sábado, 24 de maio de 2014

Vencedores de Cannes 2014

O cineasta turco Nuri Bilge Ceylan e sua Palma de Ouro

Esperando que não demorem um ano inteiro para estrear no Brasil, eis a lista de premiados deste ano:

Mostra Competitiva (longas)
Palma de Ouro – Winter Sleep, de Nuri Bilge Ceylan
Grande Prix – Le Meraviglie, de Alice Rohrwacher
Direção – Bennett Miller, por Foxcatcher
Roteiro – Andrey Zvyagintsev e Oleg Negin, por Leviathan
Ator – Timothy Spall, por Mr. Turner
Atriz – Julianne Moore, por Map to the Stars
Prêmio do Júri – Mommy, de Xavier Dolan / Adieu au Langage, de Jean-Luc Godard

Alice Rohrwacher com Sophia Loren

Mostra Competitiva (curtas)
Palma de Ouro – Leidi, de Simón Mesa Soto
Menções Especiais – Aïssa, de Clément Trehin-Lalanne / Ja Vi Elsker, de Hallvar Witzo

Mostra Un Certain Regard
Grande Prêmio – Fehér Isten (White God), de Kornél Mundruczó
Prêmio do Júri – Turist, de Ruben Östlund
Prêmio Especial – The Salt of the Earth, de Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado
Melhor Elenco – Party Girl, de Claire Burger, Samuel Theis e Marie Amachoukeli
Ator – David Gulpilil, por Charlie’s Country

Caméra d'Or
Party Girl, de Claire Burger, Samuel Theis e Marie Amachoukeli

FIPRESCI
Winter Sleep, de Nuri Bilge Ceylan (Mostra Oficial)
Jauja, de Lisandro Alonso (Un Certain Regard)

Cinéfondation
Primeiro Prêmio – Skunk, de Annie Silverstein 
Segundo Prêmio – Oh Lucy!, de Atsuko Hirayanagi 
Terceiro Prêmio – Lievito Madre, de Fulvio Risuleo/ The Bigger Picture, de Daisy Jacobs


quinta-feira, 22 de maio de 2014

Heli


Chega aos cinemas, em circuito bastante reduzido, um filme que era bastante aguardado por quem acompanha premiações internacionais e que já havia sido exibido no Festival do Rio do ano passado. Heli concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2013 e saiu do evento com o prêmio de melhor direção, além de ter causado o maior burburinho devido às suas cenas de violência. 

O personagem-título é um jovem mexicano que, recém-saído da adolescência, já tem a vida pautada pela desesperança: mulher e filho pequeno para sustentar, um emprego estafante em uma montadora que parece ser o único foco de trabalho no vilarejo poeirento onde mora com a família e uma total falta de perspectiva futura. Além do mais, a esposa parece arrependida de ter deixado a casa paterna e direciona a ele seu ressentimento. Para piorar, sua irmã Estela, de 12 anos, se envolve com um rapaz mais velho que mete todos em problemas ao tentar roubar os chefões do local.

É um pouco difícil analisar este filme, já que ele oscila entre várias sequências significativas e outros momentos totalmente fora de rumo. Com um início muito arrastado, Heli aos poucos cresce na tela e diz a que veio, porém deixa muito a desejar em termos de roteiro, coesão e ritmo. O que é uma pena, porque o jovem cineasta Amat Escalante é brilhante em muitos trechos – quase como se ele houvesse dirigido algumas cenas de forma independente e alguém mais tivesse montado o filme depois. O fato de Escalante ser também o roteirista indica que, numa próxima produção, seria boa ideia deixar essa parte a cargo de outra pessoa.

De qualquer modo, mesmo cheio de imperfeições, Heli é um filme que merece ser conferido. Atenção para a sequência na qual os rapazes são torturados diante dos meninos que encaram a sessão de crueldade como quem assiste a um filme – ou joga algum videogame. Também é bastante curiosa a abordagem do filme sobre os limites da pedofilia, embora esse não seja o ponto central da trama. Sobre a violência mostrada na tela, algumas cenas são de fato chocantes, porém não são tantas quanto os comentários vindos de Cannes faziam supor. Desaconselhável somente para cinéfilos demasiadamente sensíveis.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Gata Velha Ainda Mia


Muito surpreendente este thrillermetalinguístico dirigido e escrito pelo estreante Rafael Primot. A trama se passa toda no interior de um apartamento e é centrada em dois personagens: Gloria Polk, uma escritora decadente com fama de reclusa, e Carol, uma jovem jornalista a quem a diva resolveu conceder uma rara entrevista. O que Carol não desconfia é que Gloria concordou em recebê-la por razões ocultas que virão à tona conforme o papo avança e as taças de vinho se sucedem.

O filme é repleto de correspondências cinematográficas bacanas, a começar pelo título, e vai ser bem mais apreciado pelos cinéfilos, que poderão reconhecer as referências diretas a clássicos como Gata em Teto de Zinco Quente, O Que Terá Acontecido a Baby Jane? e Crepúsculo dos Deuses – este último, inclusive, com direito à citação quase literal de uma de suas mais famosas falas. Tampouco deve ser por mero acaso que a personagem de Regina Duarte se chama Gloria. Além disso, é muito inteligente o modo como o roteiro mescla os pensamentos de Gloria sobre a história que está tentando terminar de escrever com a vida real.  

Contudo, mesmo o espectador que não estiver atento ao fator da metalinguagem, poderá se envolver em uma discussão interessante sobre o papel da mulher na sociedade e nas relações amorosas e, ainda, apreciar o belo trabalho tanto de Regina Duarte como de Barbara Paz. Regina mostrando as garras em um papel bem distante de sua zona de conforto e Barbara provando que é boa atriz e que o fato de ter surgido para a mídia através de um reality showfoi mero acaso. Além do mais, é sempre bacana ver um filme nacional que foge daquela série de temas recorrentes em nossa cinematografia.