quarta-feira, 2 de junho de 2010

Eu Te Amo, Phillip Morris


O Golpista do Ano (título que beira o constrangimento para I Love You, Phillip Morris) é um filme curioso. Como produto cinematográfico, é irregular e salpicado de pequenos defeitos narrativos, escorregadelas de ritmo e confusões de estilo, indeciso entre mergulhar na comédia ou narrar com maior sentimento a sui generis história de amor entre um estelionatário e seu companheiro de cela. No entanto, mesmo estando longe de ser uma produção perfeita, há algo no filme que conquista e comove, tornando impossível não simpatizar com ele.

Baseado no livro do jornalista Steve McVicker, Eu Te Amo Phillip Morris acompanha a inusitada (e verídica) trajetória de Steven Russell, pai de família cristão e conservador que leva uma vida de aparências até o dia em que sofre um grave acidente de trânsito e resolve que a vida é curta demais para ser passada dentro do armário. Steve se assume, arruma um bofe luxo (interpretado por Rodrigo Santoro) e tudo estaria perfeito não fosse um detalhe: a vida de jóias extravagantes e viagens fabulosas que ele tanto aprecia custa caro, muito caro. Para manter o padrão, Steve passa a aplicar os mais diversos golpes, desde forjar acidentes para receber indenizações indevidas até falsificar cartões de crédito. Capturado, vai para a prisão e lá apaixona-se perdidamente por outro detento – o Phillip Morris do título original.


Com uma história que lembra o delicioso Prenda-Me se For Capaz, o filme alterna comédia rasgada com romance. A mistura por vezes atravanca um pouco o ritmo da trama, já que o roteiro nem sempre consegue transitar com fluência entre esses dois aspectos. A atuação de Jim Carrey como Steve funciona às maravilhas no quesito comicidade (suas fugas e armações são impagáveis), mas resvala na caricatura em cenas que deveriam ser mais românticas. Já a composição de Ewan McGregor como Phillip Morris é bem mais delicada e precisa, sempre focada nos pequenos detalhes ao invés de cair na fórmula fácil dos trejeitos – e, cá entre nós, ele fica lindo de uniforme de presidiário. McGregor rouba a cena cada vez que aparece, provando mais uma vez sua versatilidade e competência. E Rodrigo Santoro, cada vez mais à vontade em sua carreira internacional, faz bonito em participação pequena porém fundamental para a trama.

O filme também se utiliza de Steve como um narrador não confiável de sua própria história. O recurso, que pode ser uma faca de dois gumes, aqui surpreende mais do que atrapalha. Um exemplo disso é o personagem de Rodrigo Santoro, que desaparece da trama sem explicações e deixa o espectador com a sensação de que tiraram ele de cena apenas para abrir espaço para a chegada de Phillip Morris, ou seja, uma tremenda falha no roteiro. Mais tarde, quando Steve esclarece aquela parte da história, os pedaços se encaixam e o personagem inclusive ganha maior importância na história.


Ameaçado de lançamento direto em DVD, I Love You, Phillip Morris finalmente chega às telonas brazucas mas não sem antes sofrer algumas distorções. A começar pelos cartazes e trailers, que tentam destacar a parte cômica do filme numa clara manobra para desviar a atenção da situação romântica. Não que o filme não tenha seus momentos pastelão, mas é evidente que fazer rir não é seu foco primordial. O longa, na verdade, é quase uma fábula sobre o que acontece quando uma pessoa sem limites encontra uma razão para ficar ainda mais desmedida. É sobre o patético e terno sentimento de estar loucamente apaixonado. Os estreantes na direção Glenn Ficarra e John Requa (roteiristas do bacaninha Como Cães e Gatos) começaram muito bem, demonstrando originalidade e ousadia já em seu primeiro filme.

Na vida real, Steven Russell escapou da prisão quatro vezes, sempre em uma sexta-feira 13. Recorrendo aos mais criativos estratagemas e disfarces, o cara chegou a extremos que ameaçaram sua vida para ficar perto do homem que amava. Chega a ser difícil para a ficção concorrer uma realidade dessas.

Sexta nos cinemas.

Um comentário:

  1. Pretendo assistir esta semana, junto com 'Prince of Persia'. É estranho mesmo o modo como filme esta sendo vendido aqui no Brasil, sem contar o fato de colocarem Rodrigo Santoro no poster.

    http://cinema-em-dvd.blogspot.com/

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