quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Invictus


Escrito em 1875 pelo britânico William Ernest Henley, o belo poema que dá título ao novo longa de Clint Eastwood tem um fecho bastante afirmativo: “eu sou o mestre do meu destino, eu sou o capitão da minha alma". Mas Invictus, o poema, não é citado no filme gratuitamente: além de cair como uma luva como forma de incentivo para a trama relatada, era um dos textos favoritos de Nelson Mandela durante os 27 anos que este passou recluso na penitenciária de Robben Island. Entre um dia e outro de trabalhos forçados, Mandela buscava forças nas inspiradoras palavras de Henley. Pelo menos é isso que nos conta Invictus, o filme.

O longa é ambientado em 1995, quando Mandela, recém-eleito, patinava para diminuir o abismo de ressentimentos entre a minoria branca que acabara de deixar o poder e a maioria negra que, após anos de apartheid e humilhações, estava sedenta em mostrar aos brancos quem mandava no país agora. Acreditando ser capaz de unificar a população por meio do esporte, Mandela aproveita o fato do país estar sediando a copa mundial de rúgbi e inicia uma maciça campanha de apoio ao desacreditado time da África do Sul. Como o esporte é considerado “de branco”, a população negra costuma torcer contra a própria seleção. Para mudar esse panorama e iniciar seu sonho de construir uma nação integrada, Mandela une forças com François Pienaar, o capitão da equipe.

Invictus não é exatamente um filme sobre Nelson Mandela, e muito menos sobre rúgbi. É um filme sobre a redenção e a grandeza, assim como o foram seus dois últimos filmes, Menina de Ouro e Gran Torino – cito estes como seus trabalhos mais recentes de caso pensado, já que não considero A Troca um legítimo Eastwood. E tampouco se trata da grandeza de Mandela como líder e sua política de conciliar ao invés de revidar, mas daquele outro tipo de grandeza presente em todo ser humano, capaz de realizar proezas impossíveis caso receba o estímulo correto. Como diz Freeman/Mandela numa cena, “este país tem sede de grandeza”. E aqueles jogadores descobrem que já não lhes basta a torcida de uma minoria. Eles precisam do amor do país inteiro, mesmo que tenham passado anos ignorando a existência de grande parte dessa população.


Morgan Freeman, que dizem ter sido escolhido pelo próprio Mandela para representá-lo na tela, cria diante de nossos olhos a ilusão de simplesmente transformar-se no retratado. Das indefectíveis camisas estampadas ao modo de andar, Freeman é todo Mandela. Matt Damon também tem bom desempenho, embora seu personagem tenha função coadjuvante. Completam o elenco alguns rostos desconhecidos por aqui, mas que transmitem grande expressividade. Destacam-se Adjoa Andoh e Patrick Lyster, como, respectivamente, a firme e eficiente secretária de Mandela e o mega preconceituoso pai de François.

Outro aspecto em comum que este filme tem com os citados Menina de Ouro e Gran Torino é que a trama começa mais sóbria, contida, até mesmo sarcástica, e vai aos poucos envolvendo o espectador numa grande catarse emocional. Do Mandela político e visionário que quer usar um campeonato esportivo como forma de união nacional à divertida camaradagem que brota entre seus seguranças negros e brancos, o filme descaradamente leva o espectador a acreditar na utopia da boa convivência entre todas as cores da chamada “nação arco-íris” proposta pelo líder sul-africano.

Mas seria Invictus um filme-cabeça sobre integração racial, aceitação, grandeza e outros sentimentos nobres? Sim, isso também. Mas nem por isso deixa de ser um filme empolgante e cheio de adrenalina nas cenas esportivas. A ponto de deixar todos no escurinho do cinema torcendo por um time de rúgbi, ou seja, vibrando por uma partida de um esporte do qual nem gostamos e cujas regras nem entendemos direito. Mais ou menos como um personagem que diz odiar rúgbi e, ao longo da partida, se rende à emoção dela. Clint Eastwood, do alto dos seus quase oitenta anos, mostra como é que se dirige boas cenas de ação, ao colocar cada espectador dentro de campo com François e seu time. Resumindo: é mais um filmaço do último grande caubói americano. Assim o velho Clint acostuma a gente mal.

Amanhã nos cinemas.

Zumbilândia


Os filmes de zumbi são todos meio parecidos, certo? E a explicação para as pessoas começarem a devorar umas às outras na maioria das vezes não faz lá muito sentido, confere? De olho nessas grandes verdades universais, o novato Ruben Fleischer, já em seu primeiro longa-metragem, mergulha na estética gore dos filmes de zumbi tradicionais para criar situações pra lá de engraçadas, sem nenhum pudor em tirar partido da escatologia e do politicamente incorreto.

E uma das melhores coisas no “terrir” Zumbilândia é justamente o filme não perder muito tempo explicando porquês nem mostrando o início do caos. Logo na primeira cena conhecemos Columbus, um cara meio covarde que talvez seja o último ser humano não-contaminado no que ele mesmo chama de Zumbilândia. Columbus pode até ser um medroso, mas tem se mantido a salvo graças a uma série de regras que estabeleceu para garantir a própria sobrevivência, como se manter em bom condicionamento físico e sempre atirar duas vezes no zumbi que o persegue, mesmo quando este parece morto.

Mas Columbus não está sozinho no mundo. O primeiro a cruzar seu caminho é Tallahassee, caubói machão e casca-grossa que adora matar monstros a pauladas e está seriamente comprometido em encontrar o último Twinkie (bolinho estilo Ana Maria) da face da Terra. Mais adiante se juntam à dupla Wichita e Little Rock, duas garotas nada frágeis que também têm métodos inusitados para garantir a sobrevivência (na verdade, o nome dos personagens são apenas apelidos de acordo com os nomes das cidades ou estados de onde vieram).


O elenco foi bem escolhido, com Woody Harrelson no seu tipo habitual de caubói truculento (uma piadinha metalinguística?) e o simpático Jesse Eisenberg como o sujeito que não tem vergonha em preferir ser um covarde vivo a um herói morto. De quebra, a sempre carismática Abigail “Pequena Miss Sunshine” Breslin. Apenas Emma Stone parece não ter muito a acrescentar além de ser bonita, mas tampouco atrapalha – afinal de contas, todo filme de terror, ou terrir, precisa de um gatinha.

O filme é muito engraçado e avacalha o filme de zumbi seguindo as próprias regras do gênero. Como ponto alto, claro, destaca-se a participação-surpresa de um famoso ator americano. Muito acertadamente, o nome dele não aparece nas peças publicitárias do filme, e é uma pena que algumas pessoas estejam revelando quem é em seus comentários, porque o mais engraçado é justamente quando ele surge do nada e protagoniza os momentos mais hilários de um filme que já é engraçado por natureza. Outro destaque é quando a trupe chega a Hollywood e se depara, dentre outras coisas, com um zumbi caracterizado como Charles Chaplin.

Resumindo, Zumbilândia é para divertir sem preconceitos. Estréia amanhã.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Nine


Rob Marshall deve ser eternamente grato a Baz Luhrmann. Afinal de contas, foi graças ao cineasta australiano que Marshall teve seu filme Chicago coroado de glórias no Oscar 2002. Tudo porque a Academia adora se desculpar, ainda que indiretamente. No ano anterior, o fantástico Moulin Rouge havia conseguido a façanha quase impossível de revitalizar o gênero musical. Pena que depois de conquistar o mundo, o filme de Luhrmann tenha fracassado no teste derradeiro e perdido o Oscar de melhor filme para o insosso Uma Mente Brilhante. O público não gostou, e no ano seguinte o pedido de desculpas veio com a premiação de Chicago – que, embora seja um bom filme, está vários degraus abaixo de Moulin Rouge.

A maior conseqüência disso foi que Rob Marshall passou a se considerar um diretor de peso e, três anos depois, realizou o pretensioso (e bem fraquinho) Memórias de uma Gueixa. Agora, foi a vez de mexer com o clássico Fellini 8 ½ e a coisa ficou esquisita. Eu nem acho que este Nine seja “zero”, conforme classificou a crítica americana, mas o sentimento de decepção é inevitável. É bem verdade que Nine, o espetáculo da Broadway, foi bastante elogiado em sua ambiciosa transposição para os palcos do universo lírico do longa mais autobiográfico de Fellini. Mas creio que um dos motivos para que a peça tenha sido bem-sucedida deve ter sido justamente o fato de se destinar a um meio diferente da obra original. Trazê-la de volta para a telona foi um erro, já que apenas gera comparações com 8 ½, nas quais o filme de Rob Marshall sai perdendo.

A trama gravita em torno do cineasta italiano Guido Contini, um homem em crise profissional e pessoal. Guido sente-se pressionado pela imprensa, ávida por criticá-lo, mas também por sua própria equipe, já que ele não consegue escrever uma linha sequer do roteiro de sua próxima produção e as filmagens estão previstas para começar dentro de poucos dias. Mais do que tudo, Guido está dividido entre sentimentos conflitantes pelas mulheres que estão à sua volta: Luisa, a dedicada esposa; Carla, a amante temperamental; Claudia, a exigente estrela de seus filmes; Lilli, a amiga e colega de trabalho; além da lembrança da mãe e de outras presenças femininas que marcaram sua vida.

A primeira coisa a desanimar em Nine é a qualidade duvidosa das músicas, que parecem sempre engessadas e repetitivas. Está certo que o próprio Chicago já não empolgava muito pelas canções, mas pelo menos as letras eram mais inteligentes e contribuíam para a narração da história. Já as de Nine não passam de umas bobagens exaltando a sedução e charme dos italianos. E isso faz com os números musicais não alcancem o efeito desejado – pelo menos, nesta versão para o cinema. Uma pena, porque os figurinos de Colleen Atwood são bacanas, a direção de arte é interessante e os números são bem coreografados.


A seu favor, Nine tem as interpretações afinadas de Daniel Day-Lewis e Marion Cotillard. Day-Lewis deu cabo da estranha tarefa de se transformar em italiano, embora lhe falte o tempero latino de um Mastroianni. Mas é Marion quem realmente brilha como a esposa resignada que abandonou a carreira em prol do marido egocêntrico e, anos depois, se pergunta se terá valido a pena. Sua atuação é, de fato, luminosa e merecedora de todos os elogios. Já as estrelas Penélope Cruz e Nicole Kidman, apesar de estarem deslumbrantes em cena, de certa forma decepcionam. Culpa, talvez, da abordagem rasa que a trama faz de suas personagens.

O resultado final é uma produção com qualidades e deficiências em igual quantidade. Longe de merecer um Nine, o filme está mais para Five. No máximo, Six. Estreia nesta sexta.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

SAG's


Os Screen Actors Guild Awards - ou SAG's - concedidos pelo sindicato dos atores de Hollywood e entregues no último sábado, endossam as escolhas do Globo de Ouro: Jeff Bridges, Sandra Bullock, Christoph Waltz, Mo'nique. No setor televisivo, tudo se repete com exceção de Tina Fey ter levado o prêmio que no Globo de Ouro foi de Toni Collette. De resto, tudo idêntico.

Mas uma única e grande discordância marcou as escolhas dos atores: o prêmio "melhor elenco" (melhor filme disfarçado, já que o SAG só pode premiar interpretações) foi para Bastardos Inglórios. Isso significaria uma reação do filme de Tarantino diante do arrasa-quarteirão Avatar?

Vamos esperar o dia 7 de março para o tira-teima definitivo: o Oscar.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Amor Sem Escalas


Jason Reitman tem apenas 32 anos e três longas na sua filmografia, além de alguns curtas e dois trabalhos para a TV. Mas o breve currículo não traduz o (merecido) prestígio que o jovem cineasta alcançou em poucos anos. Seu longa de estreia foi o ácido e inteligente Obrigado por Fumar, seguido pelo despretensioso e doce Juno. Este último, além de ter dado à roteirista Diablo Cody o Oscar de melhor roteiro original, levou Jason um patamar acima com sua primeira indicação ao Oscar de melhor diretor. Seus três filmes tem alguns pontos em comum, como os diálogos extremamente bem-escritos e o olhar sarcástico – mas não desprovido de sentimento – sobre as relações humanas contemporâneas.

Amor Sem Escalas não é um bom título para Up in the Air (“nas alturas”, numa tradução aproximada) por sugerir uma comédia romântica tradicional. E este filme está muito mais para uma comédia existencial do que romântica. A história é centrada em Ryan Bingham, um cara cujo trabalho é viajar pelo país despedindo funcionários de empresas em crise e – pior – tentando convencê-los de que a dispensa é a melhor coisa que poderia ter lhes acontecido. Ryan adora o fato de viver praticamente o ano inteiro em hotéis, aviões e aeroportos. Sua vida cabe numa valise e seus bens mais preciosos são os diversos cartões de fidelidade de empresas aéreas, hotéis e locadoras de automóveis, das quais é sempre membro especial – não precisar entrar nas filas de check-in lhe dá uma tola sensação de poder. Sua ambição maior é atingir a meta de 10 milhões de milhas voadas e obter um cartão de platina que só foi dado a seis pessoas antes dele. Em suas próprias palavras, mais gente já pisou na Lua.

Mas o mundo ideal de Ryan ameaça ruir quando seu chefe começa a dar ouvidos aos projetos de Natalie, uma nova e ambiciosa funcionária que acha que é mais produtivo e barato que o trabalho de Ryan seja feito via webcam. Ou seja: ele não precisaria mais viajar e poderia fazer tudo da própria sede da empresa. Ryan se desespera diante da aterrorizante perspectiva de ter um lar permanente e, para provar que sua função necessita do contato pessoal, obriga Natalie a acompanhá-lo na viagem seguinte. O homem que vive de dizer às pessoas que elas não são mais necessárias de repente se sente, ele próprio, obsoleto. Ao mesmo tempo, Alex, uma charmosa executiva que leva a mesma vida nômade que Ryan, começa a balançar suas convicções a respeito das vantagens da solidão e da independência.


De carona no mote da crise econômica e das demissões em massa, o filme nos apresenta um personagem que tem um trabalho nada estimulante, mas que lhe permite viver em permanente estado de suspensão. Sem raízes, vínculos afetivos ou nem mesmo algo que possa ser considerado de fato uma residência, Ryan é feroz adepto da satisfação instantânea e da rotina descartável e provavelmente poderia ter passado o resto da vida nessa letargia se não fosse confrontado com duas mulheres especiais: Alex, que mexe com seu coração, e Natalie, que mexe com seus valores. Há dois momentos que deixam particularmente evidente a redoma que Ryan criou a seu redor: um é quando ele diz que no ano anterior passou 322 dias viajando contra 43 dias de tédio em sua casa, e outro quando ele reencontra as duas irmãs e não consegue articular nada interessante para dizer a elas.

O elenco está muito bem, justificando as indicações que recebeu ao Globo de Ouro. George Clooney, nosso Cary Grant da atualidade, pode até estar sempre fazendo o tipo habitual, mas o faz com uma dose de sarcasmo e auto-ironia que torna impossível resistir a seu charme. Destaque para a cena em que Ryan ouve Natalie dizendo ao namorado por telefone que não tem interesse nele porque ele é velho. A elegante Vera Farmiga empresta muita sinceridade e interessantes nuances à sua misteriosa personagem. E Anna Kendrick, descoberta em Crepúsculo, é uma grata surpresa, com sua espontaneidade e inesperada veia cômica. Também é bom ficar de olho nas ótimas participações-relâmpago de J.K. Simmons e Zach Galifianakis (o cunhado doidão de Se Beber, Não Case!). São do tipo se piscar, já era.

Assim como ocorre em Juno, tem um momento perto do desfecho em que o espectador é levado a pensar que o filme – tão crítico até então – vai derrapar na pieguice e colocar tudo a perder. E, exatamente como em Juno, tudo não passa de uma pequena provocação, que apenas pretende mostrar que a vida não é tão simétrica como nos querem fazer crer as fórmulas viciadas das comédias românticas. Amor Sem Escalas é um filme verdadeiro, engraçado, por vezes cruel, com personagens que não são heróis nem vilões, apenas pessoas tentando administrar o caos e a decepção em suas vidas. Portanto, ele não propõe soluções mágicas, nenhuma guinada de 180º e muito menos nos empurra goela abaixo o happy end imbecil – apenas o possível. É um filme que não tem exatamente um grande momento e sim um somatório perfeito de partes, onde roteiro, direção e interpretações funcionam a contento e conquistam a simpatia e empatia do espectador sem que ele se dê conta disso. Enfim, um pequeno grande filme. Estreia nesta sexta.

Pré-Lista de Filmes Estrangeiros


Foi divulgada ontem a pré-lista dos nove filmes estrangeiros que seguem brigando por uma das cinco vagas no Oscar 2010. São eles:

A Fita Branca (Alemanha)
O Segredo dos Seus Olhos (Argentina)
Samson & Delilah (Austrália)
The World is Big and Salvation Lurks Around the Corner (Bulgária)
Kelin (Cazaquistão)
O Profeta (França)
Winter in Wartime (Holanda)
Ajami (Israel)
A Teta Assustada (Peru)

Uma coisa que chama a atenção é a inclusão de dois filmes sul-americanos, A Teta Assustada e O Segredo dos Seus Olhos. E eu particularmente torço entusiasticamente por este segundo, apesar do favoritismo de A Fita Branca. Também estranha-se a ausência do italiano Baaria, que era considerado forte candidato. Os finalistas serão conhecidos no dia 2 de fevereiro, quando será divulgada a lista completa de indicados, e os vencedores, no dia 7 de março.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Globo de Ouro 2010


Numa cerimônia marcada pela pulverização (nenhuma produção levou mais de duas estatuetas), o 67º Globo de Ouro privilegiou mesmo a empreitada de James Cameron, já que Avatar foi eleito melhor filme em drama (categoria que sempre tem maior peso), além do próprio Cameron ter saído da festa como melhor diretor. Já dentre os concorrentes a melhor comédia / musical, a premiação do fraquinho Se Beber, Não Case! deixou muita gente boquiaberta. Tudo bem que a seleção deste ano não continha nada de realmente espetacular, mas 500 Dias com Ela é muito mais bem-resolvido. Outra surpresa foi o queridinho dos críticos americanos, Guerra ao Terror, sair de mãos abanando, assim como o musical Nine.

Robert Downey Jr. converteu em prêmio a única indicação de Sherlock Holmes (embora classificar o longa como comédia tenha sido meio forçado), enquanto Jeff Bridges pavimenta seu caminho rumo ao Oscar. Qual dos dois levará a melhor em março? Meryl Streep derrotou a si mesma e venceu por Julie & Julia, enquanto Sandra Bullock parecia não acreditar em sua premiação na outra categoria. Nenhuma surpresa foi o fantástico Christoph Waltz faturar melhor ator coadjuvante, feito que deve se repetir no Oscar e acabou sendo o prêmio de consolação para Bastardos Inglórios. Da mesma forma, Amor sem Escalas, do sempre competente Jason Reitman, ficou apenas o Globo de Ouro de melhor roteiro.

Dentre as atrações televisivas, o seriado musical Glee confirmou o favoritismo, enquanto o prêmio para a categoria drama ficou com Mad Men. E Dexter pontuou com duas estatuetas (melhor ator e melhor ator coadjuvante), mesmo número que Grey Gardens (melhor minissérie ou telefilme e melhor atriz). Feio mesmo foi ver Jessica Lange aplaudindo de cara amarrada (ou seria efeito do botox?) a colega de elenco Drew Barrymore, que a derrotou na mesma categoria. Ainda mais considerando a simpatia de Drew, vencedora do prêmio pela primeira vez.

Confiram abaixo a relação completa dos vencedores!

Cinema

Filme (drama) – Avatar
Filme (comédia / musical) - Se Beber, Não Case!
Direção - James Cameron (Avatar)
Ator (drama) – Jeff Bridges (Crazy Heart)
Atriz (drama) – Sandra Bullock (The Blind Side)
Ator (comédia / musical) - Robert Downey Jr. (Sherlock Holmes)
Atriz (comédia / musical) - Meryl Streep (Julie & Julia)
Ator Coadjuvante - Christoph Waltz (Bastardos Inglórios)
Atriz Coadjuvante - Mo'Nique (Preciosa)
Longa de Animação - Up - Altas Aventuras
Filme Estrangeiro - A Fita Branca (Alemanha)
Roteiro - Amor sem Escalas
Canção Original - The Weary Kind (Crazy Heart)
Trilha Sonora - Up - Altas Aventuras

TV

Série (drama) – Mad Men
Série (comédia / musical) - Glee
Ator (comédia / musical) - Alec Baldwin (30 Rock)
Atriz (comédia / musical) - Toni Collette (United States of Tara)
Ator (drama) – Michael C. Hall (Dexter)
Atriz (drama) – Julianna Margulies (The Good Wife)
Ator Coadjuvante - John Lithgow (Dexter)
Atriz Coadjuvante - Chloë Sevigny (Big Love)
Minissérie ou telefilme - Grey Gardens
Ator em minissérie ou telefilme - Kevin Bacon (Taking Chance)
Atriz em minissérie ou telefilme - Drew Barrymore (Grey Gardens)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Onde Vivem os Monstros


É meio complicado resenhar Onde Vivem os Monstros. O filme, baseado no livro homônimo de Maurice Sendak, Where the Wild Things Are (no original), é totalmente concebido sob a ótica de um mundo visto pelas retinas de uma criança, embora esteja longe de ser um filme destinado a elas. Contraditório, não?

A figura central do filme e de acordo com a qual ele se molda é Max, um garoto de uns 10 anos, possuidor de uma imaginação bastante fértil. Para ele, um simples buraco na neve é um iglu e as histórias infantis e contos de fadas fazem todo sentido. Por isso, certas atitudes normais para os adultos desencadeiam nele reações desproporcionais, como acontece quando um amigo da mãe aparece para jantar. Sentindo-se invadido em seu reino, Max reage de forma rebelde e descontrolada. Ao ser repreendido, sai sem rumo e acaba aportando em uma floresta habitada por seres gigantes, selvagens e peludos. Lá, travessuras infantis tem força de Lei, e Max é o rei.

Interessante notar que todos os monstrinhos, de uma forma ou outra, simbolizam diferentes facetas da personalidade e dos desejos do próprio Max, o que transforma a terra dos monstros numa egotrip muito doida. Spike Jonze confere um acertado tom onírico ao filme, embora este seja assumidamente um trabalho de alcance mais modesto do que longas essenciais como Quero Ser John Malkovich e Adaptação.

Um trunfo inquestionável é o entrosamento do elenco. Ao lado do excelente garoto Max Records, atores tão diversos quanto James Gandolfini, Paul Dano, Catherine O'Hara, Forest Whitaker, Michael Berry Jr., Chris Cooper e Lauren Ambrose dão vida às criaturas bizarras que povoam a imaginação de Max. E o mais legal é sentir que cada um deles realmente entregou-se à viagem de Spike Jonze sem parar para pensar o quanto é esquisito o universo de seus não menos esquisitos personagens.

Talvez resida aí o grande impasse do filme: afinal de contas, a que público ele se destina? É uma fábula adulta demais para os pequenos e um tanto ingênua para os adultos. No meu caso, confesso que achei diferente, ousado, bem sacado em diversos aspectos, enfim, um passatempo surpreendente, mas que não chegou a me conquistar incondicionalmente. Volto a dizer: é um filme complicado de analisar. Não amei. Gostei. Só não sei definir muito bem os aspectos que me encantaram ou desencantaram nele. Estreia amanhã. Vale conferir e tirar suas proprias conclusões.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Ah! O Amor...


Com o ótimo título original “Ex” e a justificativa feita por um dos personagens “cedo ou tarde, vocês acabarão sendo ex de alguém”, esta terna e divertida comédia italiana aposta na identificação coletiva, ao colocar na tela uma pá de situações com as quais todo espectador certamente está familiarizado – se não por experiência própria, pelo menos como testemunha. Com uma estrutura similar à de Simplesmente Amor, mas com uma abordagem mais irônica, Ah! O Amor... encanta pela leveza e simplicidade e ainda aproveita para provocar os apaixonados, ao por em dúvida a durabilidade das juras de amor eterno.

O filme parece começar pelo fim, ao mostrar logo de cara diversos casais se beijando e declarando seu amor. Mas o que acontece depois do “felizes para sempre”? Após a legenda Molti bacci dopo (muitos beijos depois), reencontramos nossos personagens: Filippo e Caterina estão se divorciando e brigam no tribunal para “não ficar” com a guarda dos filhos; o juiz do caso é Luca, que, por sua vez, está se divorciando de Loredana e se aloja no apartamento do filho solteiro, louco para recuperar a juventude perdida; a outra filha do casal, Giulia, vive feliz em Paris com o namorado Marc até que recebe uma promoção que a levará para a Nova Zelândia; Sergio, amigo de Luca, é confrontado com a falta de intimidade com as filhas adolescentes quando sua ex morre tragicamente; Elisa está para se casar com Corrado, quando descobre que seu antigo amor, Lorenzo, é o padre que irá celebrar a cerimônia; Paolo está apaixonado por Monique, mas teme aparecer com ela em público por causa de um ex violento da amada que não aceita o rompimento.


Uma visão carinhosa e bem exata do patético do ser humano, que se apaixona perdidamente e depois maldiz o objeto outrora amado quando passam os efeitos inebriantes de paixão. Com um elenco simpático (destaque para o charmoso Flavio Insinna como o padre sem nenhuma vocação para o ofício) e uma série de conflitos inerentes à crise ou ao fim de um relacionamento, o longa de Fausto Brizzi desperta no mais sisudo espectador um sorriso de compreensão, ao se reconhecer em pelo menos algumas das muitas agruras ali retratadas. Até a cena final – que não é exatamente um desfecho –, algumas relações terão superado a crise, outras terão se rompido definitivamente e até novas parcerias terão se formado (ou reformado, sei lá). Curiosamente, um único casal se mantém firme em seu amor ao longo de toda a projeção. O que não quer dizer para o resto da vida, já que o filme apenas faz um recorte e segue a linha do “infinito enquanto dure”.

É intenso, vibrante, por vezes exagerado, cheio de personagens que fazem besteira, sofrem sem motivo, se torturam com neuroses, querem o inatingível, magoam quem amam, fazem loucuras, amam, odeiam e depois amam de novo. É humano. É muito legal. Para ver, se identificar e ficar com a pulga atrás da orelha da próxima vez que ouvir um “te amarei para sempre”. Ou não. Caso contrário, qual seria a graça? Estreia nesta sexta.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Big Will no Universo Adolescente


É, no mínimo, curioso que hoje em dia William Shakespeare seja reverenciado como autor erudito e “difícil”, já que suas peças teatrais foram fortemente calcadas em raízes populares. Suas comédias celebram o amor, as festas, a amizade, a beleza, a Natureza, enfim, a alegria de viver. Suas tragédias exalam fúria, vingança, ciúme, inveja. Ou seja, sentimentos que habitam ou algum dia já habitaram o peito de cada ser humano. Outra característica inovadora foi o destaque dado por Shakespeare às personagens femininas, que antes dele não tinham características como sarcasmo e inteligência – e um excelente exemplo dessa força feminina é Catarina, a personagem-título de A Megera Domada.

A comédia romântica 10 Coisas Que Eu Odeio em Você prova o quanto o maior dramaturgo inglês continua acessível quase 400 anos depois de sua morte, ao levar a história da donzela geniosa com quem ninguém queria se casar para o universo da high school americana, transpondo as situações e personagens básicos com bastante competência. A Catarina do filme, interpretada por Julia Stiles, é uma garota anti-social e feminista que odeia fazer o que as pessoas esperam que ela faça. Já sua irmã Bianca é o protótipo da patricinha fútil e cai na conversa de qualquer galanteador. O pai das garotas bola uma maneira eficaz de manter os rapazes longe da filha mais jovem: estabelece que Bianca só poderá ter um namorado se Kat arrumar um primeiro.

Os problemas do Sr. Stratford parecem estar resolvidos, já que nenhum garoto da escola se dispõe a domar a fera. Cameron, apaixonado por Bianca, arquiteta com seu amigo Michael um plano original: pagar ao mais temido badboy da escola, Patrick (Heath Ledger em seu primeiro filme americano), para sair com Kat. Como eles não têm dinheiro, resolvem incluir na jogada Joey, outro admirador de Bianca. A idéia é que Joey fiancie a operação e Cameron se beneficie secretamente dela.


Mais do que uma releitura de A Megera Domada, o filme é impregnado de referências ao universo shakesperiano. A começar pelo sobrenome das meninas (Stratford, menção à cidade natal do dramaturgo) e de Patrick (Verona, cenário de Romeu e Julieta), sem contar que a cidade onde se passa originalmente o embate entre Catarina e Petrucchio, Pádua, neste filme vira a Padua High School. Também os poemas do bardo são citados pelo professor de literatura, o que culmina na bela cena que dá significado ao título do filme. Existe, ainda, uma personagem que é fã do autor e tem fotos dele em seu armário. Querem prova maior de que Big Will realmente é pop?

O filme, com seu roteiro redondinho e elenco simpático, prova que um produto para adolescentes não necessariamente tem que ofender a inteligência do público adulto. O curioso é que o diretor Gil Junger, que tem uma carreira bem extensa na TV, poucas vezes tenha se aventurado na telona depois disso – e nunca mais com sucesso. O grande momento, a cena inesquecível? Sem dúvida, é Heath Ledger (novinho, em começo de carreira) invadindo o campo de futebol e fazendo mil peripécias para cantar Can't Take My Eyes Off You para Julia Stiles. Uma delícia. Confiram a cena no YouTube:

domingo, 10 de janeiro de 2010

Audrey e George no topo


Se alguém me perguntasse antes da viagem quais os grandes ícones do cinema italiano, eu não pensaria duas vezes antes de responder Marcello Mastroiani e Sophia Loren. Bom... não para os italianos. Eles não parecem ter olhos para outra diva que não seja Audrey Hepburn. A eterna bonequinha de luxo está espalhada pelas lojas de todas as formas imagináveis, em imãs, estampas de bolsas, calendários, fotos, camisetas... e por aí vai, numa proporção que deixa no chinelo qualquer astro nativo. Talvez tenha a ver com o filme A Princesa e o Plebeu (no original, Roman Holiday), que celebrizou Audrey e Gregory Peck em conjunto com várias paisagens romanas. Na lojinha da igreja onde está localizada a Bocca della Verità, por exemplo, há um mostruário inteiro de imãs com cenas do filme. Mas nem todos os souvernirs dizem respeito a este longa em particular. O fato é que a atriz é, sem dúvida, a estrela número um por lá.

Trazendo a questão para a atualidade, outra pessoa que eles parecem adorar é o George Clooney. Basta dar uma espiada nos programas televisivos, onde o bonitão é via de regra citado de forma reverente e sua vida amorosa é sempre motivo de especulação. Pude até ver o ator/diretor fazendo uma divertida propaganda de máquina de café.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Cecil Bem Demente


Cecil Bem Demente, do irreverente John Waters, é um filme bastante curioso e não muito visto que vale a pena pescar nas prateleiras das locadoras. O longa conta a saga de um grupo de cinéfilos lunáticos que, liderados pelo auto-intitulado Cecil B Demented, decidem lançar-se num projeto ousado: seqüestrar Honey Whitlock, a maior perua de Hollywood, e obrigá-la a participar de seu filme terrorista. Honey (Melanie Griffith, como uma paródia dela mesma) está na cidade de Baltimore para a première de seu mais recente filme quando é levada pela gangue para um cinema abandonado e submetida a uma espécie de reeducação cultural por uma galera que está disposta a morrer para fazer um filme.

O filme em questão se chama Beleza em Fúria e nele Honey interpretaria uma dona de cinema de arte que, com ajuda de seu namorado e sua filha, começa uma revolução para destruir o cinema comercial – o filme dentro do filme também espelha a visão anarquista de Cecil. Os colegas de cena de Honey são Cherish, estrela pornô, e Lyle, um viciado em drogas. A princípio, a perua atua sob a mira de um revólver ou à base de choques elétricos mas, aos poucos, entra no espírito da trupe. Cecil a “motiva” mostrando vídeos de críticos de cinema arrasando com ela. Vale lembrar que Beleza em Fúria não é o único filme dentro do filme, existem várias cenas dentro de cinemas. Numa delas, Cecil comanda a destruição de um cinema que exibe Patch Adams, filme que ele considera lixo. Em outra, a equipe é perseguida e se esconde em um cinema pornô que passa um filme de Cherish. É quando a moça faz o apelo: “Fãs do pornô. Sou eu, Cherish! Preciso da ajuda de vocês!” e o bando de tarados assume a defesa da equipe. Assim, eles vão conquistando como admiradores os pervertidos, os rebeldes e os desajustados, ao mesmo tempo em que atraem o ódio da sociedade convencional.

Cecil Bem Demente mostra toda a irreverência de John Waters. A começar pelo título, referência debochada ao lendário Cecil B. de Mille, cineasta de clássicos como Cleópatra e Os Dez Mandamentos. Dizem, ainda, que um crítico de cinema certa vez chamou Waters de Cecil B. Demented e ele, ao invés de se ofender, achou tão engraçado que resolveu usar o nome para batizar seu filme. Também podemos perceber inúmeras citações. Numa das últimas cenas, Honey diz: “Sr. Demented, estou pronta para o meu close-up.”, parafraseando a famosa fala final de Norma Desmond em Crepúsculo dos Deuses. Outra mensagem de amor à sétima arte está nas tatuagens que os membros da equipe ostentam, cada um com o nome de um ícone do cinema gravado na pele.

Sobre o elenco, vale destacar algumas coisinhas. Melanie Griffith, quem diria, está ótima no papel. Talvez a qualidade do desempenho tenha a ver com estar interpretando uma personagem parecidíssima com a imagem de perua deslumbrada que se tem dela – ou será que ela não percebeu isso? Stephen Dorff, que tem uma filmografia bem extensa sem nada de relevante nela, teve no papel de Cecil B Demented sua melhor oportunidade até hoje. Maggie Gyllenhaal, desconhecida na época, interpreta uma satanista meiga que não espera a hora de terminar o filme para transar, já que Cecil prega canalizar todas as energias para o trabalho, filosofia resumida no slogan “castidade pelo celulóide”. Ao contrário de Dorff, a carreira de Maggie deslanchou pra valer a partir desse filme.

Cecil Bem Demente é, sobretudo, uma comédia sobre liberdade de expressão e um apelo à criatividade. Sem contar que o personagem do cineasta poderia ser uma versão extremista do próprio Waters, conhecido por suas opiniões pouco convencionais e sua estética underground. É certo que podemos perceber nessa fita uma defesa do cinema de autor, dos pequenos filmes massacrados pela indústria Hollywoodiana. Um filme tresloucado, mas com uma mensagem que convida à reflexão.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Dinheiro X Travelers


Ainda dentro da série "diário de viagem", uma dica que pode ser útil para quem está para se aventurar no exterior: verifiquem bem a aceitabilidade dos Travelers Cheques no local de destino de vocês porque, no meu caso, foi uma tremenda roubada. Ninguém na Itália os aceita, eles são praticamente uma piada por lá. O que eu achei estranho é que amigos que estão acostumados a viajar me recomendaram a suposta segurança dos Travelers. Não rolou. E olha que eu tentei em todo tipo de estabelecimento comercial e a resposta era sempre a mesma "ninguém mais trabalha com Travelers Cheques aqui". E como os tais locais conveniados da American Express são raros (só descobri em Roma uma agência que funciona em horário bancário), o resultado foi que tive que procurar casas de câmbio e perdi 4% do montante em taxas. E olha que essa foi a melhor taxa que consegui, algumas outras queriam cobrar 7, 8 ou até 10%.

Outra lenda urbana que não procede é aquela de que trocar dinheiro em aeroporto é desvantajoso. O Bradesco Exchange tem um posto pertinho de onde você faz o check-in internacional que oferece taxas idênticas às praticadas em qualquer outro banco. E você nem precisa ser cliente para adquirir moeda estrangeira ou os malfadados Travelers Cheques.

Então, se não é tanto dinheiro assim que você precisa levar para sua viagem, meu conselho é fazer o câmbio por espécie para as necessidades diárias e levar um cartão de crédito internacional para despesas maiores (esses sim, são largamente aceitos). E, claro, carregar dinheiro, cartão e passaporte sempre no seu corpo, numa daquelas pochetezinhas que se põem por dentro da roupa (5 reais em qualquer camelô).

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Sherlock Holmes


Sherlock Holmes já vinha causando polêmica desde que suas primeiras imagens foram divulgadas, por mostrar um Holmes meio diferente, cheio de testosterona e libido. Como assim, o detetive célebre por seu intelecto distribuindo socos a granel em slow motion? Os fãs mais conservadores já saíram esculachando a heresia de Guy Ritchie e cia., esquecendo-se de que o filme é baseado numa história original de Lionel Wigram, que por sua vez foi apenas inspirada nos clássicos de Sir Arthur Conan Doyle. Ou seja, o longa já nasce desobrigado de ser fiel ao personagem original. Vale lembrar que neste filme também a figura do Dr Watson ganha ares mais joviais e másculos.

A história inicia-se quando a dupla captura o assassino satanista Lorde Blackwood e este é condenado à forca, mas o seu corpo desaparece e uma testemunha jura ter visto o bruxo se levantar do túmulo. Watson, prestes a casar, estava decidido a interromper sua parceria com Holmes e levar uma vida mais tradicional, mas o mistério revela-se irresistível e os dois se unem mais uma vez para seguir as pistas deste caso de contornos sobrenaturais. Para complicar a situação, a ardilosa Irene Adler, por quem Holmes nutre um misto de atração e repulsa, parece envolvida até o pescoço nos sinistros acontecimentos.

Sherlock Holmes é um pipocão assumido, no qual o célebre residente da Baker Street 221b é retratado com ares de um Indiana Jones vitoriano. Sarcástico, esperto e um tanto abrutalhado, a versão de Guy Ritchie para Holmes está longe do sujeito sério de cachimbo presente no imaginário coletivo. Robert Downey Jr., renascido em Homem de Ferro, distribui sopapos e meio que repete o estilo Tony Stark. Jude Law não se deixa engolir pelo carisma de Downey Jr. e demarca seu território como um Watson agressivo e, ao mesmo tempo, elegante. Um choque para quem sempre pensou no médico como um senhorzinho bonachão de monóculo.


A macheza estilosa e o humor irreverente dos personagens são por vezes exagerados, mas é nesses momentos que fica evidente a mão do diretor Guy Ritchie, famoso por glamourizar o submundo britânico em seus longas anteriores. E talvez o grande segredo para se divertir com Sherlock Holmes seja apreciar o filme pelo que ele é – uma grande brincadeira –, ao invés de ficar se detendo em comparações com a literatura ou até mesmo com outros filmes que trataram o detetive inglês de modo mais reverente.

Pontos fracos o filme tem, sendo o mais chamativo deles a péssima escalação de Rachel McAdams para o papel de Irene Adler. A atriz simplesmente não convence como uma mulher esperta e sedutora a ponto de desestabilizar Holmes. Em compensação, Mark Strong faz barba, cabelo e bigode como o vilão Lorde Blackwood e Eddie Marsan acrescenta um bom toque cômico como o inspertor de polícia pouco esperto. O roteiro também peca por jogar muita informação em detrimento de um melhor desenvolvimento dos personagens secundários, mas nada que chegue a atravancar a fluência da trama.


Considerando que o desfecho deixa o caminho escancarado para uma sequência, ao final do longa a pergunta que não quer calar é apenas uma: quem será o Prof. Moriaty em Sherlock Holmes 2? Circulam rumores de que Brad Pitt já estaria em negociações com a Warner, mas por enquanto nenhum anúncio oficial foi feito. Mas isso é outra história. Literalmente.
Sherlock Holmes estreia amanhã.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Balanço 2009


Um pouco atrasada esse ano, fiz um retrospecto dos filmes assistidos em 2009 e cheguei a um ranking das produções que mais me agradaram e desagradaram no ano que passou. Não estou afirmando que sejam de fato os melhores e piores - mesmo porque esse é um conceito pra lá de subjetivo -, apenas apontando os títulos que mais chamaram minha atenção (de forma positiva nos 10+ e também negativa nos 10-). Sem mais justificativas, aí vão eles:

10 +


1- Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire)
2 - Curioso Caso de Benjamin Button, O (Curious Case of Benjamin Button, The)
3 - À Deriva (idem)
4 - Foi Apenas um Sonho (Revolutionary Road)
5 - Gran Torino (idem)
6 - A Partida (Okuribito)
7 - Milk – A Voz da Igualdade (Milk)
8 - Desejo e Perigo (Se, Jie)
9 - Aconteceu em Woodstock (Taking Woodstock)
10 - Distrito 9 (District 9)

10 -

1 - Presságio (Knowing)
2 - Alma Perdida (Unborn, The)
3 - Veronika Decide Morrer (Veronika Decides to Die)
4 - Heróis (Push)
5 - Pedra Mágica, A (Shorts)
6 - Recém-Chegada (New in Town)
7 - Noivas em Guerra (Bride Wars)
8 - Confissões de uma Garota de Programa (The Girlfriend Experience)
9 - Falando Grego (My Life in Ruins)
10 - Fama (Fame)

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Um Sonho Realizado



Sim, eu voltei! Depois de quase duas semanas fora do ar, estou de volta ao Hemisfério Sul. Acho que nunca tinha ficado duas semanas inteiras sem assistir a um novo filme na minha vida inteira (programação de avião não conta!), mas foi por uma causa mais do que justificável. Desde que eu me entendo por gente, venho alimentando esse desejo inquieto de conhecer a Itália. Não apenas por ser a terra dos meus antepassados, mas por um desses amores inexplicáveis que transcendem a pura questão étnica. E a belíssima terra da arte, cultura e comida deliciosa não me decepcionou nem um pouco. O italiano em geral é bastante amigável com o estrangeiro e costuma ficar ainda mais amigável ainda quando descobre que você é brasileiro. A maioria menciona a nossa música, mais que o futebol. Na minha breve estadia, pude conhecer três cidades muito diferentes entre si, mas igualmente encantadoras: Roma, Firenze (Florença) e Veneza.

Roma é um lugar que praticamente te esmaga com o peso de sua rica História. O complexo formado pelo Coliseu, Fórum Romano e Palatino, mesmo em ruínas, dá uma idéia da majestade do antigo Império Romano. E o que dizer da Capela Sistina e seu famoso teto pintado pelo gênio Michelangelo? Uma cidade cosmopolita, vibrante, elegante, cheia de cafés maravilhosos e lojas para todos os bolsos e gostos. O metrô é feio e malcuidado, mas funciona com perfeição, você nunca espera mais de um minuto na plataforma. Bem no centro da cidade encontra-se a Fontana di Trevi, cenário imortalizado por Fellini em La Dolce Vita. Diz a lenda que se você jogar uma moedinha sobre o ombro, retornará a Roma. Bobagem, mas é claro que eu joguei. Quero retornar a Roma e, de preferência, para ficar.


Firenze é uma pequena cidade que guarda um enorme tesouro artístico. Não apenas pela riqueza do acervo dos seus muitos museus, mas pela própria arquitetura da cidade, onde cada prédio, praça ou igreja é de encher os olhos. Para mim, o ponto alto foi visitar a Galeria della Accademia, construída especialmente para abrigar o famoso Davi de Michelangelo, um colosso de cinco metros de altura esculpido num bloco único de mármore e que parece respirar. Outra atração maravilhosa é a Piazza della Signoria, um museu ao ar livre onde se encontram diversos trabalhos originais e ainda a cópia do Davi. Ou seja, quem não pode bancar os museus não fica sem apreciar arte de primeira. A cidade ainda é um importante pólo na comercialização de artigos de couro e ourivesaria.


E Veneza é simplesmente única. Cidade bela, estranha e fascinante. Basta uma chuvinha para os canais transbordarem e todo mundo andar pelas ruas de galocha. O interessante é que o fato das ruas estarem alagadas não interfere em nada no funcionamento da cidade, como se fosse apenas um fato cotidiano. Ao contrário do que eu sempre ouvi falar, a água do canal não é barrenta nem cheira mal. A polícia parece não ter muito que fazer, já que a criminalidade lá é nula. Quando amanhece chovendo, você sempre os vê pela manhã arrumando umas passarelas de concreto no meio das ruas principais para que os turistas – porque veneziano que é veneziano mete logo o pé na água – possam circular com mais conforto. Um detalhe interessante é que o pessoal lá é adepto da hora da sesta e a grande maioria do comércio fecha entre 14 e 17h. Outra curiosidade que observei, essa nas três cidades, é que a maioria dos estabelecimentos não faz separação entre banheiro feminino e masculino.


Para não dizer que tudo na viagem foi perfeito, o único detalhe desagradável foi voar pela Air France. Aeronaves ultrapassadas, pessoal de bordo pouco simpático e – terror dos terrores – conexão no Aeroporto Charles de Gaulle. Você sempre desembarca num terminal oposto ao que vai embarcar e, como aquilo lá é enorme, gasta no mínimo uma meia hora para conseguir chegar ao seu portão, transtorno piorado pela sinalização confusa e má-vontade dos franceses, que dão sempre informações incompletas e imprecisas. Mas é claro que isso não tem absolutamente nada a ver com a estadia na Itália em si. Na terrinha, foi tudo perfeito.

Hoje assisti a Sherlock Holmes. Meu reencontro com o cotidiano, com a sétima arte, enfim, com a minha vida. Em breve, comentários sobre o filme. Mas provavelmente ainda surgirão outros breves comentários sobre a viagem. Me avisem quando eu estiver ficando chata, porque acho que vai demorar um pouco até eu parar de falar no assunto.

Bom 2010 para todos!