segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Chegará o Dia


Sabem quando o filme já não começa muito bem, mas, ao longo da projeção, piora a cada instante? Assim é este longa: cheio de boas intenções, ambiciona contar mil histórias, mas não consegue alinhavar a contento nenhuma delas – o que faz com que o seu desenvolvimento fique a cada minuto mais problemático. Augusta (a atriz Jasmine Trinca, também protagonista de Mel) resolve vir para o Amazonas depois que seu casamento desmorona e ela entra em crise. De formação católica, primeiro ela auxilia uma freira que tenta evangelizar aldeias indígenas, mas logo surgem divergências de opinião e ela decide continuar sua busca interior por conta própria.

A primeira coisa que incomoda no filme é sua visão excessivamente “gringa” do ambiente que tenta relatar, o que gera uma ingênua exaltação da miséria e da pobreza. Augusta aluga um quarto no que parece ser a comunidade mais pobre de Manaus e fica lá lavando roupa na bica e andando sobre palafitas na maior felicidade. Logo, está envolvida nos problemas do local e é nesse ponto que o roteiro desanda de vez, ao tentar inserir muitos assuntos paralelos. Primeiro, ela demonstra interesse por um rapaz; depois, o rapaz dá sinais se envolver com políticos desonestos que querem expulsar os habitantes dali; tem, ainda, uma situação de uma criança sendo vendida pelo próprio pai. Esses são apenas alguns dos temas que são jogados na história para, logo a seguir, serem deixados de lado.

O filme tem, ainda, um núcleo na Itália que não tem absolutamente nenhuma relevância para a história. São cenas da mãe de Augusta (que tem uma expressão de mártir em absolutamente todas as tomadas) conversando com a filha pela internet ou respondendo às pessoas que perguntam sobre ela. Esse núcleo fica ainda mais desconexo quando a freira com quem Augusta trabalhava chega lá levando uma amazonense (e não se entende o porquê).

Com tantas vertentes criadas, o roteiro se perde e o diretor em vez de tentar amarrar as pontas soltas resolve passar a meia hora final do filme mostrando incontáveis cenas de Augusta pensativa no meio da floresta, tomando banho de rio, abraçando uma árvore, e por aí vai. Como se ele tivesse desistido de vez de contar a história (aliás, as histórias). Chega ao ponto em que a perplexidade é tão grande que não dá mais nem para se aborrecer.

Mostra Panorama


domingo, 29 de setembro de 2013

Mel


Este filme de estreia da atriz Valeria Golino na direção de longas-metragens busca analisar as contradições de uma mulher que escolheu exercer um ofício polêmico: Irene, codinome Mel, é um anjo da morte. Para sua família e as pessoas com quem se relaciona, ela é apenas uma estudante; mas Irene, na verdade, faz parte de um esquema que trafica medicamentos proibidos do México com o objetivo de fornecer morte assistida a pacientes terminais. Irene não o faz somente por dinheiro: ela acredita estar prestando um serviço valioso a pessoas que vivem um sofrimento insuportável e querem morrer com dignidade. Suas convicções são abaladas quando, após fornecer uma solução letal a um cliente, ela descobre que este não tem nenhuma doença e quer morrer somente por estar deprimido.

A eutanásia é um tema espinhoso que já foi abordado recentemente no cinema italiano: no filme A Bela Que Dorme, Marco Bellocchio conseguiu fazer um painel bastante completo do tema. Valeria Golino também levanta várias questões relevantes em Mel, como, por exemplo, o limite ético de ajudar alguém a se matar. A determinada altura, o personagem saudável que enganou Irene para se utilizar dos seus serviços questiona a sua reticência perguntando por que os doentes terminais teriam mais direitos do que ele. A vida, afinal de contas, é um direito ou uma obrigação?

Embora conte com muitas cenas intensas e boas interpretações de Jasmine Trinca e Carlo Cecchi, o filme por vezes parece perder o foco. São inúmeras as cenas que não parecem ter muita explicação ou correlação com a trama, como, por exemplo, os vários closes nos pés de Irene com unhas pintadas de azul. Ou a cena na qual ela pede a uma garota asiática para tirar uma foto com ela. Há alguns enquadramentos e planos que dão a nítida impressão de terem sido feitos para embelezar o filme. Também a aproximação entre Irene e o paciente por vezes parece pouco natural, assim como a súbita falta de firmeza dele em levar adiante seu desejo de morte – ainda mais considerando que o personagem é extremamente decidido sob todos os outros aspectos. Contudo, feitas essas ressalvas, trata-se de uma estreia promissora, um primeiro filme que chama atenção. Mel participou do Festival de Cannes deste ano e recebeu uma menção especial do Júri Ecumênico.

Mostra Expectativa 2013


As Lágrimas


Segundo filme mexicano visto no Festival. Enquanto Heli se destacava pela crueza e violência, este As Lágrimas vai por uma estrada totalmente diversa. A história é focada em Gabriel, um menino que está passando as férias de verão mais entediantes do mundo: a mãe está sempre trancada no quarto (os motivos o espectador fica sabendo mais adiante), o irmão mais velho vive na gandaia e ele fica à deriva pela casa sem ter o que fazer ou com quem brincar.

As Lágrimas é um filme bastante curto, tem pouco mais de uma hora de duração. Portanto, parece estranho que o diretor gaste uma parte considerável desse tempo construindo uma crônica do vazio e do tédio para, somente perto do final, injetar todas as informações na trama de uma vez só. O espectador precisará assistir a mais de meia hora de cenas cotidianas, filmadas em tempo real, antes de ser recompensado com algum enredo. Somente quando os irmãos saem para acampar, o filme realmente começa a dizer a que veio. Mas aí, pouco depois, ele termina.

O diretor Pablo Delgado é um jovem de vinte e poucos anos que está realizando seu primeiro longa-metragem e seu filme é válido como début de um jovem cineasta, como experiência, mas o resultado ainda parece bastante imaturo. De qualquer maneira, os méritos vão para o menino Gabriel Santoyo, que é muito espontâneo e engraçadinho.

Mostra Première Latina


sábado, 28 de setembro de 2013

Entrevista com os diretores de Salvo

Antonio Piazza (à esquerda) e Fabio Grassadonia (à direita) posam diante do cartaz de Salvo

Os sicilianos Antonio Piazza e Fabio Grassadonia estão com tudo: já no primeiro longa como diretores, voltaram do último Festival de Cannes com o Grande Prêmio da Crítica. Agora eles estão no Festival do Rio e concederam essa entrevista exclusiva onde falam sobre o processo de realização do filme, suas influências e, como bons italianos, um pouco de política e crítica social também. Salvo é uma história de vingança e redenção que se passa em um bairro de Palermo dominado pela máfia. Confiram:

Há algum tempo, li uma entrevista onde vocês falavam das dificuldades para realizar esse filme. Como a vida de vocês mudou depois de um prêmio em Cannes?

Nós gostamos de dizer que a vida do filme mudou. Quando fomos a Cannes não tínhamos um distribuidor na Itália e, se esse prêmio não tivesse vindo, talvez o filme nem estreasse no nosso país. Você sabia que um distribuidor brasileiro comprou o filme logo que chegamos lá? Os italianos só compraram depois que fomos premiados.

Salvo não é uma história de máfia como as outras. Há muito mais solidão do que violência na tela. Os criminosos são todos muito tristes. Na visão de vocês, a máfia siciliana está destinada a ter um fim triste? É uma metáfora?

A máfia siciliana não é mais imbatível como antes, perdeu muito de seu poder e influência. Essas organizações ainda são fortes em alguns lugares do país. Na Sicília, nem tanto. Hoje em dia, até mesmo a máfia anda em crise e nós queríamos mostrar esse ambiente sufocante, com personagens que buscam escapar de um lugar que parece desolado, longe do resto do mundo.

“Queríamos contar nossa história do ponto de vista dos dois protagonistas, já que eles possuem diferentes formas de cegueira: a dela, física; a dele, moral.” (Antonio Piazza) 

O filme parece ter muito da fotografia e da atmosfera do western. Você foram influenciados pelos clássicos do Sergio Leone?

Sim, tem essa referência, ainda que o cenário onde ele foi rodado não precise de muita coisa para se assemelhar ao do western, mas também fomos bastante influenciados pelo noir. Você pode reparar que no começo temos muitos planos fechados, em ambientes pequenos. A câmera se move em espaços confinados. Só depois os espaços se expandem, à medida que os dois protagonistas começam a desenvolver uma relação.

Antes de Salvo, você rodaram um curta sobre uma menina cega chamada Rita. Era já uma espécie de ensaio para Salvo?

Mais ou menos. Ela é cega e tem o mesmo nome, mas é uma história completamente diferente. Na verdade, já estávamos escrevendo o roteiro de Salvo naquela época e esse filme teve muita importância para entendermos melhor a questão da cegueira e de como representá-la em cena.

“Queríamos falar destes relacionamentos que são baseados na morte e na falta de liberdade” (Fabio Grassadonia)

Este foi o primeiro filme da Sara Serraiocco (atriz que interpreta a jovem cega), certo? Como vocês chegaram a ela?

Através de testes. Ela é completamente iniciante, nunca tinha feito nenhum tipo de trabalho como atriz, e nós estávamos buscando exatamente isso. Não queríamos que o espectador visse uma atriz conhecida e pensasse nela como “fazendo papel de cega”. Queríamos um rosto novo para dar mais credibilidade à cegueira da personagem. Sara fez uma preparação muito intensa, conviveu com pessoas cegas, andou vendada pela casa que serviria de locação para o filme, enfim, viveu como eles por meses. Ficamos felizes porque agora a Sara foi selecionada para a Scuola Nazionale di Cinema, em Roma.

Com o sucesso de Salvo, quais são os próximos projetos? Vocês podem adiantar alguma coisa?

Neste momento, nosso foco é continuar trabalhando na divulgação de Salvo. Ano que vem começaremos a pensar em um novo projeto. Temos várias ideias, mas ainda não sabemos a qual delas daremos prosseguimento. O que podemos adiantar é que será algo ambientado na Sicília, porque somos os dois originalmente de lá e achamos importante continuar falando da nossa região. Chegamos a um ponto em que não acreditamos mais em grandes mudanças na sociedade. Aliás, não acreditamos em melhoras, já que a mudança para pior sempre ocorre. Então a mudança deve ser individual, inclusive no filme o que podemos ver é que duas pessoas mudam enquanto todo o resto permanece igual.

Terminada a entrevista, Antonio e Fabio seguiram para a première do filme e ainda participaram de um debate com o público após a sessão.

Olha eu aí clicada pelo Wanderson Awlis enquanto os entrevistava na antesala do Estação Botafogo

Debatendo o filme com o público

A Garota de Lugar Nenhum


Já este filme aqui é o esquisito no bom sentido. Trabalhando com uma interessante e ousada mistura de gêneros cinematográficos, o diretor e roteirista Jean-Claude Brisseau (o mesmo de Os Anjos Exterminados, que passou no Festival de 2006) parte de um argumento basicamente noire vai inserindo na trama elementos do cinema expressionista, do terror, do drama e do romance, culminando em um produto final bastante operístico.

Michel é um viúvo de meia-idade solitário que tem sua rotina depressiva alterada quando socorre Dora, uma jovem que havia sido agredida. Contrariando a razão e os conselhos de seu melhor (único?) amigo, Michel a convida para ficar um tempo em sua casa. Dora é um espírito livre, parece uma pessoa sem amarras e, portanto, sem nada a perder. Seu ar misterioso e seus modos diretos trazem um novo ânimo para a vida do professor aposentado e triste.

A Garota de Lugar Nenhum certamente não é um filme para agradar a todos os públicos. A narrativa passeia livremente pelos mais diversos estilos. Numa hora os personagens têm longas conversas filosóficas, mas na cena seguinte são assombrados por criaturas bizarras. Os limites entre o poético e o kitsch nunca foram tão tênues, porém é tudo realizado de modo muito plástico e pautado por um senso estético que nunca deixa as cenas descambarem para o ridículo  por mais surreais que sejam. Especialmente indicado para apreciadores do cinema de David Lynch. O filme venceu o Leopardo de Ouro do Festival de Locarno 2012. Uma curiosidade: o apartamento que serve de locação para a maior parte da história é a residência do próprio Jean-Claude Brisseau.

Mostra Panorama


Dia movimentado no Pavilhão do Festival

Hoje teve desfile de astros no Pavilhão do Festival: passaram por lá a atriz Dakota Fanning (de Night Moves), o diretor Juan José Campanella (de Um Time Show de Bola) e a diretora Claire Denis (de Bastardos e com outros filmes em retrospectiva). As fotos são todas de André Moreira.


Dakota Fanning fez a linha hollywoodiana...


Já Campanella chegou todo trabalhado na elegância portenha...


...e Claire Denis descontraiu total.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O Espírito de 45


O filme marca o retorno do inglês Ken Loach ao gênero documentário. A julgar por esse trabalho, o cineasta faria melhor em continuar no terreno da ficção. O Espírito de 45 se vale de muitas imagens de arquivo e depoimentos de diversas épocas para falar de dois momentos políticos da história recente da Inglaterra: o pós-guerra, quando o país supera a miséria das décadas anteriores e a vitória do partido trabalhista alavanca uma série de mudanças sociais, com foco no fortalecimento das instituições públicas (saúde, assistência social, bens e serviços). Num segundo momento, Loach compara esse período de fartura e bem-estar com as medidas duras tomadas no governo Thatcher, voltadas para enriquecer a economia do país em detrimento do bem-estar de seus cidadãos.

Não é que Ken Loach não esteja falando de um tema válido, mas O Espírito de 45 poderia ser um pouco mais cinema e menos panfletagem. Ter uma posição política clara é uma coisa (e todos já sabemos que o cineasta é de esquerda), mas realizar um filme que não consegue se soltar das amarras da propaganda é outra. E pior, é manipulação feita sem o humor e a criatividade de um Michael Moore. Sem contar que o formato do filme é a coisa mais ultrapassada do mundo. Também a edição deixa a desejar: em diversos momentos, algum entrevistado diz algo interessante, mas continua falando por tanto tempo que fica impossível manter o foco no assunto. Por diversas vezes, a tela escurece e temos a impressão de que o longa acabou; mas, logo a seguir, a imagem volta a clarear e o entrevistado fala mais um pouco, porém sem dizer nada de tão diferente do que já havia sido dito antes.

O mais engraçado é que, ao final da projeção, algumas pessoas resolveram aplaudir o filme. Talvez porque o esteja na moda se mostrar politizado. Didático e com tom de filme institucional, o documentário não deve causar tanto furor assim nem mesmo entre os britânicos.

Mostra Panorama: Grandes Documentaristas


Night Moves


Night Moves é um filme que possui diversas qualidades, mas também inúmeros pontos fracos. A história acompanha três ativistas ambientais que planejam explodir uma represa e as futuras consequências dessa decisão. Mas não à maneira dos filmes policiais, onde o que está em jogo é ser ou não apanhado pelo delito, e sim pelo lado psicológico. O filme mostra como pessoas diferentes lidam de modo diverso com situações de risco e como uma consciência culpada acaba denunciando mais do que qualquer pista deixada. A trama é centrada em Josh, personagem de Jesse Eisenberg, e em como suas convicções vão sendo minadas à medida que Dena, uma das participantes do ato, começar a perder o equilíbrio.

A primeira metade do filme é muito boa, com uma tensão que cresce a cada instante. Primeiro, existe o suspense da realização do atentado em si; depois, a tensão causada pelo clima claustrofóbico que se cria conforme a paranoia vai se instalando em Josh. E grande parte do mérito é de Jesse Eisenberg, que finalmente deixa de lado os cacoetes de nerdatrapalhado que vinha apresentando em todos os seus personagens e entrega a uma interpretação madura, interiorizada e bastante convincente. O problema é que a segunda metade do filme não consegue manter a história nos trilhos e começa a abusar de soluções apressadas, até culminar em um desfecho decepcionante. A impressão que fica é a de que a diretora Kelly Reichart, também uma das autoras do roteiro, teve um compromisso de última hora e terminou o filme às pressas.

Este é um dos filmes que desembarcaram aqui no Rio vindos diretamente do Festival de Veneza. Na bagagem, ainda vem a atriz Dakota Fanning – que participa da sessão de gala que acontece amanhã à noite no Cine Odeon, embora seu personagem seja bem coadjuvante. Fazendo uma média das partes boas e ruins, o filme fica no patamar do razoável.

Mostra Panorama



quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Apenas Deus Perdoa


Este é o novo trabalho do dinamarquês Nicolas Winding Refn, que causou muito furor no Festival do Rio há dois anos com Drive – que era um bom filme, mas estava longe de ser essa perfeição toda. Também é a segunda parceria dele com Ryan Gosling e, considerando o sucesso obtido com o longa anterior, o mundo aguardava muito ansiosamente este filme, que tem dividido opiniões. Se em Cannes a acolhida não foi nada boa, o filme chegou a ser premiado no Festival de Sydney. Esses australianos...

Apenas Deus Perdoa é um filme muito confuso, repleto de estímulos visuais gritantes, construído em cima metáforas que pretendem ser profundas (mas nunca chegam a lugar nenhum) e pontuado por uma violência extrema que não acrescenta nada. Gosling é Julian, membro de uma família mafiosa que usa uma academia de boxe em Bangkok como fachada para o tráfico de drogas. O moço é cheio de complexos e quando o seu violento irmão, que é o preferido da mãe, é assassinado pelo pai de uma menina que ele estuprou e assassinou, Julian começa a ser pressionado pela mãe a tomar uma atitude e vingar a honra da família.

Um argumento danado de interessante que se perde em meio a tanta pirotecnia estilística. O filme é tão irregular e desconexo que não consegue prender a atenção do espectador, que começa a divagar entre a vermelhidão de uma cena e outra. Dá até pena ver a sempre expressiva Kristin Scott Thomas desperdiçada desse jeito. Enfim, é um filme que promete coisa demais e acaba não entregando quase nada. Com um pouco mais de atenção com o roteiro e menos malabarismos visuais, Winding Refn poderia ter criado algo de bombástico. Mas ficou só na intenção.

Mostra Panorama


Amazônia 3-D


Não sei o que causa mais espanto: este filme abrir o Festival do Rio ou ter sido o longa de encerramento do Festival de Veneza. Amazônia é mais uma bela coleção de imagens do que um filme propriamente dito. OK, Thierry Ragobert fez vários registros deslumbrantes da natureza e captou flagrantes incrivelmente próximos de animais selvagens em seu habitat natural; OK, o macaco protagonista é uma gracinha; mas, feitas essas louváveis ressalvas, não sobram outros atrativos que justifiquem e sustentem uma hora de vinte minutos de projeção.

O roteiro é um fiapo de história: um pequeno avião que trafica animais sabe-se-lá para onde cai na floresta amazônica e um macaco-prego sobrevive e se solta de sua jaula (aliás, é libertado por outro animal). A partir daí, o filme acompanha suas peripécias na floresta: ele tem que aprender a se alimentar, fugir dos predadores, buscar outros de sua espécie, etc. Intercalam-se às cenas do macaquinho muitas tomadas da floresta e da vida in natura, mas o problema é que é tudo muito entediante. Mesmo os documentários da National Geographic ou o Globo Repórter conseguem entreter melhor o espectador, já que este filme aqui é puro visual e nem narração possui. Tampouco empolga como obra de ficção, já que para isso precisaria haver uma trama mais palpável. Além disso, o 3D é ineficiente e chega a atrapalhar em diversas cenas, que ganham um ar artificial demais.

Para completar, os dez minutos finais apresentam uma lição bem didática de consciência ecológica. Outras produções feitas anteriormente – como A Marcha dos Pinguins, por exemplo – já mostraram que um filme pode passar uma mensagem e, ao mesmo tempo, ser um produto atraente e emocionante. Infelizmente, não é o caso deste. Se você, caro leitor, não for um aficionado por natureza ou ativista da causa ecológica, é melhor esquecer.

Filme de abertura


terça-feira, 24 de setembro de 2013

Site do Festival tem programação completa


No site oficial do Festival do Rio já é possível consultar a grade completa com a programação dessas duas semanas de maratona cinematográfica, com buscas específicas por título, diretor, mostra, sala de exibição, bairro ou data, além das sinopses dos filmes, preços dos cinemas e informações diversas.

Qualquer dúvida, basta acessar o http://www.festivaldorio.com.br/


Sonar


A sinopse desse filme parece remeter ao cinema de Ingmar Bergman e a alguns filmes de Woody Allen: um grupo se reúne em uma casa de campo para relembrar um amigo que havia se suicidado pouco antes e tentar entender seu gesto. Ao longo do final de semana, surgem confissões e novos sentimentos. Nada contra longas que se valem desse estilo intimista e mais teatral do que cinematográfico, afinal de contas grandes filmes já foram feitos desse modo, inclusive um brasileiro – o excelente A Falta Que Nos Move. Mas quem realiza um filme nestes moldes tem que ter algo a dizer ou, pelo menos, conquistar o espectador através de imagens significativas. Sonar é incrivelmente malsucedido sob qualquer ótica.

Com uma pegada de documentário caseiro, Sonar dá ao espectador a impressão de estar assistindo a um reality show – e um daqueles onde nada de interessante acontece. O filme é uma interminável sucessão de cenas de “pegação” entre os amigos, intercaladas com tomadas de árvores, diálogos banais e esparsas citações ao falecido Franck (aliás, o único personagem de quem ficamos sabendo o nome). Não bastasse a falta de conteúdo em termos de história, a forma como o filme é realizado também transpira amadorismo. A fotografia tenta tão desesperadamente se mostrar moderna e descolada que parece coisa de criança que acabou de ganhar uma câmera. Depois de quinze minutos ninguém aguenta mais personagens sem cabeça e planos desfocados. O filme é curto, tem apenas 77 minutos, e parece levar horas. A certa altura, uma personagem confessa “não sei o que estou fazendo aqui” e é difícil não se sentir da mesma maneira.

É possível apreciar um filme pesado e cansativo quando este apresenta um conteúdo relevante, assim como um filme superficial pode agradar se for divertido. O diretor Athanasios Karanikolas, grego de nascimento, consegue juntar o pior de dois mundos, ao realizar um filme banal e entediante. Um verdadeiro teste de paciência.

Mostra Foco Alemanha




segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Emmy Awards – os vencedores

Matt Damon e Michael Douglas posam para os fotógrafos antes da premiação

Pequeno parêntese na cobertura do Festival do Rio para divulgar os premiados da 65ª edição do Emmy Awards. O assunto, porém, não deixa de ter relação com o Festival, já que Behind the Candelabra – que já tinha levado oito prêmios técnicos na cerimônia que acontece antes da oficial – faturou, ainda, os Emmys de melhor telefilme, direção e ator. Confiram abaixo os vencedores da noite de ontem:

Série (drama) – Breaking Bad
Série (comédia) – Modern Family
Minissérie ou telefilme – Behind The Candelabra
Ator (drama) – Jeff Daniels (The Newsroom)
Atriz (drama) – Claire Danes (Homeland)
Ator (comédia) – Jim Parsons (The Big Bang Theory)
Atriz (comédia) – Julia Louis-Dreyfus (Veep)
Ator coadjuvante (drama) – Bobby Cannavale (Boardwalk Empire)
Atriz coadjuvante (drama) – Anna Gunn (Breaking Bad)
Ator coadjuvante (comédia) – Tony Hale (Veep)
Atriz coadjuvante (comédia) – Merritt Wever (Nurse Jackie)
Ator (minissérie ou telefilme) – Michael Douglas (Behind The Candelabra)
Atriz (minissérie ou telefilme) – Laura Linney (The Big C: Hereafter)
Ator coadjuvante (minissérie ou telefilme) – James Cromwell (American Horror Story: Asylum)
Atriz coadjuvante (minissérie ou telefilme) – Ellen Burstyn (Political Animals)
Roteiro (drama) – Henry Bromell (Homeland)
Roteiro (comédia) – Tina Fey e Tracey Wigfield (30 Rock)
Roteiro (minissérie ou telefilme) – Abi Morgan (The Hour)
Roteiro (variedades) – Equipe de The Colbert Report
Direção (comédia) – Gail Mancuso (Modern Family)
Direção (drama) – David Fincher (House of Cards)
Direção (minissérie ou telefilme) – Steven Soderbergh (Behind the Candelabra)
Direção (variedades) – Don Roy King (Saturday Night Live)
Reality show – The Voice
Show de variedades – The Colbert Report
Coreografia – Derek Hough (Dancing with the Stars)

domingo, 22 de setembro de 2013

Spring Breakers: Garotas Perigosas


Eis outro filme que não tinha espaço nas telonas e estava previsto para ser lançado diretamente em DVD. O filme é especialmente interessante para quem já assistiu ao longa de Sofia Coppola The Bling Ring. A grande diferença é que enquanto Sofia mantém sua elegância habitual para falar de um grupo de adolescentes de classe média que assaltava mansões para roubar roupas de grife, esse filme de tema muito semelhante mete o pé na jaca e leva o espectador numa viagem regada a muito exagero, drogas, armas, sexo e até uma música de Britney Spears cantada em um contexto totalmente original.

As garotas do título são um grupinho de adolescentes fúteis e inconsequentes que cometem um assalto a uma lanchonete para financiar as férias às quais não querem renunciar por uma “simples” questão de falta de dinheiro. O problema é que elas tomam gostinho pela adrenalina e em vez de curtir o mar e o sol começam a viver perigosamente sem medir as consequências. Daí a se envolver com gente barra-pesada é um pulo. Com uma montagem estilo videoclipe, o filme oferece um assustador retrato de uma juventude hedonista e que cresceu pautada por videogames e pelo culto às celebridades. Destaque para James Franco como o traficante que quer ter seu harém de meninas perigosas – desde já, antológica a cena do ator simulando sexo oral com o cano de uma pistola. O elenco ainda traz as estrelinhas da Disney Selena Gomez e Vanessa Hudgens em papéis ousados, com destaque para Vanessa.  

Defeito? Não chega a ser um, mas o filme tem uma estrutura de repetição de cenas que poderá incomodar algumas pessoas, porém uma vez ultrapassada essa pequena barreira, é impossível não se render à energia explosiva das sequências, à entrega dos atores e, sobretudo, à direção magistral de Harmony Korine – ator, diretor e roteirista mais conhecido pelos roteiros de Kids e Ken Park, de Larry Clark.

Vale lembrar que quem estiver sem espaço para este filme em sua programação não precisa se preocupar: ele chega às locadoras em outubro, ao fim do Festival.

Mostra Panorama


Behind the Candelabra


Uma das atrações que vale muito a pena conferir é essa produção da HBO dirigida por Steven Soderbergh. Como a maioria dos longas feitos para a TV, Behind the Candelabra se situa em um vácuo de mercado que tornaria muito difícil sua chegada a um circuito comercial brasileiro, mas, felizmente, ei-lo no Festival.

O filme enfoca o relacionamento do célebre showmanLiberace com um de seus namorados, Scott Thorson – o roteiro foi baseado na autobiografia do próprio Scott. Michael Douglas, em uma incrível transformação não somente física, mas também em termos de gestos e cacoetes, entrega aquela que talvez seja a melhor interpretação de sua carreira. Seu Liberace alterna momentos de profunda carência com estrelismo, soberba e até mesmo uma boa dose de crueldade. Igualmente impressionante é Matt Damon como o namorado que vive o céu e o inferno no relacionamento com a estrela. Por ser a parte economicamente dependente, Scott acaba sendo constrangido a uma série de abusos, desde chantagens emocionais até cirurgias plásticas invasivas.

Steven Soderbergh, um cineasta de altos e baixos, sempre acaba atingindo melhores resultados em projetos nos quais parece não depositar muitas ambições artísticas. Aqui ele dirige de forma discreta, sem arroubos estilísticos, e deixa os atores brilharem nesta crônica de um relacionamento doentio. Behind the Candelabra é produto televisivo sim, mas de uma qualidade superior a muita coisa feita para a telona.

Mostra Panorama



sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Aquecimento para o Festival 2013


Estivemos ausentes em 2012, mas é hora de retomar a tradição: a partir de agora o A&S deixa em stand-by as demais editorias para se dedicar exclusivamente à cobertura do evento cinematográfico que todo cinéfilo carioca aguarda ansiosamente, o Festival do Rio.

Mas peraí, o Festival não começa no dia 26? Sim e não. Embora o Festival tenha sua cerimônia de abertura somente na próxima quinta, a imprensa já está sendo convocada para sessões privadas e é isso que possibilita que diversos filmes sejam resenhados antecipadamente.

Como são mais de trezentas opções para duas semanas, as análises serão mais curtas e objetivas. Ao final, vocês encontrarão sempre a indicação da mostra à qual pertence o filme e também uma cotação – esse ano, personalizada com a logo do Festival. 

Então é assim:

 = fuja!
 = por sua conta e risco
 = vale uma conferida
 = boa pedida
= imperdível!

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Festival do Rio – Quem vem

Dakota Fanning em cena de Night Moves, que terá sessão de gala no Odeon

Confirmados alguns diretores e atores que marcarão presença no Festival: na primeira semana teremos, dentre outros, a atriz Dakota Fanning e os diretores Claire Denis e Paul Schrader (que é homenageado com mostra especial). Teremos ainda a presença de Antonio Piazza e Fabio Grassadonia, premiados na Semana da Crítica do Festival de Cannes com o longa Salvo. Também confirmaram participação, mas ainda sem as datas, os diretores Alain Guiraudie, Claire Simon, Amat Escalante e Juan José Campanella. Confiram abaixo a relação de convidados da primeira semana:

Dakota Fanning (atriz) – Filme: Night Moves
Claire Denis (diretora) – Filme: Bastardos
Paul Schrader (diretor) – Filme: The Canyons + retrospectiva
Ryan White (diretor) – Filme: Good Ol’ Freda
Jean-Claude Brisseau (diretor) – Filme: A Garota de Lugar Nenhum
Santiago Loza (diretor) – Filme: La Paz
Maryte Kavaliauskas (diretora) – Filme: Richard Artschwager: Cale-se e Olhe
Jeremy Scahill (ator) – Filme: Guerras Sujas
Antonio Piazza e Fabio Grassadonia (diretores) – Filme: Salvo
Sibylle Dahrendorf (diretora) – Filme: Christoph Schlingensief e a Vila Opera em Burkina Faso
Athanasios Karannikolas (diretor) – Filme: Sonar
João Viana (diretor) – Filme: A Batalha de Tabatô
Luigi Cinque (diretor) – Filme: Hotel Transeuropa
Dan Hunt (diretor) – Filme: Mr. Angel
Jasmine Trinca (atriz) – Filme: Mel
Arnaud des Pallières (diretor) – Filme: Michael Kohlhaas
Marco Berger (diretor) – Filme: Havaí
Yann Gonzalez (diretor) – Filme: Os Encontros da Meia-Noite
Alejo Moguillansky (diretor) – Filme: O Papagaio e o Cisne
Mário Patrocínio (diretor) – Filme: I Love Kuduro
Cherien Dabis (diretora) – Filme: May e o Verão
Thomas Arslan (diretor) – Filme: Ouro