domingo, 29 de janeiro de 2012

Vencedores dos SAG Awards


O Screen Actors Guild, o sindicato americano dos atores, acaba de anunciar seus vencedores nesta madrugada. Os primeiros prêmios mantiveram toda a previsibilidade, premiando nas categorias coadjuvantes os franco-favoritos Octavia Spencer e Christopher Plummer. Também dentre os prêmios televisivos reinava a mais absoluta falta de emoção, com estatuetas indo para séries e atores acostumados a recebê-las. Linda exceção para mais uma vitória de Jessica Lange por American Horror Story, seriado novo que anda dando bastante o que falar. Mas eis que, já na reta final, ocorre o inesperado: na briga entre Glenn Close e Meryl Streep, dá Viola Davis; o favorito e estimado George Clooney vê seu prêmio ir para as mãos do francês Jean Dujardin; e, por fim, Histórias Cruzadas leva o de melhor elenco (estatueta que muitos consideram um “melhor filme” disfarçado). Agora ficou mais complicado de prever os Oscars. Confiram abaixo os vencedores:

Cinema:
Elenco – Histórias Cruzadas
Ator – Jean Dujardin (O Artista)
Atriz – Viola Davis (Histórias Cruzadas)
Ator Coadjuvante – Christopher Plummer (Beginners)
Atriz Coadjuvante – Octavia Spencer (Histórias Cruzadas)

TV:
Elenco em Série Dramática – Boardwalk Empire
Elenco em Série Cômica – Modern Family
Ator em Série Dramática – Steve Buscemi (Boardwalk Empire)
Atriz em Série Dramática – Jessica Lange (American Horror Story)
Ator em Série Cômica – Alec Baldwin (30 Rock)
Atriz em Série Cômica – Betty White (Hot in Cleveland)
Ator em Minissérie ou Filme para a TV – Paul Giamatti (Too Big to Fail)
Atriz em Minissérie ou Filme para a TV – Kate Winslet (Mildred Pierce)

Prêmios Especiais:
Elenco de Dublês em Cinema – Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2
Elenco de Dublês em TV – Game of Thrones

Os Descendentes


Como é lindo quando a excelência cinematográfica vem da (aparente) simplicidade! Os Descendentes é um filme calcado sobre três pilares fundamentais: roteiro bem escrito, atores bem escalados e direção competente. Alguns perguntarão “só isso?”. Bom, eu realmente não acho que isso seja pouca coisa, daí ter falado em aparente simplicidade, mas estamos ficando tão viciados em adrenalina, efeitos digitais, turning points espetaculares, edição estonteante e desfechos mirabolantes que há sim essa tendência a esquecer a velha noção de que o menos pode ser mais. E, no caso deste ótimo filme de Alexander Payne, o menos é muito mais.

Payne, 50 anos, americano de raízes gregas, é um cineasta de poucas e acertadas escolhas. Dentre elas, podemos destacar sua surpreendente visão sobre como a competitividade extremada dos americanos tem suas origens lá no ensino médio (Eleição, 1999) ou uma etílica viagem pelos vinhedos da Califórnia empreendida por dois amigos que não poderiam ser mais diferentes entre si (Sideways, 2004) – este último lhe rendeu a primeira indicação a melhor direção e a estatueta de melhor roteiro original. Com Os Descendentes, Payne prova mais uma vez ser um cineasta que sabe contar uma história apaixonante a partir de um argumento prosaico. Seus filmes, assim como seus protagonistas, são sempre mais ricos e interessantes do que aparentam.   

George Clooney é Matt King, milionário havaiano que se sente subitamente perdido a partir do momento em que sua esposa sofre um acidente de barco e entra em coma. Não bastasse o desespero de ter a mulher naquela situação, Matt, de uma hora para outra, ainda se vê como o único responsável pelas filhas, de 17 e 10 anos, duas meninas cheias de personalidade que não parecem nada dispostas a facilitar as coisas para ele. Paralelamente, a questão da venda de um terreno da família traz até ele uma penca de primos cheios de perguntas parecidas e exigências contidas nas saudações cordiais. Em um período de poucos dias, Matt terá um choque de realidade ao ser confrontado com questões que estavam rondando sua família há meses sem que ele se desse conta.


É muito interessante que esse drama familiar se passe no paradisíaco Havaí e tenha um milionário como protagonista. Como Matt diz em off logo no começo do filme, as pessoas acham que não se trabalha no Havaí ou, pior, que o sofrimento de quem mora lá é menor pelo simples fato de habitar em um local onde os outros passam férias. E o que Payne habilmente mostra neste filme é que a amplidão de uma bela praia ou uma alameda ladeada de coqueiros esvoaçantes pode soar tão opressiva ou angustiante quanto paredes de concreto cinzento. E é justamente esse o tom de Os Descendentes, que evita as imagens óbvias, os clichês habituais. É um filme sem antagonistas (podemos até considerar que Matt tem atrás de si um coro grego de primos, mas não exatamente um antagonista), onde a descoberta do que realmente se quer ou precisa está diante dos olhos de quem ousar enxergar.

George Clooney apresenta aqui mais uma belíssima atuação, totalmente despojado de qualquer resquício do Clooney charmoso e irresistível da vida real. Não dá para entender a resistência que muitos ainda tem contra seu trabalho como ator, considerando que ele vem dando provas de que está a serviço do personagem e não de sua persona pública desde E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? Só posso concluir que a culpa seja dos seus filmes mais comerciais, como os da franquia Onze Homens e um Segredo, que provavelmente tem mais divulgação do que os trabalhos realmente importantes, como Tudo Pelo Poder, Amor Sem Escalas, Syriana ou Boa Noite e Boa Sorte, só para citar alguns títulos. Mas seria injusto creditar os louros do bom desempenho apenas a Clooney, já que ele é muito bem coadjuvado pelas jovens Shailene Woodley (indicada ao Globo de Ouro) e Amara Miller, que interpretam as suas filhas Alexandra e Scottie na trama, e também pelo divertido Nick Krause, o amigo abobalhado de Alexandra.


Os Descendentes venceu dois Golden Globes (melhor filme drama e melhor ator) e concorre a cinco Oscars: filme, direção, ator, edição e roteiro adaptado. Deve levar pelo menos o prêmio do Clooney. Fica difícil avaliar se isso seria injusto, porque ainda não foi possível conferir O Artista e A Invenção de Hugo Cabret, seus principais concorrentes, mas o que se pode afirmar com certeza é que se trata, desde já, de um dos grandes filmes de 2012. Ótima maneira de começar um novo ano.

Hazanavicious vence prêmio do sindicato


Michel Hazanavicious parece cada vez mais perto do Oscar. O cineasta francês venceu ontem o DGA – Director’s Guild Awards –, a premiação do sindicato dos diretores, honraria que dá ainda mais força não somente à sua candidatura na categoria direção, mas ao filme O Artista como um todo. Na categoria documentário, o contemplado foi James Marsh, cujo filme, Project Nim, foi um dos esnobados pela Academia. Dentre as séries de TV, os premiados foram Jon Cassar (The Kennedys), Patty Jenkins (The Killing) e Robert B. Weide (Curb Your Enthusiasm).

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret sai na frente, com 11 indicações ao Oscar


Foi na manhã de hoje (quase tarde, pelo horário brasileiro) que a Academia finalmente anunciou seus indicados à 84ª edição do Oscar. Este ano, a escolhida para auxiliar o presidente da entidade, Tom Sherak, foi a atriz Jennifer Lawrence, indicada ano passado na categoria de Melhor Atriz (Inverno da Alma). Em termos de quantidade, quem sai na frente é A Invenção de Hugo Cabret, do veterano Martin Scorsese (11 indicações), mas o filme-sensação do ano, o francês O Artista, segue em sua cola com 10, apenas uma a menos.

Enquanto as categorias atriz e atriz coadjuvante ficaram dentro do estritamente esperado, a ala masculina revelou algumas surpresas, sendo a mais inesperada delas a não-indicação de Michael Fassbender por Shame – teria a temática polêmica do filme realmente atrapalhado?

Outra categoria que apresentou surpresa foi a de longa de animação, que deixou de fora o vencedor do Globo de Ouro, As Aventuras de Tintim, em detrimento de um candidato fraco como Kung Fu Panda 2 ou até mesmo o pouco visto Um Gato em Paris, deixando o caminho livre para Gato de Botas ou Rango. Surpresa, ainda, foi a inclusão do cult Tão Longe e Tão Perto para melhor filme – a notícia arrancou, inclusive, manifestações de aprovação durante o anúncio oficial. Também é bom ver o excelente A Separação indicado para melhor roteiro original, embora esse prêmio já esteja praticamente nas mãos de Woody Allen e seu Meia-Noite em Paris.

Confiram abaixo todos os indicados. Os vencedores serão conhecidos no dia 26 de fevereiro.

Filme
O Artista
Os Descendentes
Tão Forte e Tão Perto
Histórias Cruzadas
Meia-Noite em Paris
A Invenção de Hugo Cabret
O Homem Que Mudou o Jogo
A Árvore da Vida
Cavalo de Guerra

Direção
Michel Hazanavicius (O Artista)
Alexander Payne (os Descendentes)
Martin Scorsese (A Invenção de Hugo Cabret)
Woody Allen (Meia-Noite em Paris)
Terrence Malick (A Árvore da Vida)

Ator
Demián Bichir (A Better Life)
George Clooney (Os Descendentes)
Jean Dujardin (O Artista)
Gary Oldman (O Espião Que Sabia Demais)
Brad Pitt (O Homem Que Mudou o Jogo)

Atriz
Glenn Close (Albert Nobbs)
Viola Davis (Histórias Cruzadas)
Rooney Mara (Os Homens Que Não Amavam as Mulheres)
Meryl Streep (A Dama de Ferro)
Michelle Williams (Sete Dias com Marylin)

Ator Coadjuvante
Kenneth Branagh (Sete Dias com Marylin)
Jonah Hill (O Homem Que Mudou o Jogo)
Nick Nolte (Guerreiro)
Christopher Plummer (Toda Forma de Amor)
Max Von Sydow (Tão Forte e Tão Perto)

Atriz Coadjuvante
Bérénice Bejo (O Artista)
Jessica Chastain (Histórias Cruzadas)
Melissa McCarthy (Missão: Madrinha de Casamento)
Janet McTeer (Albert Nobbs)
Octavia Spencer (Histórias Cruzadas)

Longa de Animação
Um Gato em Paris
Chico & Rita
Kung Fu Panda 2
Gato de Botas
Rango

Roteiro Adaptado
Os Descendentes
A Invenção de Hugo Cabret
Tudo Pelo Poder
O Homem Que Mudou o Jogo
O Espião Que Sabia Demais

Roteiro Original
O Artista
Missão: Madrinha de Casamento
Margin Call
Meia-Noite em Paris
A Separação

Direção de Arte
O Artista
Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2
A Invenção de Hugo Cabret
Meia-Noite em Paris
Cavalo de Guerra

Fotografia
O Artista
Os Homens Que Não Amavam as Mulheres
A Invenção de Hugo Cabret
A Árvore da Vida
Cavalo de Guerra

Figurino
Anonymous
O Artista
A Invenção de Hugo Cabret
Jane Eyre
W.E.

Filme em Língua Estrangeira
Bullhead (Bélgica)
Footnote (Israel)
In Darkness (Polônia)
Monsieur Lazhar (Canadá)
A Separação (Irã)

Edição
O Artista
Os Descendentes
Os Homens Que Não Amavam as Mulheres
A Invenção de Hugo Cabret
O Homem Que Mudou o Jogo

Maquiagem
Albert Nobbs
Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2
A Dama de Ferro

Edição de Som
Drive
Os Homens Que Não Amavam as Mulheres
A Invenção de Hugo Cabret
Transformers: O Lado Oculto da Lua
Cavalo de Guerra

Mixagem de Som
Os Homens Que Não Amavam as Mulheres
A Invenção de Hugo Cabret
O Homem Que Mudou o Jogo
Transformers: O Lado Oculto da Lua
Cavalo de Guerra

Efeitos Visuais
Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2
A Invenção de Hugo Cabret
Gigantes de Aço
Planeta dos Macacos: A Origem
Transformers: O Lado Oculto da Lua

Trilha Sonora
As Aventuras de Tintim
O Artista
A Invenção de Hugo Cabret
O Espião Que Sabia Demais
Cavalo de Guerra

Canção Original
Man or Muppet (The Muppets)
Real in Rio (Rio)

Curta de Animação
Dimanche
The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore
La Luna
A Morning Stroll
Wild Life

Curta-Metragem (Live Action)
Pentecost
Raju
The Shore
Time Freak
Tuba Atlantic

Documentário Longa-Metragem
Hell and Back Again
If a Tree Falls: A Story of the Earth Liberation Front
Paradise Lost 3: Purgatory
Pina
Undefeated

Documentário Curta-Metragem
The Barber of Birmingham: Foot Soldier of the Civil Rights Movement
God is the Bigger Elvis
Incidente in New Baghdad
Saving Face
The Tsunami and the Cherry Blossom

sábado, 21 de janeiro de 2012

Os Homens Que Não Amavam as Mulheres (2012)


Uma coisa que me incomoda no atual cinema americano é que poucos filmes são, de fato, originais. E foi-se o tempo em que somente a literatura servia de fonte: hoje em dia proliferam adaptações de quadrinhos, videogames, musicais da Broadway, enfim, qualquer coisa que soe rentável. Outro manancial constante vem do cinema europeu. Basta um filme fazer relativo sucesso para Hollywood imediatamente se dispor a produzir um remake, que, salvo raras exceções, acaba sendo idêntico ao longa original, com a única diferença de ser falado em inglês.

Os Homens Que Não Amavam as Mulheres é o primeiro episódio da trilogia Millenium, estrondoso sucesso editorial do autor sueco Stieg Larsson que já havia sido adaptado para o cinema em três ótimas produções suecas há meros dois anos, sendo que apenas o primeiro filme chegou às telas brasileiras. Agora é a vez do badalado David Fincher refazer o que já foi bem-feito da primeira vez. E o público americano, célebre por sua rejeição às legendas, comprará o novo produto como novidade – mesmo caso de outro filme sueco recente, Deixe-me Entrar. Claro que quem não leu e não viu os antecessores vai adorar este, o que é um mérito mais da eletrizante história e dos ótimos personagens do que de quaisquer inovações introduzidas por Fincher – que, diga-se de passagem, foram poucas, tímidas e não muito felizes.


Esta primeira parte da história aproxima os dois protagonistas da trama: Mikael Blomkvist e Lisbeth Salander. Ele é um jornalista investigativo incorruptível e ousado, editor da conceituada revista Millenium, que vive uma fase complicada em sua vida depois que denunciou um caso de corrupção e não pode provar suas acusações, tendo sido processado e perdido muito dinheiro e prestígio perante a opinião pública. Ela é uma hacker de atitude agressiva e com problemas de socialização, tutelada pelo Estado e tida como deficiente mental, embora seja inteligentíssima. Quando um poderoso empresário propõe a Mikael que investigue o desaparecimento de sua sobrinha, ocorrido quarenta anos antes, ele e Lisbeth acabam por topar com a ponta de um iceberg e começam a destrinchar uma trama macabra envolvendo uma das famílias mais prestigiadas do país.

Pois bem. Fincher andou alardeando na mídia que teria feito sensíveis alterações em relação ao produto original, talvez em uma tentativa de justificar uma adaptação realizada tão pouco tempo depois do original. Bobagem. Foram feitas algumas mudanças em relação à explicação para o mistério investigado por Mikael e Lisbeth sim, mas, no final das contas, nada que alterasse tão profundamente os rumos da trama. O que ocorreu foi que o cineasta, mesmo tendo realizado um bom filme no geral, mexeu logo onde não deveria: na abordagem da personagem Lisbeth Salander. Lisbeth é um dos maiores personagens femininos de todos os tempos, justamente por ser tão duro, ríspido, antissocial, indigesto, desagradável mesmo. Essência que foi captada à perfeição por Noomi Rapace no longa original e bastante suavizada neste novo filme. Rooney Mara atua bem, mas sua interpretação com nuances doces transforma a personagem em algo quase romântico, deixando toda a esquisitice e fúria de Lisbeth restrita a uma questão de caracterização e figurino. Quase dá vontade de pegar no colo aquela menina desamparada.


O filme é, ainda, um pouco mais explicadinho do que seria necessário. Claro que parte do público certamente vai preferir esta nova versão e até considerá-la mais bem “amarrada”, mas é inevitável a sensação de que Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, em sua versão americana, tenha se tornado um produto mais asséptico e bem-comportado. Mesmo tendo mantido as cenas de violência intactas, o novo filme peca ao trair a essência de seu personagem mais fascinante. Se é um bom filme? Sim, é um blockbuster de respeito, mas o que se questiona aqui não é sua qualidade e sim a validade dele ter sido feito.

Agora resta aguardar para ver o que acontecerá com o restante da trilogia, já que David Fincher, Daniel Craig e Rooney Mara assinaram contato para os três longas da série. Por enquanto, a Suécia está levando a melhor. 

Próxima sexta, dia 27, nos cinemas.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Românticos Anônimos


O cinema francês, quando resolve ser fofo, é muito fofo mesmo. Caso desta simpaticíssima comédia romântica sobre dois chocólatras absurdamente tímidos que devem superar fantasmas internos e obstáculos puramente imaginários para conseguirem o impensável: se relacionar.

Angélique tem tanto pavor de gente que, mesmo sendo uma exímia chocolateira, só consegue exercer seu ofício escondida por trás da figura de um tal eremita anônimo. A moça até frequenta um grupo de ajuda, os emotivos anônimos do título original (Les Émotifs Anonymes), mas continua sendo um desastre diante de qualquer possibilidade mais concreta de contato pessoal. Jean-René se faz de patrão durão para os poucos empregados de sua pequena fábrica de chocolates, mas basta entrar em seu escritório e baixar as persianas para desabar na cadeira e suar frio. Ele frequenta um analista e anda sempre com uma valise com camisas sobressalentes para trocar a cada suadouro de tensão.

Quando ela vai trabalhar para ele, a aproximação desses dois seres tão parecidos e, portanto, tão inacessíveis um para o outro se estabelece nas bases do “não posso viver com e sem você” e o espectador, encantado, torce pelos adoráveis e doces esquisitões. O filme é de uma delicadeza tamanha, enriquecido pelo carisma e pelas interpretações na medida certa de Isabelle Carré e Benoît Poelvoorde. Vale muito a pena conferir!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Breu


Breu. Uma única palavra e tantos significados para um espetáculo. Ao entrar no Teatro III do Centro Cultural Banco do Brasil, o espectador se sente intimidado e, ao mesmo tempo, acarinhado pela penumbra familiar de uma cozinha. Uma geladeira, um fogão, uma mesa, utensílios diversos. Ao começar o espetáculo, partimos da leve penumbra para o breu propriamente dito. Uma mulher fala no escuro. Sensação de curiosidade e angústia. A luz chega, ainda que tímida, com a entrada da outra personagem. Percebemos que a primeira é cega, mas esse é somente um dos sentidos – o mais literal – da escuridão que domina a sua vida. Naquela cozinha, naquela noite, as duas mulheres se estudarão em um jogo de segredos, desconfianças e revelações.

O espetáculo, que estreou na noite de ontem no Rio e fica em cartaz até março, vem de uma temporada de sucesso no CCBB de Brasília. A dramaturgia se desenrola a partir de um texto original de Pedro Brício, que é simplesmente um dos autores mais interessantes do teatro brasileiro atual, com uma maturidade dramatúrgica que contrasta sensivelmente com a sua ainda pouca idade. Depois de surpreender com textos mais efusivos e divertidos como A Incrível Confeitaria do Senhor Pellica e Cine-Teatro Limite, Brício agora investe em uma trama mais árida, tensa, cheia de silêncios e elipses.

No cenário extremamente realista, as personagens cozinham, lavam a louça, abrem janelas. O cheio do molho de cachorro-quente que preparam chega até nossas narinas. A brisa do ventilador pode alcançar espectadores dentro de determinado raio. O toque estridente do telefone faz sobressaltar a plateia inteira. Ou seja, somos envolvidos por nossos sentidos enquanto Kelzy Ecard e Andréia Horta se estudam através do grande tabuleiro que é o espaço cênico, medindo cada palavra, gesto, pergunta. Primeiro parece que Carmen, personagem de Kelzy, domina a situação; depois, aos poucos, percebemos quanta fragilidade se esconde por trás do seu jeito despachado. Também percebemos que Aurora está longe de ser a mocinha ingênua e insegura que nos parecera a princípio. Seriam todas as teorias de Carmen meras neuroses, transferidas para o público?


Existe mais breu em cena do que a deficiência física de Carmen. É a escuridão da alma, dos pesadelos, a cegueira política de um país inteiro mergulhado em trevas. Breu é um espetáculo estudado, medido, tenso. Na cenografia precisa, na direção enxuta, no embate calmo – porém feroz – entre as duas atrizes em cena. Não é exatamente um espetáculo fácil, digerível. Mas, conforme dizia o mestre Nelson Rodrigues, “qualquer peça autêntica é um julgamento brutal”. É preciso destacar, ainda, o impressionante domínio do espaço cênico demonstrado por ambas as atrizes, que planam com desenvoltura entre obstáculos físicos e emocionais para nos entregar uma atuação de tirar o fôlego.

A dica? Se puderem, sentem-se em uma das cadeiras disponíveis dentro de cena. A sensação de intimidade é incomparável.

Breu. Texto: Pedro Brício. Direção: Maria Silvia Siqueira Campos e Miwa Yanagizawa. Com Andréia Horta e Kelzy Ecard. De quarta a domingo, às 19h30, no Teatro III do CCBB. Ingressos a R$ 6,00. Até 11/03/2012.


Fotos: Paula Huven

A Separação chega aos cinemas amanhã


Agora é sério. O maravilhoso A Separação, que vem ganhando todos os prêmios relativos a filme estrangeiro e deve levar o Oscar também, finalmente chega às salas de cinema do Brasil. O filme já foi comentado por ocasião do Festival do Rio, sendo, inclusive, eleito pelo A&S o melhor visto durante o evento. Para ler sobre este incrível longa iraniano, basta clicar no seu título.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O Artista lidera indicações ao BAFTA


Eis que mais uma lista de indicados foi divulgada, desta vez a dos prêmios BAFTA (British Academy Film Awards), e O Artista sai na frente com nada menos do que 12 indicações, seguido de muito perto pela espionagem à moda antiga de O Espião Que Sabia Demais, com 11. No mais, chama a atenção que pela primeira vez Drive apareça com força em uma lista de indicados - apenas 4, mas incluindo melhor filme e direção. Os vencedores do BAFTA serão conhecidos no dia 12 de fevereiro. Confiram abaixo todos os concorrentes:

Filme
O Artista
Os Descendentes
Drive
Histórias Cruzadas
O Espião Que Sabia Demais

Filme Britânico
Sete Dias com Marilyn
Senna
Shame
O Espião Que Sabia Demais
Precisamos Falar Sobre o Kevin

Filme Estrangeiro
Incêndios
Pina
Potiche - A Esposa Troféu
A Separação
A Pele Que Habito

Direção
Michel Hazanavicius (O Artista)
Nicolas Winding Refn (Drive)
Martin Scorsese (A Invenção de Hugo Cabret)
Tomas Alfredson (O Espião Que Sabia Demais)
Lynne Ramsay (Precisamos Falar Sobre o Kevin)

Ator
Brad Pitt (O Homem Que Mudou o Jogo)
Gary Oldman (O Espião Que Sabia Demais)
George Clooney (Os Descendentes)
Jean Dujardin (O Artista)
Michael Fassbender (Shame)

Atriz
Bérénice Bejo (O Artista)
Meryl Streep (A Dama de Ferro)
Michelle Williams (Sete Dias com Marilyn)
Tilda Swinton (Precisamos Falar Sobre o Kevin)
Viola Davis (Histórias Cruzadas)

Ator Coadjuvante
Christopher Plummer (Toda Forma de Amor)
Jim Broadbent (A Dama de Ferro)
Jonah Hill (O Homem Que Mudou o Jogo)
Kenneth Branagh (Sete Dias com Marilyn)
Philip Seymour Hoffman (Tudo Pelo Poder)

Atriz Coadjuvante
Carey Mulligan (Drive)
Jessica Chastain (Histórias Cruzadas)
Judi Dench (Sete Dias com Marilyn)
Melissa McCarthy (Missão Madrinha de Casamento)
Octavia Spencer (Histórias Cruzadas)

Roteiro Original
O Artista
Missão Madrinha de Casamento
O Guarda
A Dama de Ferro
Meia-Noite em Paris

Roteiro Adaptado
Os Descendentes
Histórias Cruzadas
Tudo Pelo Poder
O Homem Que Mudou o Jogo
O Espião Que Sabia Demais

Fotografia
O Artista
Os Homens Que Não Amavam as Mulheres
A Invenção de Hugo Cabret
O Espião Que Sabia Demais
Cavalo de Guerra

Montagem
O Artista
Drive
A Invenção de Hugo Cabret
Senna
O Espião Que Sabia Demais

Direção de Arte
O Artista
Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2
A Invenção de Hugo Cabret
O Espião Que Sabia Demais
Cavalo de Guerra

Maquiagem
O Artista
Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2
A Invenção de Hugo Cabret
A Dama de Ferro
Sete Dias com Marilyn

Figurino
O Artista
A Invenção de Hugo Cabret
Jane Eyre
Sete Dias com Marilyn
O Espião Que Sabia Demais

Efeitos Especiais
As Aventuras de Tinti
Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2
A Invenção de Hugo Cabret
Planeta dos Macacos: A Origem
X-Men: Primeira Classe

Documentário
George Harrison: Living in the Material World
Project Nim
Senna

Som
O Artista
Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2
A Invenção de Hugo Cabret
O Espião Que Sabia Demais
Cavalo de Guerra

Trilha Sonora
O Artista
Os Homens Que Não Amavam as Mulheres
A Invenção de Hugo Cabret
O Espião Que Sabia Demais

Filme de Animação
As Aventuras Tintin
Operação Presente
Rango