quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1


Pela primeira vez, os personagens centrais da saga Harry Potter não se encontram no Expresso de Hogwarts rumo à escola e à aura protetora emanada por Alvo Dumbledore. Voldemort finalmente consegue instaurar seu reinado de terror no mundo bruxo e, como diz a frase publicitária do longa, nenhum lugar é seguro. De seguro mesmo, só a alta qualidade que o cineasta David Yates vem imprimindo à série desde que assumiu sua direção há três anos, em Harry Potter e a Ordem da Fênix. A versão para a telona do universo mágico criado por J.K. Rowling se iniciou em 2001, com o simpático e ainda bastante infantil Harry Potter e a Pedra Filosofal e foi acompanhada por espectadores de todas as idades por nada menos do que uma década, sendo que grande parte deles cresceram junto com os protagonistas (e atores) e amadureceram junto com a história.

Neste princípio do fim, Voldemort e seus Comensais da Morte tomam o Ministério da Magia e alastram o pânico não apenas pelo mundo bruxo, mas pelo dos trouxas também. Logo no início do filme, vemos Hermione usar um feitiço para se “apagar” da mente e da vida de seus pais, desta forma protegendo-os do que está por vir. Harry, Rony e Hermione sabem que a jornada será solitária de agora em diante e que a única esperança de salvação seria encontrar as horcruxes (artefatos malignos que contém fragmentos da alma de Voldemort). Duas já foram destruídas, mas ainda restam outras quatro. Enquanto elas existirem, o lorde das trevas continuará invencível. Mas quais seriam esses artefatos e onde estariam? E, encontrando-os, como destruí-los? E como três adolescentes poderiam dar conta de tamanha responsabilidade sozinhos, já que não podem mais se arriscar a procurar a ajuda de ninguém? São questões como essas que porão à prova a amizade entre o trio, criando sequências de profundo desalento e transformando-os irreversivelmente em adultos.


A decisão de dividir esta última aventura em dois filmes, motivada ou não por razões financeiras, traz como saldo positivo a possibilidade de uma história mais encorpada e coesa, sem os cortes radicais que marcaram as adaptações anteriores. Como Rowling é pródiga em adicionar à trama central uma enorme quantidade de subtramas e personagens secundários, a cada filme ficava mais azeda a discussão sobre o que foi deixado de fora. Discussão essa que certamente será bem menos acirrada em relação a este longa. Claro que o filme é intensamente referencial aos anteriores, mas a essa altura da história não dá mais para ficar pensando em um espectador ocasional e muito menos julgar o longa por seus méritos puramente cinematográficos. Não que tais méritos não existam: eles estão na tela, e em abundância, mas o que mais impressiona neste sétimo filme é sua extrema adequação em termos de adaptação.

A parceria entre o diretor Yates, que comanda a franquia pela terceira vez, e Steve Kloves, roteirista de todos os filmes da série – com exceção de Harry Potter e a Ordem da Fênix – resulta em um filme maduro e bem estruturado, e que se equilibra com louvor entre injetar tensão ou criar uma atmosfera melancólica, conforme a necessidade do momento. O português Eduardo Serra, fotógrafo do belo Moça com Brinco de Pérola, assina a arrojada e sombria fotografia, enquanto o cultuado Alexandre Desplat se encarrega da trilha sonora. Somando-se esses talentos ao sempre eficientíssimo time de efeitos visuais, o produto final é perfeito em todos os aspectos técnicos. Sem contar que pela primeira vez um dos filmes da série traz uma sequência em animação – muito bem encaixada, por sinal. Outra característica marcante da série é a constante aquisição de grandes atores britânicos a cada longa. Neste capítulo, somam-se ao já consagrado elenco que conta com feras como Alan Rickman, Ralph Fiennes e Helena Bonham Carter os nomes de Rhys Ifans, John Hurt e Bill Nighy. Já o trio central formado por Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint demonstra amadurecimento artístico e entrega boas interpretações em cenas dramáticas, com destaque especial para Grint.


Desde que a obra de Rowling começou a ser adaptada para o cinema, os filmes vem seguindo uma evolução constante, o que faz com que o mais recente seja sempre mais emocionante e bem-resolvido que o anterior. E Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1 não decepciona; pelo contrário, apenas eleva ainda mais o nível das expectativas para sua segunda parte, quando finalmente se encerrará a saga do menino bruxo. Afinal de contas, quando um filme deixa o espectador tão grudado na tela que duas horas e meia parecem quinze minutos, podemos considerar que os objetivos foram atingidos. Sem contar que a cena que encerra esta primeira parte não poderia ser melhor. Esperemos agora que a metade final, que tem estreia prevista para 15 de julho de 2011, esteja à altura deste seu bravo predecessor.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

United States of Tara


Como não tenho TV a cabo, muitas vezes tardo um pouco para me inteirar das novidades em termos de séries. Por isso a demora em conhecer a ótima United States of Tara. Criada por Diablo Cody – a oscarizada roteirista de Juno –, a trama é centrada em Tara Gregson, uma mulher casada e mãe de dois adolescentes que sofre de TDI (transtorno dissociativo de identidade), ou seja, tem múltipla personalidade. A série inicia quando Tara e o marido Max resolvem que ela precisa dar um tempo na medicação e se autoconhecer, o que tem como efeito colateral deixar afluir seus outros “alters”: Alice, dona de casa eficiente e ultraconservadora; T., adolescente rebelde de 16 anos; e Buck, um veterano do Vietnã machão.

O assunto da família disfuncional certamente se esgotaria logo na primeira temporada (e a série acaba de encerrar sua segunda) não fossem as boas subtramas secundárias e o excelente elenco. Toni Collette está sensacional no papel-título, conseguindo alcançar estados bastante diferenciados para cada personalidade e, ao mesmo tempo, mantendo uma certa unidade, como se a verdadeira Tara sempre estivesse subjacente. Não foi à toa que a atriz ganhou um Emmy em 2009 e o Globo de Ouro e o SAG deste ano. O sempre simpático John Corbertt interpreta Max, o maridão que ama a esposa acima de todas as suas loucuras e a boa química entre os atores e a sinceridade com que seus personagens são mostrados fazem com que o público se apaixone pelo casal. No elenco coadjuvante, destaca-se Rosemarie DeWitt como Charmaine, a irmã que sempre viveu à sombra de Tara e suas complicações.

Para quem ainda não conhece, fica a dica.

Toni Collette como suas múltiplas personagens. Da esquerda para a direita, Tara, T., Buck e Alice.