quarta-feira, 30 de maio de 2012

Branca de Neve e o Caçador



Chega aos cinemas nesta sexta o segundo filme do ano sobre a princesa atormentada pela rainha má e seu espelho mágico. Depois da tentativa cômica que estreou em abril – o fraquinho Espelho, Espelho Meu –, agora é a vez desta versão mais séria e sombria estrelada por Charlize Theron, Kristen Stewart e Chris Hemsworth.

Desde que foram divulgadas as primeiras imagens, já dava para sentir que este seria o mais elaborado dos dois filmes. O efeito colateral disso é que as expectativas em torno dele ficaram bem mais altas, já que seu antecessor tinha a vantagem de não se esperar muito dele. A boa notícia é que Branca de Neve e o Caçador cumpre, em sua maior parte, essas expectativas. O filme empolgará não somente adolescentes, mas também um público mais crescidinho, graças a seu visual e pegada ao estilo O Senhor dos Anéis, com direito a muitos figurinos bacanas, fotografia caprichada e uma direção de arte impecável.


O estreante Rupert Sanders deve ser parabenizado, ainda, por ter conseguido extrair atuações acima da média de Kristen Stewart e Chris Hemsworth, dois atores mais conhecidos pela beleza do que por algum talento dramático. Ambos seguram bem seus personagens, embora quem realmente dê show e capture as atenções cada vez que surge em cena seja a rainha maligna de Charlize Theron. Charlize, além de resplandecer no papel, consegue dar nuances de humanidade a um personagem que é essencialmente maniqueísta.

Outra boa surpresa é ver atores bacanas como Ian McShane, Bob Hoskins, Eddie Marsan e Ray Winstone no papel de anões, em efeito bem semelhante ao que colocou o rosto de Brad Pitt no corpo de um velhinho em O Curioso Caso de Benjamin Button. Do elenco, apenas o personagem interpretado por Sam Clafin parece deslocado. Não se sabe se o problema é uma questão de má escalação do ator ou desleixo do roteiro com o personagem, mas o fato é que em nenhum momento do filme o principezinho consegue sequer fazer sombra ao vigor e carisma do Huntsman personificado pelo bonitão Chris Hemsworth (o Thor, para quem não está ligando o nome à pessoa).


A única coisa que realmente depõe contra essa produção caprichada é seu ritmo irregular, ditado principalmente por sua desnecessariamente longa duração (127 minutos). Com uma boa enxugada (especialmente em seu trecho central, com todas aquelas exibições de fadinhas e efeitos especiais), Branca de Neve e o Caçador seria uma aventura bem mais dinâmica e empolgante. De qualquer maneira, é sempre interessante ver um diretor estreante se sair bem no desafio de ter um filme desse porte entregue em suas inexperientes mãos. Rupert Sanders, é bom ficarmos de olho nesse nome.

Sexta-feira nos cinemas.


domingo, 27 de maio de 2012

Anunciados vencedores do 65ª Festival de Cannes


Michael Haneke com a Palma de Ouro

Três anos depois de abiscoitar a Palma de Ouro com A Fita Branca, o austríaco Michael Haneke voltar a vencer o prêmio máximo do Festival de Cannes com Amour. O júri presidido pelo cineasta italiano Nanni Moretti tendeu a pulverizar os prêmios, agraciando também os novos longas de Ken Loach e Matteo Garrone. Beyond the Hills, do romeno Christian Mungiu (de 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias) levou dois prêmios: o de melhor roteiro e melhor atriz, dividido entre as estreantes Cosmina Stratan e Cristina Flutur. Infelizmente, Na Estrada saiu da competição de mãos abanando. Confiram abaixo os vencedores:

Palma de Ouro: Amour, de Michel Haneke 
Grande Prêmio do Júri: Reality, de Matteo Garrone 
Prêmio do Júri: The Angel’s Share, de Ken Loach 
Direção: Carlos Reygadas, por Post Tenebras Lux 
Ator: Mads Mikkelsen, por The Hunt 
Atriz: Cosmina Stratan e Cristina Flutur, por Beyond the Hills 
Roteiro: Beyond the Hills 
Câmera d’Or: Beasts of the Southern Wild, de Benh Zeitlin 
Curta-metragem: Sessiz-be Deng, de L. Rezan Yesilbas

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Um dia de degustação no Vale do Chianti


Para quem está visitando a Toscana e tem um dia livre, uma excelente oportunidade é conhecer uma das muitas vinícolas do Vale do Chianti, região que fica ali entre Firenze e Siena. A denominação dada aos vinhos segue dois princípios básicos, que se referem ao tipo da uva ou à região que os produz. Assim, enquanto um Cabernet ou Merlot pode ter diversas nacionalidades, já que recebem este nome pelo tipo da uva, um Bordeaux ou Champagne só é legítimo se for produzido nas regiões citadas. É esse o caso do Chianti, vinho tinto toscano produzido basicamente ao redor do município de Greve in Chianti.

Diversas agências de turismo fiorentinas promovem passeios a vinícolas da região. Na escola em que eu estudava em Firenze, alguém havia me dado um folheto com alguns passeios e atividades promovidas por uma agência de turismo chamada Florence for Fun. Um dos passeios listados era o que eles chamavam de Passeggiata nel Chianti, ou seja, uma caminhada turística pelos vinhedos seguida por um almoço de degustação na própria vinícola. O preço era convidativo (na época, 40 euros, tudo incluso), a única coisa que pesava contra (no meu caso) era minha reticência de fazer passeios em grupo. O problema é que normalmente não se faz um programa desses por conta própria, já que as vinícolas costumam abrir suas portas apenas para grupos.


Pesando os prós e contras, me muni de algum espírito de aventura e fui em frente. Chegando ao ponto de encontro, tive meu primeiro lampejo de arrependimento. Um ajuntamento enorme de adolescentes americanas em fúria fazia um rumor dos diabos. Falavam entre si – em inglês, claro –, o que levou os dois guias que acompanhavam o grupo a começarem a se dirigir a todos no idioma reinante. Ainda tentei me impor, mas eles pareceram até um pouco perplexos quando me dirigi a eles em italiano. Eles tinham folhetos sobre o que iríamos visitar, mas nenhum exemplar em italiano. Va bene.

Uvinha Chianti, ainda bebê

Mas e o passeio? Bom, a caminhada pela plantação é um pouco cansativa, mesmo porque era alta primavera e estava um sol quentíssimo. Os dois guias faziam o estilo mineirinho, ou seja, diziam sempre que era logo ali e tome longas caminhadas. Sempre ladeira acima. Mas é claro que para quem está acostumado a fazer trilha ou caminhadas extensas o esforço compensa, já que é bem interessante conhecer de perto uma plantação, ver as videiras de perto e ouvir as explicações sobre todo o processo de fabricação de vinho. A caminhada leva cerca de duas horas e certamente tem uma função aperitiva, porque quando o grupo finalmente alcançou a cidadezinha rumo à sede da vinícola, todos só queriam mesmo saber de comer e beber. E, nesse ponto, fomos muito bem recompensados.

Chegando à minúscula Panzano, um dos pequenos distritos que compõem Greve in Chianti, fomos recebidos na fattoria da família Sassolini, que está no ramo de produção de vinho e azeite desde o século XII. Isso é outra coisa que impressiona na Itália, essa longa tradição de determinado ofício nas mãos de uma mesma família. Enquanto aqui no Brasil estar em qualquer ramo há cento e poucos anos já denota um alto grau de excelência, por lá para ser considerado tradicional mesmo tem que estar no ramo há séculos e séculos.

Lorenzo Sassolini (de pé): show de conhecimento, simpatia e hospitalidade

O simpático Lorenzo Sassolini, que é quem atualmente dirige o negócio com a irmã, preparou um cardápio de degustação onde cada um dos vinhos era servido junto com uma iguaria difererente. Variações bem distintas do vinho Chianti, começando com um mais adequado aos antepastos, passando por outros que caíam melhor com determinado tipo de comida, enfim, o visitante tem a oportunidade de ouvir um especialista no assunto ao mesmo tempo em que comprova o que ele diz com o paladar. Além de explicar as propriedades e o que combinava com qual vinho, Lorenzo ainda dava breves explicações sobre o processo de envelhecimento de cada um.

Depois dos vinhos propriamente ditos, ainda pudemos provar o vinsanto, que é um vinho doce, meio licoroso, acompanhado de cantuccini – uma espécie de cookie de amêndoas. Para degustar à moda toscana, o cantuccini deve ser mergulhado dentro do copinho de vinsanto. Parece meio esquisito, mas creiam-me, é uma delícia. Ao final de tudo, para encerrar a comilança, uma dose de grappa, que é uma aguardente feita com a casca da uva que possui 40% de teor alcoólico. Os italianos dizem que não tem nada melhor para a digestão e deve ser verdade, porque eu não senti absolutamente nada depois dessa orgia gastronômica.

Claro que, ao final do dia, o grupo todo volta dormindo e feliz no ônibus. Vale lembrar que é bom verificar antes com a agência o tipo de passeio que será feito, ou seja, se ele incluir a tal caminhada pelo vinhedo antes do almoço de degustação é bom estar preparado e gostar de caminhar. Para quem estiver disposto, com certeza é uma opção mais enriquecedora. E para os que se interessarem em conhecer o Chianti, comprado aqui mesmo, uma dica simples: para não ter erro, verifique se o rótulo traz a sigla DOC (Denominazione d'Origine Controllata) ou DOCG (Denominazione d'Origine Controllata e Garantita), o que garante a legitimidade do produto. 


quinta-feira, 24 de maio de 2012

On the Road divide opiniões da crítica


Walter Salles em Cannes ao lado de Kristen Stewart, uma das estrelas de On the Road

Foi ontem o dia mais importante para os cinéfilos brasileiros que acompanham o Festival de Cannes, com a aguardada exibição para a imprensa de On The Road, versão cinematográfica do livro de Jack Kerouac dirigida por Walter Salles. O longa dividiu opiniões: enquanto os jornais franceses Le Monde e Le Figaro foram elogiosos (“um longa de cores brilhantes e emoções vivas” para o primeiro e “um desafio impossível que foi vencido” para o segundo), o britânico The Guardian considerou que Salles realizou um “filme de boa aparência, porém sem direção e narcisista”.

Infelizmente, teremos que esperar um pouquinho mais para chegar a uma conclusão, já que On the Road – ou Na Estrada –, que deveria estrear aqui no Brasil no próximo dia 15, agora teve sua data de estreia adiada para 13 de julho.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Operação Skyfall - Trailer


Confiram o primeiro trailer legendado de Operação Skyfall, novo filme da franquia 007 e terceiro com Daniel Craig no papel. O filme tem previsão de estreia para 2 de novembro.


sexta-feira, 18 de maio de 2012

JT – Um Conto de Fadas Punk


A temporada está quase acabando, mas ainda dá tempo de compartilhar – e recomendar – a boa surpresa que foi assistir a este inteligente e divertido espetáculo. O texto é da jornalista Luciana Pessanha, que, baseada na polêmica real envolvendo uma fraude literária, criou este texto esperto, sarcástico e cheio de referências ao universo pop e à era das celebridades.

Em 1999 foi publicado o livro Maldito Coração, supostamente um relato autobiográfico de um adolescente traumatizado e que teria passado por todo tipo de abusos em sua infância. O mistério em torno da identidade do autor vai ganhando proporções épicas, já que ninguém sabe quem é este JT Leroy que se esconde da mídia e dá entrevistas somente por telefone. Quando JT finalmente aparece, a curiosidade em torno dele fica ainda maior, graças à sua figura andrógina, sempre oculta por trás de enormes óculos escuros. O rapaz teria fobia social e estaria sujeito a ataques de pânico, não sendo raro que saísse correndo dos eventos que participava.

Luciana Pessanha teve oportunidade de entrevistar JT Leroy em 2005, quando ele esteve em Paraty, participando da Flip. Alguns meses depois, veio a público o grande segredo: os livros de Leroy haviam sido escritos por Laura Albert, ex-cantora punk e escritora frustrada que havia inventado o personagem com o intuito de alcançar a fama. A pessoa que se apresentava como JT, na verdade, era sua cunhada Savannah. Na imaginação delirante de Laura, era preciso dar ao público o personagem esperado. A essa altura, Maldito Coração já havia sido filmado por Asia Argento e JT era cultuado por celebridades como Madonna e Bono Vox.


O texto de Luciana conta, de modo não-linear, a trajetória desta celebridade fabricada. Em uma era onde as pessoas matam e morrem por um pouquinho de exposição, cria-se um fenômeno da mídia conhecido justamente por sua reclusão ferrenha. No palco, Débora Duboc e Natália Lage encarnam essas duas metades de uma mesma personalidade. Muito interessante a discussão das duas, quando Laura expõe a mágoa de ser a verdadeira autora dos livros e Savannah questiona se os escritos teriam a mesma visibilidade sem sua interpretação pungente de um jovem soropositivo drogado e prostituído. Roberto Souza, Nina Morena e Hossen Minussi, com timing perfeito, dão vida às muitas pessoas que gravitam em torno das duas: amigos, fotógrafos, agentes e até mesmo a atriz e diretora italiana Asia Argento.

Repleta de projeções, música, som e fúria, a encenação dirigida por Susana Ribeiro sob supervisão de Paulo José é dinâmica e muito engraçada, ao mesmo tempo em que propõe uma reflexão bastante séria sobre o poder do mito e o sempre difuso limite entre o marketing agressivo e a desonestidade. Em que ponto a criação do personagem JT deixa de ser uma representação artística inocente para se tornar uma fraude?

Quem quiser conferir este ótimo espetáculo deve se apressar. JT – Um Conto de Fadas Punk fica em cartaz no Teatro I do CCBB-RJ somente até o dia 27 de maio. Quarta a domingo, às 19h. Ingressos a 6 reais.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

O Corvo


"Disse o corvo, Nunca Mais". Com essa sentença, o poeta, contista, ensaísta e crítico literário Edgar Allan Poe inscreveu definitivamente seu nome dentre os grandes da literatura mundial. Autor de histórias arrepiantes e poemas góticos cujos temas sempre rondam a morte, a loucura e a decadência física e mental, o gênio teve, ele próprio, uma vida marcada pela instabilidade emocional e problemas financeiros. Eternamente desajustado e propenso a todo tipo de vício, Poe morreu em circunstâncias misteriosas aos 40 anos. No dia 3 de outubro de 1849, foi encontrado vagando pelas ruas de Baltimore, usando roupas que não eram suas e dizendo coisas aparentemente sem sentido. Levado a um hospital, morreria quatro dias depois sem conseguir esclarecer como tinha chegado àquela situação. 

Este O Corvo (que não tem nada a ver com aquele filme de 1994 que vimitou Brandon Lee) cria uma trama fictícia ambientada nos dias que antecederam o trágico fim de Poe, colocando-o no centro da investigação de uma série de assassinatos inspirados em seus livros. Tudo começa quando um inspetor de polícia reconhece que a cena de um duplo assassinato é idêntica à descrita no conto Os Assassinatos da Rua Morgue. Não tarda para que outros crimes deixem claro que se trata de um psicopata tentando obter a atenção de Poe e atraí-lo para um jogo macabro.


O primeiro grande acerto do filme é trazer John Cusack como um Edgar Allan Poe intolerante, provocador e falastrão. Na medida certa entre a arrogância do gênio incompreendido e o desamparo de quem só leva rasteira da vida, a composição de Cusack é cativante e carismática, indo além da incrível semelhança física obtida com a caracterização. Outro grande atrativo está na própria obra de Poe, que pontua todo o filme, seja nas recriações bizarras provocadas pelo assassino, seja em citações mais sutis. Os contos Os Crimes da Rua Morgue, O Poço e o Pêndulo, A Máscara da Morte Escarlate, O Mistério de Marie Roget e os poemas Annabel Lee e, claro, O Corvo são apenas algumas das obras citadas ao longo do filme. Como não adorar a cena em que Poe recita O Corvo para uma plateia de senhorinhas empoadas?

Infelizmente, nem só de acertos é feito o filme. Apesar da fotografia soturna, da reconstituição de época bacana e dos pontos positivos citados acima, O Corvo padece de alguns tropeços estruturais. O impacto inicial dos assassinatos descritos nos contos de Poe sendo encenados vai se enfraquecendo conforme o criminoso vai mudando seu modus operandi. As recriações fiéis vão virando citações, cada vez mais esparsas e soltas, e o roteiro perde um pouco de força à medida que a história passa a se apoiar cada vez mais no interesse do espectador pela obra do próprio Edgar Allan Poe. Prato cheio para quem é fã, mas que deixa em segundo plano o mistério a ser desvendado. Ao final, tanto a identidade do assassino como suas motivações são pouco originais e o desfecho não casa realidade e ficção de modo muito satisfatório.


Depois de ter sido assistente de direção dos irmãos Wachowski na trilogia Matrix, James McTeigue estreou como cineasta fazendo barulho e dividindo opiniões com V de Vingança (2005), mas parece ainda não ter engrenado muito como diretor e, desde então, realizou somente mais um longa, o pouco visto Ninja Assassino (2009). Com O Corvo, McTeigue volta a chamar a atenção ao entregar um filme irregular, porém bastante interessante. É bem verdade que o tema ajuda (e muito), mas o filme em si também apresenta vários pontos altos, embora cometa algumas incoerências como inserir cacoetes do universo sci-fi em um filme de época ou compor sua figura mascarada muito semelhante ao vingador V.

Resumindo tudo, o saldo final é positivo. Vale destacar que O Corvo não é uma história excludente e não deixará perdido quem não conhece a obra de Poe, mas com certeza aqueles que apreciam o grande autor americano e seu universo gótico se deliciarão com as referências.  


Sexta nos cinemas.

sábado, 12 de maio de 2012

Pisa, Siena e San Gimignano – Um giro pela Toscana


Tomando Firenze como base, é possível conhecer algumas cidades encantadoras em pequenas excursões de um dia, sem necessidade de pernoite. A apenas uma hora de trem, se chega a Pisa, célebre por sua torre inclinada. A Torre Pendente di Pisa é uma coisa linda de doer os olhos. É mais ou menos a sensação de ver o Coliseu pela primeira vez, ou seja, é um ponto turístico famoso pra caramba, você provavelmente já viu milhões de fotos, mas nada pode preparar para a visão surrealista daquele campanário de mármore branco saindo todo torto de um gramado verdinho, parece que uma nave alienígena acabou de aterrissar ali. Tem as atitudes clássicas de todo turista, como a indefectível foto de longe alinhado com a torre, de modo a simular estar empurrando ou segurando a construção.

Vale dizer que, fora o Campo dei Miracoli, Pisa é uma cidade comum, porém o conjunto arquitetônico formado por torre, catedral e batistério é deslumbrante. Mas caro. Só pra subir na torre são quinze euros e em Pisa não tem aquela facilidade do ingresso integrado, conforme acontece em algumas outras cidades. São bilhetes separados para a torre, o Duomo, o batistério e o Museo dell’Opera, embora as atrações fiquem todas dentro do mesmo gramado – mas não dá para pensar em economia diante de um dos monumentos mais famosos do mundo. Como o número de visitantes para a torre é limitado a vinte pessoas a cada vinte minutos, é sempre bom comprar ingresso para outra coisa enquanto espera seu horário para a torre ou comprar ingresso e aproveitar o hiato para almoçar. O Duomo é belíssimo, mas não tanto quanto o de Firenze, ao passo que o Museu dell’Opera – acho que todas as cidades italianas possuem um “Museu dell’Opera” ao lado de seu Duomo – é meio sem graça.

Voltando à torre, é preciso dizer que a empolgação inicial de entrar em um dos monumentos mais conhecidos do mundo rapidamente vai cedendo lugar ao cansaço, conforme se avança sobre os trezentos degraus que separam o turista do observatório no topo. Concebida inicialmente com o objetivo de ser um mero campanário para harmonizar com o Duomo e o batistério já existentes, a Torre de Pisa começou a apresentar sua famosa inclinação por ocasião da construção do terceiro anel (são oito, no total). Recentemente, novas obras foram feitas no sentido de minimizar essa inclinação, que hoje é considerada em nível seguro para a visitação. Mas, ainda assim, vários cuidados são tomados, como a restrição a poucas pessoas e o acompanhamento constante dos funcionários. Ao chegar ao topo, a vista compensa. E não só a vista, somente lá em cima os efeitos da inclinação se fazem realmente evidentes. É uma sensação surrealista, chegando, inclusive, a dar um pouco de medo. A construção foi feita em fases, tendo se iniciado em 1173 e prolongando-se ao longo de quase dois séculos. A obra foi interrompida algumas vezes, não somente pelos problemas de estrutura, mas também porque os pisanos viviam imersos em batalhas contra reinos vizinhos, como Lucca, Genova e Firenze.

Pisa vista do alto de sua famosa Torre Pendente

A rivalidade entre cidades próximas é outro ponto que o visitante só descobre depois de algum tempo na Itália e conversando muito com o cidadão. Todos tem muito orgulho de sua cidade e contam curiosidades e detalhes da cultura regional. E o que se percebe é que o italiano, no final das contas, é muito mais fiel a sua cidade de origem do que ao país como um todo, o que é natural se considerarmos que uma cidade como Firenze, por exemplo, já era uma grande potência no século XII enquanto a Itália, como país unificado, tem somente 150 anos. Na Toscana, a relação mais tumultuada é entre Firenze e Siena, não apenas pela proximidade geográfica, mas também por Siena ter sido o reino que, em tempos passados, chegou mais perto de rivalizar com Firenze pela supremacia toscana. Mas isso antes de ser castigada sem piedade pela peste e, em decorrência disso, perder muito de seu potencial.


Siena é, ainda, onde acontece o famoso Palio di Siena, uma corrida de cavalos na qual as dezessete contrade (distritos) que formam a cidade competem entre si. A origem dessa divisão data da Idade Média, quando os cidadãos eram recrutados para defender a cidade e faziam questão de manter explícita uma identidade em relação a seu local de origem. Com o tempo, cada distrito foi ganhando suas cores, manias, bairrismos, paixões, enfim, virando um microcosmo. Andando pelas ruas, podemos ver por toda parte prédios públicos ostentando as bandeiras coloridas das dezessete contrade. O que equivale dizer que em Siena se eleva a um nível estratosférico esse senso italiano de pertencer à sua região. Lá, o pessoal mantém identidade com 1/17 de uma cidade. Não dá para ser mais regional do que isso. 


O sienense detesta o fiorentino com todas as suas forças. Não perde uma oportunidade de falar mal, fazendo isso muitas vezes de um modo totalmente gratuito. Chega a ser engraçado. Em apenas um dia na cidade, tive dois exemplos disso. O primeiro foi numa loja de óculos, quando o vendedor, ao saber que eu estava morando em Firenze durante aquele mês, declarou com orgulho infantil que o modelo que eu estava comprando não tinha na filial de Firenze – justiça lhe seja feita, não tinha mesmo. Depois, ao procurar a estação ferroviária, pedi informações a uma senhora que quis saber de onde eu era. Expliquei que era brasileira, mas estava vivendo em Firenze no momento. Ela me olhou penalizada e disse que sentia muito por mim, porque Firenze estava repleta de gente bruta. Cabe esclarecer que isso não é absolutamente verdade, apenas um exemplo do forte senso de identidade regional do povo italiano, que parece ser ainda mais acirrado no cidadão toscano.

A Piazza del Campo, onde acontece anualmente o Palio di Siena

Outra cidade que vale a pena conhecer na Toscana é San Gimignano, famosa por suas incontáveis torres. O melhor modo de chegar a San Gimignano saindo de Firenze é pegar o mesmo ônibus que vai para Siena e fazer baldeação em Poggibonsi, uma minúscula cidadezinha industrial que serve de entreposto para a troca de ônibus. Saindo cedinho, é possível conhecer Siena e San Gimignano em apenas um dia, já que San Gimignano pode ser percorrida em quinze minutos a pé. A cidade é totalmente encantadora com suas muitas torres e construções em pedra, levando o turista de volta à Idade Média. Não tem uma construção sequer em toda a cidade que não pareça saída de um filme de capa-e-espada.


San Gimignano, incrustada entre montanhas, chama a atenção de longe pelo desenho formado por suas imponentes torres de pedra. A cidade já chegou a ter setenta e duas delas, hoje em dia restam catorze e somente uma – a Torre Grossa – é aberta para visitação. Imperdível a vista área. Uma coisa engraçada é que uma cidade tão pequenina e fofa conte com nada menos que três museus sobre a tortura. Já tinha visto coisas semelhantes em Firenze e Siena (deve ser um barato toscano), mas ver isso em dose tripla em um lugar tão minúsculo foi espantoso. O mais famoso deles fica na Piazza della Cisterna, bem em frente ao poço antigo, e exibe autênticos instrumentos de tortura da era medieval. Bizarro.

San Gimignano vista do alto da Torre Grossa

Em breve, o Viajandão trará mais alguns aspectos culturais de cidades italianas pouco visitadas pelo turista em geral. Aguardem os próximos textos!


domingo, 6 de maio de 2012

Supernatural - Coletiva de imprensa


A coletiva de imprensa aconteceu muito na base da improvisação, tanto pelo tumulto generalizado que tomou conta do local como pelos imprevistos. Os organizadores bem que tentaram minimizar os percalços, mas foi uma tremenda decepção a recusa de Jared Padalecki em falar com a imprensa. Como a notícia só foi dada na última hora, a maioria dos jornalistas ficou com sua pauta prejudicada e teve que improvisar perguntas de última hora para cobrir o rombo. Outro fator que prejudicou muito o andamento foi a ausência de um tradutor, já que conduzir a coletiva inteira em inglês e ainda gravar ou fazer anotações atrapalha mesmo quem tem fluência no idioma. Por sorte, os atores encararam tudo com espírito esportivo, demonstrando todo o bom senso que faltou ao convidado principal.

A coletiva foi feita em duas partes: primeiro vieram para a sala Richard Speight Jr. e Mark Sheppard, respectivamente o anjo Gabriel e Crowley, o rei do inferno. As primeiras perguntas foram as habituais: se eles estão gostando do Brasil e o que viram de interessante. Richard disse ter conhecido a cidade de Paraty, que classificou como bela e exótica, ao passo que Mark nada pode dizer pelo fato de ter chegado ao Brasil no dia anterior. Perguntados sobre música brasileira, ambos lembraram ao mesmo tempo de Garota de Ipanema e, animados, começaram a cantarolar. A essa altura, Richard pegou o microfone de uma repórter que estava sobre a mesa e começou a entrevistar Mark, que aproveitou para falar sobre futebol. O ator contou que tem dois filhos (de 6 e 7 anos) que jogam futebol e que eles começaram a praticar o esporte porque eram fãs de Ronaldo.

Como o seriado tem uma visão bastante particular sobre os seres sobrenaturais, perguntei a Richard se o fato de interpretar Gabriel mudou a concepção que ele tinha sobre os anjos:

“Logo que comecei a me preparar para o personagem, até pesquisei sobre o Gabriel bíblico, mas entendi que aquilo pouco ajudaria e que o Gabriel da série vai por outro rumo, já que Supernatural criou sua própria mitologia sobre céu e inferno”.


Os atores interagiram muito com os jornalistas, brincando o tempo todo a respeito de seus personagens e do que eles fariam em determinada situação. Um dos momentos mais divertidos foi quando alguém perguntou a Mark sobre o sucesso do seu vilão e ele confundiu a palavra success com sexy e justificou o mal-entendido dizendo que pensou nisso por estar no Brasil. Richard entrou na brincadeira e disse para ele não se preocupar, porque ele era mesmo um cara sexy. Perguntados sobre o humor que pontua as falas e se eles tem espaço para improvisar, ambos concordaram que improvisar é divertido, mas que também poderia ser complexo, porque eles trabalham com cronogramas muito apertados e isso poderia atrapalhar.

A segunda parte da coletiva foi composta dos atores Misha Collins e Mark Pellegrino – na série, Castiel e Lúcifer – e do produtor Jim Michaels. Os três entraram na sala destinada à imprensa enquanto as fãs na sala em anexo gritavam diante da presença de Richard e Mark, que haviam acabado de passar para lá. Misha comentou, entre risos, que as fãs brasileiras são mesmo loucas. O ator já tinha estado em uma convenção anterior em São Paulo, mas era a primeira vez que vinha ao Rio. Ao ser perguntado por que as fãs daqui são diferentes, disse que “talvez sejam mais exuberantes”, ao que Mark Pellegrino acrescentou viu algumas meninas dormindo do lado de fora do hotel.

Perguntei a Mark o que ele havia pensado quando o seu agente lhe disse que queriam contratá-lo para interpretar ninguém menos do que Lúcifer e também se a concepção do personagem como um cara bem-humorado, esperto e irônico seria um modo de ser menos odiado.

“Bom, eu achei que eles tinham chamado a pessoa errada, que era um erro de casting. Isso do humor é um mérito mais dos roteiristas. Um cara mau é sempre um cara mau, não tem como fugir disso, mas é sempre melhor quando ele também tem um lado divertido.”


Sobre a permanência de Misha e Mark na próxima temporada, Jim Michaels disse que seria uma surpresa se eles não continuassem na oitava temporada. Acrescentou, ainda, que acredita que a série tenha fôlego para muitas outras temporadas, mas desconversou sobre a possibilidade de um longa-metragem: “Nunca se sabe”.

Misha disse que a princípio não poderia imaginar que seu personagem fosse ter uma participação tão longa nem que fosse adquirir tanta importância ao longo da série (Castiel aparece pela primeira vez na quarta temporada). Como seu episódio preferido da série, citou The French Mistake, da sexta temporada (Castiel, para proteger Sam e Dean, os envia a uma realidade paralela onde eles são atores que interpretam eles mesmos em uma série de TV). O ator falou, ainda, sobre o ritmo acelerado e o pouco tempo em que eles tem para se adaptar às reviravoltas da trama.

“Quando o Castiel voltou para a história, ele estava meio louco e eu não soube disso com antecedência, então eu tive que mudar o jeito dele completamente de uma hora para outra e nós só podíamos fazer alguns takes, porque tudo tem que ser finalizado com muita rapidez”.


Mark citou os zumbis de The Walking Dead como seus vilões preferidos de outro seriado, mas ficou indeciso quando lhe perguntaram qual sua interpretação preferida dentre os outros atores que já foram o diabo antes dele. Depois de dizer que cada um criou algo de especial e que seria injusto destacar um, acabou mencionando as performances de Al Pacino (O Advogado do Diabo) e Peter Stormare (Constantine).

A essa altura, a organização do evento interrompeu a coletiva, dizendo que era hora dos atores juntarem-se às fãs na sala ao lado. Pudemos então ter uma amostra do verdadeiro delírio das garotas (algumas nem tão garotas assim) diante dos atores, em especial dos olhos azuis de Misha Collins, que provocavam declarações de amor e até pedidos de casamento. Uma pena que o que seria o ápice acabou sendo a decepção desses fãs. Depois de fugir da imprensa, Jared Padalecki deu as caras na parte da tarde, mas apenas para continuar com seus ataques de estrelismo. Depois de reclamar do ar-condicionado e da gritaria das meninas, o rapaz se retirou do salão para receber os fãs depois em outra sala mais privada, ou seja, separado dos colegas de elenco. Vergonha alheia.

A convenção continua ao longo do dia de hoje. Torçamos para que o Sr. Padalecki esteja de melhor humor neste domingo. As pessoas que pagaram para participar deste evento mereciam mais consideração.

Vejam abaixo mais algumas fotos do evento:

Richard Speight Jr. e Mark Sheppard, os grandes piadistas

Os atenciosos Misha Collins e Mark Pellegrino

Misha e Mark com o produtor Jim Michaels

Jared Padalecki tem um raríssimo lampejo de simpatia... mas não dura muito!

(Fotos by André Moreira)

sábado, 5 de maio de 2012

Convenção de Supernatural agita Centro do Rio


Está acontecendo neste final de semana, no Hotel Windsor Guanabara, a primeira convenção carioca do seriado Supernatural. Numa iniciativa da empresa Midia Kriativa, o evento trouxe ao Rio de Janeiro os atores Jared Padalecki (Sam), Misha Collins (Castiel), Mark Sheppard (Crowley), Richard Speight Jr. (Gabriel) e Mark Pellegrino (Lucifer), além do produtor Jim Michaels. O evento estava marcado para começar por volta das 10h deste sábado, mas desde as 8h uma horda de fãs já congestionava os corredores e salões do hotel. Embora o seriado – atualmente em sua sétima temporada – não seja voltado para o público adolescente, o público menor de idade era maioria (e histeria) absoluta.

Para nós da imprensa, uma notícia decepcionante: o empresário de Jared Padalecki, um dos protagonistas da série, teria feito uma série de exigências de última hora, dentre elas a recusa absoluta de seu cliente em participar da coletiva de imprensa. A inexplicável aversão de Jared com os jornalistas era tamanha que ele adiou a sua chegada ao evento para a parte da tarde, ou seja, depois que o período destinado à cobertura jornalística estivesse encerrado. A boa notícia é que os outros quatro atores se mostraram extremamente simpáticos, bem-humorados e descontraídos. Confiram abaixo algumas fotos e leiam em breve o resumo do que foi falado na coletiva de imprensa.

Richard Speight Jr. (esq.) e Mark Sheppard (dir.): o anjo e o rei do inferno

Da esquerda: o produtor Jim Michaels, Mark Pellegrino e Misha Collins

Misha Collins (direita) foi o maior alvo de declarações de amor por parte das fãs

A listra branca à frente do palco é uma carta de amor quilométrica entregue a Misha por uma fã

Fãs em um momento de calmaria

Atores e produtor reunidos enquanto seu Jared não vem