quinta-feira, 27 de junho de 2013

Os Amantes Passageiros


Se olharmos para o passado, veremos que não é a primeira vez que Pedro Almodóvar se entrega ao escracho. Seus primeiros longas eram verdadeiras chanchadas e o cineasta seguiu mais ou menos nessa levada até Mulheres À Beira de um Ataque dos Nervos (1988). Foi somente a partir da década de 90 que Almodóvar começou a se firmar como realizador mais denso e a mesclar seu humor anárquico ao melodrama, chegando, dessa forma, a seu característico estilo atual. Pois bem, Os Amantes Passageiros é o retorno de Almodóvar à diversão descompromissada.

O filme se passa quase totalmente na primeira classe de um voo de Madrid para a Cidade do México. Logo na cena de abertura vemos que uma discussão entre dois funcionários do aeroporto (Antonio Banderas e Penélope Cruz em participação afetiva) causou um problema no trem de aterrissagem do avião, o que obriga o piloto a ficar voando em círculos em busca de uma pista vazia para tentar um pouso de emergência. Os passageiros da classe econômica não se dão conta de nada, já que é hábito da equipe dopá-los para suportar o estresse, mas os comissários devem entreter os da primeira classe, em especial uma dominatrix que chicoteou os homens mais famosos do país e acha que tudo aquilo é um atentado a sua vida.

O que dizer? Os Amantes Passageiros é um grande besteirol, um nonsense, um desbunde absurdo repleto de purpurina e piadas de duplo sentido. O que realmente mantém o filme de pé é o elenco de primeira linha, com destaque para Javier Cámara, Raúl Arévalo e Carlos Areces, que interpretam os três comissários de bordo despudorados – Cámara é particularmente engraçado como o comissário histérico que não consegue mentir e enche a cara o tempo todo. Também é sempre bom reencontrar a divertida Lola Dueñas e curioso ver Cecilia Roth em um papel cômico. Em tempo: o filme seria mais coeso caso a trama se mantivesse toda dentro do avião. A sequência externa que mostra as namoradas do ator faz o ritmo decair bastante.


Um Almodóvar menor? Com certeza. Mas Almodóvar não é um dos mais importantes cineastas do momento por mero acaso, e mesmo os seus filmes mais descartáveis apresentam alguma coisa de interessante. É claro que Os Amantes Passageiros é um filme desprovido de conteúdo, mas que se torna simpático por sua irreverência e liberdade. Precisava ter sido feito? Não, mas já que o filme está aí vamos nos divertir com ele. Amanhã nos cinemas. 

domingo, 23 de junho de 2013

Hannibal


Parece que os psicopatas são mesmo tendência em 2013, visto que duas séries de muito sucesso estão se debruçando sobre o passado de dois famosos assassinos da ficção. Enquanto Bates Motel está para fazer sua estreia aqui no Brasil, Hannibal está em seus episódios finais – vale dizer que ambas já tem suas segundas temporadas confirmadas.

Hannibal é baseada nos personagens do livro Dragão Vermelho, já levado para as telas em dois longas (em 1986 e 2002), e mostra o refinado canibal em uma época anterior àquela retratada em O Silêncio dos Inocentes, ou seja, ele goza de total liberdade e ainda trabalha como consultor do FBI. Conceituado psiquiatra, o Dr. Lecter tem acesso a todo tipo de informação privilegiada e se diverte desestabilizando o agente especial Will Graham com jogos mentais e muita manipulação.

A série trabalha na base do suspense invertido: enquanto todos os personagens desconhecem a real natureza do personagem, o espectador sabe exatamente quem ele é, o que ele faz e no que se tornará. Ao contrário de Bates Motel, que se mostrou excelente do primeiro ao último episódio, Hannibal apresentava alguns problemas a princípio. Os primeiros episódios se concentravam demais nos insights do agente Graham nas cenas de crime, utilizando efeitos especiais que pareciam meio em desacordo com o tom da história. Além do mais, Hugh Dancy não convencia e havia um evidente desnível entre seu desempenho acanhado e a interpretação soberba de Mads Mikkelsen como Hannibal Lecter – esse sim, grande destaque do começo ao fim.


Conforme a temporada foi passando, essas deficiências foram totalmente corrigidas. Quanto mais Hannibal Lecter mexia com a cabeça de Will, mais Hugh Dancy foi se apropriando do personagem e, desse modo, construindo uma atuação melhor. Também os roteiristas se aprimoraram, tornando a trama cada vez mais interessante, e a direção felizmente começou a dar mais ênfase à relação entre os protagonistas e menos à estética de um modo geral. Assim, Hannibal chegou a seu season finale bem mais instigante do que era no começo e terminou a temporada em grande estilo, deixando o espectador muito ansioso pela sequência dos acontecimentos. Prestem atenção na ótima sacada da última cena.

sábado, 22 de junho de 2013

Colegas


Está chegando ao mercado de DVD e Blu-Ray o simpaticíssimo Colegas, de Marcelo Galvão. O filme, que foi o vencedor do último Festival de Gramado, também foi considerado o melhor da 11ª edição do Brazilian Film Festival of New York, realizado há poucos dias.

Para quem não lembra, Colegas é aquele longa protagonizado por três atores com síndrome de down que desencadeou a campanha “Vem, Sean Penn” por conta da imensa admiração de um dos atores, Ariel Goldman, pelo astro norte-americano. Porém é preciso olhar para o filme além de suas particularidades, já que se trata de uma produção que tem seus próprios méritos cinematográficos.

Os protagonistas Stalone, Marcio e Aninha vivem em um instituto e, apaixonados por cinema, um dia resolvem botar o pé na estrada para viver suas próprias aventuras. Inspirados pela sede de liberdade de Thelma & Louise, eles roubam o Karmann-Ghia do jardineiro e partem em busca de seus desejos: Stalone quer ver o mar, Marcio quer voar e Aninha quer um marido. A viagem, que começa no interior de São Paulo e se estende até Buenos Aires, obviamente funciona como um rito de passagem que os leva a rever os próprios sonhos e descobrir novas possibilidades pelo caminho.

Um road movie povoado de situações divertidas e muitas citações cinematográficas, já que os protagonistas veem a vida como um grande filme de aventura. Somando esses elementos ao carisma e naturalidade dos atores (e digo isso sem nenhuma condescendência), temos como resultado essa delícia de filme. Vale muito a pena conferir.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

De Peter Pan a Norman Bates – Coletiva com Freddie Highmore


Conforme já noticiado aqui, o Universal Channel adquiriu o seriado Bates Motel. A trama, que é uma prequel de Psicose e mostra Norman Bates ainda adolescente, estreia no dia 4 de julho e a emissora trouxe ao Rio de Janeiro o protagonista Freddie Highmore para sua campanha de divulgação. Freddie ficou famoso ainda bem pequeno, depois de atuar ao lado de Johnny Depp nos filmes Em Busca da Terra do Nunca e A Fantástica Fábrica de Chocolate. De lá para cá, o garotinho fofo se transformou neste rapaz alto que encantou a todos pela simpatia e simplicidade na coletiva desta manhã no Hotel Fasano. Freddie disse estar muito contente por estar prestes a gravar a segunda temporada da série, principalmente por ver que o público se envolve com os personagens.

“É muito desafiador trabalhar com um final já conhecido, porque na maioria dos programas de TV as pessoas ainda não sabem o que vai acontecer. Mas as pessoas sempre terão esperança que de algo seja diferente do original.”

O ator disse ter lido o livro de Robert Bloch (Psycho, que serviu de inspiração para o roteiro do filme de Alfred Hitchcock) e também estudado um pouco a atuação de Anthony Perkins, em especial alguns tiques, mas que também se sente livre para reinventar o personagem à sua maneira. Perguntado sobre a transição dos personagens meigos que fez no passado para o de um psicopata tão icônico, declarou:

“Eu acho que esse é um dos motivos deles terem me convidado, assim as pessoas conseguem gostar dele apesar do que ele fez e ainda vai fazer. E é um desafio a mais na minha carreira.”


O ator não poupou elogios à atriz Vera Farmiga, que interpreta sua mãe em Bates Motel:

“Ela é brilhante, é fantástica e eu espero que isso não soe falso porque eu sempre uso muitos adjetivos para falar dela, mas é que ela é muito generosa e é sempre incrível trabalharmos juntos.”

Freddie também opinou sobre a comentada decisão de transpor a trama para os dias de hoje – o personagem tem até iPhone, como todo adolescente atual – mas, ao mesmo tempo, manter uma atmosfera retrô.

“Trazer para o presente tem a ver com buscar maior identificação do público, mas também é legal porque todo o clima dentro da casa permanece antigo e se separa um pouco desse mundo contemporâneo. Então acho que isso ajuda na criação do personagem, é como se ele vivesse em dois mundos.”

Com uma maturidade impressionante para seus 21 anos, Freddie disse que sua vida familiar e seus estudos sempre estiveram em primeiro plano e que se sente privilegiado por não ter crescido em Hollywood, o que faria com que a carreira fosse o único foco em sua vida. “Ao mesmo tempo, é bacana ser um estudante universitário (ele cursa Letras em Cambridge) e estar aqui no Rio de Janeiro divulgando a série”, concluiu.

Perguntado se deseja sempre ser lembrado pelo Norman Bates, a exemplo do que aconteceu com Anthony Perkins, Freddie tem sentimentos contraditórios:

“É engraçado... Claro que eu quero que lembrem de mim por esse personagem, mas o Norman é tão complexo e é tão difícil ficar marcado por alguém tão diferente de você. Mas eu quero que o seriado vá bem, faça sucesso. E o personagem é fantástico. Então, quero sim.”

Como não podia deixar de ser, o ator foi alvo das costumeiras perguntas sobre o Brasil, as mulheres brasileiras e o que conhecia do país, situação da qual se desembaraçou com bom humor, dizendo que cabia aos jornalistas dizer onde ele deveria ir para se divertir, já que ainda não conhecia a cidade. Brincalhão, disse que já que estava em Ipanema poderia procurar sua própria garota de Ipanema e que talvez voltasse ano que vem se a Inglaterra fosse finalista da Copa do Mundo.

Planos futuros? Filmar a segunda temporada da série e logo a seguir voltar para a universidade para se graduar. “Esses são os objetivos imediatos, mas nunca se sabe”, deixou no ar. Esperemos que os estudos não afastem o talentoso Freddie Highmore por muito tempo do cinema e da TV.




Fotos: Erika Liporaci

Freddie Highmore no A&S


Trollamos Freddie Highmore... mas foi sem querer! O simpático ator, que está no Rio para o lançamento do seriado Bates Motel, estava mandando um alô para os diversos veículos presentes à coletiva de imprensa desta manhã e o Artes & Subversão achou que podia conseguir um cumprimento exclusivo também. Freddie tentou, mas não conseguiu entender o nome – já disseram que ele não funciona, mas agora é tarde para mudar.

De qualquer modo, fica o registro da tentativa. Fotos e detalhes sobre a coletiva ainda hoje. Aguardem!




terça-feira, 18 de junho de 2013

Ferrugem e Osso


Finalmente, chega ao Brasil o drama francês Ferrugem e Osso. Na ocasião de seu lançamento na Europa, muita gente (incluindo esta que vos escreve) acreditava que Marion Cottillard seria indicada ao Oscar, o que não aconteceu, contribuindo para atrasar em quase um ano a chegada do longa ao nosso circuito comercial. Até agora, o filme havia sido exibido por aqui somente no Festival do Rio e no Festival Varilux do Cinema Francês.

A trama narra um amor fragmentado entre dois rebeldes que, de uma forma ou outra, pagam caro por sua liberdade. Ali está sem casa, desempregado e às voltas com um filho de cinco anos com o qual não sabe lidar. A única solução que encontra é morar de favor na garagem da irmã em Antibes, no sul da França. Stéphanie é independente, explosiva e trabalha como treinadora de baleias em um parque aquático. Eles se conhecem quando Ali, trabalhando como leão de chácara em uma boate, a defende de uma briga, mas logo a seguir se estranham. Os dois voltam a se encontrar depois que Stéphanie sofre um terrível acidente e o modo franco e direto de Ali acaba ajudando-a a reagir, ao mesmo tempo em que também ele começa a se sentir ligado a ela.


Jacques Audiard, o mesmo diretor e roteirista de O Profeta, põe em cena todos os elementos de um melodrama convencional, mas sabe contar sua história sem resvalar na pieguice nem nos julgamentos morais. Pelo contrário, Ferrugem e Osso é um filme que exala coragem. Em vez de ser mais um de tantos filmes de superação com lições de vida, o filme abraça sem ressalvas esta ousada história de amor inesperada e raivosa entre duas pessoas cheias de traumas, na qual a ferrugem e o osso não são limitações para a reinvenção do prazer e a descoberta de novos sentimentos.

Claro que grande parte do mérito cabe aos protagonistas Matthias Schoenaerts e Marion Cottillard, em especial a esta última. Sua personagem passa pelos mais diferentes estágios e Marion transpira verdade em cada um deles, mostrando-se totalmente despida de vaidade ou pudor sempre que necessário. Podemos dizer que este trabalho da atriz é tão impressionante quanto aquele que lhe deu o Oscar (Piaf, 2007), o que torna inexplicável que a Academia tenha simplesmente esquecido dela – ainda mais considerando que a seleção de indicadas deste ano não foi das mais fortes.

Comovente, poético e um tantinho incômodo, Ferrugem e Osso estreia nesta sexta. Não deixem de conferir. 

sábado, 15 de junho de 2013

Marco Vichi e os mistérios de Firenze

Não tem a mínima ideia de quem seja Marco Vichi? Não precisa se sentir desinformado, caro leitor. Eu também nunca tinha sequer ouvido falar nele até o ano passado, mas tudo mudou depois de ter vivido por alguns meses em Firenze, cidade natal do escritor. Vichi é um prestigiado autor do gênero policial famoso em toda a Itália, mas um verdadeiro mito em Firenze. Vale dizer que o próprio estilo policial noir (ou romanzo giallo, em italiano) atrai muito a atenção do leitor italiano. Se aqui no Brasil esse gênero de literatura costuma ocupar no máximo uma prateleira em meio às estantes de ficção, nas livrarias italianas existem setores inteiros dedicados a ele.

Marco Vichi é um fiorentino de 55 anos que fez sua estreia literária em 1999 com o romance L’Inquilino. Três anos depois, Vichi inicia a série protagonizada pelo Comissário Bordelli, personagem que o tornaria conhecido em toda a Europa. As tramas são ambientadas na Firenze dos anos 60 e o inspetor de polícia Franco Bordelli está sempre às voltas com crimes misteriosos e horrendos que desafiam sua coragem e perspicácia. Com um senso de moral todo próprio, o policial muitas vezes se sente mais à vontade entre malfeitores de bom coração do que entre as chamadas “pessoas de bem”. Solteirão convicto, Bordelli tem ainda um fraco por mulheres jovens, bonitas e independentes. Até o momento, o autor dedicou cinco romances ao personagem: Il Comissario Bordelli, Una Brutta Faccenda, Il Nuovo Venuto, Morte a Firenze e La Forza del Destino. Bordelli aparece, ainda, na graphic novel Morto Due Volte.

A literatura de Marco Vichi é altamente recomendável a todos os apreciadores do gênero, mas especialmente aos leitores de Luiz Alfredo Garcia-Roza. Não são poucas as semelhanças entre o Comissário Bordelli e o delegado Espinosa de Garcia-Roza. Mas a literatura de Vichi vai além de seu personagem mais famoso. O autor também escreveu outros ótimos romances e diversas coletâneas de contos, sendo ainda curador de tantas outras, sempre dentro do gênero policial/noir. O denominador comum a toda sua obra é a incrível capacidade de prender a atenção do leitor, além da ironia fina e das descrições precisas de Firenze e das localidades em seu entorno (especialmente deliciosas para quem conhece a região). Mais recentemente, o escritor vem expandindo sua arte também para o teatro e para roteiros televisivos, além de ministrar cursos e laboratórios de criação na Universidade de Firenze. Vichi também escreve para diversos jornais e revistas italianos.

Marco Vichi venceu o prêmio literário Fedeli com Il Nuovo Venuto (2004) e o Giorgio Scerbanenco e o Camaione com Morte a Firenze (2009/2010). Coincidência ou não, são justamente esses dois livros os meus favoritos. Vichi ainda não foi publicado aqui no Brasil, mas em Portugal sim. Então quem tiver interesse e não puder lê-lo no original tem a opção de buscar as edições lusitanas. Fica a dica, vale muito a pena conhecer esse escritor. 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Segredos de Sangue


Eis que o coreano Park Chan-Wook (ou Chan-Wook Park) faz sua aguardada estreia em Hollywood. Conhecido por seus filmes lindamente violentos, o cineasta responsável por longas como Old Boy, Lady Vingança e, mais recentemente, Sede de Sangue traz seu estilo peculiar e impactante para esta coprodução entre Estados Unidos e Inglaterra. Podemos dizer que Chan-Wook se sai bem na tarefa, pois consegue fazer um longa mais ocidentalizado sem abrir mão do seu característico senso estético e de seus personagens cheios de perturbações emocionais.

A trama é centrada em India Stoker, uma garota inteligente e meio fora dos padrões que recebe a notícia da morte do adorado pai no dia de seu aniversário de dezoito anos. Durante o funeral, India conhece Charlie, um irmão mais novo de seu pai de quem ela nunca tinha ouvido falar. Desse dia em diante, Charlie se aloja em sua casa e não dá sinais de querer ir embora. Sua mãe, Evelyn, parece encantada, já que Charlie lhe lembra uma versão jovem do falecido marido e uma época anterior e mais feliz de seu casamento, mas India percebe que algo não se encaixa nas histórias contadas pelo tio.


Mia Wasikowska convence como India Stoker, embora não se saiba se isso é um mérito da direção, já que a jovem vem trabalhando em bons filmes e com bons cineastas, mas ainda não demonstrou uma personalidade própria como atriz. Nicole Kidman interpreta Evelyn no piloto automático e sua presença não faz absolutamente nenhuma diferença para o filme. Muito pouco para alguém de quem sempre se espera algum lampejo da estrela incrível de tempos passados. A boa surpresa é o britânico Matthew Goode, dono de uma filmografia bastante variada, mas, até então, inexpressiva. Goode faz uma boa composição de Charlie, sempre com um pé no perigo e outro na sedução.

Segredos de Sangue é um filme que demora um pouco a mostrar do que é feito. Seu início é bastante lento, embora dê sinais de que aquela placidez está para ser destruída. Talvez a progressão lenta seja intencional, para que a trama entre no mesmo compasso do senso de letargia no qual vive a protagonista. Conforme India vai se dando conta do que acontece à sua volta e desperta para a realidade, também o ritmo do filme começa a se acelerar e a finalmente se parecer mais com um filme de Park Chan-Wook. Certamente não é um longa tão assumidamente violento como Old Boy nem tão psicologicamente perturbador como Sede de Sangue, mas, ainda assim, podemos dizer que o sangue de Chan-Wook corre nas veias do filme. Um pouco mais diluído, é verdade, mas seu DNA ainda é reconhecível. 


Amanhã nos cinemas. 

terça-feira, 11 de junho de 2013

Bates Motel chega ao Brasil


Antes tarde que nunca. A excelente série Bates Motel, que encerrou há pouco sua primeira temporada nos Estados Unidos e já tem a segunda confirmada, foi comprada pelo Universal Channel e faz sua estreia em terras brasileiras no dia 4 de julho. À frente do elenco, Vera Farmiga e Freddie Highmore.

Para saber mais sobre a série, clique aqui

domingo, 9 de junho de 2013

Blue Jasmine - trailer


Foi divulgado o primeiro trailer oficial de Blue Jasmine, mais recente longa de Woody Allen. Em sua primeira parceria com o cineasta, Cate Blanchett interpreta uma mulher que viveu uma vida de sonho com seu rico príncipe encantado e acordou no pesadelo de se ver falida e obrigada a pedir abrigo à irmã e ao cunhado que até então desprezava. Depois de vários filmes rodados na Europa – Paris, Londres, Roma, Barcelona –, Allen volta a filmar nos Estados Unidos, mas não em sua amada Nova Iorque e sim nas ladeiras de San Francisco. O elenco traz ainda Sally Hawkins, Alec Baldwin, Michael Stuhlbarg e Peter Sarsgaard.

Blue Jasmine estreia nos Estados Unidos no dia 26 de julho. Aqui no Brasil, ainda não se sabe. Enquanto isso, confiram o trailer.


quarta-feira, 5 de junho de 2013

O Grande Gatsby


O Grande Gatsby foi o filme de abertura do último Festival de Cannes. Pompa e circunstância à parte, desde então o novo trabalho do australiano Baz Luhrmann vem sendo tratado com indisfarçável má vontade pela crítica especializada. Teriam os críticos torcido o nariz pelo simples fato de ser uma superprodução? Ou teriam se incomodado com o uso da tecnologia 3D para recontar um clássico? Ou estaria Luhrmann ainda sendo perseguido por conta de seu longa anterior, Austrália? Depois de assistir ao filme, é impossível não se fazer estas e algumas outras perguntas do gênero.  

Esqueçamos os tropeços de Austrália. Em O Grande Gatsby Baz Luhrmann volta com tudo ao seu característico estilo frenético e exuberante. Com muitas cores fortes, luz, música, figurinos deslumbrantes, travellingsestonteantes – ainda mais vertiginosos pelo bom uso do 3D – e uma concepção totalmente operística, Luhrmann carrega o espectador para dentro de um universo delirante e superlativo. Em vez do cancan, agora o charleston dá o tom; no lugar do narrador que viveu ele mesmo uma paixão avassaladora, agora o relato vem de um observador mais distanciado; diferenças existem, mas a vibração e a atmosfera são incrivelmente semelhantes à de Moulin Rouge. E, embora não seja um musical, também este filme se destaca pelo uso criativo de canções já conhecidas em sua trilha sonora – atenção para a cena com Back to Black ao fundo. Resumindo, estariam criticando Baz Lurhmann por ser muito... Baz Lurhmann? Simplesmente não dá para entender.


Baseada no célebre romance de F. Scott Fitzgerald, a trama gira em torno de Jay Gatsby, milionário excêntrico e misterioso que oferece sucessivas festas em uma mansão nos arredores de Nova Iorque nos prósperos anos 20. Todos conhecem o seu nome e frequentam sua casa sem precisar de convite, mas ninguém parece conhecer sequer o rosto do homem por trás de tanto glamour. Especula-se de tudo a respeito de Gatsby, mas quem é ele e de onde vem sua fortuna? Gatsby é, na verdade, um homem com um único propósito: chamar a atenção de seu amor perdido e recuperá-lo. Para isso, está disposto a tudo e não hesita em escrever para si mesmo uma nova e mais interessante biografia.

A história é narrada pelo aspirante a escritor Nick Carraway, que mora ao lado da mansão e aos poucos se torna o único amigo genuíno de Gatsby. Não deixa de ser curioso que o papel seja interpretado por Tobey Maguire, que na vida real é amigo de infância de Leonardo DiCaprio. Com um misto de curiosidade e fascínio, vemos aquele universo de luxo, exageros e aparências através dos olhos de Nick. Também o espectador é um recém-chegado a quem se deve impressionar. Num segundo momento, o ritmo se acalma para que possa florescer o conflito e é então que, conforme passamos a conhecer o verdadeiro Jay, o longa passa a ser mais emotivo do que entorpecente.


Leonardo DiCaprio vem provando, há bastante tempo, que é um ator extraordinário e que possui total domínio do que faz, superando-se a cada personagem. Como Gatsby, transmite com perfeição as nuances de um homem cheio de charme e magnetismo, porém com um passado que quer esconder a todo custo. Tal como Sherazzade, Jay sobrevive contando fábulas e acredita poder comprar respeitabilidade, classe, finesse. E nos seduz com seu melhor sorriso e seu mundo milimetricamente construído, ao mesmo tempo em que deixa entrever o quão frágil é a fantasia que criou a seu redor.

Já Carey Mulligan encarna uma espécie de musa diáfana, representando mais um ideal de felicidade do que uma pessoa de verdade. Vale dizer que tanto Gatsby como Nick tem essa visão de Daisy, o que torna difícil tanto para os personagens como para o espectador desvendar a sua real personalidade. Tobey Maguire parece sempre carregar a expressão lesada de Peter Parker, o que se encaixa muito bem com o papel de Nick Carraway. A boa surpresa é Joel Edgerton, que vence a tentação de transformar Tom Buchanan em um mero vilão insensível e compõe seu personagem de forma mais subjetiva. Uma curiosidade é ver o astro indiano Amitabh Bachchan (aquele por cujo autógrafo o protagonista de Quem Quer Ser um Milionário mergulha na latrina) como um dos associados de Gatsby.


É bem verdade que Moulin Rouge segue inabalável no posto de obra-prima de Baz Luhrmann, mas isso não diminui o valor de O Grande Gatsby. Trata-se aqui de cinemão no bom sentido: um visual impecável, uma história poderosa e um elenco fabuloso, tudo sob a batuta de um cineasta cheio de estilo e originalidade, que sabe como poucos criar magia na tela. Sexta nos cinemas.

sábado, 1 de junho de 2013

Perugia, Assisi, Spoleto e Orvieto – Um giro pela Umbria

Perugia, a capital da região (Foto: Erika Liporaci)

Umbria. Esta região italiana montanhosa e, ao mesmo tempo, verdíssima é considerada por muitos como somente a ligação entre o Lazio (onde se situa Roma e o Vaticano) e a turística Toscana. Não exatamente. Em se tratando do bel paese, nenhuma região é meramente passagem e a Umbria tem muito mais a oferecer para quem estiver disposto a dedicar um tempinho para conhecê-la. O viajante que estiver baseado em Roma ou Firenze, por exemplo, pode visitar as principais cidades da Umbria em pequenas viagens de ida e volta, sem necessidade de pernoite.

A região, famosa por seu vinho encorpado e seu azeite puríssimo, é repleta de cidadezinhas medievais incrustadas na montanha. Tentar alcançá-las diretamente de automóvel é um pouco complicado, a melhor opção é chegar de trem na parte baixa e, de lá, utilizar o transporte público para a parte histórica. Perugia, a capital da província, possui um eficiente “minimetrô” que carrega os visitantes montanha acima. Perugia é conhecida principalmente pela excelência de seus chocolates (no mês de outubro, costuma acontecer um festival dedicado a esse alimento dos deuses) e pela sua universidade voltada a estudantes estrangeiros e, portanto, uma grande referência no ensino da língua italiana mundo afora.

Piazza IV Novembre, ponto central de Perugia (Foto: Erika Liporaci)

Perugia é uma cidade bem bonita, com construções medievais imponentes, como as que rodeiam a Piazza IV Novembre, onde se situam o Duomo e a famosa Fontana Maggiore, com suas figuras do zodíaco. Um pouco afastada desse núcleo, mas a apenas alguns minutos de caminhada, fica a torre Cassero di Porta Sant'Angelo e sua impressionante vista panorâmica. Vale a pena ver toda a cidade ainda mais do alto. Quase ao lado, fica a charmosa Chiesa di San Michele Arcangelo, uma igrejinha circular com ares de templo pagão. Uma graça!

Basilica di San Francesco, em Assisi (Foto: Erika Liporaci)

Assisi costuma atrair católicos italianos e estrangeiros em busca das graças do santo mais famoso do país, Francesco di Assisi. A Basilica di San Francesco foi sempre tão tumultuada em qualquer época do ano que pouco tempo depois da construção da original (século XII) começou a construção de uma segunda sobre esta, por isso hoje em dia fala-se em Basilica Superiore e Basilica Inferiore. Religiosidade à parte, Assisi é uma bela cidade na qual se come muito bem. Uma boa pedida é sentar-se em um restaurante na Piazza del Comune e degustar o bom vinho regional. Ponto negativo? Das quatro cidades contempladas neste texto, é a que possui o transporte público mais deficiente: o ônibus que faz a ligação com o centro histórico demora mais do que seria aconselhável em um lugar que recebe tantos visitantes.   

Spoleto, nome conhecido por aqui devido à rede de restaurantes, é uma cidadezinha bem tranquila que tem seu ponto alto entre os meses de junho e julho, quando lá acontece o Festival dei Due Mondi, evento dedicado a diversas atividades culturais, tais como música, cinema, dança, teatro e artes plásticas. Durante o evento, artistas de todas as partes da Itália e até mesmo do exterior vem a Spoleto apresentar-se. O Festival, que já está em sua 56ª edição, acontecerá este ano entre os dias 28 de junho e 14 de julho.

Ponte delle Torri, em Spoleto (Foto: Erika Liporaci)

Um ponto de Spoleto que parecerá particularmente curioso para o visitante carioca é a Ponte delle Torri, aqueduto que data do século XIV e, ao contrário daquele da Lapa, encontra-se em meio à natureza. A pouca distância situa-se a Rocca Albornoziana, belíssimo castelo que, em conjunto com o aqueduto, forma a vista mais bonita de Spoleto.

Orvieto é a menorzinha das quatro e talvez seja justamente por isso que me pareceu a mais encantadora. O Duomo de Orvieto – ou Cattedrale di Santa Maria Assunta – é um dos mais impressionantes de toda a Itália, com sua fachada em mosaicos com pedacinhos de mármore colorido e seu interior repleto de detalhes deslumbrantes, com destaque para a Cappella di San Brizio, com afrescos do Beato Angelico e de Luca Signorelli. Ao lado do Duomo há, ainda, o ótimo Museo Archeologico.

O magnífico Duomo de Orvieto (Foto: Erika Liporaci)

Outra atração interessante é o Pozzo di San Patrizio, construído entre 1527 e 1537 por ordem do Papa Clemente VII, visando prevenir-se em caso de necessidade de retirar-se de Roma  Orvieto, mesmo situando-se em outra região, fica relativamente perto de Roma. O visitante que não for claustrofóbico pode descer cinquenta e três metros e apreciar os curiosos degraus em espiral dupla  ou seja, a escada de descida e a de subida não se encontram. Vale lembrar que a profundidade do poço equivale mais ou menos à Torre de Pisa, só que para dentro da terra. Assim como em Perugia, um trenzinho, este chamado funicolare, faz a ligação com o centro histórico de forma rápida e eficiente.

Confiram abaixo algumas imagens adicionais desta bela região:

Perugia vista do Cassero di Porta Sant'Angelo (Foto: Erika Liporaci)

Chiesa di San Michele Arcangelo, em Perugia (Foto: Erika Liporaci)

Peregrinos vão à cripta de San Francesco buscando ou agradecendo milagres (Foto: Erika Liporaci)

Asssi (Foto: Erika Liporaci)

A Piazza del Comune, em Assisi (Foto: Erika Liporaci)

Um inesperado recanto de tranquilidade na tumultuada Assisi (Foto: Erika Liporaci)

A verdíssima Spoleto (Foto: Erika Liporaci)

A Ponte delle Torri e, ao fundo, a Rocca Albornoziana (Foto: Erika Liporaci)

Spoleto (Foto: Erika Liporaci)

A Piazza del Duomo de Orvieto (Foto: Erika Liporaci)

Detalhe da fachada do Duomo de Orvieto (Foto: Erika Liporaci)

O Pozzo di San Patrizio (Foto: Erika Liporaci)

Orvieto (Foto: Erika Liporaci)