sábado, 22 de março de 2014

Paris - Outros Cenários


Alcançando a Basílica de Sacré-Coeur

Que Paris é uma das cidades mais cinematográficas do mundo é ponto pacífico, ninguém tem dúvidas quanto a isso. Em quantas produções ao longo dos anos já vimos cenas que tinham como pano de fundo a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo, o Castelo do Louvre ou as margens do Rio Sena? Porém existem outros recantos da cidade-luz não tão famosos (ou totalmente anônimos) que já serviram de cenário para alguns filmes que amamos.

No caso de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, por exemplo, todo o charmoso bairro de Montmartre emoldurou a história, desde as longas escadarias da Basílica de Sacré-Coeur às ruazinhas repletas de pequenos negócios e delicatessens, mas o ponto central da trama certamente é o Café des 2 Moulins (Rue Lepic, 15), onde a protagonista trabalhava. Pois bem. O café existe e ficou tão famoso por conta do filme que hoje em dia inclusive ostenta um painel com uma foto da personagem  um incentivo extra para as moças é o fato do estabelecimento contar com os garçons mais bonitos de Paris. Outro detalhe na trama que ganha sabor especial depois de visitar o bairro é o fato do interesse romântico de Amélie trabalhar em uma sex shop, já que Montmartre é apinhado delas. É lá que fica, ainda, o célebre Moulin Rouge (clique aqui para ler o artigo sobre o Moulin Rouge).


Detalhe da fachada do hoje em dia concorridíssimo Café des 2 Moulins

Já Antes do Pôr-do-Sol, embora depois passeie por vários pontos mais turísticos da cidade, tem seu marcante início em uma das livrarias mais bonitinhas da cidade: trata-se da Shakespeare and Company, especializada em livros estrangeiros. É no seu aconchegante interior que Jesse faz a leitura de seu livro e se reencontra com Cèline nove anos depois. A fachada da livraria é mostrada, ainda, em Meia-Noite em Paris. A Shakespeare and Company fica na Rue de la Bucherie, 37 (perto da Catedral de Notre-Dame).


Por falar no filme de Woody Allen, o cenário mais interessante de todos está ao alcance de qualquer transeunte: sabe aquela esquina onde o Owen Wilson ficava à espera do carro que o transportaria para o passado? É a Rue de la Montagne Sainte Geneviève, fica pertinho do Panthéon e os sinos que a gente escuta no filme são os da igreja da esquina (em cujos degraus Wilson se senta à meia-noite). Outro belo cenário do filme é a Pont Alexandre III, a da cena final. Mesmo durante o dia, com as luzes apagadas, é certamente a ponte mais bonita dentre as muitas que cruzam o Rio Sena. Fica à altura da Avenue des Champs-Élysées.

 Pont Alexandre III

Por fim, outro lugar que vale mencionar – não somente pela correlação com o cinema, mas também por seu imperdível acervo e pela beleza arquitetônica – é o Musée D’Orsay. Esse museu alocado na estrutura de uma antiga estação ferroviária não foi exatamente o cenário real, porém seu monumental relógio envidraçado com vista para a cidade serviu de inspiração para aquele que vemos em A Invenção de Hugo Cabret.


Portanto, caro leitor, se o seu próximo destino for Paris, entre o Louvre, Versailles e a Torre Eiffel também vale a pena reservar algum tempinho para conferir esses cenários de perto.

Interior do 2 Moulins, bem parecido com o visto no filme

Sex shops, cenário recorrente em Montmartre

Le Moulin Rouge, o original

A atmosfera mágica da Rue de la Montagne Sainte Geneviève

O deslumbrante átrio do Musée D'Orsay

Vista interna da Pont Alexandre III

sexta-feira, 21 de março de 2014

Getúlio - trailer


Foi divulgado ontem o trailer oficial de Getúlio, filme de João Jardim que acompanha os últimos dias de vida do presidente considerado “o pai dos pobres”. A estreia, estrategicamente pensada para o dia primeiro de maio, faz uma correlação com a data escolhida no passado por Getúlio Vargas para anunciar suas reformas trabalhistas. O papel-título é interpretado por Tony Ramos e o elenco conta, ainda, com Alexandre Borges como Carlos Lacerda e Drica Moraes como Alzira Vargas. Confiram o promissor trailer:


Crowe in Rio


Por conta da campanha de divulgação de Noé, novo longa de Darren Aronofsky, o ator Russell Crowe fez passagem-relâmpago pelo Rio de Janeiro e pelo tapete azul estendido ontem à noite no Cinépolis Lagoon para a première de gala do filme. Crowe participa de uma coletiva de imprensa esta manhã e deve deixar a cidade ainda hoje. O fotógrafo André Moreira, autor das fotos e parceiro de longa data do A&S, conseguiu clicar o gladiador em um dos seus raros sorrisos. Confiram:



quarta-feira, 12 de março de 2014

Azul é a Cor Mais Quente – a HQ


Seguindo com as leituras complementares, foi a vez de conferir a HQ da francesa Julie Maroh que deu origem ao filme de Abdellatif Kechiche e inspirou o título internacional do filme, que foi batizado em francês pelo cineasta como “A Vida de Adèle” – personagem que, aliás, se chama se chama Clémentine no livro.

A primeira coisa a ser percebida é que, embora quadrinhos e filme contem basicamente a mesma história, em termos de abordagem há bastante diferença. Enquanto Kechiche optou por carregar mais nas cores da polêmica – não somente nas cenas de sexo explícito, mas também em seu olhar sobre a sociedade francesa –, a HQ é muito mais poética e delicada e se concentra nos vários estágios pelos quais passa a relação de Clémentine e Emma. Tirando o conflito com os pais e uma passagem (reproduzida em uma cena do filme) em que Clémentine é hostilizada por uma colega na escola, há muito mais luta interna e autocensura do que interferências externas no relacionamento das garotas. Inclusive a consumação da relação entre as personagens é mais lenta e hesitante, marcada por indecisões e inseguranças. Os amigos artistas de Emma e toda aquela pressão sobre as escolhas profissionais de Clémentine sequer são retratados no livro. O foco está no processo de descoberta e aceitação da própria homossexualidade em uma época confusa como a adolescência e seus conflitos internos.

Graficamente, a HQ reflete essa delicadeza com tons pastéis e uma arte que lembra a aquarela. A paleta de tons esmaecidos das páginas contrasta sempre com as madeixas azuis de Emma, daí, para a narradora, a cor considerada fria ter se tornado tão “quente”. Muito bonito mesmo o trabalho gráfico, tendo como único senão o tamanho reduzido da letra em determinados balões. Em todo caso, Azul é a Cor Mais Quente é uma pequena obra de arte que vale a pena ter na estante. A edição brasileira é da Martins Fontes e custa entre R$30,00 e R$ 40,00. 

Clique aqui para ler sobre o filme.


domingo, 9 de março de 2014

12 Anos de Escravidão – o livro

Chiwetel Ejiofor como Salomon Northrup em uma cena do filme

Ao saber que o agora oscarizado 12 Anos de Escravidão fora baseado em um relato verídico publicado há mais de cento e cinquenta anos, logo surge a pergunta: por que ninguém conhecia esse livro antes? Evidente que com “ninguém” quero dizer o grande público – talvez historiadores e sociólogos já o conhecessem. Também não deixa de ser surpreendente que a descoberta do potencial cinematográfico dessa história tenha vindo pelas mãos de Steve McQueen, um cineasta que, não obstante a cor da pele, não apresenta uma filmografia marcada pelo engajamento em questões raciais. Por fim, o fato de também o roteirista John Ridley ter levado seu Oscar pela adaptação das tocantes memórias de Solomon Northup torna ainda mais interessante a leitura complementar deste livro.

Já no prefácio descobrimos que a história, na verdade, foi narrada por Northup a um redator chamado David Wilson. É preciso levar em consideração, ainda, que o objetivo primordial deste relato, mais que literatura, era o seu teor de denúncia. O estilo do texto (ou, pelo menos, do tradutor que o verteu para a língua portuguesa) é um tanto barroco. Também há um detalhismo por vezes desnecessário: são feitas descrições exaustivas não apenas a respeito das fazendas, mas também do processo de semeadura e colheita primeiro do algodão e, posteriormente, da cana-de-açúcar – quatro páginas, neste último caso. Ainda que tenha por finalidade inserir o leitor no universo retratado e na rotina diária do personagem, um pouco de concisão em um assunto tão secundário não faria mal. Por outro lado, a narrativa é rica em diversos particulares pouco elucidados pelo roteiro do filme, como, por exemplo, a transação que fez com que a posse do protagonista passasse do senhor tido como “bom” para o cruel.

Outro aspecto que chama muito a atenção neste livro é a própria atitude do protagonista. Se o Solomon Northup das telas demonstra claramente que está sujeito aos desmandos de seus senhores por pura questão de sobrevivência, o das páginas parece venerar genuinamente os brancos que o trataram com alguma humanidade, dando inclusive a impressão por vezes de que nunca teria lutado pela readquirir a liberdade caso permanecesse como propriedade de pessoas de bom coração. Em diversas passagens, mesmo condenando ferozmente o sistema escravagista, Northup não reprime um certo orgulho por ter se destacado dos demais escravos graças a seus talentos e inteligência. Uma ideia perturbadora, para dizer o mínimo.

Enfim, livro e filme são diferentes entre si, mas, de alguma forma, se complementam. Esse é um daqueles casos em que vale a pena ler o livro e ver o filme para formar um juízo mais completo sobre essa história inacreditavelmente verdadeira. 12 Anos de Escravidão possui duas edições diversas aqui no Brasil. A da Seoman costuma sair mais em conta, oscilando entre R$ 15,00 e R$ 20,00 nas livrarias. 

Clique aqui para ler sobre o filme.



quinta-feira, 6 de março de 2014

Walt nos Bastidores de Mary Poppins


Esse é um daqueles filmes. Todo mundo passou um considerável tempo ouvindo-o ser nomeado por seu título original e, de repente, quando menos se espera, sapecam um título em português não somente bizarro como também bastante inadequado. Walt dos Bastidores de Mary Poppins, caro leitor, é tão-somente a tradução brazuca para Saving Mr Banks. E sua história não narra exatamente como foram os bastidores da filmagem do clássico infantil Mary Poppins e sim o processo anterior a ele, quando, para que o filme saísse do papel, era vital que Tio Walt e sua equipe conseguissem dobrar a relutância da escritora inglesa P. L. Travers (ela sim, a verdadeira protagonista do filme) em permitir que sua criação sofresse as inevitáveis transformações para se adequar ao padrão Disney. 

Está certo que este é um filme ambientado na Disneylândia, mas era realmente preciso que também o tom narrativo fosse tão ingênuo? P. L. Travers começa o filme como uma mulher amarga, sarcástica e irredutível em seus dogmas. Ela não gosta dos filmes da Disney, odeia animação e só concorda em passar algum tempo nos estúdios devido a sérios problemas financeiros. Irritante sim, porém mais verdadeira do que a pessoa na qual se transforma ao longo da projeção, ou seja, depois de contagiada pelo mundo de fantasia de um Walt Disney infantilizado e politicamente correto ao limite da chatice. Talvez os personagens fossem de fato assim, mas isso não impede que o resultado final tenha ficado pouco instigante. Bonitinho, bem-feito, mas bastante inócuo em sua essência. Antes desse filme, John Lee Hancock havia dirigido Um Sonho Possível. Podemos dizer que ambos os filmes seguem por caminhos semelhantes, o que é uma pena – este Saving Mr Banks prometia mais.


A abordagem naïf, porém, nem é o maior dos problemas: enquanto se mantém focado no embate entre a voluntariosa P. L. Travers e o sonhador Walt Disney, o filme ainda rende algumas cenas divertidas e vibrantes. O verdadeiro calcanhar de aquiles do longa está no excesso de flashbacks pseudo-psicanaliticos que buscam explicar o apego da autora a Mary Poppins. As cenas de sua infância enfraquecem totalmente o filme, em parte pela escalação do sempre equivocado Colin Farrell para um papel que exigiria dotes dramáticos acima do que ele é capaz e em parte pelo modo pouco convincente como é apresentada a tia que teria servido de modelo para a babá mágica. Muito estranho que uma pessoa mostrada na trama de modo tão corriqueiro tivesse sido tão crucial na vida da protagonista. 


O que se destaca no meio disso tudo? Sem dúvida, a direção de arte bacana e a competência do elenco. Emma Thompson no papel de Travers (indicada ao Globo de Ouro, mas não ao Oscar) apresenta mais uma atuação impecável e confirma que é uma das grandes atrizes de sua geração, mas também Tom Hanks e Paul Giamatti dão conta do recado: o primeiro consegue driblar com dignidade um papel ingrato e o segundo brilha mesmo em uma pequena participação. O filme vale a pena por eles, apesar do modo insosso como a trama se desenrola.

segunda-feira, 3 de março de 2014

E os vencedores foram...

Steve McQueen comemora com a equipe a vitória de 12 Anos de Escravidão

Percentual de surpresas na noite de ontem: zero. Mesmo nas categorias onde ainda havia alguma indefinição, o Oscar acabou indo parar nas mãos daquele que era, de fato, o mais cotado. O que gerou dois grandes vencedores, já que 12 Anos de Escravidão foi eleito o melhor filme (além de levar os prêmios de melhor atriz coadjuvante e melhor roteiro adaptado), mas o vencedor em termos quantitativos foi Gravidade (sete estatuetas). A premiação deste ano foi justa na medida do possível, já que grandes filmes como Nebraska e O Lobo de Wall Street saíram sem nada... mas apenas um pode ganhar em cada categoria. Mesmo caso da disputa por filme em língua estrangeira, que este ano estava em altíssimo nível e premiou a obra-prima A Grande Beleza. A festa foi apresentada por Ellen DeGeneres, que deu o tom da descontração ao twittar fotos, circular pela plateia e até pedir uma pizza.

Alfonso Cuarón é eleito melhor diretor por Gravidade, que venceu em outras seis categorias

Confiram os vencedores:

Filme – 12 Anos de Escravidão
Ator – Matthew McConaughey, por Clube de Compras Dallas
Atriz – Cate Blanchett, por Blue Jasmine
Ator Coadjuvante – Jared Leto, por Clube de Compras Dallas
Atriz Coadjuvante – Lupita Nyong'o, por 12 Anos de Escravidão
Direção – Alfonso Cuarón, por Gravidade
Roteiro Original – Spike Jonze, por Ela
Roteiro Adaptado – John Ridley, por 12 Anos de Escravidão
Trilha Sonora – Gravidade
Canção Original – Let It Go, de Frozen
Filme em Língua Estrangeira – A Grande Beleza (Itália)
Longa de Animação – Frozen
Fotografia – Gravidade
Figurino – O Grande Gatsby
Maquiagem e Cabelo – Clube de Compras Dallas
Montagem – Gravidade
Direção de Arte – O Grande Gatsby
Efeitos Visuais – Gravidade
Mixagem de Som – Gravidade
Edição de Som – Gravidade
Documentário Longa-Metragem – A Um Passo do Estrelato
Documentário Curta – The Lady in Number 6
Curta de Animação – Mr Hublot
Curta Live Action – Helium

Os atores do ano: Matthew McConaughey, Cate Blanchett, Lupita Nyong'o e Jared Leto

O italiano Paolo Sorrentino recebe o Oscar junto com o astro de A Grande Beleza, Toni Servillo

Ellen DeGeneres propõe aos astros a foto "mais retwittada na noite" (o Robert" ali à direita? É irmão da Lupita Nyong'o)

domingo, 2 de março de 2014

Antes do Oscar, os independentes e os framboesas

Lupita Nyong’o e Steve McQueen, atriz e diretor do vencedor (do Independent Spirit Awards, claro) 12 Anos de Escravidão

Hoje é dia de Oscar, prêmio máximo do cinema que, devido a seu prestígio e fama, sempre fecha a temporada de premiações iniciada no ano anterior. Na noite de ontem, porém, dois outros troféus – com objetivos e vencedores bem diferentes entre si – foram concedidos: o Independent Spirit Awards, como diz o nome, é uma celebração do cinema independente e elege as melhores produções realizadas com orçamento modesto e fora das asas protetoras dos grandes estúdios. Já o Framboesa de Ouro – ou Razzies – escolhe os piores filmes, diretores e atores que tivemos o desprazer de ver nas telas. Lideraram a “premiação” Will Smith e o filho Jaden Smith e o filme coletivo Para Maiores. Confiram os agraciados e suas respectivas honrarias:

Independent Spirit Awards

Filme – 12 Anos de Escravidão
Direção – Steve McQueen, por 12 Anos de Escravidão
Roteiro – John Ridley, por 12 Anos de Escravidão
Atriz – Cate Blanchett, por Blue Jasmine
Ator – Matthew McConaughey, por Clube de Compras Dallas
Atriz Coadjuvante – Lupita Nyong’o, por 12 Anos de Escravidão
Ator Coadjuvante – Jared Leto, por Clube de Compras Dallas
Melhor Primeiro Filme – Fruitvale Station
Melhor Primeiro Roteiro – Bob Nelson, por Nebraska
Fotografia – Sean Bobbitt, por 12 Anos de Escravidão
Montagem – Nat Sanders, por Short Term 12
Documentário – A Um Passo do Estrelato
Filme Estrangeiro – Azul é a Cor Mais Quente (França)
Prêmio John Cassavetes (filmes feitos com até U$500 mil) – This is Martin Bonner

Framboesas de Ouro

Pior filme – Para Maiores
Ator – Jaden Smith, por Depois da Terra
Atriz – Tyler Perry, por A Madea Christmas
Ator Coadjuvante – Will Smith, por Depois da Terra
Atriz Coadjuvante – Kim Kardashian, por Relação em Risco
Direção – Os 13 diretores de Para Maiores
Elenco – Jaden e Will Smith, por Depois da Terra
Roteiro – Os 19 roteiristas de Para Maiores
Sequência, remake ou spinoff – O Cavaleiro Solitário