segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Super 8



Super 8 é um filme que acertará em cheio o coração de cinéfilos quarentões, com sua pegada assumidamente nostálgica e a homenagem escancarada ao cinema dos anos 80, especialmente o de Steven Spielberg – sendo Os Goonies e ET as principais referências. Ambientado em uma era pré-internet e reality shows, Super 8 representa, ainda, uma ingenuidade deliciosa no próprio modo de fazer cinema, com sua fotografia assumidamente antiga e seus protagonistas infantis (crianças que se comportam como crianças, e não adultos em miniatura).

O filme é centrado em um grupo de amigos quer fazer um filme de zumbis – rodado com a câmera super 8 que batiza o longa – e acaba testemunhando um estranho acidente que o governo dos Estados Unidos faz de tudo para camuflar. A trama ainda pega carona na paranoia da época da guerra fria e em uma sociedade para a qual a misteriosa União Soviética era o grande bicho-papão – como os americanos devem sentir falta desses terrores difusos de então. Em meio a esse panorama, a garotada quer fazer cinema e disputar as atenções da menina mais bonita de escola, mas tem sempre que lidar com a intolerância e falta de diálogo da parte dos adultos. Em especial, Joe, que perdeu a mãe em um acidente alguns meses antes e não sabe como se aproximar do pai tenso e sisudo, nem entende porque ele tem tanta bronca do pai da menina por quem ele está apaixonado.

Não tem vez na trama os celulares, a internet e muito menos as câmeras digitais. É tempo de brincar com walk-talkies, revelar filmes e a grande novidade do pedaço é o walkman. Talvez por isso espectadores de outras gerações não entendam muito bem o que emociona tanto o verdadeiro público-alvo de Super 8, que é essa geração que foi adolescente nos anos 80 e cresceu embalada por aventuras incríveis, caças a tesouros, buscas por alienígenas e, sobretudo, uma dose de ingenuidade que não é mais possível nos tempos de hoje.


Assim como ocorre em Os Goonies e ET, os adultos entram em cena como figuras repressoras e coadjuvantes. Que se comportam de forma infantil, arbitrária ou violenta. Portanto, o filme poderia dar terrivelmente errado se não contasse com um elenco infantil de primeira. Mas Super 8, felizmente, tem no seu elenco outro ponto forte. É claro que a ótima Elle Fanning (a irmã de Dakota, que pode ser vista também em Somewhere, de Sofia Coppola) impressiona, mas isso já era de se esperar. O que é preciso destacar e enfatizar é a estreia dos carismáticos Joel Courtney e Riley Griffiths, que dão vida aos melhores amigos Joe e Charles com uma naturalidade e cumplicidade muito gostosa de ser ver em cena. Vamos ficar atentos a esses nomes.

Vale destacar que o longa foi escrito e dirigido por J.J. Abrams, ele próprio um quarentão que com certeza se divertiu muito fazendo esse filme. No mais, é se munir de um bom saco de pipoca e embarcar nessa máquina do tempo divertida e encantadora que é Super 8. 

PS> Não deixem de acompanhar, ao longo dos créditos, a exibição do filme de zumbi feito pelos meninos. Sensacional!

sábado, 27 de agosto de 2011

Amor a Toda Prova


Amor a Toda Prova é daquele tipo de filme que, à primeira vista, se parece com tantos outros que você já viu antes. Ainda assim, a produção agrada e diverte por sua despretensão e delicadeza, associadas a um elenco de primeira linha. Dirigido por Glenn Ficarra e John Requa, a mesma dupla por trás do bom e subestimado I Love You, Phillip Morris, o filme garante não somente a diversão, como também boas doses de reflexão sobre o que é realmente fundamental para manter um relacionamento nos trilhos.

A trama é centrada em Cal Weaver, um quarentão muito satisfeito com a própria vida: tem um emprego estável, filhos adoráveis e um casamento feliz com a mulher por quem sempre foi apaixonado. Mas sua esposa Emily sente-se sufocada pela rotina dos 25 anos de relacionamento. O inesperado pedido de divórcio deixa Cal perplexo e desorientado, ainda mais considerando que sua experiência com o sexo oposto resume-se a Emily. É quando entra em cena Jacob, um conquistador irresistível que resolve fazer as vezes de fada-madrinha e transformar Cal em um novo homem.

Amparado pelo roteiro inteligente e pelas boas falas, o ótimo elenco capitaneado por Steve Carell, Julianne Moore e Ryan Gosling cria cumplicidade e identificação com o público, compondo seus personagens com nuances e delicadeza. Ainda que o filme por vezes tropece no moralismo e tenha alguns problemas de ritmo lá pela metade, o saldo final é mais do que positivo. Crazy, Stupid, Love (no original) traz para a telona os pequenos dramas cotidianos de pessoas comuns, buscando o amor, a cumplicidade, enfim, um relacionamento que as complete e as faça felizes.

Merece uma conferida!


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Planeta dos Macacos – A Origem



Refilmagens, de um modo geral, se situam em terreno pantanoso. Se o diretor toma muitas liberdades em relação a seu antecessor, é acusado de desrespeitar o original; se, por outro lado, o novo filme resulta muito parecido, nos perguntamos por que, afinal de contas, foi feito o remake. No caso de O Planeta dos Macacos, até mesmo um cineasta competente e criativo como Tim Burton tropeçou ao refilmar o clássico da ficção científica na década passada. O novato Rupert Wyatt foi mais esperto e apostou na tendência do momento, que é dar um novo ângulo a um enredo já conhecido. Planeta dos Macacos – A Origem, como o título já define, se situa em um momento anterior e mostra o início da dominação símia sobre o homem.

A história parte do ponto em que o cientista Will Rodman faz experiências em macacos para testar uma droga inovadora que pode curar o Mal de Alzheimer. Mas, devido a um erro de interpretação, o teste final perante os patrocinadores dá terrivelmente errado e o antes promissor cientista cai em desgraça. As cobaias são sacrificadas, com exceção de um chipanzé recém-nascido que Will leva para casa e ao qual se afeiçoa paternalmente. Logo ele descobre que o chipanzé, batizado de Caesar, tem habilidades inacreditáveis e, estimulado, consegue se comunicar através de sinais e demonstrar sentimentos e raciocínio semelhantes ao do ser humano. O grande problema é que, fora de seu restrito círculo familiar, Caesar é visto por todos como apenas um animal. E não gosta nem um pouco disso.


Apesar do roteiro um pouco esquemático, o filme cativa o espectador devido a seu ritmo eletrizante e o frescor que consegue impor a uma história tão conhecida do público. Outro ponto alto são as referências; não apenas ao Planeta original, mas também ao universo sci-fi de um modo geral. E, embora o elenco cumpra bem sua parte (com destaque para o veterano John Lithgow), os personagens humanos são os coadjuvantes da trama e o grande atrativo fica mesmo por conta da macacada digital. O filme comete a ousadia de ter longas sequências protagonizadas somente pelos macacos e – surpresa! – são justamente essas as melhores e mais vibrantes cenas do filme. Através da técnica de captura de expressões faciais, o ator Andy Serkis dá show como o inteligente e revoltado Caesar. Serkis, aliás, já é um expert em dar vida a personagens digitais, tendo no currículo o Gollum da trilogia O Senhor dos Anéis e o King Kong mais recente.

Planeta dos Macacos – A Origem é uma grata surpresa com potencial para agradar tanto aos fãs do clássico com Charlton Heston quanto aos neófitos que não conhecem nada sobre essa ótima alegoria sobre o grau de involução do ser humano. 


terça-feira, 9 de agosto de 2011

Dylan Dog e as Criaturas da Noite



Não podemos desprezar o poder da inversão de expectativa. Tudo que eu lia e sabia antecipadamente deste Dylan Dog e as Criaturas da Noite, que estreou nos EUA em abril, me desanimava um pouco mais a cada dia. A escolha do ator-protagonista me soava equivocada, as imagens veiculadas pareciam tender ao terrorzinho barato e, principalmente, a supressão de um dos personagens centrais da trama cheirava a heresia completa e irrestrita. Para completar, a direção foi entregue a Kevin Munroe, cujo único longa anterior é Tartarugas Ninja – O Retorno. Do alto da minha condição de fã dos quadrinhos que inspiraram o filme, já tendia a desgostar dele antes mesmo de tê-lo visto. Mas não é que o longa, no final das contas, até se mostrou digno?

Pouco conhecidas por aqui, as surreais aventuras do detetive mediador entre o mundo dos vivos e dos mortos são objeto de verdadeiro culto em seu país de origem, a Itália. Provavelmente não existe um italiano de até seus quarenta anos que nunca tenha lido ao menos um fumetto de Dylan Dog. Criado nos anos 80 por Tiziano Sclavi e publicado ininterruptamente desde então, o personagem pode ser descrito como um Sherlock Holmes de ares bogartianos que vive no universo dos irmãos Winchester do seriado Supernatural. Mas Dylan não é um caçador de monstros, pelo contrário; é a ele que os mortos recorrem quando tem algum problema. Para completar, o cara é assessorado por uma figura bufa chamada Groucho – uma espécie de mordomo com direito a bigodão ao estilo Groucho Marx. Doido? Com certeza, o bagulho é doido mesmo. Mas é justamente isso que vem apaixonando os fãs há três décadas.

No longa, Dylan deixou Londres pela Louisiana e se aposentou dos casos sobrenaturais depois que sua amada foi morta por criaturas do além e ele perdeu seu status de homem de confiança dos seres sobrenaturais. Agora ele se dedica a investigações menos polêmicas, como flagrantes de adultério. Mas o misterioso assassinato de um rico contrabandista de artefatos raros faz com que ele, mesmo a contragosto, volte a ser o mediador entre seres humanos e mortos-vivos.


Como filme, Dylan Dog tem pontos positivos e negativos. O que mais faz falta é a presença do irônico Groucho. Com suas tiradas sarcásticas e totalmente fora de hora, o personagem é um dos toques de bizarrice mais interessantes das histórias. Tampouco Brandon Routh – mais conhecido como “o Superman que não deu certo” – pode ser considerado a melhor escolha para o papel. O ator devidamente caracterizado até fica parecido com o Dylan Dog dos quadrinhos, mas deixa a desejar na interpretação. Sem contar que o intérprete ideal deveria ser um pouquinho mais velho e menos marombado. O destaque no elenco fica por conta do ótimo Sam Huntington como o atrapalhado ajudante Marcus - ironicamente, Huntington havia sido Jimmy Olsen no Superman de Brandon Routh.

O filme peca ainda por ser mais referencial do que seria necessário a sucessos do momento, em especial ao seriado True Blood. Mas nem todas as intertextualidades são negativas: uma que foi muito bem sacada, por exemplo, foi a ideia de batizar uma das criaturas como Sclavi, numa divertida homenagem ao criador dos quadrinhos, Tiziano Sclavi. Resumindo: embora seja bastante infiel à HQ, o filme se salva porque teve o bom senso de manter intactos o humor negro e o tom de deboche que são os aspectos mais característicos do Dylan Dog original.

Vale uma conferida, desde que se mantenha o espírito da diversão e não se vá ao cinema com a expectativa ver a adaptação que o personagem merecia. E eu não consigo deixar de imaginar uma coisa: que filmaço Dylan Dog poderia ser nas mãos de um diretor como Sam Raimi. Pronto, falei.

Sexta nos cinemas.