quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A Mulher de Preto


Não vamos ser hipócritas: a grande curiosidade em torno desse filme tem muito mais a ver em saber como Daniel “Harry Potter” Radcliffe se sairá em um papel adulto do que com o longa em si. Não é para menos, já que o público passou os últimos dez anos enxergando o ator através dos indefectíveis oclinhos redondos de seu personagem. Daniel cresceu diante das câmeras e até conseguiu fazer um filme entre um Harry Potter e outro (Um Verão Para Toda Vida, em 2007), mas é como se o ator não tivesse uma identidade separada do célebre menino bruxo. Então havia a grande incógnita: quem é de fato Daniel Radcliffe e o que ele vai fazer da sua carreira agora? A julgar por esse primeiro trabalho, podemos dizer que ele tem potencial para sobreviver à maldição do personagem único.

No terror clássico A Mulher de Preto, Daniel interpreta o advogado Arthur Kipps. Pai de um menino de quatro anos e viúvo inconsolável, Arthur há anos não vem dando a atenção necessária ao trabalho. Como última chance, é praticamente intimado a viajar a um pequeno vilarejo para inventariar todos os papéis e documentos particulares de uma rica senhora recém-falecida. No lugar, todos parecem sempre sobressaltados e ficam ainda mais apavorados quando Arthur anuncia sua intenção de passar alguns dias na mansão da cliente para se inteirar de tudo. O protagonista começa a desconfiar que algo de maligno envolve a propriedade e, de alguma forma, causa tragédias envolvendo as crianças do vilarejo.

OK. A Mulher de Preto não é daqueles filmes de terror impactantes que ficam martelando na nossa cabeça, mas é um filme bastante digno. Apostando mais no suspense clássico dos filmes antigos, evita apelar para o terror fácil de trilha sonora estridente ou para a sexualidade explícita dos adolescentes com hormônios em fúria. Elegância é a palavra de ordem. A trama começa com uma cadência um pouco lenta, mas logo ganha bom ritmo e consegue dar alguns bons sustos. A solução para o mistério poderia ser mais elaborada, é bem verdade, mas o resultado final é satisfatório em termos gerais.


Daniel Radcliffe segura bem um personagem mais adulto do que sua idade cronológica e com uma carga emocional especialmente pesada. E, mais importante, prova que consegue construir um personagem que em nada lembra o famoso Harry Potter. Bom para ele e, por conta disso, cresce a expectativa em conferir seu próximo trabalho: Radcliffe será o poeta Allen Ginsberg no filme Kill Your Darlings, ainda em fase de pré-produção.

Uma curiosidade: Misha Handley, que interpreta o filho de Arthur, é afilhado de Daniel Radcliffe na vida real. A escalação foi sugestão do ator, que acreditava assim poder estabelecer uma empatia mais forte entre os personagens.

Já nos cinemas.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret - o livro


Quem se encantou com o filme de Martin Scorsese pode complementar a experiência com essa beleza de livro escrito por Brian Selznick, lançado aqui no Brasil pela SM Edições. Mesmo as pessoas que não veem muito objetivo em ler um livro depois de já ter visto sua adaptação cinematográfica – não é o meu caso – poderão se surpreender com este aqui. A Invenção de Hugo Cabret, o livro, já foi concebido no papel como um produto cinematográfico. O texto é entremeado por páginas e páginas de imagens que vão muito além da ilustração decorativa, criando uma linguagem híbrida bastante rica. Algumas séries de desenhos, por exemplo, avançam a perspectiva a cada página, criando um originalíssimo efeito de zoom.

A metalinguagem também se faz presente, já que o livro é dividido em duas partes, anunciando já em sua diagramação quando a história do menininho órfão que vive na estação de trem ficará em segundo plano para que o personagem até então conhecido como tio Georges entre em evidência para que se conheça o misterioso passado que ele deseja renegar. E é justamente nessa segunda parte de uma mesma história que tudo ganha um sentido mais amplo e as diversas citações cinematográficas realmente se conectam à trama, ganhando, assim, um sentido mais profundo. Outras descrições são ainda mais diretas em sua evocação da sétima arte, como este trecho inicial:

“Antes de virar a página, quero que você se imagine sentado no escuro, como no início de um filme. Na tela, o sol logo vai nascer, e você será levado em zoom até uma estação de trem no meio da cidade. Atravessará correndo as portas de um saguão lotado. Vai avistar um menino no meio da multidão e ele começará a se mover pela estação. Siga-o, porque este é Hugo Cabret. Está cheio de segredos na cabeça, esperando que sua história comece.”

Mas o livro não é válido somente por seu formato interessante e sua belíssima apresentação. A Invenção de Hugo Cabret é um livro que pode até ser categorizado como literatura juvenil, mas sem que isso esteja associado a nada de simplório em termos intelectuais. Qualquer caráter que ele possa ter de didático está tão brilhantemente inserido em sua trama que sua leitura não somente esclarece e aguça a curiosidade de quem não está familiarizado com os assuntos mencionados como também enriquece a mente de quem está apto a reconhecer suas citações, referências e homenagens diversas.

É, ainda, um complemento necessário ao filme, já que detalha melhor várias passagens que são apenas mencionadas em sua versão para a telona. Somente através de sua leitura, pode-se ter uma noção exata da relação de Hugo com o pai e de como o autômato entrou na vida de ambos, por exemplo. Percebe-se, ainda, que Martin Scorsese, embora tenha realizado um filme bastante fiel em linhas gerais, abriu sua própria perspectiva sobre os personagens – e não poderia ser diferente, já que toda boa adaptação doa um pouco de seu realizador para o produto. Alguns personagens que são mais mencionados do que participantes da ação no livro ganham nova amplitude no filme, como é o caso do agente da estação, enquanto outros que são bastante expressivos no original foram sumariamente eliminados na transposição para o cinema, como é o caso de Etienne.

Outra boa notícia está no fato dos exemplares terem chegado às livrarias com um preço bastante acessível, coisa rara quando se trata de um livro ilustrado (o preço de tabela é R$42,00, mas, como algumas livrarias fazem ofertas em seus sites, é possível encontrá-lo até por menos).

Confiram abaixo algumas ilustrações do livro:





Para ler sobre o filme A Invenção de Hugo Cabret, clique aqui. 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Piores looks do tapete vermelho

Agora vem a contrapartida, com os looks que o A&S não gostou nem um pouco. Eu juro que não é implicância com a moça, mas JLo veio sapucar e depois apareceu no Oscar ainda fantasiada de passista. É bonita, tá com tudo em cima e, por isso mesmo, não tinha necessidade de apelar tanto para o mau gosto e vulgaridade. Viola Davis conseguiu errar em tudo, da cor do vestido ao novo hairstyle. Embora seja preciso admitir que ela parece mais jovem assim, não vejo vantagem nenhuma em se embagulhar para aparentar uns aninhos a menos. E o que dizer da jovem Shailene Woodley, de apenas 20 anos? Essa foi pelo caminho inverso de suas companheiras de infortúnio e meteu um longo branco que a deixou parecendo uma irmã de caridade com pelo menos 10 anos a mais.


Melhores looks do tapete vermelho

O A&S não é especialista em moda – muito pelo contrário –, mas em época de Oscar não tem como não falar do look das estrelas que desfilaram pelo tapetão vermelho ontem. Tomando como critério não somente o vestido, mas principalmente a elegância e estilo de quem o usa, eis uma seleção de três atrizes que arrasaram. É bom destacar que estas três não se apresentaram lindas ontem por sorte, mas estão sempre trajadas com incrível bom gosto.

Natalie Portman opta pela simplicidade do longo tomara-que-caia de pois, que é ainda mais valorizado pelo seu porte esguio; Penélope Cruz mostra que diva não precisa apelar para a vulgaridade e brilha com longo esvoaçante; e Michelle Williams arrasa no alaranjado com babados, modelo que ficaria pavoroso nas simples mortais, mas combina perfeitamente com seu estilo Audrey Hepburn de ser.


Oscar 2012 – Os Vencedores

A equipe de O Artista (com direito ao cachorrinho Uggie e tudo) recebe o prêmio de melhor filme


Ontem conhecemos os vencedores do prêmio cinematográfico mais desejado de todos: os Academy Awards – mais intimamente conhecidos como Oscar. Nenhuma grande surpresa na noite, confirmando as previsões de que seria uma noite francesa em Hollywood. O Artista levou cinco prêmios, mesma quantidade de A Invenção de Hugo Cabret, sendo que o primeiro levou as estatuetas consideradas mais importantes, enquanto o segundo fez a festa com as categorias técnicas. Também o iraniano A Separação coroou sua trajetória vitoriosa (filme já soma mais de trinta prêmios), assim como os coadjuvantes Octavia Spencer e Christopher Plummer. Quanto à disputadíssima estatueta para melhor atriz, a diva Meryl Streep lavou a alma depois de quase trinta anos – seu último Oscar foi em 1983, por A Escolha de Sofia e, desde então, foram doze indicações não-convertidas em prêmios.

Os Oscars de roteiro acabaram sendo prêmios de consolação para dois ótimos filmes: o de roteiro original foi para Woody Allen e seu Meia-Noite em Paris (claro que ele não estava presente à cerimônia), enquanto o de roteiro adaptado foi para Alexander Payne por Os Descendentes. Também foi legal ver a vitória de Rango, que indica que a Academia está começando a mudar um pouco essa mentalidade de que animação tem que ser fofinha.

Por fim, é sempre importante ressaltar o desrespeito da Rede Globo com o telespectador que não tem TV a cabo. A emissora começou a transmissão “apenas” uma hora e meia e treze prêmios depois, ou seja, transmitindo meio Oscar. Tudo isso porque não acredita que a premiação cinematográfica mais famosa do mundo possa ser mais importante do que seu Big Brother, mesmo estando este com seus níveis de audiência em queda livre. Vergonhoso!

Confiram abaixo a lista completa de ganhadores:

Filme – O Artista
Direção – Michel Hazanavicius (O Artista)
Ator – Jean Dujardin (O Artista)
Atriz – Meryl Streep (A Dama de Ferro)
Ator Coadjuvante – Christopher Plummer (Toda Forma de Amor)
Atriz Coadjuvante – Octavia Spencer (Histórias Cruzadas)
Longa de Animação – Rango
Roteiro Adaptado – Os Descendentes
Roteiro Original – Meia-Noite em Paris
Direção de Arte – A Invenção de Hugo Cabret
Fotografia – A Invenção de Hugo Cabret
Figurino – O Artista
Filme em Língua Estrangeira – A Separação (Irã)
Edição – Os Homens Que Não Amavam as Mulheres
Maquiagem – A Dama de Ferro
Edição de Som – A Invenção de Hugo Cabret
Mixagem de Som – A Invenção de Hugo Cabret
Efeitos Visuais – A Invenção de Hugo Cabret
Trilha Sonora – O Artista
Canção Original – Man or Muppet (The Muppets)
Curta de Animação – The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore
Curta-Metragem (Live Action) – The Shore
Documentário Longa-Metragem – Undefeated
Documentário Curta-Metragem – Saving Face


Meryl Streep e Jean Dujardin posam com seus prêmios de melhor atriz e ator

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Cinema Verité


Como é bacana esse telefilme da HBO que mostra os bastidores da criação do primeiro reality show da televisão nos anos 70. O roteiro conta como a família Loud foi convencida pelo documentarista Craig Gilbert a se deixar filmar 24 horas por dia, seduzida pela ideia de que teriam a oportunidade única de mostrar ao mundo o quanto eram interessantes, inteligentes e originais. Assim nasceu Uma Família Americana, programa pioneiro em seu formato. O problema é que, apesar do sucesso de audiência estrondoso, a fama que atingiu os Loud não foi exatamente o tipo de notoriedade que eles almejavam. Manipulados e pressionados, os integrantes acabaram por se deixar enredar nas tramoias de Gilbert, sequioso em criar o maior número possível de desentendimentos para, desse modo, tornar seu produto mais vendável. Logo a família se vê exposta em todas as suas pequenas falhas, fraquezas e atos impensados e descobre estar sendo severamente julgada diante do olhar implacável da mídia. O elenco afinado, liderado por Diane Lane, Tim Robbins e James Gandolfini, está sob o comando dos diretores Shari Springer Berman e Robert Pulcini, que já haviam realizado há alguns anos o ótimo O Anti-Herói Americano (2003). Cinema Verité foi indicado a três Golden Globes: melhor filme feito para a TV, melhor atriz (Diane Lane) e melhor ator coadjuvante (Tim Robbins). Vale a pena conferir.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Irmãos Taviani vencem Berlinale

Cena de Cesare Deve Morire, dos Irmãos Taviani

Enquanto os brasileiros se acabavam no Carnaval, encerrou-se no último sábado o prestigiado Festival de Berlim – ou Berlinale. O grande vencedor do Urso de Ouro foi o longa dos irmãos Taviani, Cesare Deve Morire. O filme acompanha os bastidores dos ensaios de uma versão de Julio César, de Shakespeare, encenada por detentos de uma penitenciária de periculosidade máxima, para onde são enviados assassinos, traficantes e mafiosos. Impressiona como os irmãos Paolo e Vittorio Taviani, aos 80 e 82 anos, seguem realizando obras tão vigorosas. Já o Grande Prêmio do Júri foi para o húngaro Csak a Szél e o Urso de Prata de melhor direção para o alemão Christian Petzold (Barbara), enquanto os prêmios de melhor ator e atriz foram concedidos a Mikkel Folsgaard (En Kongelig Affaere) e Rachel Mwanza (Rebelle).

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret


Embora tenha se cristalizado no imaginário popular como um cineasta especializado em filmes sobre violência urbana e crime organizado, uma olhada mais atenta sobre Martin Scorsese revela, em primeiríssimo lugar, um homem essencialmente apaixonado pela sétima arte. Pesquisador, teórico, documentarista, produtor, ator, Scorsese está muito acima de quaisquer rótulos ou limitações e merece figurar no topo da lista dos maiores cineastas americanos. Seu primeiro Oscar veio tardiamente, em 2007, por Os Infiltrados. Um filme sobre a máfia, ou seja, tipicamente seu. Longe de se acomodar no que sabe fazer muito bem, Marty segue se arriscando fora de sua zona de conforto prestes a completar 70 anos de idade. Depois do thriller psicológico Ilha do Medo, agora chega a nossos olhos e corações esta delicada fábula juvenil sobre o tempo, a arte, a esperança e algumas coisinhas mais.

O Hugo Cabret do título é um órfão que vive em uma estação ferroviária parisiense. Filho de um relojoeiro, depois da morte do pai o menino passa a morar com o tio descuidado e alcoólatra que o tira da escola para que ele o ajude a regular os incontáveis relógios da estação de trem. Mas logo o tio também desaparece e Hugo se vê sozinho outra vez, tendo que permanecer invisível para não ser descoberto e enviado a um orfanato, ao mesmo tempo em que se dedica ferrenhamente a consertar o robô autômato encontrado pelo pai, concentrando todos os seus esforços neste último elo com uma vida feliz.


Hugo já seria interessante neste primeiro plano que retrata a odisseia do menino com seus ponteiros. Tempo, tempo, tempo. Implacável, não volta atrás. Hugo sabe disso, mas acredita poder realizar o impossível, a viagem de volta ao passado – e aos braços do pai –, através do estranho robô projetado para escrever. Como o espectador logo descobrirá, o filme não é apenas sobre isso. Enquanto Hugo quer reencontrar o passado, um homem que interfere em sua jornada tenta desesperadamente esquecê-lo. Um ilusionista de tempos passados que pretende fazer desaparecer sua trajetória.

Hugo é, ainda, sobre o pioneirismo do cinema. Nesse ponto, é muito curioso reparar como há uma forte correspondência entre este filme e seu principal rival nas premiações do ano, O Artista. Ambos foram realizados não apenas como uma homenagem aos primórdios da sétima arte, mas imbuídos de profundo e incondicional amor pela máquina de ilusões então chamada cinematógrafo. Pela sua extrema ingenuidade, magia e, sobretudo, poder encantatório – a correlação com o ilusionismo não é mera coincidência. Existem muitas surpresas no filme envolvendo a história do cinema, inclusive alguns personagens reais, e é com grande esforço que a colunista aqui se abstém de comentá-las, ciente de que sabê-las de antemão minaria parte do prazer de vê-las na telona.


Por fim, o 3D – ferramenta sempre polêmica por seu uso indiscriminado – deste filme é, sem sombra de dúvida, o melhor desde Avatar. Em vez de perder tempo jogando coisas sobre nós, Scorsese se concentra no que torna o efeito realmente interessante e nos põe dentro da trama com sensações de prolongamento e profundidade de campo, seja no mar de passageiros a cruzar as plataformas, seja na deslumbrante tomada aérea de uma Paris que parece infinita. E vale dizer que, apesar de tecnicamente impecáveis, os efeitos especiais de Hugo nunca ofuscam a história ou se sobrepõem ao aspecto humano, deixando sempre em primeiro plano seus atores. Asa Butterfield, o garotinho que fez muito marmanjo chorar em O Menino do Pijama Listrado, cresceu e apareceu, provando que tem muito talento e carisma por trás de seus enormes olhos azuis. Assim como a ótima Chloë Grace Moretz, que já é uma estrela em ascensão aos catorze anos. Abrilhantando o elenco adulto, sir Ben Kingsley, Christopher Lee, Emily Mortimer, Helen McCrory, Michael Sthulbarg e um surpreendentemente contido Sacha Baron Cohen formam uma equipe coesa e competente.


Hugo concorre a onze Oscars, incluindo melhor filme, direção e roteiro adaptado. Tem pela frente a forte concorrência de O Artista. Ambos os filmes apresentam tamanho grau de excelência que é muito difícil apontar qual dos dois seria superior, cada qual com seu charme e suas características particulares. Limito-me a dizer que o Oscar de melhor filme está muito bem entregue indo para qualquer um dos dois. Com que frequência se pode ter o prazer de fazer uma afirmação dessas? 

Amanhã nos cinemas. Deixe o carnaval pra lá e vá correndo assistir.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O Artista vence sete prêmios BAFTA

Meryl Streep e Jean Dujardin recebem os prêmios de melhor atriz e ator

Foram concedidos ontem à noite os British Academy Film Awards (Bafta). O Artista, confirmando seu favoritismo absoluto para o Oscar, levou sete prêmios, incluindo filme, direção e ator. Também seguem invictos os coadjuvantes Octavia Spencer (Histórias Cruzadas) e Christopher Plummer (Toda Forma de Amor). Já no que diz respeito ao embate entre Viola Davis e Meryl Streep pela estatueta de melhor atriz, Meryl ganhou esse round – embora a Academia Britânica seja famosa por privilegiar filmes ou personagens ingleses. A grande surpresa da noite foi a primeira derrota do até então imbatível A Separação na categoria filme estrangeiro. O vencedor foi A Pele Que Habito, de Pedro Almodóvar, que não foi sequer o representante espanhol para o Oscar. O Bafta também foi o primeiro a premiar a ótima animação Rango, até então esnobada. O longa inglês sobre Ayrton Senna venceu dois prêmios, melhor documentário e edição. Confiram abaixo os vencedores:

Filme – O Artista
Filme Britânico  O Espião Que Sabia Demais
Filme Estrangeiro  A Pele Que Habito
Direção  Michel Hazanavicius (O Artista)
Ator  Jean Dujardin (O Artista)
Atriz  Meryl Streep (A Dama de Ferro)
Ator Coadjuvante  Christopher Plummer (Toda Forma de Amor)
Atriz Coadjuvante  Octavia Spencer (Histórias Cruzadas)
Roteiro Original  O Artista
Roteiro Adaptado  O Espião Que Sabia Demais
Fotografia  O Artista
Edição  Senna
Direção de Arte  A Invenção de Hugo Cabret
Maquiagem  A Dama de Ferro
Figurino  O Artista
Efeitos Especiais  Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2
Documentário  Senna
Som  A Invenção de Hugo Cabret
Trilha Sonora  O Artista
Longa de Animação  Rango
Curta de Animação – A Morning Stroll
Curta-Metragem Live Action – Pitch Black Heist
Artista-Revelação  Adam Deacon
Revelação em Direção, Produção ou Roteiro Britânico – Tiranossauro

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Estrada Escura

Patrick Kenzie e Angie Gennaro estão de volta! Se esses nomes não lhe dizem nada, você certamente não é um leitor assíduo de Dennis Lehane, o autor mais interessante da atualidade no gênero policial. Mente criativa por trás das obras Sobre Meninos e Lobos, Paciente 67 e Gone Baby Gone, adaptadas para as telonas por Clint Eastwood, Martin Scorsese e Ben Affleck, respectivamente, Lehane tem como personagens constantes esses dois amigos de longa data que primeiro se tornaram sócios em uma agência de investigações e depois estenderam a sociedade para um apaixonado relacionamento, ao mesmo tempo em que desvendam casos que sempre envolvem a mais pesada escória do submundo de Boston, ou seja, traficantes de drogas, policiais corruptos, mafiosos com ligações internacionais, assassinos frios, estupradores, pedófilos, e por aí vai.

O charme dos personagens está no leve desprezo de ambos pelas autoridades oficiais e também no fato de nem sempre tomarem a atitude politicamente correta que se espera de heróis tradicionais. Assim foi com o já citado Gone Baby Gone, cujo desfecho da história sobre o sequestro de uma menina de quatro anos quase causou o rompimento definitivo do casal. Em Estrada Escura, Angie e Patrick voltam a se deparar com o maior esqueleto em seu armário: Amanda McCready, a menina sequestrada doze anos antes, volta a desaparecer misteriosamente aos dezesseis. Seria uma segunda chance para eles ou a assombração que destruiria de vez o equilíbrio emocional duramente adquirido?

Qualquer que seja o resultado, quem sai ganhando é o leitor, já que o estilo de Dennis Lehane continua afiado, intenso e capaz de deixar o espectador sem fôlego ao longo das pouco mais de 300 páginas de mais esta incrível aventura rumo aos piores aspectos da humanidade. Não é para corações sensíveis. Vale lembrar que é aconselhável (embora não totalmente indispensável) ter lido Gone Baby Gone antes.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A Dama de Ferro


Existem dois fatores bem diversos a serem analisados em A Dama de Ferro: o filme em si e Meryl Streep. Comecemos por ela. Ao longo dos anos, Meryl construiu para si uma das biografias mais invejadas e respeitáveis do mundo do cinema. Foram nada menos do que dezessete indicações ao Oscar (venceu duas vezes, o de coadjuvante em 1980 por Kramer vs. Kramer e o de atriz em 1983 por A Escolha de Sofia) e pelo menos dois personagens memoráveis só nos últimos anos: a freira rigorosa de Dúvida e a implacável Miranda Priestly de O Diabo Veste Prada. Por outro lado, a excelência tem um preço, tanto que é comum ouvir pessoas reclamando que ela “ganha Oscar todo ano”, quando na verdade, a atriz venceu o prêmio pela última vez há quase três décadas.

A interpretação que Meryl entrega da primeira-ministra britânica Margaret Thatcher é mais dos seus trabalhos impecáveis, ao transmutar-se diante de nossos olhos naquela que os soviéticos apelidaram de “dama de ferro”. A aparência, as inflexões, toda a determinação e rispidez da mulher que ousou tomar medidas impopulares e governar segundo suas próprias (nem sempre admiráveis) convicções saltam da tela na atuação magnética de Meryl, que quase nos dá a ilusão de ver a própria Thatcher na telona. Digo “quase” porque a atriz não consegue o efeito de ilusão total somente devido à extrema fragilidade do longa que a emoldura, pois, como filme, A Dama de Ferro deixa terrivelmente a desejar.


Phyllida Lloyd estreou como diretora de cinema há três anos, com o despretensioso Mamma Mia!, versão para as telonas do musical da Broadway. Com a ajuda da própria Meryl Streep e astros como Colin Firth e Pierce Brosnan, conseguiu sair-se bem e achou que já tinha cacife para um projeto ambicioso como a cinebiografia de Margaret Thatcher. Não tem. Aparentemente, Lloyd desconhece coisas elementares como o simples fato de que certos delírios que caem muito bem em um filme do gênero musical podem ser fatais para um filme dramático. Deixando de lado a decisão já discutível de se criar um paralelo entre a trajetória de Thatcher e um presente de decadência e senilidade, o longa é pontuado por cenas fora de tom, provocando risos involuntários em momentos que deveriam ser sóbrios. Convenhamos, qualquer tentativa de levar o roteiro a sério vai por água abaixo com a aparição de um marido morto que assusta a Thatcher senil com uma língua-de-sogra. Tudo sempre acompanhado por uma trilha sonora igualmente inadequada.

Tampouco o roteiro da inglesa Abi Morgan ajuda muito, deixando lacunas inexplicáveis como, por exemplo, menções soltas ao fato do filho da protagonista viver na África e de uma temporada que o marido da mesma teria passado por lá. Não que sejam pontos de extrema relevância, mas é estranho quando se jogam a esmo informações aleatórias e não se explica mais nada a respeito. A opção de rechear as passagens históricas com cenas de caráter documental é outro detalhe que enfraquece ainda mais o filme, especialmente se considerarmos a opção de abordar a biografada de um ponto de vista bem pessoal. Outra escolha estranha é a de Alexandra Roach como a jovem Margaret, que não transmite nem de longe a centelha de poder e força da mulher poderosa que estava por desabrochar. Resumindo, o espectador tem a nítida impressão de ver um todo composto de partes que não se harmonizam.

No meio de toda essa bagunça, Meryl Streep prova a grande atriz que é pelo simples fato de, ainda assim, conseguir revestir de dignidade e credibilidade uma personagem tão maltratada pelo roteiro e pela direção. É ela, auxiliada por um igualmente inspirado Jim Broadbent, que consegue prender a atenção, impressionar e até mesmo comover, a despeito de todo o resto. Meryl é especialmente brilhante na cena em que dá um passa-fora em todo o ministério na sala de reuniões, com seu ar severo, entonação petulante e olhos faiscantes. Uma diva. A Dama de Ferro vale a pena por ela.

O filme entra em circuito normal somente na próxima sexta, dia 17, mas tem diversas pré-estreias agendadas de hoje a domingo.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O Artista



A transição do cinema mudo para o falado, ocorrida gradualmente a partir de 1928, pode ser considerada a mais definitiva de todas as reviravoltas ocorridas na história da sétima arte, já que nenhuma outra foi responsável por decretar o fim de tantas carreiras consagradas ao mesmo tempo em que fazia surgir do nada tantas novas estrelas. O assunto, sempre fascinante, triste e polêmico, já foi enfocado antes em diversos filmes, seja em abordagens melancólicas como Crepúsculo dos Deuses, seja em explosões de alegria como Cantando na Chuva – na minha opinião, o filme que melhor retrata essa passagem.

O francês Michel Hazanavicious, no entanto, queria contar essa história da maneira mais radical possível, ou seja, realizando em pleno século XXI um filme sobre o cinema da década de 20 feito nos moldes da época retratada: mudo e preto-e-branco. Dizem que muita gente riu a princípio de tal ideia, mas o cineasta foi em frente e provou a delícia de rir por último com esta sincera e comovente declaração de amor à sétima arte.


No já citado Crepúsculo dos Deuses, a diva do cinema mudo Norma Desmond resume todo seu desprezo pelos filmes sonoros com a seguinte frase: "não precisávamos de diálogos, tínhamos rostos". A frase parece perfeita para expressar a fagulha de encanto que os carismáticos Jean Dujardin e Bérénice Bejo parecem acender em cada espectador. Ele é um vaidoso astro do cinema mudo que se recusa a considerar a possibilidade de encarar os novos tempos; ela é uma jovem estrela em ascensão que sabe aproveitar a demanda por novos rostos surgida com a sonorização. Assim, assistimos o antes célebre George Valentin – que parece um misto de Errol Flynn, Rodolfo Valentino e Douglas Fairbanks – entrar em declínio enquanto a ex-figurante Peppy Miller ganha as telas em carreira vertiginosa.

A coquetice de Bérénice e as expressões exageradamente bufas de Jean nos transportam diretamente para essa era mágica do cinema americano, quando fazer filmes ainda era mais uma grande empreitada do que uma indústria rigorosamente estruturada e a sétima arte ainda não vivia o dilema entre ser arte ou entretenimento – não que uma coisa exclua outra. Outro “ator” que tampouco podemos deixar de citar é o cãozinho Uggie, responsável por algumas das imagens mais fofas do filme. Também são muito bem sacadas as referências auditivas, que se utilizam do som direto para criar leituras metalinguísticas bem interessantes. Destaque para o pesadelo que o protagonista tem quando constata que o cinema falado veio para ficar.


De antemão, prevejo que vai ter gente acusando o filme de ingênuo. Sim, O Artista é totalmente ingênuo em sua aparência, assim como o eram os filmes da época mostrada, mas é uma produção realizada com tamanha propriedade que parece desafiar qualquer amante da sétima arte a não sentir a pele arrepiar ou as lágrimas chegarem perto dos olhos em determinadas passagens. Do início impressionante ao desfecho espetacular, é um filme concebido com os dois pés no saudosismo, mas não um saudosismo amargurado: o sentimento preponderante em O Artista é a ternura. Pelo fim de uma era e também pela capacidade inesgotável da sétima arte em reinventar a si mesma.

O Artista venceu três Golden Globes (melhor filme, ator e diretor) e concorre a nada menos do que dez Oscars no próximo dia 26. Merece ser premiado não apenas pelo lindo filme que é, mas por sua proposta e pela coragem de levá-la adiante, mesmo contra o consenso geral de que o público de hoje rejeitaria um filme mudo. O que nos leva à velha questão: é o público que não aceita propostas arrojadas ou são os realizadores que não tem coragem de bancá-las? Fica o exemplo e o agradecimento de todos nós que adoramos cinema ao notável Michel Hazanavicius. Possa ela ter outras ideias estranhas e geniais. Amanhã nos cinemas.


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Fãs de Supernatural mobilizados para ver ídolos


Conforme já noticiado, nos dias 5 e 6 de maio deste ano acontecerá no Hotel Windsor Guanabara, no Centro do Rio, a convenção Roadhouse, com a presença de vários atores do seriado Supernatural, atualmente em sua sétima temporada. Além de Jared Padalecki, um dos protagonistas, o evento ainda contará com Misha Collins, Mark Sheppard, Mark Pellegrino e Richar Speight Jr. Embora a convenção só vá ocorrer dentro de três meses, os pacotes, que tem valores que vão desde 55 até 800 reais, já estão quase todos vendidos e vem sendo procurados não somente por brasileiros.

Link para compra de ingressos: http://www.roadhousecon.com.br/

Para ler mais sobre Supernatural, clique aqui.

As Mulheres do Sexto Andar


Na charmosa Paris dos anos 60, Jean-Louis leva uma vida burguesa ao lado da esposa Suzanne. Sua pacata rotina é sacudida pela chegada de Maria, uma empregada espanhola que mora com a tia e outras conterrâneas nos pequenos alojamentos para empregados do sexto e último andar do prédio. Jean-Louis, motivado pelo tédio e pela empatia com Maria, começa a se aproximar das estrangeiras e descobre um mundo até então alienígena para ele, povoado por privadas entupidas, espaços exíguos, violência doméstica e famílias destroçadas pela ditadura franquista. Todo um novo universo bem ali, acima da sua cabeça. Exibido no Festival de Berlim deste ano.

Com um elenco fabuloso, onde se destacam Fabrice Luchini (de Potiche), Lola Dueñas (de Volver) e Natalia Verbeke (de O Que Você Faria?), além da diva almodovariana Carmen Maura, esta simpática comédia cheia de tons românticos e ironia social mostra um divertido confronto de classes entre um grupo de empregadas domésticas exuberantes e um patrão melancólico e distraído. É um verdadeiro choque para Jean-Louis descobrir que logo acima de seu elegante apartamento vivem pessoas em condições tão precárias. Com uma abordagem inusitada, onde o suposto repressor assim o é não por maldade e sim por nunca ter se dado ao trabalho de pensar em dificuldades que não pertencem à sua rotina, o filme, na verdade, faz um rito de passagem para a maturidade de um personagem de meia-idade. Um exemplo disso é quando ele fica sabendo que uma das empregadas é sobrevivente da ditadura de Franco e começa a dar lição de moral nos filhos, dizendo que difícil mesmo é a situação da guerra civil espanhola.

O longa apenas seria mais rico se não tivesse buscado um desfecho tão clichê. Aliás, toda a parte do interesse romântico de Jean-Louis por Maria enfraquece um pouco o restante do filme, que tem muitos outros aspectos interessantes  que poderiam ter sido mais bem desenvolvidos no lugar do batido caso do marido entediado que se encanta com a espontaneidade de uma mulher mais jovem. Afinal de contas, para o protagonista, a descoberta da existência do reino das orgulhosas espanholas do sexto andar vai muito além de uma simples questão amorosa.  

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Ricardo Darín e Gael García Bernal em novo filme de Walter Salles


Boa notícia! O cineasta Walter Sales acaba de divulgar que seu próximo filme, que começa a ser rodado ainda este ano na Argentina e no Chile, terá no elenco os astros Ricardo Darín e Gael García Bernal. O longa, batizado provisoriamente de Terra, contará uma história sobre dois meio-irmãos que se encontram pela primeira vez no funeral do pai. Vale lembrar que Gael já trabalhou anteriormente com Salles em Diários de Motocicleta.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Histórias Cruzadas



Assim como ocorre com A Dama de Ferro (falaremos sobre ele em breve, já que sua data de estreia foi adiada), também Histórias Cruzadas é um filme que se apóia principalmente em seu elenco. A diferença é que, enquanto o primeiro é um incrível tour de force solo de Meryl Streep, aqui temos um verdadeiro time de boas atrizes em interpretações inspiradas, lideradas pela sempre impecável Viola Davis. Ok, eu estou sendo um pouco injusta nesta comparação. Enquanto A Dama de Ferro é de fato um filme equivocado, este Histórias Cruzadas apenas tem contra si o fato de ser um drama realizado nos moldes mais tradicionais possíveis. Também incomoda um pouco o modo como alguns conflitos são abordados, como, por exemplo, o fato das mulheres negras encontrarem sua chance de expressão somente através da boa consciência de alguém vindo do lado das “patroas”.

The Help, no original, é baseado no best-seller homônimo da americana Kathryn Stockett (publicado aqui no Brasil como A Resposta) e narra uma história ambientada em Jackson, Mississipi (um dos estados americanos mais repressores no que diz respeito à segregação racial da época), na década de 60. Skeeter, jornalista recém-formada e aspirante a escritora, acaba de voltar para casa com um diploma e muitas ambições. Não fica claro se a personagem sempre foi mais progressista do que as amigas ou se foram os anos estudando fora de Jackson que a deixaram assim, mas a verdade é que a moça começa a se sentir bastante desconfortável pelo modo como os negros, em especial as empregadas domésticas, são tratados. Mulheres que praticamente criam os filhos das patroas, mas não tem direito a usar o mesmo banheiro que elas.


Unindo a revolta à ambição literária, Skeeter tem a ideia de entrevistar essas mulheres, saber como se sentem, enfim, dar-lhes uma voz. O problema é que ninguém quer falar, todas tem medo das consequências, até que uma delas, Aibileen, se mune de coragem e, aos poucos, ajuda Skeeter a obter os depoimentos de muitas outras mulheres da região, o que acaba por expor hipocrisias e mentiras escondidas por trás das famílias ditas respeitáveis, alavancando uma série de mudanças sociais e comportamentais. 

Este é o segundo longa dirigido e roteirizado pelo ator Tate Taylor (o primeiro foi uma comédia de 2008 intitulada Pretty Ugly People). Taylor sabe manter sua histórias nos trilhos, ainda que recorra excessivamente à manipulação dos sentimentos do espectador e ao maniqueísmo no trato com os personagens, mas tem que ser muito grato antes de tudo ao seu magnífico elenco, que é, no final das contas, a grande força do filme e o motivo pelo qual o longa vem obtendo tanta atenção nesta temporada de prêmios - a mesma história com outro elenco seria como qualquer um desses dramas televisivos que passam por aí na Sessão da Tarde. Viola Davis, Octavia Spencer, Jessica Chastain, Emma Stone e até mesmo atrizes em pequenas participações – como é o caso de Sissy Spacek e Allison Janney – estão todas fantásticas. E é o trabalho de todas essas mulheres admiráveis que faz deste um filme que deve ser visto sem demora. Sexta nos cinemas.