mal rápido demais para ser culpada. Vamos torcer para que A Favorita se mantenha no mesmo nível até o desfecho e também para que o exemplo de João Emanuel dê uma sacudida nas bases da telenovela, que há muitos anos não se dispunha a inovar.

A Vida Secreta das Palavras


Outra novidade que está chegando às lojas e locadoras também no dia 19 é este belo e delicado filme. A trama acompanha a vida da reservada Hannah, que a princípio se resume a seu trabalho numa indústria têxtil. Um dia o patrão praticamente a obriga a tirar férias, o que a deixa desnorteada. Sem saber como passar o tempo, ela arruma uma ocupação inusitada: vai para uma plataforma petrolífera cuidar de Josef, um funcionário que sofreu um acidente quase fatal. Ele tem queimaduras por todo o corpo e está temporariamente cego.

A princípio, parece tratar-se de um filme sobre a incomunicabilidade humana. Além de Hannah e Josef, todos a bordo da plataforma parecem estar ali por uma tendência ao isolamento. Tão envolvidos com seus próprios fantasmas que é como se estivessem de fato sozinhos. O filme começa frio, impessoal como a protagonista prefere manter suas relações. Mas, progressivamente, a dolorida história de Hannah vai se revelando e ganhando o espectador. Há muito mais sobre a personagem do que se supõe numa primeira leitura.

A mulher retraída, solitária e que gosta que assim o seja é uma percepção correta, porém superficial. E é justamente quando o filme começa a revelar o porquê do seu comportamento que certas passagens mostradas anteriormente ganham um sentido mais amplo, como, por exemplo, a obsessão de Hannah com as barras de sabão. Mas é um significado mais sugerido do que imposto. Sutilezas da direção da promissora Isabel Coixet, que realizou anteriormente o tocante Minha Vida sem Mim. Outro ponto alto são as interpretações comoventes de Sarah Polley e Tim Robbins. Todos os diálogos entre os dois são repletos de emoção genuína.

Uma curiosidade: Sarah Polley, que estrelou tanto esse filme quanto Minha Vida sem Mim, dirigiu recentemente o elogiado Longe Dela.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Planeta Terror


Já se encontra em pré-venda, com previsão de entrega para o dia 19 deste mês, o DVD da brincadeira de Robert Rodriguez, Planeta Terror. Trata-se de uma das metades de Grindhouse, projeto que também inclui À Prova de Morte, de Quentin Tarantino. Os chamados Grindhouses eram sessões duplas nas quais, com apenas um ingresso, o espectador assistia a dois filmes baratos e sangrentos. Os temas? Monstros, vampiros, zumbis, maníacos assassinos, etc. O que importava era que o sangue jorrasse. Inspirados em suas próprias infâncias, os amigos Tarantino e Rodriguez resolveram filmar seu próprio Grindhouse. Que, infelizmente, chegou para nós como dois filmes separados. Uma pena, pois a concepção original era não só assistir aos dois filmes juntos mas também aos trailers falsos que os acompanhavam.

Numa cidadezinha americana, estranhos experimentos são realizados numa base militar. Cherry, uma go-go girl, encontra num café de beira de estrada El Wray, seu antigo amor. Ele oferece uma carona, mas no meio do caminho o casal é atacado por bizarras criaturas que comem a perna da moça. Enquanto isso, os médicos William e Dakota são surpreendidos no hospital por uma legião de decepados e mutilados, que logo se revelam zumbis assassinos. Os monstros avançam sobre a cidade, disseminando o terror.

Em termos de proposta, podemos dizer que Rodriguez se saiu melhor que Tarantino. Seu filme realmente parece uma bomba barata feita nos anos 60/70. Imagem cheia de chuviscos e riscos, fotografia granulada, roteiro mirabolante e muitas tomadas nojentas. Mas, num incrível paradoxo, reside justamente na competência em seguir o proposto o maior problema de Planeta Terror. Rodriguez levou a missão tão a sério que a precariedade do filme incomoda. Enquanto o longa de Tarantino brinca com os “defeitos especiais”, inserindo-os ocasionalmente, Rodriguez realmente fez o filme inteiro daquele modo. E por mais que o espectador esteja ciente de que aquela pobreza técnica é intencional, depois de um certo tempo fica cansativo. Mas não se pode negar que a idéia é criativa e só mesmo dois loucos com muito prestígio poderiam realizá-la. Também vale ressaltar o genial falso trailer que precede o longa. Uma pérola, melhor do que o filme propriamente dito.