sexta-feira, 28 de outubro de 2011

The Lady - trailer


Confiram o trailer do novo filme de Luc Besson, que abriu ontem o Festival de Cinema de Roma. The Lady conta a história da ativista birmanesa Aung San Suu Kyi e, desde já, tem a seu favor o fato de ser estrelado pelos sempre competentes Michelle Yeoh e David Thewlis. Vamos ficar de olho.



quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Últimos Suspiros

Peter Mullan e Olivia Colman em Tiranossauro


Pois é. O Festival mesmo acabou, mas a repescagem ainda está valendo até amanhã (somente no Estação Botafogo). Aproveito para compartilhar minhas impressões finais:

Ontem conferi ao tão falado Tiranossauro. Uma boa surpresa. Longa de estreia do ator Paddy Considine na direção (também autor do roteiro), é um filme que sabe alternar crueldade com sensibilidade sem pesar a mão para nenhum dos dois lados. E vale ressaltar que o filme é forte, mas não se trata de violência gratuita. O longa é mais valorizado ainda pelas ótimas interpretações de Peter Mullan e Olivia Colman.

Hoje o Odeon encerrou sua repescagem com Como Me Tornei Chaz, um ótimo documentário que trata com respeito um tema que poderia resvalar no sensacionalismo. Informativo sem ser didático, humano sem ser piegas. Mais uma bola dentro de Fenton Bailey e Randy Barbato, a mesma dupla que nos surpreendeu no Festival de 2005 com Inside the Deep Throat.

Mas nem tudo foram flores nesta noite... O que foi o longa anterior, o boliviano Meus Velhos? Em três palavras? Chato, tosco e pretensioso.



O novo e realizado Chaz Bono em Como Me Tornei Chaz

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Balanço do Festival 2011


Esse ano foi especialmente difícil fazer a listinha dos 10+, já que, uma vez ocupadas as primeiras posições, fiquei com um monte de filme que tinha gostado (não adorado, mas gostado bastante) para preencher as posições restantes. Mas como dez não são quinze nem vinte, então aí vão eles, deixando aqui menções honrosas para Sentidos do Amor, Para Sempre Silvio e Querida Vou Comprar Cigarros e Já Volto. Lembrando, ainda, que eu não assisti a todos os filmes do Festival (longe disso).

10+

1 – A Separação
2 – Um Método Perigoso
3 – O Palhaço
4 – A Pele Que Habito
5 – Até a Chuva
6 – A Árvore do Amor
7 – Red State
8 – Terraferma
9 – Os Nomes do Amor
10 – Itália: Ame-a ou Deixe-a 


E mais...

Ewan McGregor e Eva Green no interessante Sentidos do Amor

Acabou o Festival... Como ainda temos a repescagem, aí vão breves opiniões sobre alguns filmes vistos e ainda não comentados:

O Estudante (El Estudiante), Première Latina

Trama interessante, mostrando que os jogos de poder e interesses escusos dos quais ouvimos tanto falar em relação às altas esferas governamentais também tem vez no universo dos diretórios acadêmicos. Ambientado em uma universidade argentina, o filme acompanha Roque, que se envolve em política estudantil para impressionar uma garota e logo toma um gosto genuíno para o ofício, deixando, inclusive, os estudos de lado. O filme peca um pouco pela falta de ritmo e pelo desfecho um tanto ingênuo, mas vale uma conferida.


Sentidos do Amor (Perfect Sense), Panorama do Cinema Mundial

Impressionante questionamento sobre a adaptação humana às circunstâncias mais extremas. No filme, uma epidemia desconhecida afeta os sentidos das pessoas, mudando drasticamente a sociedade e os relacionamentos. Tudo começa com a perda do paladar e, logo, se espalha para os outros sentidos. Em meio ao caos e confusão, Susan e Michael se apaixonam. O filme lembra um pouco Ensaio Sobre a Cegueira, mas com uma abordagem mais filosófica e bem menos violenta. Ewan McGregor e Eva Green interpretam o casal que se apaixona em circunstâncias extraordinárias e tem que lidar com problemas bem mais complexos do que as inseguranças de uma nova relação.


Gianni e as Mulheres (Gianni e Le Donne), Foco Itália

Comédia escrita, dirigida e interpretada por Gianni di Gregorio (seria autobiográfica?) sobre um homem que, após se aposentar e ficar com muito tempo livre, começa a ficar obcecado com a ideia de arrumar uma amante. A partir desse argumento, a trama acompanha as suas tentativas ingênuas e atrapalhadas de se dar bem com as mulheres. Sinceramente, não tem lá muita graça. É um filme que não incomoda, até distrai em algumas passagens, mas é totalmente dispensável.


Post Mortem (idem), Première Latina

Um dos filmes que eu estava mais ansiosa para assistir. Talvez justamente por isso tenha me decepcionado tanto com ele. Embora seja inegavelmente competente em algumas sequências, Post Mortem frustra no conjunto. É um pouco complicado quando um filme de apenas uma hora e meia gasta os primeiros sessenta minutos sem dizer a que veio. Quando a trama finalmente começa a ganhar corpo... O filme acaba. Boas cenas em isolado, e só. 

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A Separação


Antes de tudo, preciso confessar um terrível preconceito: eu tenho um pé atrás com o cinema iraniano. Sempre penso nele como aquela coisa singela, porém arrastada: a árvore, o jarro, o grão de areia, tudo com cenas longuíssimas e escassez de diálogos. OK. É um pensamento pouco profissional, mas não posso evitar a sensação toda vez que vejo em uma ficha técnica que a produção é originária da antiga Pérsia. A Separação, porém, chega do último Festival de Berlim com bons antecedentes: não apenas arrebatou o Urso de Ouro como os prêmios de melhor ator e atriz, concedidos ao elenco. Isso é um fato raro e maravilhoso, quando a atuação conjunta é tão nivelada que torna impossível destacar um ator e uma atriz. Assistindo ao filme, fica muito evidente a justiça de tal premiação.

Simin quer deixar o Irã, mas seu marido Nader reluta por causa do pai, que tem Mal de Alzheimer, e a desavença acaba causando a separação do casal. A filha Termeh, em uma última tentativa de manter a família unida, se recusa a partir para o exterior com a mãe, criando um impasse. Simin, por sua vez, não pode mais recuar depois de ter pedido o divórcio e decide sair de casa, deixando Termeh aos cuidados de Nader que, por sua vez, precisa de alguém para cuidar do pai doente. Razieh, mãe de uma menina e grávida de cinco meses, vai trabalhar na casa sem que seu marido saiba, na intenção de ajudá-lo a pagar os credores que ameaçam colocá-lo na cadeia. Uma série de mal-entendidos levará a um trágico incidente que fará explodir um acirrado conflito entre essas duas famílias já tão castigadas por seus problemas internos.

Com diálogos fortes, atuações estupendas e uma trama muito tensa, que vai criando um efeito dominó que arrasta todos os personagens para situações limítrofes e complexas, A Separação é o tipo de filme que deixa o espectador grudado na cadeira e com a musculatura contraída desde a primeira impactante cena até o desfecho perfeito. Um filme de duas horas que dá a impressão de ter durado apenas alguns minutos. Ou seja, com um ritmo totalmente contrário ao que se convencionou esperar da filmografia de origem árabe.

Talvez o que torne o filme tão arrasador seja o modo como cada um dos personagens tem sua cota de contribuição para o rumo que as coisas tomam, deixando claro que conceitos como razão, verdade e justiça sempre podem ser interpretados de mais de uma maneira. A certa altura, o espectador chega à triste conclusão de que ali todos sairão perdedores – e não é sempre assim? É essa dura lição que a pré-adolescente Termeh (a estreante Sarina Farhadi, filha do diretor) tem que aprender ao longo da trama, no doloroso rito de passagem que a torna uma adulta responsável por seus atos e não mais a filha de seus pais. Comovente a cena em que ela e a pequena Somayeh, que dias antes jogavam pebolim juntas, se olham desoladas diante do abismo criado por suas famílias.

A separação do título não se refere apenas ao divórcio de Simin e Nader; é, antes, sobre tudo que afasta as pessoas. Sobre as descobertas dolorosas da vida, que nos tornam menos inocentes. O melhor filme deste Festival.

A Separação (Jodaeiye Nader Az Simin), de Asghar Farhadi. Com Leila Hatami, Peyman Moadi, Shahab Hosseini, Sareh Bayat. Irã, 2011. 123 minutos. Panorama do Cinema Mundial.

Cotação: 10



terça-feira, 18 de outubro de 2011

Festival do Rio Anuncia Vencedores


Foram anunciados este noite, em cerimônia oficial no Cine Odeon, os vencedores da Première Brasil – Troféu Redentor. Confiram a lista abaixo:


Júri Oficial

Melhor Longa-Metragem de Ficção – A Hora e a Vez de Augusto Matraga, de Vinicius Coimbra
Prêmio Especial de Júri – Sudoeste, de Eduardo Nunes
Menção Honrosa para Mãe e Filha, de Petrus Cariry
Melhor Longa-Metragem Documentário – As Canções, de Eduardo Coutinho
Prêmio Especial do Júri – Olhe Para Mim de Novo, de Kiko Goifman e Claudia Priscilla
Melhor Curta-Metragem –
 Qual Queijo Você Quer? de Cíntia Domit Bittar
Menção Honrosa – Tempo de Criança, de Wagner Novais
Melhor Direção – Karim Aïnouz, por O Abismo Prateado
Melhor Ator – João Miguel (A Hora e a Vez de Augusto Matraga)
Melhor Atriz – Camila Pitanga (Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios)
Melhor Atriz Coadjuvante – Maria Luisa Mendonça (Amanhã Nunca Mais)
Melhor Ator Coadjuvante – José Wilker (A Hora e a Vez de Augusto Matraga)
Prêmio Especial do Júri – Chico Anysio (A Hora e a Vez de Augusto Matraga)
Melhor Roteiro – Odilon Rocha, por A Novela das 8
Melhor Montagem – Jordana Berg por Marcelo Yuka no Caminho das Setas
Melhor Fotografia – Mauro Pinheiro Jr. Por Sudoeste / Petrus Cariry por Mãe e Filha
Prêmio Novos Rumos  Rânia, de Roberta Marques
Prêmio Fipresci – Sudoeste, de Eduardo Nunes


Voto Popular

Melhor Longa-Metragem de Ficção –
 A Hora e a Vez de Augusto Matraga, de Vinicius Coimbra
Melhor Longa-Metragem Documentário – As Canções, de Eduardo Coutinho
Melhor Curta-Metragem – Passageiro, de Bruno Melo
Melhor Filme da Mostra Geração – Lições de um sonho (Lessons of a Dream), de Sebastian Grobler

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Até a Chuva


O diretor espanhol Sebastián e seu produtor Costa vão para a cidade de Cochabamba, na Bolívia, rodar um filme que mostra uma visão crítica de Cristóvão Colombo e os males que a colonização espanhola causou à população indígena da América do Sul. Ao longo das filmagens, eles se veem entre um feroz conflito envolvendo a privatização da água, em poder de uma multinacional. O filme é baseado em um conflito real, ocorrido em 2000.

Uma completa e muito gratificante surpresa, daquelas que realmente fazem valer a pena estar participando de um festival de cinema. Apesar de Até a Chuva ter vindo com o aval da Mostra Panorama do Festival de Berlim e de ter sido o candidato da Espanha ao Oscar 2010, eu ainda não tinha ouvido falar muita coisa do filme. O último longa dirigido pela atriz madrilena Icíar Bollaín a chegar por aqui havia sido Pelos Meus Olhos, um drama sobre violência doméstica apenas acima da média. Portanto, nada me preparou para esse arrasador filme que mistura com enorme eficácia política, história, crítica social e metalinguagem, trabalhando em diversos níveis de compreensão.

É muito interessante a mudança de ponto de vista pela qual passam os personagens espanhóis, que chegam à Bolívia cheios de boas intenções e ideais elevados e, conforme a situação começa a se agravar e os ânimos a se acirrarem, começam a mostrar suas verdadeiras faces, seja para o bem ou para o mal. Também vale ressaltar que a convivência entre a equipe e os habitantes usados como figurantes ironicamente lembra tudo que eles pretendiam criticar. Muitas vezes, as cenas do filme que está sendo feito parecem incrivelmente próximas do que acontece ao redor, como se não se tivessem passado 500 anos entre uma coisa e outra. Uma cena especialmente bem concebida é aquela na qual o diretor de cinema começa a criticar o prefeito e este lhe mostra claramente que também ele está exercendo a exploração que tanto abomina.

O elenco, encabeçado por Gael García Bernal e Luis Tosar, está bem de um modo geral, mas o grande destaque fica por conta do boliviano Juan Carlos Aduviri, que interpreta o orgulhoso líder da comunidade indígena e, no filme de dentro, Hatuey, defensor de seu povo contra a brutalidade dos colonizadores. Em seu primeiro papel em um longa-metragem, Aduviri torna incrivelmente real a empolgação do diretor interpretado por Gael García Bernal que, ao ver seu personagem em uma fila de candidatos a figurantes, diz a sua assistente “filme aquele, veja que expressão incrível, é o nosso Hatuey”.

Por outro lado, não se trata apenas de um filme de cores sociais e políticas. O lado emocional também é muito forte, agradando tanto ao espectador mais engajado quanto àquele que se rende mais pelo lado emotivo. Outra coisa que encanta em Até a Chuva é que o longa “de dentro” não se resume a uma mera muleta para criar correspondência com o que acontece fora; pelo contrário, dá uma vontade danada de ver aquele filme com uma visão tão amarga sobre o descobridor das Américas. Destaque para a cena com as cruzes, comovente.

O filme ainda tem sessões neste Festival. Eu, se fosse você, não perdia.

Até a Chuva (También la Lluvia), de Icíar Bollaín. Com Luis Tosar, Gael García Bernal, Juan Carlos Aduviri, Karra Elejalde. Esp/Fra/Mex, 2010. 104 minutos. Panorama do Cinema Mundial.

Cotação: 10

Red State


Numa pequena cidade americana, o pastor extremista Albin Cooper e seus seguidores intimidam a população local com suas ferozes manifestações. Os homossexuais são o alvo preferido do fanático, que chega ao cúmulo de organizar protestos em enterros de gays. Enquanto isso, os adolescentes Travis, Jared e Billy planejam uma noite de sexo selvagem com uma mulher que conheceram em um chat na internet. Ao chegar ao lugar combinado, os três se veem em uma armadilha engendrada pelo rebanho de Cooper, que anda ampliando seu raio de ódio e defendendo o extermínio de todos os pecadores em geral. Selecionado para o Sundance Film Festival deste ano.

Kevin Smith sempre gostou de criticar o american way of life e os dogmas religiosos. Em Red State, ele consegue a façanha de fazer as duas coisas ao mesmo tempo, realizando uma das mais ferinas críticas já concebidas à sociedade americana pós-onze de setembro. E o mais interessante é que Smith alcança seu intento não com um filme sério, profundo e panfletário, mas com um eletrizante longa de ação repleto de humor negro. Red State parece, a princípio, uma porra-louquice descomunal (e, na verdade, é), mas que ganha enorme importância política conforme vai se aproximando do desfecho e ambos os lados – fanáticos religiosos e autoridades governamentais – perdem completamente as estribeiras.

O roteiro abusado e inteligente expõe sem meias-palavras o modo como os americanos agora usam a desculpa do terrorismo para cometer qualquer tipo de abuso civil ou encobrir seus erros táticos. Frases como “em que época você vive, no dia 10 de setembro?” dão o tom da ácida crítica ao sistema realizada por Kevin Smith, que volta à boa forma depois do fraco Pagando Bem, Que Mal Tem?

A única coisa que não fica clara é o porquê de Red State estar sendo veiculado como um filme de terror, coisa que não é sob nenhum aspecto.

Red State (idem), de Kevin Smith. Com Michael Angarano, Kerry Bishe, Nicholas Braun, Michael Parks, John Goodman, Melissa Leo. EUA, 2011. 97 minutos. Midnight Terror.

Cotação: 9,0

Nana


Existem filmes bons, existem filmes ruins e existem filmes que são simplesmente inacreditáveis. É o caso deste, se é que pouco mais de uma hora de filmagem sobre o nada pode ser considerado um filme. Nana mais parece o resultado dos delírios de uma daquelas mães que filmam cada espirro que o filho dá e depois obriga os amigos e familiares a ficarem assistindo como se fosse a coisa mais interessante do mundo. Vejamos o que diz a sinopse:

“Nana é uma garotinha de quatro anos que vive com sua mãe em uma casa de pedra no meio da floresta, não muito distante da fazenda de porcos de seu avô. Certo dia, ao voltar da escola, ela encontra a casa completamente vazia. Sentindo-se despreparada para cumprir seu papel, sua mãe foi embora e a deixou sozinha. Agora, Nana terá que enfrentar tarefas que ainda não estão a sua altura: acender a lareira, ensaiar palavrões, ler histórias para si mesma e até descobrir animais mortos em meio a seus brinquedos.”

Não é bem isso, ou pelo menos não se pode deduzir todo esse contexto somente assistindo ao filme. O longa começa com uma cena de crueldade animal que não tem nenhuma relevância para nada, depois prossegue com cerca de uma hora de filmagens mostrando a garotinha desenhando, tomando banho, brincando, enfim, fazendo coisas cotidianas e balbuciando frases que certamente vieram de seu próprio improviso (estaria a pequena creditada como co-roteirista?), tudo isso entremeado de cenas com pouco ou nenhum sentido, como, por exemplo, uma que mostra a menina vindo do meio da floresta com uma enorme mochila, no que seria – talvez – uma estranha alusão à chapeuzinho vermelho, difícil dizer. Mas o que realmente me deixa de cabelos em pé é saber que este, digamos, filme foi premiado como melhor filme de estreia no Festival de Locarno 2011. Dá até medo imaginar como seriam os outros concorrentes.

Em tempo: esse filme me fez mudar um conceito. Tinha decidido cotar os filmes apenas de 1 a 10, mas me sentiria muito mal em dar qualquer coisa além de zero para essa obra-prima do tédio, pretensão e falta de sentido.

Nana (idem), de Valérie Massadian. Com Kelyna Lecomte, Alain Sabras, Marie Delmas. França, 2011. 68 minutos. Expectativa.

Cotação: 0

Encontro bacana


O bello (e simpático) ragazzo da foto é Gustav Hofer, um dos diretores de Itália: Ame-a ou Deixe-a, que estava ontem à noite no Estação Sesc conferindo o novo longa de Kevin Smith, Red State.

domingo, 16 de outubro de 2011

Juntos Para Sempre


Javier Gross é um roteirista de sucesso muito distraído, mais conectado com as histórias que inventa do que com a vida real. Sua esposa Lucía, cansada de ser negligenciada, se envolve com outro homem, o que desencadeia uma crise que leva à separação do casal. Javier, que se define como um homem que diz não ao sofrimento, logo a substitui pela ansiosa Laura, ao mesmo tempo em que descobre chocantes novidades sobre seus pais. Com tanta confusão ao seu redor, Javier mergulha cada vez mais em seu novo roteiro, uma estranha história sobre um homem que sai de férias com a família e vai abandonando-os pelo meio do caminho.

Mais uma boa surpresa vinda do cinema argentino, sempre pródigo em contar tramas originais a partir de argumentos simples. Através de um personagem principal bastante rico e multifacetado (e da ótima interpretação de Peto Menahem), o filme faz um questionamento divertido sobre os limites entre ficção e realidade e sobre o quanto o sofrimento seria uma escolha da própria pessoa que sofre. É impossível não simpatizar com esse protagonista que, a despeito de sua confusão mental, consegue encontrar expedientes bastante criativos para continuar tocando a vida, como, por exemplo, focar toda a raiva da traição em um mero sofá ou arrumar rapidamente uma nova namorada com uma personalidade mais permissiva do que a anterior. Se o mundo está uma bagunça, vamos nos concentrar na ficção, é o que parece dizer Javier. O problema é que o subconsciente não funciona dentro de uma lógica tão prática assim, desencadeando cedo ou tarde uma catarse por vias tortuosas.

Pablo Solarz, embora esteja dirigindo seu primeiro longa-metragem, foi o roteirista de outras boas histórias sobre dilemas conjugais, como Um Namorado Para Minha Esposa e Quem Disse Que é Fácil? Em Juntos Para Sempre, entrega um filme divertido e faz uma bela estreia. Vale a pena conferir.

Juntos Para Sempre (Juntos para Siempre), de Pablo Solarz. Com Peto Menahem, Malena Solda, Florencia Peña, Mirta Busnelli, Luis Luque. Argentina, 2010. 98 minutos. Première Latina.

Cotação: 7,5

Itália: Ame-a ou Deixe-a


Gustav e Luca moram em Roma e tem percebido que muitos de seus amigos tem deixado a Itália para buscar melhores condições de vida e trabalho em outros países europeus, como a Alemanha ou a Inglaterra. Quando o senhorio pede que eles saiam do apartamento onde moram, Gustav – que tem uma proposta de ir para Berlim – acha que é chegado o momento de deixar não somente o apartamento, mas o país. Luca, por outro lado, resiste e acredita que, apesar dos problemas, ainda vale a pena ficar. Ambos decidem adiar a decisão e viajar pelo país por seis meses, acreditando que verão coisas e conversarão com pessoas que ajudarão a resolver o impasse.

Eles estão de volta. Gustav Hofer e Luca Ragazzi, que estiveram no Festival do Rio de três anos atrás com o igualmente bom documentário De Repente, no Inverno Passado, agora retornam com este filme muito oportuno sobre a atual condição da Itália – o filme, aliás, fica ainda mais rico se o espectador assisti-lo em conjunto com Para Sempre Silvio. O fenômeno de evasão relatado por Gustav e Luca acontece, sobretudo, dentre os jovens de nível superior: em uma Europa integrada, sempre surgem melhores oportunidades fora do país.

Um fator muito interessante no trabalho de Luca e Gustav é o modo como eles falam abertamente de si mesmos para, dessa forma, falar do país. Tanto no filme anterior (que discutia como a homofobia tem sido agravada pela era Berlusconi) como neste, os rapazes partem de seus próprios dilemas e dificuldades e acabam sendo universais, por discutirem questões que atingem boa parte da população. Claro que ajuda muito o fato de ambos serem bastante articulados e naturais diante das câmeras, sempre com um senso de humor e ironia bastante aguçado.

Tenho lá minhas dúvidas se eles de fato queriam deixar a Itália ou se isso fazia parte de um argumento pensado apenas para dar uma direção ao filme, mas isso não importa. Neste divertido e politizado road movie que dá voz aos mais diversos tipos de pessoas, sejam eles velhinhas insanas partidárias de Berlusconi ou um prefeito comunista assumidamente gay, o espectador terá uma visão mais global da Itália e sua diversidade, um povo de origens étnicas múltiplas, crenças antagônicas e que vive um momento politicamente obscuro. Isso é especialmente elucidativo para os brasileiros, que, de um modo geral, ainda tem aquela visão dos italianos somente como os camponeses efusivos das novelas da Rede Globo.

Dois momentos do filme que me tocaram de forma especialmente significativa (mas estes, por razões pessoais) foram a participação do famoso escritor siciliano Andrea Camilleri e uma frase, bastante conclusiva: “A vida é breve demais para não ser italiano”. Devemos ser gratos ao filme, ainda, por ter elevado o nível da mostra Foco Itália. Valeu, rapazes!

Itália: Ame-a ou Deixe-a (Italy: Love it, or Leave it), de Gustav Hofer e Luca Ragazzi. Com Gustav Hofer e Luca Ragazzi. Itália / Alemanha, 2011. 75 minutos. Foco Itália.

Cotação: 8,0

sábado, 15 de outubro de 2011

Quando Anoitece


Marina, uma jovem casada, vai com o filho de cerca de um ano passar algumas semanas em um apartamento nos Alpes. O dono do lugar é Manfred, um solitário guia de turismo que mora no apartamento de baixo e não tem boa imagem das mulheres desde que foi abandonado pela esposa. Até que uma noite um estranho acidente com Marco, o filho de Marina, faz com que ela e Manfred se aproximem, iniciando uma relação cheia de desconfiança e segredos ocultos. Exibido no Festival de Veneza 2011.

Baseado em romance escrito pela própria diretora Cristina Comencini, Quando Anoitece é daqueles filmes que até começam prendendo o interesse, mas depois vão se perdendo ao longo do caminho. Já no início, uma coisa que atravanca um pouco a fluência da história é sabermos tão pouco sobre Marina e sua relação com o marido, informação que ajudaria, e muito, a entender melhor seu estresse e suas dificuldades como mãe. Enquanto o personagem Manfred é mais bem delineado, Marina parece carecer de dados que expliquem melhor suas atitudes contraditórias. Mas isso nem chega a ser um problema, o que realmente atrapalha o longa é sua parte final, que soa apressada, pouco criativa e preguiçosa.

(contém spoilers daqui para baixo)

Um exemplo disso é aquele intempestivo retorno de Marina, que resolve aparecer 15 anos depois para rever Manfred e consumar o que não foi consumado da primeira vez. Nada fica claro para o espectador. Ela continua casada e eles serão amantes ocasionais? Neste caso, como fica a relação dele com a ex-atual-esposa, outra personagem que é jogada a esmo na trama, nunca ficando explícito o porquê dela ter ido embora e, principalmente, de ter reatado o casamento com Manfred. Resumindo, toda essa parte final é muito mal delineada, cheia de cenas gratuitas e diálogos vazios que nada esclarecem.

No mais, sobra a fotografia deslumbrante das belas paisagens alpinas e o charme incontestável de Filippo Timi, que foi visto há alguns anos no papel de Mussolini em Vincere e, neste filme, está a cara do Robert DeNiro de trinta anos atrás. Um belo incentivo visual para um filme apenas mediano.

Quando Anoitece (Quando la Notte), de Cristina Comencini. Com Filippo Timi, Claudia Pandolfi, Thomas Trabacchi, Denis Fasolo. Itália, 2011. 114 minutos. Foco Itália.

Cotação: 5,0

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O Palhaço


Benjamim forma com seu pai Valdemar a dupla de palhaços Pangaré e Puro Sangue. Criado no circo e pelas estradas da vida, é um homem sem identidade, CPF ou comprovante de residência, tendo como único documento uma amarrotada certidão de nascimento. O Circo Esperança é sua vida e também sua prisão, fazendo com que seja cada dia mais difícil para Benjamim sorrir fora de suas funções. Cansado da vida que leva, ele se pergunta constantemente “eu faço todo mundo rir, mas quem é que vai me fazer rir?”. Benjamim quer ter um endereço, um ventilador e uma carteira de identidade.

Sempre fui fã confessa de Selton Mello. Do excelente ator e, principalmente, do cara cheio de personalidade que demonstra saber exatamente o que quer da sua carreira. A partir de 2008, quando realizou o ótimo e pouco visto Feliz Natal, passei a ser fã também deste diretor que agora, já em seu segundo longa, demonstra uma maturidade e sensibilidade digna dos grandes mestres. Faltam no Brasil exemplos de atores consagrados que se tornam diretores competentes, acúmulo de função comum nos Estados Unidos (os exemplos vão de George Clooney e Clint Eastwood a Ben Affleck) e pouco usual aqui. Acredito piamente que Selton será o cara a preencher esse vácuo.

O Palhaço é um filme simples. Não simplório, mas simples no sentido da sua essência, de querer contar uma história com o coração. De não camuflar idéias pretensiosas com uma pseudo-modernidade vazia. De beber em fontes tão diversas como o road movie americano e o cinemão clássico italiano e, ainda assim, ser totalmente brasileiro, contemporâneo e universal. Simples no sentido de emocionar mais e racionalizar menos. Genial nesta aparente simplicidade.

Com uma fotografia deslumbrante e uma identidade visual muito forte, acompanhamos o dilema deste palhaço deprimido que precisa de mais do que a pesada maquiagem para parecer feliz. Benjamim nunca teve realmente uma escolha e está naquele momento da vida em que se pergunta o que realmente deseja para si. De que adianta fazer as outras pessoas felizes e sentir-se miserável? É um filme muito calcado em olhares significativos, onde o que mais importa não é o que os personagens dizem e sim o que calam. Não por acaso, um dos momentos mais emocionantes, daqueles de deixar o espectador com os pelos eriçados, é justamente um olhar trocado entre Benjamim e Valdemar perto do desfecho do filme.


Falar sobre o elenco, encabeçado por Selton Mello e Paulo José, chega a ser redundante. Perfeito. As participações especiais são show à parte, e não menciono aqui o nome dos muitos atores que fazem pequenas e divertidas aparições justamente para não tirar a graça de cada uma delas.

O Palhaço é, desde já, um dos melhores filmes do Festival e do ano de 2011. Bravo!

O Palhaço (idem), de Selton Mello. Com Paulo José, Selton Mello, Giselle Motta, Thogun e Teuda Bara. Brasil, 2011. 88 minutos. Première Brasil Hors-Concours.

Cotação: 10

A Cônsul Italiana


Giovanna tem sido a consulesa italiana na África do Sul, mas em breve deixará o país. Um dia, aparece no consulado uma mulher em busca de seu namorado, um fotógrafo italiano, e que só aceita falar com a própria consulesa. Giovanna descobre que o homem desaparecido é um antigo amor seu e que ele estava investigando uma quadrilha especializada em tráfico de mulheres.

Quem me conhece sabe que eu tenho a maior das boas vontades com o cinema italiano, mas a mostra Foco Itália realmente tem apresentado uma seleção bastante fraca. Com exceção do premiado Terraferma e do documentário Para Sempre Silvio, os longas italianos tem sido uma decepção só. O que é estranho, já que a produção cinematográfica do país é bem diversa e numerosa. Fica a pergunta: por que exatamente esses filmes foram escolhidos?

A Cônsul Italiana tem tantas deficiências que eu nem sei por onde começar. A personagem principal não passa a mínima credibilidade, não apenas por ser interpretada sem vigor por Giuliana de Sio, mas também pelas próprias atitudes e postura, que em nada condizem com uma pessoa da sua posição. Também a estreante Lira Molapo, que interpreta a namorada africana do fotógrafo desaparecido, incomoda em cena, sempre dando a impressão de estar lendo suas falas em um teleprompter. O roteiro soa amador, cheio de frases de efeito e diálogos melodramáticos. Resumindo, um elenco fraco, muito fraco, a serviço de uma trama plena de situações inverossímeis e conduzida com um estilo de programa de jornalismo investigativo. O diretor Antonio Falduto – que estava presente à sessão e parecia muito simpático – tem apenas mais um filme no currículo, realizado em 1993. Se A Cônsul Italiana era uma retomada para a sua carreira, a escolha não foi das mais felizes.

Dois mistérios cruzados: primeiro, por que o filme se chama Il Console Italiano, no masculino? E por que foi traduzido como “A Cônsul”?

A Cônsul Italiana (Il Console Italiano), de Antonio Falduto. Com Giuliana De Sio, Lira Kohl, Anna Galiena, Patrick Paddy Lyster, Luca Lionello. Itália, 2011. 90 minutos. Foco Itália.

Cotação: 2,0

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A Tentação


O detetive Hollis Lucetti não está tendo um bom dia. Após descobrir que é estéril e, portanto, não é o pai de seus dois filhos, recebe um chamado para resgatar um homem que ameaça se jogar de um telhado. O suicida em potencial é Gavin Nichols, que não parece estar ali por vontade própria. No alto do arranha-céu, enquanto Hollis tenta convencer Gavin a não pular, os dois começam a conversar tanto sobre a cadeia de acontecimentos que levou Gavin àquela situação quanto sobre os dilemas de Hollis. Exibido em competição no Festival de Sundance deste ano.

Escrito e dirigido pelo britânico Matthew Chapman, este curioso filme poderia até ser descrito como um “thriller metafísico”. A trama ganha contornos mais ricos ao ir além do puro e simples triângulo amoroso e levanta, de fato, discussões polêmicas e interessantes entre os dois personagens antagônicos. Ambos são ferrenhos em seus pontos de vista, mas o radicalismo ganha contornos perigosos quando está associado a uma mente desequilibrada.

O bom elenco, formado por Charlie Hunnam, Liv Tyler, Terrence Howard e Patrick Wilson, com destaque para este último, também dá conta do recado. A única deficiência do filme é o fato dele se alongar demais, rodando em círculos mesmo depois do espectador já ter compreendido que rumo a história tomará. O que é um pouco estranho, se considerarmos que a duração do filme nem é tão extensa assim. Felizmente, o bom desfecho redime as pequenas barrigas do longa e o que acaba restando é a boa impressão.

A Tentação (The Ledge), de Matthew Chapman. Com Charlie Hunnam, Liv Tyler, Patrick Wilson, Terrence Howard, Christopher Gorham. EUA, 2011. 101 minutos. Expectativa.

Cotação: 7,0