sábado, 28 de abril de 2012

Firenze, sinônimo de arte e cultura

Firenze vista do alto, com a cúpula do Duomo destacando-se acima das outras construções

Firenze – mais conhecida pelos brasileiros como Florença – é a capital não somente da Toscana, mas também da arte. Esta pequena cidade de cerca de 400 mil habitantes é repleta de museus, centros culturais e palácios e retém uma parte considerável dos tesouros artísticos do mundo, além de ser o nascedouro da língua italiana. O italiano atual nada mais é do que uma evolução do antigo dialeto fiorentino, catalogado principalmente por Dante Alighieri em sua Comédia – que só viria a ser alcunhada de “divina” tempos depois, graças a Giovanni Boccaccio. Dante fez mais do que simplesmente colocar no papel aquela que viria a ser a língua italiana: ele também a enriqueceu com novos vocábulos e expressões, já que os termos existentes até então muitas vezes lhe pareceram insuficientes para descrever suas arrepiantes concepções de uma viagem ao inferno, purgatório e paraíso. Sua obra, além do inestimável valor artístico, ainda foi importante para que o dialeto fiorentino fosse difundido por todo o país, prevalecendo sobre os demais e transformando-se, pouco a pouco, no italiano dos dias de hoje.

Firenze ainda ostenta o peso de ter sido o berço do Renascimento, terra de Michelangelo, Donatello, Botticelli, Machiavelli e muitos outros artistas e intelectuais importantíssimos. Também Leonardo da Vinci pode ser também incluído na lista, já que a província de Vinci é distrito de Firenze. A cidade foi uma das repúblicas mais importantes da Idade Média, ao instaurar o sistema bancário e um modelo de civilização e urbanização admirável. Em pleno século XII, o centro de Firenze já era pavimentado em pedra. Para dar uma noção do que isso significa, a Paris do século XVII ainda não era pavimentada. A então chamada República Fiorentina foi o primeiro reino medieval a instituir um sistema bancário. Sendo um dos mais prestigiosos e prósperos de toda a Europa, os governantes tiveram a ideia de cunhar uma moeda forte que pudesse substituir as até então usadas para transações comerciais, como o soldo bizantino e o dinar islâmico. Assim, em 1252, começou a ser cunhado o florim, ou fiorino d’oro, que rapidamente se tornou moeda-referência em toda a Europa por seu valor e estabilidade.

Ao fundo, a Fontana del Netuno

Voltando aos dias de hoje, o museu mais concorrido da cidade é a Galleria degli Uffizi. É tão extensa e tão rica em detalhes que quem não quiser perder o essencial levará horas e horas para percorrê-la a contento. Embora muitos se detenham somente diante das obras mais célebres – como La Nascita di Venere de Sandro Botticelli – a coleção desta célebre galeria de arte está dentre as mais ricas do mundo. Além das salas dedicadas às mais famosas pinturas de Caravaggio, Leonardo da Vinci e outros, os próprios corredores são repletos de obras de arte do chão ao teto. Literalmente. Próximo dali, o Museo del Bargello, mesmo sendo o segundo mais importante da cidade, é bem menos concorrido. São três andares de esculturas, objetos e joias, incluindo aí o Baco de Michelangelo, o Mercúrio de Cellini e o David de Donatello, só para citar a nata da nata de sua impressionante coleção. Tampouco de se pode deixar de visitar a Galleria dell’Accademia, que foi criada para abrigar o David de Michelangelo. É de tirar o fôlego a estátua de cinco metros, esculpida pelo genial artista em um bloco único de mármore. Seus detalhes, contornos e precisão anatômica dão ao observador a ilusão de que a obra “respira”.

É difícil precisar a quantidade de igrejas, conventos e mosteiros existentes por toda Firenze. Cada uma dessas igrejas não é somente um local de oração e sim um reservatório de arte, com quadros e afrescos sensacionais, destacando-se não somente pela riqueza arquitetônica, mas ainda pela incontestável qualidade de seus acervos. A mais famosa e visitada de todas é o Duomo – que, na verdade, se chama catedral de Santa Maria del Fiore –, cuja majestosa cúpula projetada pelo arquiteto Filippo Brunelleschi é a construção mais alta da cidade. Também impressiona a fachada toda ornamentada em três cores de mármore – vermelho, verde e branco. Na mesma praça, o Battistero di San Giovanni chama a atenção de longe por suas portas douradas, onde foram esculpidas por Lorenzo Ghiberti cenas do velho testamento. Outras igrejas que valem uma conferida são Santa Croce, Santa Maria di Novella, San Lorenzo e, principalmente, o convento e museu de San Marco. O convento mantém seus antigos claustros medievais abertos para visitação, enquanto o museu possui um enorme acervo do Beato Angelico – também conhecido como Fra’ Angelico.

A alguns passos da Praça do Duomo encontra-se a Piazza della Signoria, que, além da já citada Galleria degli Uffizzi, abriga um palácio real, obras de arte, uma bela fonte e os mais elegantes cafés e lojas. A primeira coisa a capturar o olhar é a Loggia dei Lanzi, um inacreditável museu a céu aberto onde o transeunte pode admirar gratuitamente inúmeras obras famosas, como o Perseo de Benvenuto Cellini (abaixo, à esquerda) e Il Ratto delle Sabine de Giambologna (abaixo, à direita). Diante do chamado Palazzo Vecchio há, ainda, uma cópia em tamanho natural do David – outra cópia encontra-se na Piazzale Michelangelo, praça de onde se tem uma vista completa de toda a cidade. Ao lado do Palazzo e sua inconfundível torre, a Fontana del Netuno ergue-se majestosa com as imponentes figuras em mármore criadas por Bartolomeo Ammanati em 1560 após ter vencido uma acirrada disputa entre os artistas locais para ter a honra de realizar a empreitada.


Atravessando a histórica Ponte Vecchio para o outro lado da cidade (a maioria das cidades italianas é cortada por um rio, neste caso o Arno), outro lugar que merece ser visto é o Palazzo Pitti, que abriga vários museus em seu interior e também o Giardino di Boboli. Chamar de jardim é modéstia, porque na verdade são vários jardins interligados, com gramados, lagos, árvores, plantas de topiaria e canteiros floridos em vários de seus níveis. Lembra um pouco o estilo do Palácio de Versalhes, com todos aqueles caminhos feitos de sebes em consonância com o gigantesco palácio e seus museus. Bem interessante é a Galleria degli Costumi, museu dedicado ao vestuário. Além das roupas de diversas épocas, desde a Idade Média aos dias atuais, em alguns pontos a curadoria do museu coloca lado a lado roupas antigas originais e criações contemporâneas de estilistas italianos influenciados por elas.


O complexo conhecido como Palazzo Pitti já foi, em tempos remotos, residência oficial dos Medici, família poderosíssima que dominou Firenze ao longo de três séculos, salvo breves interrupções. Foi em 1434 que o banqueiro Cosimo de Medici (posteriormente conhecido como Cosimo, o Velho) retornou a Firenze depois de um ano exilado em Veneza e iniciou, com inédito apoio popular, o principado dos Medici. Aos poucos, usando o seu poder financeiro, a família Medici ampliou sua condição de apenas uma família rica e influente para se tornar uma verdadeira dinastia e, no processo, transformou Firenze em capital mundial das artes e do bom gosto. A cidade atingiu seu apogeu cultural e artístico sob o reinado de Lorenzo, neto de Cosimo e posteriormente alcunhado “o Magnífico”. Homem de alta cultura, apreciador das artes e da diplomacia, foi Lorenzo o responsável por trazer para a cidade os melhores artistas da época. Todos os grandes nomes do Renascimento (Leonardo DaVinci, Michelangelo, Donatello, Botticelli e Rafael, dentre outros) estiveram, em algum ponto da carreira, sob o protetorado dos Medici.

Firenze é, ainda, a capital do couro e da ourivesaria. Não é que esses itens sejam exatamente baratos, mas certamente em nenhum outro lugar do mundo são vendidos com tanta qualidade e variedade. Os artigos em couro são onipresentes, tanto em lojas, fábricas e até mesmo nos mercados, com destaque para os casacos. Já os joalheiros tem seus ateliês concentrados ao longo da Ponte Vecchio, sendo o carro-forte das jóias fiorentinas os camafeus. Quanto à gastronomia, o prato típico da região – pasmem – não tem nada a ver com massa: é a suculenta bisteca à fiorentina, que pode e deve ser degustada acompanhada de um excelente Chianti local.

Fachada do Palazzo Vecchio, com cópia do David de Michelangelo (esq) e Hércules e Caco de Bandinelli (dir)

Firenze prova que tamanho não é documento, ao reunir tanto fascínio em torno de si. É uma cidade ocre, dourada, deslumbrante vista de qualquer ângulo. É uma terra gente irreverente e irônica, mantendo até hoje sua tradição intelectual – suas escolas de idiomas são as mais conceituadas do país. É uma cidade que tem sempre muito a oferecer, independente de você estar visitando-a pela primeira ou pela vigésima vez.  

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Sete Dias com Marilyn



Finalmente essa gracinha de filme chega aos cinemas, após vários meses de inexplicáveis adiamentos! Sete Dias com Marilyn é baseado no diário escrito por Colin Clark durante as filmagens de O Príncipe Encantado, filme rodado em 1956 na Inglaterra e protagonizado por Marilyn Monroe e Laurence Olivier, sob a direção deste último. Clark, terceiro assistente de direção, por uma série de acasos fortuitos, acabou sendo testemunha direta da pesada crise que se desenrolava nos bastidores desta simpática comédia romântica. Marilyn, recém-casada com o dramaturgo Arthur Miller, queria provar ao mundo que era mais do que um rostinho bonito. O assédio incansável, a pressão de se mostrar uma atriz “de verdade” e, convenhamos, uma certa hostilidade no ambiente a tornavam cada vez mais frágil e insegura, ao passo que Laurence Olivier, a despeito do genial ator que era, se mostrava inábil em contornar as crises de sua estrela, deixando um set inteiro com os nervos à flor da pele.

O roteiro de Adrian Hodges, cuja carreira vem essencialmente da TV, se mostra muito eficiente no sentido de dar uma pegada mais cinematográfica a uma história que foi escrita em tom mais confidente, de diário mesmo. Apesar de se manter bastante fiel ao livro de Clark, Hodges sabe quando enfeitar ou distorcer certos fatos relatados pelo autor para torná-los mais atraentes e dar ao filme a aura de conto de fadas que o torna tão charmoso. Também o diretor Simon Curtis é egresso da TV e tem no currículo uma série de telefilmes e minisséries, fazendo deste filme um excelente début na sétima arte.

É claro que dificilmente o resultado final seria tão bom com um elenco mal escalado. Que ator mais adequado para o papel de Laurence Olivier do que Kenneth Branagh, ator e diretor shakesperiano e considerado por muitos o sucessor de Olivier na vida real? E que outro adjetivo se pode usar para classificar a atuação de Michelle Williams como Marilyn Monroe senão "perfeita"? Não se trata exatamente de semelhança física, embora a caracterização tenha deixado as duas de fato parecidas, mas de uma incorporação - na falta de palavra melhor - que faz emergir em Michelle a aura de encanto, malícia e inocência que tornavam Marilyn única. É simplesmente comovente ver Michelle Williams na tela, tanto nas cenas em que ela recria passagens do clássico O Príncipe Encantado quanto nos momentos em que ela tenta ser mais Norma Jean do que Marilyn Monroe. Destaque para a passagem em que, cercada por fãs, pergunta ao jovem Colin: "devo ser ela?".


Sete Dias com Marilyn (na verdade, de acordo com o livro, foram nove dias) é um filme de atores, mas também uma nostálgica viagem através da história do cinema, ao desnudar na tela o ator respeitado e tradicional que sonhava em ser uma estrela popular e a estrela mais desejada do mundo, que almejava ser reconhecida também pelo seu talento. Ok, o filme não é perfeito e peca em alguns aspectos, como, por exemplo, inventar uma personagem para Emma Watson, mas é uma delícia que vem para eternizar esse célebre encontro entre dois mitos que eram, no fundo, seres complementares. 

Clique aqui para ler sobre o livro Minha Semana com Marilyn.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Vestido de Noiva 2012


A importância de certos textos teatrais transcende o que está escrito no papel, como é o caso de Vestido de Noiva, obra-prima de Nelson Rodrigues que é considerada marco inaugural da dramaturgia brasileira moderna. Encenada originalmente em 1943 em uma impactante montagem, a peça trouxe para o palco conceitos até então impensáveis, como a narração não-linear de uma trama que ocorre em três planos simultâneos e paralelos. Alaíde, a protagonista, é atropelada na primeira cena e, a partir daí, a trama se desenrola no plano da realidade (notícias sobre o acidente, médicos que tentam salvar sua vida), da memória (delirante e confusa, ela relembra fatos passados) e da alucinação (memórias reais se confundem com fantasias e obsessões). Isso faz com que grande parte da história, na verdade, se passe no subconsciente de Alaíde, cabendo ao plano da realidade fazer o cortante contraponto aos dramas psicológicos da atropelada, ou seja, os planos diferenciados são também estruturais e não meras passagens de tempo. 

Na montagem que ocupa a rotunda do CCBB atualmente, o diretor Caco Coelho aproxima esses planos não só em termos espaciais como também deixa mais difuso a separação entre eles, deixando que o tom imposto ao delírio invada o campo das recordações e até mesmo o da realidade. A decisão, embora possa ter o efeito colateral de confundir o espectador pouco familiarizado com o texto original, tem como saldo positivo proporcionar um espetáculo bastante orgânico e vibrante, onde está tudo interligado, deixando que também a plateia faça parte do impressionante espaço cênico. O espectador poderá ter impressões diversas ao longo de uma hora e quarenta minutos de espetáculo, vivenciando estar em meio a um cabaré, um circo, um globo da morte e, em determinados momentos, até mesmo dentro de um útero.

Contando em ordem cronológica, a história parece simples: Alaíde e Lucia são irmãs e rivais pelo amor de Pedro; Alaíde leva a melhor e casa-se com ele, mas logo fica entediada, já que tomou o namorado da irmã por capricho. Enquanto Lucia tenta recuperar o tempo perdido e se insinua para o cunhado, Alaíde encontra no sótão de casa o diário de uma cafetina assassinada 40 anos antes, tornando-se obcecada com a história. Atravessa a rua distraída, é atropelada e, agonizante na mesa de cirurgia, relembra sua história de amor, mas acaba por confundi-la com o que leu no diário de Madame Clessi.

O elenco demonstra bastante preparação corporal em uma concepção que se utiliza – e muito – de elementos da dança e do canto para impulsionar o ritmo do espetáculo, enquanto a parte vocal em determinadas passagens parece um pouco prejudicada pela demanda física que se exige dos atores, que correm, pulam e sobem escadas em ritmo alucinante, deixando a plateia igualmente agitada, alcançando uma atmosfera febril que vibra por todo o espaço cênico. Viviane Pasmanter se destaca no papel de Madame Clessi, dando o peso certo a um personagem fundamental, mas todo o elenco parece bem afinado e coeso, com uma identidade forte de teatro de grupo, de uma equipe que de fato se dedicou ao preparo dessa montagem de corpo e alma.


Confesso que a primeira impressão do espetáculo foi um pouco imprecisa, já que é difícil para quem é admirador dessa obra aceitar, em um primeiro momento, essa ideia de um Nelson Rodrigues mais, digamos, tropicalista. Dias depois, passado o choque inicial, o que foi visto ainda tem o poder de fervilhar na memória. Nelson Rodrigues certamente ficaria satisfeito com uma montagem que provoca tantas dúvidas e reflexão, já que ele mesmo declarava que “o verdadeiro teatro deve agredir sempre”. Não que a montagem em questão agrida, não seria essa a palavra, mas é certo que a explosão de hormônios, loucura e caos intencional criada por Caco Coelho abala as convicções que todos temos a respeito desse texto imortal.


O espetáculo fica até o dia 6 de maio no Centro Cultural Banco do Brasil, com ingressos (disputadíssimos) a 6 reais. De quarta a domingo, 21h. Vejam, sintam, analisem, concluam.

(Fotos:  Fabio Nagel / Divulgação)

Para ler texto anterior sobre Nelson Rodrigues e Vestido de Noiva, clique aqui.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Cannes 2012 anuncia filmes selecionados

Cena de Moonrise Kingdom, o longa de abertura

O Festival de Cannes acaba de divulgar os longas selecionados para sua mostra competitiva. A edição deste ano acontece entre os dias 16 e 27 de maio e terá como presidente do júri o cineasta italiano Nanni Moretti. On The Road, novo filme de Walter Salles, está na briga, mas terá pela frente a competição acirrada de nomes como Wes Anderson, David Cronenberg, Michael Haneke, Ken Loach e Thomas Vinterberg, dentre outros. Caberá ao filme do cineasta Claude Miller, falecido recentemente, fechar o festival. Na mostra Un Certain Regard serão exibidos, ainda, os novos trabalhos de Xavier Dolan e Pablo Trapero, enquanto o Drácula de Dario Argento será mostrado em uma sessão especial de meia-noite. Outro italiano que desembarca em Cannes fora de competição é Bernardo Bertolucci e seu Io e Te. Confiram abaixo a lista de selecionados para a mostra oficial:

Moonrise Kingdom, de Wes Anderson (filme de abertura)
De Rouille Et D’Os, de Jacques Audiard
Holy Motors, de Leos Carax
Cosmopolis, de David Cronenberg
The Paperboy, de Lee Daniels
Killing Them Softly, de Andrew Dominik
Reality, de Matteo Garrone
Amour, de Michael Haneke
Lawless, de John Hillcoat
In Another Country, de Hong Sangsoo
The Taste of Money, de Im Sang-soo
Like Someone in Love, de Abbas Kiarostami
The Angel’s Share, de Ken Loach
Dans La Brume, de Sergei Loznitsa
Beyond the Hills, de Cristian Mungiu
Apres La Bataille, de Yousry Nasrallah
Mud, de Jeff Nichols
Vous N’Avez Encore Rien Vu, de Alain Resnais
Post Tenebras Lux, de Carlos Reygadas
On The Road, de Walter Salles
Paradies: Liebe, de Ulrich Seidl
Jagten, de Thomas Vinterberg
Thèrèse Desqueyroux, de Claude Miller (filme de encerramento)

Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios


O cinema personalíssimo de Beto Brant tem alguns aspectos recorrentes que o acompanham desde seu longa-metragem de estreia (Os Matadores, 1997): o flerte com o inusitado, os personagens empurrados para situações limítrofes, a ousadia estética e, sobretudo, a parceria constante com o escritor e roteirista Marçal Aquino. Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios é o segundo no qual divide a direção com o produtor Renato Ciasca (o anterior foi Cão Sem Dono, 2007) e o sexto escrito por Marçal Aquino, também autor do romance que deu origem ao roteiro.

O filme foi exibido no último Festival do Rio, de onde Camila Pitanga saiu (merecidamente) vencedora do Troféu Redentor de melhor atriz. Camila apresenta um trabalho simplesmente primoroso na construção da personagem Lavínia, uma mulher que ao longo do filme passa por diversas transições de ordem moral e psicológica. Quando o fotógrafo Cauby, um forasteiro de passagem pelo interior da Amazônia, cai de amores pela linda Lavínia, não poderia imaginar que as complicações iriam além do fato da moça ser casada com Ernani, o popular pastor da comunidade.


O triângulo amoroso se estabelece ao mesmo tempo em que Cauby começa a perceber que naquele confim de mundo muitas coisas ainda se resolvem à moda antiga. O filme tem uma pegada expressionista e é muito feliz ao apresentar algumas figuras tipicamente interioranas, como, por exemplo, o delegado de distintivo à mostra. O fato de utilizar alguns atores desconhecidos nesses papéis reforça a sensação de realismo, embora o tom levemente documental dado a algumas sequências não combine muito com o intenso erotismo e poesia da trama central. Não se vê muita função em algumas cenas, como, por exemplo, a longa tomada sobrevoando a mata que surge na tela justamente em dos momentos mais tensos da história ou uma sequência inteira de um número circense – a da “mulher que vira peixe”. Não que essas e outras passagens semelhantes comprometam o andamento da trama, mas elas soam desconexas com o restante, dispersando o foco da história sem que haja uma razão aparente. Por outro lado, algumas questões fundamentais parecem pouco evidenciadas na meia hora final.


O filme é lindamente fotografado e vale dizer que o papel que a fotografia desempenha na trama vai além dos fotogramas em si, alcançando um desdobramento interessante através do olhar de Cauby e sua câmera sobre Lavínia. Além da força da já citada interpretação de Camila Pitanga, é preciso destacar Zecarlos Machado (do Grupo Tapa) e Gustavo Machado, os bons atores que completam as outras pontas do triângulo, e ainda a participação de Gero Camilo como um inescrupuloso e infeliz paparazzo. Regendo esses personagens complexos e confusos em busca de rumo, Beto Brant entrega um filme bastante intenso e impressionante e que certamente merece ser visto. 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Mais uma estreia... fora do Rio!


O circuitinho carioca apronta da suas novamente: estreia nesta sexta-feira somente em São Paulo e Brasília Americano, primeiro longa de Mathieu Demy, filho dos cineastas Agnès Varda e Jacques Demy. Mathieu veio ao último Festival do Rio para divulgar o filme (que na época foi exibido como “O Americano”) e participar de um debate. Trata-se de um bom filme e é um espanto ver que ele chega lá no Planalto Central (não vou nem comparar com São Paulo) e não estreia aqui. Para ler sobre Americano, clique aqui.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Pré-Estreia de novo filme de Beto Brant

Aconteceu na noite de ontem a concorrida pré-estreia do novo longa de Beto Brant, Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios. Estrelado por Camila Pitanga, Zecarlos Machado e Gustavo Machado, a trama percorre de modo não-linear os vértices de um triângulo amoroso. O filme já foi exibido no Festival do Rio do ano passado, e Camila saiu do evento levando (com justiça) o Troféu Redentor de melhor atriz. Confiram abaixo os cliques do tapete vermelho e aguardem: em breve a análise completa sobre o filme!

A partir da esquerda: os produtores Bianca Villar e Renato Ciasca, Zecarlos Machado, Camila Pitanga, Gustavo Machado e Beto Brant

Detalhe da classe e bom gosto de Camila Pitanga, que sempre se apresenta extremamente elegante

(Fotos by André Moreira)

sábado, 14 de abril de 2012

O irresistível romantismo de Verona


A partir de hoje, a editoria Viajandão traz alguns artigos especiais sobre a Itália, enfocando não somente o viés turístico, mas também histórico e cultural. Tais textos faziam parte de um projeto literário que acabou não vingando e estão sendo reeditados para o A&S. Começamos com Verona, uma das cidades mais bonitas e bem-cuidadas que eu tive oportunidade de conhecer. A cidade e seu imenso potencial romântico voltaram a estar em voga recentemente por conta do filme Cartas para Julieta. Obviamente a chamada “Casa di Giulietta” é a atração mais visitada na cidade. Embora o pessoal da produção do longa jure de pés juntos que aquelas secretárias de Julieta realmente existem, não vi nenhum sinal delas por lá. De fato algumas pessoas costumam colar bilhetinhos nas paredes ou escrever declarações de amor, mas nada tão dramático como aquelas meninas chorando desesperadamente seus amores, conforme visto no filme.


De todo modo, a atração fake, que foi concebida há muitas décadas por um prefeito bastante imaginativo, é mesmo muito cativante. Os italianos realmente sabem criar uma atmosfera de encanto. Mesmo sabendo que se trata de uma espécie de cenário, é difícil não se emocionar ao ver o famoso balcão, tal e qual descrito na obra do bardo. O segredo é se embriagar na tradição e, por alguns instantes, permitir a si mesmo fingir que a moça de fato existiu. Uma coisa que nenhum turista que se preza pode deixar de fazer é passar a mão no seio direito da estátua que se encontra no pátio da casa. O gesto é conhecido como uma infalível simpatia para atrair o seu amor verdadeiro, e pode-se perceber que o seio direito é um pouco mais lustroso do que o restante da estátua. Pobre Julieta, afagada dia e noite por românticos desesperados.

Fantasia ou não, não é difícil entender o papel de um personagem como Julieta no imaginário romântico. Ainda que algumas produções cinematográficas melosas tenham retratado a jovem Capuleto como apenas uma mocinha pálida e suspirante, basta uma breve leitura do texto shakespeariano para perceber a essência forte e determinada de Julieta, tão menina ainda e já tão disposta a fazer acontecer sua história de amor. O bardo dotou sua protagonista de uma vontade férrea que sobrepuja o seu romantismo, cabendo a ela muitas das iniciativas para que o romance, de fato, floresça. Em nenhum momento da história Julieta é passiva diante das adversidades do destino, lutando até o fim, com todos os meios disponíveis, para viver ao lado do amado. Se o destino não quis que assim fosse, certamente não foi por falta de determinação dessa menina-mulher admirável. Para que melhor conselheira, fictícia ou não, um apaixonado poderia pedir ajuda?


Outro costume que se pode observar não somente em Verona, mas por toda a Itália, é uma mania de meter cadeados em qualquer lugar que tenha um apelo romântico ou sentimental. Na casa de Julieta, há uma grade de ferro repleta deles. Alguns simples, outros pintados em vermelho, vários com os nomes do casal escrito. A princípio parece meio estranho, lembra macumba, feitiço, essas coisas, mas na verdade o costume, difundido principalmente entre os adolescentes, é recente e surgiu por conta do sucesso do livro Sou Louco Por Você, de Federico Moccia. Nele, um casal jura amor eterno prendendo um cadeado em uma ponte sobre o Rio Tevere, em Roma, seguindo uma superstição segundo a qual quem faz isso jamais se separa da pessoa amada. Ou seja: a coisa não tem esse sentido nefasto de escravizar o outro e sim de simbolizar uma união duradoura, forte, inquebrantável.

Mais do que a terra de Romeu e Julieta, Verona é uma cidade bonita e atraente por seus próprios méritos. Mesmo porque não é provável que algum dia William Shakespeare tenha estado, de fato, na cidade. Cortada pelas águas do rio Adige, a charmosa cidade imortalizada pelos jovens amantes de “famílias rivais, iguais na dignidade e levadas por antigos rancores a desencadearem novos distúrbios, nas quais o sangue civil tinge mãos cidadãs” foi da maior importância durante o período romano e apresenta até hoje vários resquícios desse passado glorioso. A Arena di Verona, por exemplo, é uma autêntica arena romana onde aconteciam em tempos remotos lutas de gladiadores. Mas, diferentemente do Coliseu, essa arena ainda é usada para concertos e óperas e não somente visitação turística.


Outro belo atrativo da cidade é o Castelvecchio, construção edificada no século XIV e que nos faz voltar aos tempos medievais com suas torres e sua impressionante ponte levadiça. Admirar aquele castelo por si só já é uma grande atração, mas seu interior ainda abriga o Museu Cívico de Arte e sua notável coleção de esculturas medievais que reúne obras de Pisanello, Bellini, além de trabalhos de vários artistas veroneses. O Museu Arqueológico, do outro lado da cidade, também tem origens bem antigas. Fica por detrás de um anfiteatro romano, espaço igualmente usado para eventos musicais – certamente a acústica é perfeita. O museu em si não impressiona muito, mas, graças à sua localização privilegiada, o ingresso vale pela deslumbrante vista aérea de toda a cidade.


Na região do Veneto, as duas cidades mais proeminentes – Verona e Veneza – não nutrem uma grande simpatia uma pela outra. Verona tem uma atitude meio contrariada em relação a Veneza não apenas pela vizinha ser mais famosa, mas principalmente porque esteve sob seu domínio séculos atrás. Prova irrefutável disso é que se pode ver bem no meio da Piazza delle Erbe, coração da cidade, um imponente obelisco encimado por um leão alado, simbolizando presunçosamente a supremacia veneziana.


Além dos monumentos imponentes, Verona encanta, ainda, pela beleza presente no cotidiano, ou seja, nas ruas, nas casas, na delicadeza com que os habitantes cuidam de sua cidade. Sem contar que as ruelas medievais, sobrados com balcões floridos, monumentos e construções tem um estado de conservação melhor do que o da eterna rival Veneza. Imperdível, mesmo para os não-apaixonados. 


sexta-feira, 13 de abril de 2012

De Woody, com amor


Confiram o delicioso trailer de To Rome With Love, longa de Woody Allen rodado na capital italiana!



quinta-feira, 12 de abril de 2012

À Toda Prova


OK, eu confesso: tenho uma implicância enorme com o diretor Steven Soderbergh. Aliás, essa implicância vem desde que o moço surgiu no cenário cinematográfico em 1989 com Sexo, Mentiras e Videotape – um bom filme sim, mas longe de ser essa cocada toda. De lá para cá, sua filmografia tem variado entre longas mais comerciais, como Erin Brockovich e a franquia Onze Homens e Um Segredo, e seus projetos mais autorais. E são justamente esses que não convencem, talvez porque traem aquele Soderbergh se leva a sério demais, como é o caso de Solaris, Bubble, Confissões de uma Garota de Programa e, ainda, as duas partes de Che e o oscarizado Traffic.

À Toda Prova certamente é um daqueles filmes que Soderbergh realizou só para pagar algumas contas, sem nenhuma pretensão artística ou traço autoral. E não é que o filme surpreende, justamente por revelar-se uma boa diversão descompromissada? A produção é bem-sucedida naquilo que se propõe a ser: apenas um longa de ação bem amarradinho, com um ritmo vibrante e mais um elenco daqueles que o prestígio do cineasta – e isso é algo que não se pode questionar – sempre consegue reunir.


Se em seu último filme, Contágio, Soderbergh desperdiçava o incrível elenco em personagens insossos e que eram deixados de lado pelo roteiro, aqui essa mesma característica é usada de um modo positivo, a favor do filme. Um exemplo disso é o desprendimento de “rifar” da trama um dos grandes nomes do elenco em uma cena que realmente pega o espectador de surpresa.

A trama se desenvolve ao redor de Mallory Kane, uma talentosa e bem treinada ex-agente da CIA cooptada pelos atrativos da iniciativa privada. Inquieta e independente, Mallory está prestes a deixar seu chefe e ex-namorado Kenneth, mas este lhe pede que atue em um último e rentável trabalho, que acaba se revelando uma perigosa armadilha. Mallory consegue escapar, mas tem pouco tempo para descobrir respostas para a traição da qual foi vítima.

Uma decisão arriscada, mas que acabou dando certo, foi escalar a lutadora Gina Carano para o papel principal, ainda mais considerando que ela teria como coadjuvantes Ewan McGregor, Michael Douglas, Michael Fassbender e Antonio Banderas, dentre outros. E Gina, mesmo não estando no mesmo patamar destes astros em termos de atuação, compensa a inexperiência com seu rosto de traços fortes e uma boa presença cênica, além, é claro, da total desenvoltura nas cenas que exigem mais ação física.


À Toda Prova lembra um pouco Efeito Dominó, longa inglês de grande sucesso por sua capacidade em agradar um público mais exigente sem deixar em segundo plano os aficionados do gênero ação. Claro que não é filme que emocione ou convide à reflexão, mas satisfaz como um passatempo para assistir munido de pipoca e guaraná, naqueles dias em que o objetivo é relaxar e deixar os problemas fora da sala escura. Amanhã nos cinemas. 

quinta-feira, 5 de abril de 2012

A Vida dos Peixes


O chileno Matias Bize é figurinha carimbada do Festival do Rio, já que seus dois longas anteriores passaram por aqui: Na Cama (em 2006) e O Bom de Chorar (em 2007). Em 2010, o cineasta veio pessoalmente apresentar seu quinto longa-metragem, este sincero e comovente A Vida dos Peixes. Dentro do estilo "antes tarde do que nunca", eis que o filme chega ao circuito comercial com quase dois anos de atraso.

Com uma estrutura que se apóia quase 100% nos diálogos e na interpretação, o filme fala sobre as marcas deixadas por um rompimento mal-resolvido. Andrés escreve guias de turismo e vive em Berlim há dez anos, mais ou menos o tempo que tem de separado da grande paixão de sua vida, Beatriz. Assim como o personagem de George Clooney em Amor Sem Escalas, ele vive viajando e isento de grandes laços de afeto. Com o agravante de estar entre dois mundos: é um estrangeiro onde fixou residência e já não pertence ao Chile. É nesse estado de ânimo que ele retorna ao país natal para se desfazer definitivamente de seus bens, ou seja, para realizar a ruptura definitiva. Mas um último encontro com os amigos e com Beatriz pode reabrir diversas feridas do passado.

O que muito me impressionou no filme foi sua, digamos, economia. A Vida dos Peixes nunca se alonga além do necessário, o que fica ainda mais evidente na precisão cirúrgica de seu desfecho. Bize – que também é co-autor do roteiro – revela toda a vida interior daqueles personagens através de diálogos que nunca soam explicativos e, principalmente, de atuações na medida certa de todo o elenco. Andrés tem a tendência a fugir de seus problemas ao invés de encará-los e Beatriz parece ter uma percepção mais clara disso do que ele mesmo. Grande destaque para o monólogo dela, que deixa Andrés claramente sem palavras diante de sua corajosa atitude.

Não que isso tenha muita importância, mas um filme tão legal poderia ter um título melhor. A explicação de que peixes nadam e não chegam a lugar nenhum e as cenas diante do aquário não anulam o fato de que o título é desinteressante.

Jovens Adultos


Jason Reitman dirigiu apenas quatro longas-metragens, e conseguiu somar acertos em todos eles. Depois de debutar com o provocador Obrigado por Fumar, conseguiu grande projeção já em seu filme seguinte, Juno, que, além de ter dado à roteirista Diablo Cody o Oscar de melhor roteiro original, carimbou a primeira indicação de Jason como melhor diretor. O ponto alto de sua filmografia foi Amor Sem Escalas, sem dúvida o mais maduro em sua carreira. Embora seus filmes pareçam diferentes entre si – e o são – restam alguns pontos em comum, como os diálogos afiados e um olhar inusitado sobre as relações humanas. Sua visão, embora tenha sempre uma pegada sarcástica, é, ao mesmo tempo, carregada de humanidade.

Se Juno girava em torno de uma adolescente centrada demais para sua idade, Jovens Adultos traz Charlize Theron como uma mulher feita cuja maturidade ficou estacionada pelo menos uma década antes. A brilhante frase que estampa o cartaz do filme resume bem o ponto nevrálgico da trama: “todos envelhecem. Nem todo mundo cresce.” Maturidade definitivamente não é um termo que se pode associar a Mavis Gary, trintona que ainda fala, vive e pensa como a adolescente popular que foi um dia. Tanto que seu trabalho é justamente escrever uma série de livros de ficção de temática adolescente, cujo material costuma “enriquecer” ouvindo conversas de garotas na rua e captando frases alheias para seus personagens. A expressão que dá título ao filme, aliás, é como se chama esse tipo de segmento literário.

Desorganizada, confusa e impulsiva, a simples notícia de que seu namorado dos tempos do colégio está bem casado e com um filho recém-nascido é o suficiente para despertar em Mavis a certeza de que a solução para seus problemas é tomar de volta o que deveria ser seu por direito. Para reconquistar Buddy Slade, Mavis passará por cima até mesmo do asco que sente pela cidadezinha do Minnesota onde foi criada, partindo de uma lógica que seria absurda para qualquer pessoa razoável. É claro que esse recorte em sua vida mostra problemas de ajuste à vida adulta que vem de longe, como podemos constatar pelas cenas que mostram como Mavis lida com problemas de trabalho ou de qualquer outra ordem. O que leva a pensar: quantas crianças em corpos de adultos estão à solta por aí, vivendo vidas aparentemente independentes?


Charlize Theron faz um trabalho absolutamente fantástico como Mavis Gary, uma montanha-russa de bipolaridades que passa da apatia de algumas cenas para a euforia desenfreada de outras. Não é de hoje que a bela atriz não hesita em se arriscar em personagens limítrofes, basta lembrar que ela ganhou um Oscar interpretando uma embrutecida serial killer. Com Mavis, o desafio é nos fazer enxergar a fragilidade de uma protagonista bastante irritante, que tem atitudes antipáticas e extremamente egoístas o filme inteiro.

Jovens Adultos não chega a ser um filme tão redondo como Amor Sem Escalas, perdendo um pouquinho de sua força inicial justamente perto do desfecho, mas sem dúvida é mais um acerto tanto na filmografia do notável Jason Reitman como na galeria de personagens da talentosa Charlize Theron – sua interpretação certamente deveria ter sido mais lembrada nas premiações deste ano. Vale muito a pena conferir. Amanhã nos cinemas.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Espelho, Espelho Meu


Eu tenho muita curiosidade de saber o porquê desses projetos gêmeos que aparecem de vez em quando. Já tivemos dois Robin Hoods simultâneos, duas animações sobre insetos (FormiguinhaZ e Vida de Inseto) e quase nasceram dois filmes sobre Alexandre – infelizmente, o projeto de Baz Luhrmann foi engavetado, só tendo sobrevivido o péssimo longa de Oliver Stone. 2012 será o ano da disputa entre duas Brancas de Neve, ou melhor, entre a rainha má de Julia Roberts e a de Charlize Theron. Julia é a primeira a chegar às telas com este Espelho, Espelho Meu.

A proposta desta versão seria cômica, o que funciona muito bem com Julia Roberts, Nathan Lane e os (ótimos) anões e nada bem com Lily Collins, sendo a Branca de Neve insossa da atriz o elo mais frágil de toda a produção. Lily não demonstra nenhuma veia cômica nem possui carisma suficiente para tornar crível a famosa profecia do espelho mágico – aliás, toda a concepção feita em cima do espelho é forçadérrima. Também o príncipe interpretado por Armie Hammer não faz muito além de enfeitar a tela, embora nesse caso a culpa pareça mais do personagem sem sal do que propriamente do ator, que vem de uma excelente atuação em J. Edgar.


O diretor é o indiano Tarsem Singh, que vem de trabalhos realmente pavorosos como A Cela e, mais recentemente, Imortais. Olhando pelo ângulo de sua filmografia, Espelho, Espelho Meu pode ser considerado um avanço, por tratar-se de uma diversão totalmente assistível. Ainda assim, é inevitável a frustração por um filme que parece a todo momento estar prestes a decolar, mas chega ao desfecho sem nunca conseguir alcançar plenamente seu potencial. Nada disso é culpa de Julia, que faz o possível para manter o nível de interesse em cada cena que aparece, usando todo o charme e graça da eterna linda mulher.

Agora é esperar Branca de Neve e o Caçador – que só estreia em junho – para bater o martelo. 

domingo, 1 de abril de 2012

Os eleitos de 2011

O perturbador Cisne Negro, de Darren Aronofsky: melhor filme de 2011

Alguns leitores escreveram atentando para o fato de que o A&S não listou os melhores filmes de 2011. Confesso e assumo o esquecimento. Sem mais delongas, segue uma relação dos filmes que mais chamaram a atenção no ano passado, sempre lembrando tratar-se de uma lista baseada em gosto pessoal e que o critério para considerar um filme como “de 2011” é a data em que o mesmo estreou nos cinemas brasileiros, independente do ano de produção.

1- Cisne Negro (Black Swan)
2- Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris)
3- O Palhaço (idem)
4- A Falta Que Nos Move (idem)
5- A Pele Que Habito (La Piel Que Habito)
6- Balada do Amor e do Ódio (Ballada Triste de Trompeta)
7- Incêndios (Incendies)
8- Tudo Pelo Poder (The Ides of March)
9- Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2 (Harry Potter and the Deathly Hallows – Part 2)
10- X-Men – Primeira Classe (X-Men – First Class)

Romance, magia e encanto dão o tom de Meia-Noite em Paris, do mestre Woody Allen