sábado, 28 de fevereiro de 2009

A Lista


Está chegando às locadoras um dos piores filmes que passaram pelas nossas telonas no ano passado: trata-se de A Lista e seu desnecessário subtítulo “Você Está Livre Hoje?”. O filme pode ser descrito como o infeliz encontro de dois atores talentosos – Ewan McGregor e Hugh Jackman – com um roteiro fantasioso que se transforma em um filme previsível e irritante, que só piora à medida que a trama avança. McGregor é Jonathan McQuarry, um contador extremamente carente e solitário. Seu isolamento do mundo é agravado pelo tipo de trabalho que faz: auditoria terceirizada em empresas, ou seja, está sempre “de passagem” pelos lugares. Sua rotina é alterada quando conhece Wyatt Bose, advogado de uma das empresas por ele auditadas. Wyatt é o oposto de Jonathan: carismático, descolado, sedutor. E, sabe-se lá porque, resolve ser amigo dele.

A tal lista do título é uma espécie de clube do sexo, onde ninguém sabe o nome de ninguém, apenas o número do celular. Para uma noite de prazer sem cobranças posteriores, basta ligar para algum dos sócios e fazer a pergunta do subtítulo. Em caso afirmativo, cabe a quem ligou escolher o hotel e pagar a conta. Simples assim. Jonathan tem acesso a esse mundo de executivos estressados que não têm tempo a perder com vida afetiva quando troca de celular por engano com Wyatt e resolve responder a um apelo feminino sem saber o que lhe espera. Mas seu ingresso nesse universo sensual também lhe traz problemas até então impensáveis para um pacato cidadão como ele.

A história, que já parece pouco convincente descrita assim, é ainda mais esquizofrênica do que sugere essa breve sinopse. E o que mais incomoda é perceber que o longa tem pretensões elevadas. Vendido como um “suspense psicológico sedutor”, a trama soa falsa e esquemática a cada mudança de hábito do protagonista, que evolui de um homem triste e retraído a destemido herói, ainda que siga tomando decisões estúpidas e se livrando de becos sem saída graças a uma sorte mediúnica. O diretor estreante Marcel Langenegger, egresso da publicidade, declarou no material de imprensa do filme que a primeira vez que leu o roteiro achou que este “era tão bom e inteligente que lembrava Hitchcock e seus jogos de manipulação.” Das duas uma: ou Langenegger desvirtuou totalmente o tal roteiro inteligente ou nunca assistiu a um filme de Hitchcock.

A idéia da rede de sexo anônimo, que é a única coisa em todo o roteiro que poderia render algo de interessante, é abandonada logo no primeiro terço do filme, servindo apenas de pretexto para aproximar os personagens de Ewan McGregor e Michelle Williams. E a trama se perde de vez tão logo as verdadeiras intenções do personagem de Hugh Jackman vêm à tona. E o que dizer das participações de Natasha Henstridge e Charlotte Rampling? As atrizes são jogadas no filme em pontas tão inexpressivas que o espectador chega a se enganar, achando que seus personagens terão alguma importância mais adiante.

Para resumir a ópera, podemos dizer que a história capenga e cheia de acontecimentos pseudo-eletrizantes se arrasta até uma resolução previsível e boba, ainda que os disparates finais nada mais sejam do que uma evolução natural de todos os equívocos cometidos até então.

Revendo O Cavaleiro das Trevas


A transposição de Batman para a telona teve altos e baixos ao longo das últimas duas décadas. Batman e Batman – O Retorno, dirigidos por Tim Burton, foram filmes satisfatórios de um modo geral, mas que falharam justamente onde não poderiam: na péssima escolha de Michael Keaton para interpretar o herói. Já os longas seguintes foram entregues ao pau-pra-toda-obra Joel Schumacher e foi aí que a franquia desandou de vez. Batman Eternamente e Batman & Robin são ruins de doer, a despeito de terem atores mais interessantes no papel (Val Kilmer e George Clooney, respectivamente). Passaram-se oito anos após o fracasso do quarto filme para que fosse feita uma nova tentativa. Batman Begins, realizado há quatro anos, resultou em um filme muito bom. O talentoso diretor e roteirista Christopher Nolan resolveu começar do zero – até mesmo para se desvincular de seus antecessores – e voltou às origens do personagem, criando uma excelente versão para os motivos que levam o milionário Bruce Wayne a se desdobrar no sorumbático guardião de Gotham City.

Depois de ter lavado a honra do homem-morcego, era um caminho natural que Nolan continuasse à frente do filme seguinte. Mas o grande desafio quando se realiza uma seqüência que tem um ótimo antecessor vai além de manter o nível de qualidade: é preciso não apenas estar à altura do filme anterior, mas também apresentar algum diferencial em relação a ele. Batman – O Cavaleiro das Trevas alcançou esse feito através das madeixas esverdeadas e da maquiagem borrada do exuberante vilão que se autodenomina o Coringa.

Existe uma corrente de cinéfilos que vê a premiação póstuma de Heath Ledger como uma espécie de condescendência da Academia. Claro que não se pode negar que existe o fator emocional quando um ator talentoso, promissor, jovem e bonito morre logo depois de terminar de filmar um papel que certamente estava destinado a imortalizá-lo definitivamente. É triste e chocante, sim. Agora daí a achar que o Oscar é alguma forma de compensação vai uma grande diferença. Heath Ledger ganharia esse Oscar de qualquer maneira, porque seu mérito como o mais célebre dos inimigos do homem-morcego é indiscutível e insuperável. Nenhum outro personagem foi tão citado, imitado e reverenciado no ano passado.

A trama de O Cavaleiro das Trevas se inicia mostrando os efeitos colaterais de uma cidade que agora tem um defensor: se, por um lado, os pequenos bandidos de Gotham City temem o homem-morcego, por outro os grandes cartéis criminosos reagem à altura ao ter seus interesses atacados. Sem contar que a figura misteriosa de Batman é vista com desconfiança e preconceito, sendo considerado por muitos um justiceiro que age à margem da lei. Bruce anseia pelo dia em que não será mais necessário para a cidade e poderá ter uma vida normal ao lado da amada Rachel Dawes, mas logo compreende que não será tão fácil assim abandonar a persona que criou. Para cada bandido posto na cadeia com a ajuda do comissário Gordon, novos malfeitores aparecem. Sua grande esperança de aposentar a armadura preta surge na carismática figura do novo promotor, Harvey Dent, um homem determinado e incorruptível. Bruce acredita que se Gotham tiver um herói com rosto e identidade, estará livre do fardo que impôs a si mesmo.

Mas um novo elemento vem desequilibrar a luta entre as forças do bem e do mal: ele, o Coringa. Debochado, imprevisível e muito inteligente, o anárquico bandido só segue suas próprias regras. Batman, Gordon e Harvey terão pela frente um desafio que pode lhes custar mais do que suas vidas: é a integridade e sanidade de cada um que está em jogo. Afinal de contas, como manter regras e princípios diante de alguém que não tem limites? Como diz Batman numa cena, o maior prazer que um agente do caos como o Coringa poderia ter seria destruir o melhor deles. Revoltar o justo, corromper o honesto, aliciar o bom.


A performance de Heath Ledger é absolutamente fascinante, ao criar um Coringa diferente de tudo que já foi visto antes. Seguindo uma abordagem bem diversa da loucura cômica eternizada por Jack Nicholson no Batman de Tim Burton, o Coringa de Ledger tem um estilo mais humano e, por isso mesmo, mais aterrador. Ele é, em essência, um anarquista, mas que sabe muito bem o que está fazendo. O mais curioso é que a maldade deliberada e o senso de humor perverso do personagem não conseguem impedir que o espectador se renda a seu charme doentio. É impossível desgrudar os olhos dele durante todo o tempo em que está em cena. Então o tal Oscar póstumo é algo que o espectador de Batman pensa – e endossa entusiasticamente – logo nos primeiros minutos. Dentre tantos momentos memoráveis, destaco o papo faustiano com Harvey Dent no hospital e também o bordão que caiu na boca do povo: why so serious? (“por que está tão sério?”, numa referência debochada à sua própria boca de palhaço).

Embora seja a estrela de Ledger a mais resplandecente, seria até injustiça não comentar o quanto é incrível o restante do elenco. Christian Bale continua sendo o melhor Batman de todos os tempos, ótimo vestido de homem-morcego e melhor ainda posando de playboy inconseqüente na sua faceta Bruce Wayne. Aaron Eckhart desempenha com perfeição a transição de Harvey Dent de paladino da esperança a vilão amargurado. A expressiva Maggie Gyllenhaal assume o papel de Rachel Dawes no lugar de Katie Holmes, que era justamente o único elo fraco no elenco do filme anterior. E a trinca formada por Gary Oldman, Michael Caine e Morgan Freeman... Bom, esses caras dispensam apresentações. Tê-los no elenco de qualquer filme é um luxo absoluto.

Batman – O Cavaleiro das Trevas foi o grande filme de 2008. E ainda teve a característica marcante de ter sido a despedida deste belo e talentoso ator (Heath deixou um filme incompleto, The Imaginarium of Doctor Parnassus, mas o Coringa foi seu último papel finalizado). O filme ganhou outro Oscar além do de Ledger, o de edição de som. Acho uma pena que a Academia tenha preferido indicar a melhor filme um candidato morno como Frost/Nixon e perdido essa chance rara de indicar um longa que casou tão bem popularidade e qualidade.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Segurando as Pontas


Imaginem um típico filme de ação americano, daqueles com tiroteios, correria e perseguição de carros. Imaginaram? Agora imaginem uma trama dessas protagonizada por dois maconheiros chapadões. Como assim? Este é o mote do divertidíssimo Segurando as Pontas.

Dale Denton trabalha entregando intimações judiciais e, graças à sua flexibilidade de horário, pode levar a vida dos seus sonhos. Entre uma intimação e outra, faz paradas estratégicas na escola da namorada adolescente e no apê de Saul, seu fornecedor de drogas preferencial. Numa dessas visitas, Dale é apresentado ao pineapple express do título original, droga de altíssima qualidade da qual Saul se orgulha de ter exclusividade na cidade. Logo depois, ao tentar entregar uma intimação, Dale testemunha uma policial e um chefão local assassinarem um traficante rival. Ele fica apavorado e foge, mas deixa cair a bituca que estava fumando. Claro que sendo Saul o único fornecedor daquela iguaria rara, em dois tempos ambos – doidões e jurados de morte – têm que empreender uma fuga desesperada.

Só o prólogo do longa, que mostra militares fazendo experiências sigilosas com a cannabis em uma base secreta, já faz o filme valer a pena. Mas isso é apenas o aperitivo de um filme extremamente anárquico, politicamente incorreto e, sobretudo, muito engraçado. As cenas de ação desenfreada somadas a diálogos intencionalmente piegas fazem com que o longa também seja uma irreverente paródia dos filmes de macho – os chamados buddies movies. O roteiro também faz referência às histórias com duplas de policiais, onde um é sempre mais certinho e outro mais destemido – vide a série Máquina Mortífera. Claro que falar em maconheiro certinho parece uma contradição de termos, mas o gordinho e desengonçado Seth Rogen é o que existe mais próximo de herói no filme, enquanto James Franco é um viajandão carente e afetuoso que não tem nem noção do perigo que corre. Franco está simplesmente sensacional neste papel, numa desconstrução total do seu habitual papel de bonitinho sem sal. O ator teve uma indicação ao Globo de Ouro por esse papel, o que é uma enorme façanha, considerando o caráter outsider do filme. Uma das coisas que ficamos sabendo nos extras do DVD é que originalmente os atores interpretariam os papéis inversos, mas preferiram quebrar os padrões e colocar o bonitão no papel mais lesado. Os extras, aliás, são bem legais e trazem cenas excluídas e/ou extendidas, making of e entrevistas com a equipe.

Segurando as Pontas foi exibido no Festival do Rio do ano passado e recentemente apareceu direto nas prateleiras de DVD. Também é um dos poucos casos em que um título totalmente alienígena funciona melhor do que o original. Então, esqueçam suas opiniões contra ou a favor da descriminalização da maconha – nem preciso dizer que posição o filme expressa –, suspendam o preconceito com o tema e divirtam-se. O filme vale pelas suas qualidades como a excelente comédia que é. O debate sério sobre o assunto a gente deixa para o contexto apropriado.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Força Policial


Força Policial leva ao extremo o conhecido corporativismo dos policiais americanos perante seus colegas de profissão. Ray Tierney pertence a uma família dedicada ao velho lema de servir e proteger. Seu pai, Francis, é um veterano influente; seu irmão mais velho, Francis Jr., é chefe do departamento, onde também serve seu cunhado Jimmy Egan. Quando o que é reportado como uma batida para prender um traficante termina em um banho de sangue onde quatro policiais são mortos, Ray, por insistência de seu pai, deixa o trabalho burocrático que desempenhava desde que foi ferido em serviço e assume o comando da investigação. Não demora para que ele esbarre em um escândalo de corrupção que atinge todo o departamento e envolve sua família até a medula, levando-o a um impasse entre fazer o que é certo ou proteger as pessoas que ama.

Não se trata de um filme policial, pelo menos não dentro dos parâmetros do que consideramos um exemplar do gênero. O estilo está mais para drama, com pitadas de filme-denúncia. Embora não seja nenhuma novidade o fato da polícia nova-iorquina ser um antro de violência e corrupção, não são todos os filmes que colocam o fato de modo tão institucionalizado como faz esse longa. Corrupção generalizada costuma ser mostrada em Gotham City, não em Nova Iorque. A tendência da maioria dos filmes, no estilo “não vamos ofender ninguém”, é colocar o problema como obra de um indivíduo, um vilão que é a exceção à regra. Não é o que acontece em Força Policial, que mostra a instituição como um mar de lama onde os policiais, como indivíduos, são no mínimo coniventes com a situação.

No meio de tudo isso, Ray, personagem de Edward Norton, é o cara honesto por instinto. Mesmo assim, como vemos no decorrer do filme, ele nem sempre foi um santo dentro de suas funções. Pressionado por colegas e – o que é pior – pela própria família, Ray tampouco é uma pessoa de passado totalmente incorruptível. Mas, ao contrário de seu cunhado Jimmy, ele não quer continuar se afundando cada vez mais nessa espiral de maus hábitos porque, como é revelado mais adiante, sua vida profissional já lhe deu muito mais perdas do que ganhos.

O filme, que obteve em sua maioria críticas negativas no exterior, não é esse desastre todo. Pelo contrário, coloca várias questões relevantes e segura bem o clima de tensão ao longo de mais de duas horas de projeção. E o mérito é todinho de Edward Norton, cujo personagem norteia a trama e dá dimensões morais ao dilema entre ser leal à família ou a si próprio. O ator, um dos mais competentes da atualidade, olha o espectador no olho e o traz para dentro de suas dúvidas, inseguranças e, finalmente, determinação. Não se pode dizer o mesmo de Colin Farrell que, após conseguir boas atuações em O Sonho de Cassandra e Na Mira do Chefe, retorna ao seu estilo habitual e se apresenta de forma superficial e preguiçosa. Assim como a direção sem personalidade de Gavin O'Connor, que derrapa especialmente em sua meia hora final e mergulha em clichês desnecessários como, por exemplo, o ataque de macheza entre Ray e Jimmy no bar vazio.

Apesar de suas limitações, Força Policial é um drama que merece uma conferida. Primeiro, pela similaridade com várias situações que conhecemos e tememos; segundo, por mais uma oportunidade de ver o trabalho fantástico de Edward Norton. Norton à frente de um elenco é sempre garantia de qualidade interpretativa – e isso já vale o ingresso. Estréia nesta sexta.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Oscar 2009 – Os Vencedores

(o simpaticíssimo elenco de Quem Quer Ser um Milionário? na festa pós-Oscar)

Resultados previsíveis, porém nem por isso menos justos. Assim foi a premiação do 81º Oscar, na noite de ontem. O favoritaço Quem Quer Ser um Milionário? levou oito estatuetas, contrariando a tendência dos últimos anos de dividir a premiação. Não se via uma premiação tão maciça assim desde 2004, quando Peter Jackson e sua trupe promoveram um verdadeiro arrastão e O Senhor dos Anéis conquistou onze Oscars. Vale lembrar que Quem Quer Ser um Milionário? na verdade só perdeu uma de suas dez indicações (edição de som, para Batman), já que na categoria canção original o filme tinha indicação dupla e, portanto, concorria contra ele mesmo. Já o campeão de indicações, O Curioso Caso de Benjamin Button, teve que se contentar com três prêmios considerados “menores” (direção de arte, efeitos visuais e, claro, maquiagem) ao invés dos treze a que concorria. Batman e Milk levaram dois prêmios cada, enquanto Frost/Nixon saiu de mãos abanando e O Leitor foi salvo do zero a zero pelo reconhecimento à extraordinária Kate Winslet.

Uma decisão inesperada, mas que me agradou, foi a não premiação do israelense Valsa com Bashir como melhor filme em língua estrangeira. Tive oportunidade de ver no último Festival do Rio essa animação enfadonha (embora bem executada) e, mesmo não tendo assistido aos outros indicados, fica o benefício da dúvida em prol do vencedor. Mais do que premiar um filme que não é grande coisa, um Oscar para Israel nesse momento teria uma conotação política no mínimo delicada para o início de um governo que se propõe a simbolizar uma nova era.

Por outro lado, apenas três anos depois de se acovardar e negar o merecido Oscar a Brokeback Mountain, a Academia sai do armário e premia Milk em duas categorias, melhor ator para Sean Penn e melhor roteiro original para o novato Dustin Lance Black. O jovem roteirista, que há anos persegue a realização desse projeto, fez um discurso emocionado em prol dos direitos dos homossexuais e terminou agradecendo à mãe por sempre tê-lo aceitado como tal. Sean Penn, ao receber seu prêmio, complementou dizendo que é um absurdo as pessoas ainda votarem contra a união gay.

Sobre a festa em si, embora tenha sido tão extensa quanto nos anos anteriores, deu uma impressão de mais fluência. Talvez Hugh Jackman como mestre-de-cerimônias tenha contribuído para essa sensação. O ator injetou mais leveza e informalidade à cerimônia, realizando com desenvoltura e simpatia suas funções. O Wolverine das telonas também teve chance de mostrar seus dotes de cantor e dançarino ao lado de Beyoncé num grande número ao estilo dos musicais clássicos da Broadway (o ator foi premiado com um Tony recentemente por seu papel em um musical, The Boy From Oz). Sem contar que o Oscar nunca teve um apresentador tão atraente antes. Que o moço volte ano que vem!

Outra novidade foi ter cinco atores ou atrizes ganhadores de Oscars passados para apresentar as categorias interpretativas. Cada um dos cinco padrinhos/madrinhas falava um pouco sobre um ator/atriz concorrente. Um formato simpático, especialmente para aqueles que não levam a estatueta. Lá pela metade da festa, o momento que todos aguardavam: o prêmio de melhor ator coadjuvante. E não poderia ser diferente. Heath Ledger, absoluto! Os pais e a irmã do ator vieram da Austrália para receber a honraria, enquanto os presentes aplaudiam de pé um dos prêmios mais merecidos e esperados.

Mais um Oscar, aliás, a ir para fora dos Estados Unidos. Os oito prêmios de Quem Quer Ser um Milionário? a essa hora já devem ter embarcado em seus aviões para a Inglaterra ou para a Índia, dependendo do profissional agraciado. Penélope Cruz leva um para a Espanha; Kate Winslet, outro para a Inglaterra. E até mesmo os Oscars de curta-metragem voaram para a Europa: o de de curta de animação, para a França; o de curta live action, para a Alemanha. Parece que dessa vez a globalização realmente invadiu Hollywood!

Confiram a relação completa de ganhadores:

Filme – Quem Quer Ser um Milionário?
Atriz – Kate Winslet (O Leitor)
Ator – Sean Penn (Milk)
Atriz Coadjuvante – Penélope Cruz (Vicky Cristina Barcelona)
Ator Coadjuvante – Heath Ledger (Batman – O Cavaleiro das Trevas)
Direção – Danny Boyle (Quem Quer Ser um Milionário?)
Roteiro Original – Milk
Roteiro Adaptado – Quem Quer Ser um Milionário?
Direção de Arte – O Curioso Caso de Benjamin Button
Maquiagem – O Curioso Caso de Benjamin Button
Figurino – A Duquesa
Fotografia – Quem Quer Ser um Milionário?
Montagem – Quem Quer Ser um Milionário?
Trilha Sonora – Quem Quer Ser um Milionário?
Canção - Jai Ho (Quem Quer Ser um Milionário?)
Mixagem de Som – Quem Quer Ser um Milionário?
Edição de Som – Batman – O Cavaleiro das Trevas
Efeitos Visuais – O Curioso Caso de Benjamin Button
Filme em Língua Estrangeira – Departures (Japão)
Filme de Animação – Wall-E
Curta de Animação – La Maison en Petits Cubes
Curta-metragem (Live Action) – Spielzeugland (Toyland)
Documentário (Longa) – Man on Wire
Documentário (Curta) – Smile Pinki

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Mais Woody Allen


Mais um pouco da sinceridade desconcertante do cineasta:

- "É verdade que depois de alguns filmes eu parei de pensar em popularidade e no público, ou no que escreviam sobre os meus filmes, mas não por arrogância, nem algum sentimento de superioridade. Só porque essa parte do processo - a chamada gratificação - não estava me deixando feliz, nem satisfeito. As pessoas muitas vezes tomam erroneamente a minha timidez por indiferença, mas não é. Eu precisava de um centro espiritual e, sendo ateu, isso é difícil de encontrar. Então experimentei uma espécie de apatia em relação ao sucesso ou fracasso e, é triste dizer, em relação à vida em geral. Tanto o sucesso como o fracasso provaram não significar muito para mim do jeito que pensei que fossem significar quando comecei. Nenhum dos dois contribui muito para a solução dos verdadeiros problemas da vida."

(extraído de Conversas com Woody Allen, livro imperdível de Eric Lax)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Outros oscarizáveis



Os filmes O Visitante e Rio Congelado, que deram indicações a Richard Jenkins e Melissa Leo, já foram comentados aqui no blog por ocasião do Festival do Rio. Rio Congelado estreou hoje e O Visitante, apenas em 6 de março. Confiram:


quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Frost/Nixon (ou “o quinto indicado”)


Adaptado pelo premiado roteirista Peter Morgan (A Rainha) partir de sua própria peça teatral, a trama é focada em uma célebre entrevista concedida por Richard Nixon ao apresentador britânico David Frost em 1977 – três anos após o escândalo Watergate, que culminou com sua renúncia da presidência dos Estados Unidos. Vale lembrar que Nixon vinha se mantendo em silêncio absoluto antes de resolver aceitar o convite de Frost. E não foi nada por acaso que a velha raposa escolheu justamente como entrevistador uma figura até então conhecida basicamente por comandar programas de entretenimento fúteis. Além do cachê oferecido por Frost ser superior ao oferecido por jornalistas mais conceituados, Nixon e seus assessores achavam que um playboy inexperiente em política não seria ameaça ao esperto ex-presidente, que poderia aproveitar a chance para limpar sua barra com os cidadãos e assim pavimentar sua volta ao poder.

Um dos maiores elogios que se vem ouvindo a respeito deste filme é o fato dele ser o melhor da carreira de Ron Howard, o que não quer dizer tanta coisa assim. Howard é um cineasta competente, mas que dificilmente seria considerado autoral. Se considerarmos que trata-se de um filme adaptado pelo próprio autor da peça que o inspirou e que a produção acertadamente manteve os mesmos atores que desempenharam os papéis principais no palco durantes dois anos, a pouca personalidade do diretor é mais um bônus do que um problema. Tudo que ele precisava fazer era não estragar o material que tinha em mãos.

Frank Langella e Michael Sheen estão ótimos em cena e são bastante ajudados pela montagem esperta, fundamental especialmente durante a parte central do filme, quando as entrevistas já estão rolando para valer. Cortando de entrevistado para entrevistador, e deles para a reação (aliviada ou desesperada) dos assessores de cada oponente, o filme faz com que até mesmo o espectador que não tem nenhuma vivência política compreenda de imediato quem está por cima do embate naquele momento. O conjunto de reações faz com que a trama flua sempre tensa e objetiva, independente do conhecimento político de quem assiste. Também é bacana o formato documental, que coloca os atores dando declarações para a câmera como se fossem as figuras reais.

Mas o mais interessante no longa não é exatamente o enfrentamento diante das câmeras e sim os motivos ocultos por trás dele: de um lado, alguém que precisa se firmar e conquistar o respeito que nunca teve; de outro, alguém que já teve o respeito de uma nação inteira e quer desesperadamente reconquistá-lo. Como observa Frost em um diálogo, apenas um deles pode ser vitorioso e isso significa o aniquilamento do outro. Não há fracasso honroso, não há meio-termo.

Em um ano repleto de projetos inusitados e de temáticas diversificadas, Frost/Nixon seria, dentre os cinco candidatos, o mais importante do ponto de vista histórico. Mas, apesar de todas as suas indiscutíveis qualidades, Frost/Nixon é o que tem menor impacto como filme. Não provoca a mesma explosão de arrebatamento de Quem Quer Ser um Milionário?. Não comove pela poesia e beleza como Benjamin Button. E tampouco é ancorado por um elenco tão esplendorosamente inspirado como ocorre em relação a Sean Penn e cia. em Milk. Nem mesmo provoca a mesma reflexão que O Leitor, que seria o mais tradicional dos filmes aqui citados.

Claro que Frost/Nixon é um filme de alto nível e que mereceria estar dentre os candidatos ao Oscar de melhor filme, caso sua inclusão não tivesse deixado de fora pelo menos três filmes superiores a ele: Foi Apenas um Sonho, Gran Torino e Batman – O Cavaleiro das Trevas. Dito isso e sem querer ferir a sensibilidade de ninguém, faço uma avaliação muito pessoal das minhas preferências quanto aos cinco indicados deste ano:

Quem Quer Ser um Milionário? – 10
O Curioso Caso de Benjamin Button – 10
Milk – 9
O Leitor – 8,5
Frost/Nixon – 8

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Meu Caro Amigo

Dizem que toda mulher brasileira, independente de perfil, classe social ou credo, perde a compostura diante de Chico Buarque. É comum ver senhorinhas recatadas, com netinhos a tiracolo, enlouquecerem num show do ídolo, se esgoelando diante do estupefato marido. E isso tem menos a ver com os sedutores olhos verdes do compositor máximo do Brasil e mais com a euforia de se ver diante daquele gênio que cantou a alma feminina com um entendimento e propriedade nunca antes posto em palavras.

Para entender tudo que Chico significa para a alma tem que ter biografia. Tem que já ter derramado a sorte pelo chão e feito uma tremenda bagunça no coração. Norma, professora de História fanática por Chico Buarque, é mais que a protagonista do delicioso monólogo musical Meu Caro Amigo. Norma representa todas nós. Essa idéia, aparentemente tão simples, foi a grande sacada do espetáculo concebido inicialmente pela atriz Kelzy Ecard, posto em palavras pelo jovem e talentoso Felipe Barenco (não é Babenco, é com “r” mesmo) e dirigido com sensibilidade por Joana Lebreiro.

Partindo de Norma e fazendo um passeio pela História recente do país, a música de Chico pontua cada fase da vida da personagem. Desde a primeira vez que o viu, ainda menina, numa TV cheia de chuviscos cantando em um festival até a fase adulta, quando já havia se transformado “naquela professora que é doida pelo Chico Buarque”, Norma amadurece, se apaixona, vive conflitos, milita contra a ditadura, briga com o pai, se separa do grande amor. Em cada um desses momentos, a voz de Chico tem a coisa certa a lhe dizer. Como ela diz em determinada passagem, “ele sempre cantou a minha vida, embora tenha errado meu nome algumas vezes”.

Em um palco repleto de capas de discos de vinil e acompanhada apenas pelo piano do músico João Bittencourt, a simpaticíssima Kelzy Ecard domina a cena com sua voz doce e presença carismática, tirando ótimo partido tanto dos momentos bem-humorados como das cenas de maior intensidade dramática. E o mais legal é que, embora cante muito bem, Kelzy não faz isso com a impostação dos grandes musicais e sim de modo bastante intimista, atraindo a cumplicidade do espectador. A paixão evidente com que a atriz-cantora interpreta cada canção hipnotiza completamente a platéia que, enlevada, murmura cada letra baixinho, seja na versão descontraída de Quem Te Viu, Quem Te Vê (Kelzy, fazendo uma escova de microfone, arrancou um corinho bem afinado da platéia) ou na eletrizante interpretação do hino dos corações partidos, Eu Te Amo.

Uma curiosidade: a atriz esteve recentemente na montagem de um musical de autoria de Chico Buarque, o visceral Gota D'Água. Teria nascido nas coxias deste espetáculo a idéia de se reencontrar com Chico? Uma coisa é certa: embora não se saiba o quanto da própria Kelzy está em Norma, pelo menos uma paixão as duas têm em comum... Preciso dizer quem seria?

Meu Caro Amigo. Texto: Felipe Barenco. Direção: Joana Lebreiro. Com Kelzy Ecard. Centro Cultural dos Correios (Visconde de Itaboraí, 20, Centro). Quinta à domingo, 19h. Ingressos a 15,00. Até 5 de abril.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Quem Quer Ser um Milionário?


Assim como fazem os concursos de miss, o Oscar deveria ter uma categoria simpatia. Dentre os cinco indicados, geralmente há aquele filme apaixonante, do qual todo mundo gosta, mas que não é considerado “sério” o bastante para ser coroado o melhor filme. No ano passado, esse concorrente foi Juno; no anterior, Pequena Miss Sunshine. Este ano, Danny Boyle conseguiu rechear o produto empolgante com um conteúdo mais profundo e transformou o tal filme simpático em um vencedor absoluto. Pois não tenham dúvidas: Quem Quer Ser um Milionário? vai ganhar essa parada e, com todo mérito, sair da festa cheio de prêmios – incluindo melhor filme e melhor direção.

A abertura do filme nos mostra Jamal Malik, o cão favelado do título original, a apenas uma pergunta do prêmio máximo do programa Quem Quer Ser um Milionário? (aqui no Brasil, o infame Show do Milhão). Uma pergunta surge na tela, essa direcionada ao espectador: como Jamal chegou até ali? a) trapaceando; b) sorte; c) ele é um gênio; ou d) é o destino.

A partir desse questionamento, o filme casa com maestria o momento presente – em que Jamal tem que provar às autoridades que não está trapaceando – com uma série de flashbacks de momentos-chave de sua vida que mostram os caminhos e motivos que o levaram até aquela situação. Criado numa favela, órfão desde pequeno, perseguido por aliciadores de menores, aos tropeços com um irmão que sempre demonstrou péssimo caráter, Jamal nunca teve tempo de sentir pena de si mesmo. Sua única chance sempre foi cair e levantar, não desistir nunca, enfim, o cara é um verdadeiro sobrevivente. Então, como o caro leitor já deve ter percebido, o filme não é sobre suas façanhas no programa de TV, que serve mais como um fio condutor na trama. Sem contar que existe um motivo oculto para sua presença ali, que não tem nada a ver com a possibilidade de ficar rico.

O estreante Dev Patel, que antes desse filme tinha feito apenas alguns episódios de uma série de TV, é quem interpreta Jamal Malik em sua fase adulta. O personagem é interpretado por dois outros atores quando criança e, embora ambas as versões infantis sejam uma graça, é o Jamal adulto que sustenta a história. E que simpatia e carisma Patel esbanja na tela, entregando um personagem que encanta pela determinação e também pela doçura com que enfrenta os reveses. Aliás, todo o elenco, formado por atores indianos desconhecidos para nós, transmite verdade a cada cena. Embora não se possa salientar uma única interpretação de destaque, o elenco como um todo é de uma harmonia rara.


Associada à interessantíssima história, uma trilha sonora esperta e empolgante sublinha com precisão cada cena de impacto. Assim como a montagem precisa e a fotografia perfeita ajudam a emoldurar um cenário que, embora chamativo e exótico, nunca se torna mais interessante do que a trama em si. Não que a Índia não esteja toda na tela, com todas as suas belezas e mazelas. Mas tanto o esplendor do Taj Mahal como a desolação das favelas surgem a serviço da história que está sendo contada e não como um ensaio fotográfico da National Geographic.

O filme também marca a volta por cima do cineasta Danny Boyle, que realizou dois filmaços – Cova Rasa e Trainspotting, que revelaram Ewan McGregor – logo que migrou da TV para o cinema, em 1995, e depois disso nunca fez mais nada digno de nota, oscilando entre o apenas razoável e o constrangedor mesmo. Neste filme, que é puro coração, Boyle se redime de qualquer pecado anterior e se impõe como realizador de um filme terno e feliz. Não no sentido dos personagens não sofrerem e sim no sentido do longa celebrar a vida e o amor, de acreditar na superação de barreiras aparentemente intransponíveis. E nada disso ocorre na tela de modo pseudo-edificante ou careta, mas sim como uma reação espontânea, orgânica. E depois de duas horas, quando chegarem os créditos finais, você, espectador, estará com a alma lavada. Podendo sentir vontade de rir, chorar ou aplaudir. Ou tudo ao mesmo tempo, vivenciando uma bela e verdadeira catarse. Não se espante. É isso que cinema de verdade causa na gente.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Operação Valquíria


Operação Valquíria conta a história dos homens que arquitetaram um intrincado plano para assassinar Hitler e tomar o poder das mãos da SS, deste modo podendo negociar com os aliados e pôr fim à guerra. A trama se inicia quando o coronel alemão Claus von Stauffenberg, ferido em combate, retorna da África para Berlim. De volta ao centro do poder, ele se junta a um grupo de militares de alta patente descontentes com os rumos que a guerra tomou. É o coronel Claus quem descobre a Operação Valquíria, plano secreto que aciona o exército reserva de Hitler em caso de golpe político, e tem a idéia de usar o plano de Hitler contra ele mesmo, manipulando as forças militares de modo que pensem estar defendendo o governo estabelecido. Mas o sucesso do plano depende de um ponto muito importante: é preciso assassinar o ditador antes de tomar o poder.

Como ensina a História, o plano deu errado. E não foi o único, já que antes dele outras pessoas tentaram o mesmo. E fracassaram. Mas o filme não é exatamente sobre Hitler e sim sobre as pessoas que fizeram resistência a ele dentro de seu próprio governo e pagaram caro por sua ousadia. Vale ressaltar que o grupo não era norteado por nenhuma espécie de heroísmo desinteressado, já que a tentativa desesperada de remover o ditador do poder só foi posta em prática em 1944, ou seja, quando já estava evidente que a Alemanha perderia a guerra. O outrora amado führer agora era um empecilho para terminar com uma contenda que já estava perdida. Então, podemos dizer que Stauffenberg e cia. eram apenas homens inteligentes que estavam cansados de lutar por uma causa perdida.

O filme de Bryan Singer faz grande esforço para revestir o protagonista de humanidade, inserindo preocupações com a família e uma ternura em relação aos filhos que parecem ser mais do próprio Tom Cruise do que do personagem. Mas tudo bem, isso não chega a ser um problema. Quem sabe o cara realmente não entrou numa tomada de consciência, ainda que tardia? Tom Cruise, achincalhado por alguns críticos, não faz feio no papel. Seus detratores certamente se basearam mais em seus próprios preconceitos contra o ator do que no que ele demonstra na tela. Sua interpretação é bastante convincente, embora esteja cercado de coadjuvantes de primeiríssimo nível, com destaque para Bill Nighy e Kenneth Branagh.

Operação Valquíria é mais um thriller de espionagem do que um filme de guerra, tanto que a única cena de batalha é logo no começo, quando Stauffenberg é atingido num bombardeio e perde um dos olhos. É uma produção esmerada, bem escrita e bem dirigida. O porquê dela nunca chegar a decolar completamente é um mistério insondável. Estaria o público cansado de filmes sobre o nazismo e a segunda guerra? Pode ser. Ou talvez o filme apenas não impressione tanto por estar estreando em meio aos candidatos ao Oscar que, diga-se de passagem, este ano estão nivelando a disputa por cima. A verdade é que, ao final da projeção, a sensação é a de ter assistido a um filme OK. Nada além disso. Um longa que não errou, mas tampouco causou emoção – a presença de Tom Cruise por aqui causou muito mais sensação do que o filme em si.

De todo modo, Operação Valquíria tem o mérito de contribuir para divulgar esse episódio pouco conhecido da História recente. Vale pela informação, ainda que num longa de ficção.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Sexta-Feira 13


Um ano que tem já no começo não apenas uma, mas duas sextas-feiras 13 (hoje e 13 de março), não poderia ser mais propício para o retorno do psicopata de Crystal Lake. Os jovens campistas que se previnam, porque Jason Voorhees está de volta com sua máscara de hóquei e facão.

O enredo? O de sempre. Um grupo de jovens desavisados (caramba, depois de vinte anos eles ainda não aprenderam que ninguém volta vivo de Cristal Lake?) vai se jogar na toca do lobo. É claro que, dentre eles, há uma mocinha gente boa, o mauricinho arrogante, a garota fútil doida pra transar e os engraçadinhos de plantão que querem faturar mulher mas só conseguem ser trucidados pelo maluco do facão. Junta-se ao grupo Clay (o bonitinho Jared Padalecki, do seriado Supernatural), um rapaz que procura a irmã que desapareceu na região seis meses antes – situação mostrada no prólogo do filme.

Sabe quando você gosta de determinado cantor ou banda, mas não o suficiente para comprar todos os discos de carreira do sujeito? Geralmente, você compra um CD estilo “the best of”. É exatamente esse o espírito do novo Sexta-Feira 13. Embora o longa seja o décimo-segundo da franquia, o roteiro não segue a cronologia anterior – o que, diga-se de passagem, não faz a mínima diferença. O filme é uma coletânea de momentos-chave e releituras de situações vistas nos longas anteriores. Jason pulando do fundo do lago, uma cena com a mãe, uma mocinha que finge ser a mãe... e mortes variadas, de todos os jeitos. Também é mostrado o momento em que Jason troca o saco de estopa na cabeça pela máscara que é sua marca registrada (originalmente, a troca ocorreu no terceiro filme). Fora isso, a garotada continua fazendo tudo que não se deve fazer para sobreviver em um filme de terror: ficam de costas para as janelas, se escondem embaixo de pisos de tábuas e, claro, sempre vão para o meio do mato sozinhos ou em dupla. Jason só precisa esperar as oportunidades. Afinal de contas, o cara é psicopata, mas não é burro.

Então, é isso. Mais um Sexta-Feira 13. Quem viu os outros, pode se divertir com as referências. Quem não viu nenhum, pode ter uma idéia geral apenas com esse filme. Já quem não acha a mínima graça em ver gente sendo estraçalhada e se impressiona com sangue, é melhor passar longe.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Milk


Quando assisti ao longa O Curioso Caso de Benjamin Button, há algumas semanas, estava certa de ter encontrado meu candidato ao Oscar, tamanho meu deslumbramento com o filme-poesia de David Fincher. Certeza que acaba de ser seriamente abalada graças ao carisma de um homem: Sean Penn. Não que Milk seja um veículo para o ator demonstrar o imenso talento que todo o mundo já conhece. Longe disso. Milk tem qualidades próprias, inquestionáveis. Ainda assim, a figura apaixonante de Penn como o libertário Harvey Milk – primeiro americano assumidamente gay a ser eleito para um cargo público – entra desde já para a galeria das grandes interpretações da sétima arte e serve de plataforma para alavancar ainda mais um filme que já seria muito bom por natureza.

Desculpa, Mickey Rourke. Mas fica difícil cogitar outra pessoa para o Oscar depois de ver Sean Penn nesse papel. Ao contrário de Rourke, Penn desconstrói a imagem que costuma ser associada a ele e seus personagens usuais – truculento, machão, carrancudo, mafioso – para entregar uma performance suave e delicada, mas em nenhum momento óbvia. Como é gratificante ver um ator sumir completamente para fazer emergir o personagem. Penn apresenta um Harvey Milk obstinado e provocador, pero sin perder la ternura. E para nós, brasileiros, que não conhecemos o original, essa fica sendo a imagem definitiva. E a boa surpresa é que o mérito interpretativo vai muito além de Sean Penn, já que todo o elenco prima pela excelência. A ponto de parecer injusto que somente Josh Brolin tenha sido indicado ao Oscar de melhor coadjuvante, já que a honraria seria igualmente merecida por Emile Hirsch e James Franco. Apenas Diego Luna parece fora do tom, mas, como trata-se de um personagem real, fica o benefício da dúvida. Talvez o verdadeiro Jack Lira fosse, de fato, aquela drama queen.

A trama começa em 1970. Milk, prestes a completar quarenta anos, ainda era um funcionário burocrata e homossexual enrustido. Depois de se apaixonar pelo jovem Scott, muda-se com ele para as imediações da rua Castro, em São Francisco, onde os dois abrem uma loja de fotografia. Harvey começa se libertar e mudar de atitude depois de ser hostilizado por um comerciante vizinho e logo descobre o poder que os gays poderiam alcançar se “saíssem do armário” e se unissem. E decide não descansar enquanto não conseguir se eleger para um cargo de supervisor em seu distrito (uma espécie de sub-prefeito). Vale lembrar que isso ocorreu em uma época em que a sociedade americana era extremamente conservadora: pessoas perdiam o emprego por serem homossexuais e até eram presas por frequentar bares gays.

Mesclando ao filme imagens de arquivo e também de um documentário realizado sobre o político, a fotografia saturada e envelhecida faz com que a costura fique harmônica diante dos olhos do espectador. Também é bacana a direção de arte, que recria o clima misto de euforia e repressão dos anos 70 – pura nostalgia ver Harvey Milk dançando ao som de You Make me Feel. Por fim, a direção sóbria e segura de Gus Van Sant dá o toque final nesta produção 100% caprichada. O cineasta finalmente deixou um pouco de lado os exercícios de estilo em cima de uma juventude perdida que vinham caracterizando sua filmografia recente para se concentrar em contar uma história. Verdadeira, tocante, engraçada e, sobretudo, adulta. Resultado? Realizou um filmaço.

Milk estréia aqui em 20 de fevereiro, véspera de carnaval e antevéspera do Oscar.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Sandálias da Humildade


- "Tenho uma visão muito realista de mim mesmo. Algumas pessoas acham que é humildade excessiva, ou até mesmo falsa modéstia, quando digo que nunca fiz um grande filme. Quando eu dramatizo minhas observações da vida, dizem que é cinismo. Mas não é nada disso, em nenhum dos casos. Estou dizendo a verdade. Não me vejo como um artista. Eu me vejo como um cineasta trabalhador, que escolheu seguir no rumo de trabalhar o tempo todo em vez de fazer dos meus filmes algum evento especial do tapete vermelho de três em três anos. Não sou cínico, e estou longe de ser um artista. Sou um sortudo viciado em trabalho."

(o gênio Woody Allen e a visão totalmente deturpada que tem da importância de sua obra, em trecho do excelente livro Conversas com Woody Allen, de Eric Lax)

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Quem Quer ser Milionário? ganha mais uma

Na disputa entre O Curioso Caso de Benjamin Button e Quem Quer ser Milionário? pelos Oscars, o cão favelado milionário ganhou mais um round. Acabam de ser anunciados os vencedores do Bafta, o prêmio da academia britânica, e o filme de Danny Boyle abocanhou nada menos que sete estatuetas, deixando apenas três prêmios menores para Benjamin Button.

Outros favoritos incontestáveis para o dia 22 de fevereiro são Heath Ledger como melhor coadjuvante, Kate Winslet como melhor atriz e Wall-E como filme de animação. E a migração de Kate para a categoria principal parece ter favorecido Penélope Cruz, agora a nova favorita na categoria atriz coadjuvante. Já entre os atores, a briga fica entre Mickey Rourke (vencedor do Globo de Ouro e do Bafta) e Sean Penn (vencedor do SAG, o que pesa mais do que os dois prêmios de seu concorrente juntos).

Confiram os vencedores:

Filme – Quem Quer ser Milionário?
Atriz – Kate Winslet (O Leitor)
Ator – Mickey Rourke (O Lutador)
Direção – Danny Boyle (Quem Quer ser Milionário?)
Roteiro Original – Na Mira do Chefe
Roteiro Adaptado – Quem Quer ser Milionário?
Filme em Língua Estrangeira – I've Loved You so Long (França)
Filme de Animação – Wall-E
Ator Coadjuvante – Heath Ledger (Batman – O Cavaleiro das Trevas)
Atriz Coadjuvante – Penélope Cruz (Vicky Cristina Barcelona)
Música – Quem Quer ser Milionário?
Fotografia – Quem Quer ser Milionário?
Edição – Quem Quer ser Milionário?
Direção de Arte – O Curioso Caso de Benjamin Button
Figurino – A Duquesa
Som – Quem Quer ser Milionário?
Efeitos Visuais – O Curioso Caso de Benjamin Button
Maquiagem – O Curioso Caso de Benjamin Button
Curta de Animação – Wallace and Gromit: a Matter of Loaf and Death
Curta (Live Action) - September

(Penélope Cruz em sua chegada, elegante até debaixo de chuva; Kate Winslet comemora a merecida premiação; Danny Boyle confirma o ditado sobre quem ri por último ao sair da festa com sete estatuetas)

sábado, 7 de fevereiro de 2009

O Lutador


Eu nunca simpatizei muito com Mickey Rourke. Acho que ele nunca foi grande coisa como ator e, com o tempo, só piorou. E ainda especializou-se em capitalizar em cima da própria decadência, mantendo um certo orgulho de ser freak. Mas dou a mão à palmatória: restrições à parte, Rourke é o corpo e a alma de O Lutador. Da cara deformada por tanta brutalidade ao físico que oscila entre forte e banhudo, Rourke em cena é o retrato fiel de uma pessoa em fim de carreira – seja ela nos ringues ou na tela. Não é exagero dizer que ninguém faria melhor este papel. O que não quer dizer que eu concorde com sua indicação ao Oscar, muito pelo contrário; o mérito é muito mais de quem escalou o ator do que dele mesmo.

Darren Aronofsky, cineasta de filmes complexos e visualmente ricos como Réquiem para um Sonho e Fonte da Vida, aqui opta pela simplicidade absoluta. Não só pelo fato de ter deixado de lado o apuro estético de suas obras anteriores para mergulhar na breguice do mundo dos lutadores de telecatch, mas também por realizar um bom filme a partir de um fiapo de trama: Randy, “o carneiro”, é um lutador que foi famoso nos anos 80 e ainda mantém alguns fãs e bastante trabalho, apesar de já estar mergulhado na meia-idade. Solitário e decadente, tem nos colegas de ringue sua única família e em uma melancólica stripper seu principal ponto de afeição.

O Lutador não é um filme de surpresas ou reviravoltas. Embora a princípio pareça ser uma espécie de saga edificante ao estilo Rocky, logo o espectador percebe que aqui não valerá a velha fórmula sobre perdedores e segundas chances. Randy está numa curva descendente, não importando muito o quanto ele se esforce para não descer ainda mais. Perceber isso ao longo de toda a projeção e ligar a feiúra e decadência do personagem ao muitos pontos de interseção entre ele e o próprio Rourke é a principal força do filme.

Marisa Tomei, boa atriz que nunca mais acertou na carreira depois de ganhar um Oscar de coadjuvante há quase duas décadas (por Meu Primo Vinny, em 1992), é quem divide a tela com Rourke como a stripper Cassidy. Pode até parecer um dueto de perdedores, mas com a diferença de que Marisa realmente cria uma personagem e se entrega a ela sem inibições. Isso fica evidente em cenas como a que mostra um grupo de rapazes rejeitando-a por ela não ser mais tão jovem. Cassidy é comovente em sua alternância de cansaço com esperança, já que tem um filho e planos de se “aposentar”. E ainda faz um contraste com Randy, que arruinou até mesmo essa possibilidade do apoio familiar. Para completar, uma irreconhecível Evan Rachel Wood morena interpreta a filha com quem Randy tem um relacionamento estremecido e conflituoso.


Outro aspecto interessante é o dos bastidores das lutas, todas armadas e com golpes combinados. Especialmente bacana é a cena em que Randy corta a si mesmo na testa com um pedaço de gilete escondido dentro da munhequeira após um golpe encenado, deste modo levando a multidão ao delírio.

O Lutador é um longa realizado com competência e que extrai o máximo de um argumento simples, que poderia ser resumido em uma linha. Por outro lado, tal história em mãos menos habilidosas poderia ser transformada em um dramalhão apelativo. O corte seco no final deixa claro que a intenção de Aronofsky nunca foi inventar uma solução de última hora e sim questionar até que ponto o sol nasce para todos.

Ah! Uma curiosidade bizarra para a platéia brasileira é a fachada de uma igreja universal que pode ser vista claramente na cena em que Randy e Cassidy conversam em frente a um brechó. Reparem no “pare de sufrir” escrito abaixo do letreiro.

O filme estréia semana que vem, na sexta-feira 13.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Noivas em Guerra


Existem atrizes que começam como uma promessa e se tornam uma decepção; outras não parecem nada de especial a princípio, mas com o tempo e certa dose de dedicação provam seu valor. Kate Hudson se encaixa na primeira categoria: revelada como a groupie Penny Lane do ótimo Quase Famosos, com o passar dos anos virou uma cópia (em aspecto físico e perfil profissional) de sua mãe, Goldie Hawn. Já Anne Hathaway ficou famosa com o sucesso teen O Diário da Princesa, mas seguiu na contramão do que se espera de uma estrelinha adolescente: seja numa comédia como O Diabo Veste Prada ou num drama como Brokeback Mountain, Anne manteve a constante de escolher bons papéis em filmes de bom nível e este ano obteve sua primeira indicação ao Oscar de melhor atriz (por O Casamento de Rachel, que estréia semana que vem). Portanto, não é surpresa que Kate esteja em um filme como Noivas em Guerra; difícil é entender porque Anne está a seu lado.

No filme, Kate é Liv e Anne é Emma. As duas são melhores amigas desde a infância e têm um ideal em comum: casar no mês de junho com uma festa inesquecível no Hotel Plaza de Nova Iorque, sonho alimentado desde que, ainda meninas, assistiram a uma cerimônia lá neste mês. Por uma dessas coincidências que só acontecem em comédias românticas, as amigas são pedidas em casamento quase simultaneamente. Nada poderia ser mais genial, se um erro cometido pela empresa de cerimoniais não tivesse marcado o casamento de ambas para a mesma data. Liv, advogada de sucesso que não está acostumada a ser contrariada, espera que Emma seja flexível e mude sua data. Emma, cansada de estar em segundo plano, quer uma vez na vida ter a preferência. Está declarada a guerra entre as ex-melhores amigas.

O argumento já é uma bobagem, que só se sustenta graças a não uma, mas toda uma série de coincidências e tropeços que atrapalham o caminho das amigas. Toda a trama já parte do absurdo da melhor organizadora de casamentos da cidade cometer um erro dessa magnitude. E o pior é que a tal parece não dar a mínima para o problema causado por sua empresa. Atitude temerária quando se tem como cliente uma advogada, mas tudo bem. Outra estranheza é que o fato de, meses antes, ter três datas disponíveis para o Plaza em junho, e dias depois, ou seja, feita a confusão, a mesma organizadora toda-poderosa dizer que a próxima data vaga em junho seria para dali a três anos.

Esses são apenas pequenos exemplos do nível de insanidade de toda a trama que, mesmo sendo uma comédia, não necessitava partir de pressupostos tão pouco verossímeis. Isso sem contar a facilidade absoluta que as protagonistas têm para sabotar uma à outra. Liv entra numa clínica de bronzeamento artificial onde está Emma e simplesmente vai até a máquina e troca o tubo, alterando a tonalidade do bronzeado da amiga; Emma invade o salão onde Liv está retocando os cabelos e troca sua tinta com a mesma facilidade. O que essas meninas têm, uma capa da invisibilidade?


Kate Hudson compõe Liv com a mesma caricatura de mulher mandona e ambiciosa, metida a sabe-tudo, que tem apresentado em todos os seus papéis recentes. E ela não está sozinha: a veterana Candice Bergen repete praticamente o mesmo papel de Miss Simpatia, ou seja, de perua ícone de bom-gosto e sofisticação. Somente Anne Hathaway consegue dar um pouquinho mais de nuances à sua personagem, uma professora pacata e de índole conciliadora – o que não significa que ela seja uma mosca-morta. Mas assim como uma andorinha só não faz verão, o esforço individual de uma atriz não salva um filme ruim. Não quando o diretor Gary Winick – que também fez o simpático De Repente, 30 – liga o piloto automático e deixa o barco navegar à deriva.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O Leitor


Stephen Daldry foi indicado ao Oscar de melhor diretor em três ocasiões. Até aí, nada demais. Muita gente já concorreu a essa estatueta mais vezes do que ele. O grande diferencial é o fato de Daldry ter dirigido apenas três longas em sua carreira: o simpático Billy Elliot (2000), o emocionalmente devastador As Horas (2002) e, agora, O Leitor. É preciso acrescentar, ainda, que tais indicações são mais do que justas, já que a curta filmografia do cineasta britânico faz grande contraste com a alta qualidade de seus filmes.

Quase todo passado em flashbacks, O Leitor gira em torno de segredos enterrados que assombram um homem por toda sua vida. Aos quinze anos, Michael se apaixonou por uma mulher austera, misteriosa e vinte anos mais velha, Hanna. Com o tempo foi ficando difícil sustentar o relacionamento e um dia, depois de um desentendimento, ela achou por bem sumir e não procurá-lo mais. O que deveria ter sido um romance de verão sem maiores traumas ganhou proporções dramáticas quando, anos mais tarde, Michael reencontra Hanna. Ele é um estudante de direito acompanhando um julgamento de crimes de guerra; ela está no banco dos réus.

Em comum com As Horas, O Leitor tem a preponderância que a literatura tem na vida de seus personagens principais. Uma das características do relacionamento entre Michael e Hanna é o prazer que ela tem em ouvi-lo ler em voz alta para ela, ao mesmo tempo em que a atividade simboliza para ele um modo de ganhar autoconfiança e maturidade. Mais do que uma bela referência, o ritual dos amantes tem um papel muito importante adiante no filme. E a literatura também influi bastante na estrutura do filme, como, por exemplo, quando um professor explica a Michael que toda história parte de um segredo que algum personagem guarda e, por alguma razão nobre ou mesquinha, não quer partilhar. Hanna tem um segredo, Michael logo terá o seu também. As razões de ambos parecem muito mais mesquinhas do que nobres, mas a comovente trama vai aos poucos ensinando ao espectador o quanto é complicado julgar os atos alheios.


O Leitor é uma história onde nada é exatamente o que parece e as cores possuem muito mais matizes cinzentos do que preto e branco. E um dos fatores principais para o ótimo resultado final é ter uma atriz versátil e incrivelmente talentosa como Kate Winslet em um papel cheio de nuances como o de Hanna. Alternando rigidez e doçura, força e fragilidade, paixão e frieza, a atriz arrasa em cena. Uma atuação que não pode ter outro resultado que não seja sua consagração com o Oscar no próximo dia 22. Inclusive um dos motivos que me deixou mais ansiosa para assistir a esse filme foi justamente o fato dela ter sido indicada por esse papel e não por Foi Apenas um Sonho. Confesso que não sei em qual filme ela está melhor, mas talvez a balança tenha pesado mais para esse por conta das diferentes fases da personagem. O personagem Michael é dividido entre Ralph Fiennes na fase adulta e David Kross na adolescência. Fiennes, é claro, dispensa maiores apresentações. A (boa) surpresa é Kross, de apenas 18 anos, que além de ser bom ator também tem boa química com Kate e – mais importante – consegue não se intimidar diante da profunda carga emocional da estrela. Completando o elenco irretocável, Bruno Ganz (o Hitler de A Queda) faz participação de luxo como o professor de direito de Michael.

O Leitor é mais um excelente filme deste comecinho de 2009 abençoado para a sétima arte. Nessa época, devido à corrida para os Oscars, sempre temos a impressão de que o ano que se inicia será repleto de maravilhas cinematográficas. Não é à toa que em dezembro, ao fazer um balanço dos melhores filmes aos quais assisti, sempre reparo que grande parte da lista estreou em janeiro ou fevereiro.

Meu encontro com Tom Cruise


Eu sei que não é exatamente um encontro quando a pessoa em questão está a uns cinco metros e separada de você por uma cordinha de isolamento, mas eu não podia perder a chance de usar esse título. A real é que eu estive ontem no Copacana Palace, na coletiva de imprensa que Tom Cruise concedeu à imprensa brasileira. O ator veio ao Rio de Janeiro para promover seu novo longa, Operação Valquíria, e conversou durante quarenta minutos com repórteres que vieram de todos os cantos do país.

Depois de posar para fotógrafos, Tom adentrou a sala pontualmente às duas da tarde e falou durante quarenta minutos. O assunto principal foi o novo filme – em que ele interpreta um alto oficial nazista que comanda um ousado plano para assassinar Hitler –, mas também houve espaço para suas impressões a respeito da cidade, brincadeiras e até mesmo um inusitado momento de tietagem explícita. Depois de ser anunciado por um porta-voz da Fox, o moço do sorriso bonito entrou na sala acompanhado de um tradutor e iniciou a conversa agradecendo o carinho que todos os brasileiros têm demonstrado por sua filha Suri. Aliás, um assunto recorrente em seu discurso era a preocupação com as crianças, o público infantil e o exemplo dado a elas. Coisas de sua fase pai de família.

Respondendo a uma das perguntas iniciais, Tom destacou a afinidade com o diretor Bryan Singer e afirmou que, neste filme, toda a equipe estava unida no sentido de suscitar não só o interesse do público, mas também de buscar um resultado diferente e inesperado. O ator afirmou mais de uma vez seu amor pelo que faz e garantiu que se empenha para sempre entregar o melhor possível de si. Sobre seus personagens preferidos, disse considerar cada personagem que faz como o personagem da sua vida. Mas confessou ter um carinho especial por seus trabalhos em Top Gun (por gostar de voar) e O Último Samurai (devido ao intenso treinamento em artes marciais e estudo da cultura japonesa). Em Operação Valquíria, longa produzido por ele, Tom diz ter realizado um antigo sonho:

“Sempre admirei clássicos de ação, como A Grande Escapada, e queria fazer um filme moderno, mas que tivesse essa visão clássica, de filme de época. O filme não é um documentário, é claro, mas nós queríamos fazer um thriller e ao mesmo tempo passar esse espírito da resistência alemã e eu acho que o roteirista (o oscarizado Christopher McQuarrie, de Os Suspeitos) foi muito meticuloso nesse sentido.”

Tom declarou, ainda, que costuma trabalhar sempre respeitando bastante os roteiros e que, mesmo quando cria algo, isso acontece como um processo natural a partir do que está escrito no roteiro. Suas declarações também sempre evidenciavam certa preocupação em ressaltar o filme como um trabalho de toda a equipe. Sobre as dificuldades criadas pelo governo alemão para autorizar a filmagem em algumas localidades históricas, o astro minimizou os problemas e elogiou a boa acolhida que recebeu tanto do povo alemão quanto dos órgãos oficiais. Disse que vem lidando com controvérsias ao longo dos seus vinte e cinco anos de carreira e que as capas de revistas costumam aumentar contratempos de pequena importância, o que teria se tornado especialmente incontrolável com a rapidez da internet. E, parecendo considerar o disse-me-disse como efeito colateral de seu trabalho, concluiu: “Eu vivo sob um microscópio, as pessoas querem saber”.

Sobre seu personagem em Operação Valquíria, o ator se mostrou especialmente empolgado com o fato de interpretar um personagem histórico. Segundo ele, um herói bem diferente dos que está acostumado a interpretar. Também contou que não conhecia a trama antes de se envolver no projeto e que acha que o filme é um bom modo de divulgar a história das pessoas que fizeram resistência a Hitler dentro de seu próprio governo. E concluiu confessando o quanto o personagem lhe trouxe de realização pessoal:

“Desde criança eu odeio nazistas. Quer dizer, acho que todo mundo odeia Hitler. E eu tive a satisfação pessoal de quase matá-lo em um filme. Eu sempre me interessei por História e um filme como esse traz a possibilidade olhar para esses fatos através dos olhos de outra pessoa.”

O clima ficou ainda mais descontraído quando um jornalista perguntou a Tom se, durante o período de produção do longa, ele algumas vezes se comportou com o diretor Bryan Singer da mesma forma que seu personagem em Trovão Tropical, um chefão de estúdio insensível e casca-grossa. O ator deu boas risadas e garantiu que, como produtor, não se parece nada com tal personagem. A essa altura, o astro começou a brincar com a ansiedade dos repórteres para tentar fazer uma pergunta (muitas mãos levantadas para poucos microfones): “As pessoas estão acenando ali. Está tudo bem ou tem alguma coisa pegando fogo?”. Foi quando um jornalista que finalmente conseguiu fazer uso do disputado microfone aproveitou para, após uma longa introdução sobre seu sobrinho que seria fã da série Missão Impossível, se aventurar a pedir: “Eu prometi a ele que ia tirar uma foto com o Ethan Hunt. Posso?”. A concordância do ator empolgou uma moça na primeira fila a pegar carona na interrupção, para desespero do segurança que a seguia dizendo “senhora, volte para o seu lugar”.

É, minha gente. Não se pode subestimar o poder de sedução de um astro de primeira grandeza, mesmo num ambiente onde apenas profissionais da imprensa estavam presentes. O encontro encerrou-se, como não podia deixar de ser, com uma pergunta sobre as impressões de Tom sobre o Brasil e a possibilidade futura de filmar aqui. O ator não economizou nas gentilezas:

“Claro, sem dúvida nenhuma. Aqui tudo é lindo: a música, as pessoas, as paisagens belíssimas. E eu adoraria voltar para filmar aqui.”

Então está combinado, Tom. Até a próxima.

Tom posa para fotos antes da coletiva

Eu na sala de conferências (maldito flash que sempre me faz piscar)

Criativo vendedor ambulante que achou um modo de faturar com a estadia de Tom Cruise