quarta-feira, 18 de março de 2015

Mapas para as Estrelas


Não é de hoje que David Cronenberg gosta de explorar personagens limítrofes. E que melhor cenário para promover um freak showdo que o delirante universo das estrelas hollywoodianas? O roteiro multiplot de Mapas para as Estrelas gravita em torno de uma fauna de personagens com os mais variados distúrbios, tais como: Havana, atriz obcecada em atuar no remake do filme que a mãe fez antes de morrer; Benjie, ex-astro mirim e adolescente problemático em fase pós-reabilitação; Sanford, pai de Benji que fez fortuna como guru da TV e dos famosos; Agatha, jovem cheia de queimaduras e misteriosos propósitos, suposta amiga virtual de Carrie Fisher. O filme, que foi exibido em Cannes (Julianne Moore foi premiada melhor atriz) e no Festival do Rio do ano passado, finalmente ganha as telas brasileiras. 

Mapas para as Estrelas é uma metralhadora incansável de referências, piadas e sarcasmo. Os diálogos são afiadíssimos e o espectador tem que estar atento para não deixar escapar nenhuma das tantas menções a astros da vida real, já que a zoação em cima dos famosos é um dos aspectos mais divertidos do longa. O longa não deixa espaço para o meio-termo: a meca do cinema vista pelas lentes de Cronenberg é feroz e implacável, retratada através de um exagero intencional. O filme não quer mostrar o outro lado da moeda e sim focar no que há de mais doentio, superficial e bizarro por trás dos contratos milionários, das festas badaladas e de todo o jogo de aparências de pessoas que vendem mais do que uma imagem – pela visão do filme, a própria alma.


Com uma estrutura de roteiro onde todos os atores têm oportunidade de brilhar, o elenco responde à altura. Julianne Moore atua em dois níveis, como a Havana que ela mostra ao mundo e aquela que realmente é. Também Mia Wasikowska chama atenção com sua Agatha cheia de estranhezas físicas e, principalmente, emocionais. Mas o grande destaque do filme é o adolescente Evan Bird. Egresso da TV, Evan rouba a cena como o egocêntrico e perturbado Benjie. Destaque para a cena da sua reunião com os executivos do estúdio.

Esse é um dos filmes que devem ser priorizados na grade do cinéfilo, mesmo porque provavelmente não deve durar muito em nosso circuito comercial.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Blind


Exibido nos Festivais de Sundance, Berlim e do Rio, chega aos nossos cinemas em circuito reduzidíssimo este belo e intrigante longa norueguês. Blind ultrapassa as barreiras de seu sugestivo título e cria um leque de sensações que acaba por envolver o próprio espectador. 

Depois que a visão lhe abandonou, Ingrid reluta em sair de casa e passa os dias a tomar chá diante de uma janela através da qual não pode ver mais nada. Ela desenvolve, ainda, a incômoda impressão de que o marido volta para casa silenciosamente para observá-la. Já Einar tem problemas afetivos e não consegue se aproximar do sexo oposto, o que faz com que ele consuma pornografia compulsivamente e desenvolva fantasias secretas com mulheres que vê pelas ruas.  Elin deixou suas raízes e amigos na Suécia por conta de um amor e agora que a relação terminou, leva uma vida solitária e triste em Oslo. O que estes dois personagens teriam em comum com Ingrid, além da solidão?

O filme parece a princípio se resumir a um (bom) drama existencial, porém não tarda a apresentar novas e inesperadas camadas. O roteiro esperto coloca em evidência a percepção que cada um tem da realidade através de um hábil jogo de verdadeiro ou falso, que se torna sempre mais intenso conforme avança a projeção. Vale destacar, ainda, a estética do filme e como sua luminosa fotografia destaca a atriz Ellen Dorrit Petersen, mais uma vez trazendo o espectador para dentro da trama ao colocá-lo em uma posição de voyeurismo.