segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

10+ e 10-


Em um ano tão diversificado, foi difícil fazer uma lista de 10+ e 10-...

Alguns eleitos podem não ser ponto pacífico dentre os cinéfilos, mas os filmes que me encantaram e me decepcionaram nesse ano que passou foram definitivamente os seguintes:

10+

1 – O Segredo dos Seus Olhos (El Secreto de Sus Ojos)
2 – A Origem (Inception)
3 – Ilha do Medo (Shutter Island)
4 – Educação (An Education)
5 – Harry Potter e as Relíquias da Morte (Harry Potter and the Deathly Hallows)
6 – Machete (idem)
7 – Amor sem Escalas (Up in the Air)
8 – Sede de Sangue (Bakjwi)
9 – Tudo Pode Dar Certo (Whatever Works)
10 – Antes Que o Mundo Acabe (idem)

10-

1 – A Caixa (The Box)
2 – O Último Mestre do Ar (The Last Airbender)
3 – Um Olhar do Paraíso (The Lovely Bones)
4 – 400 Contra 1 (idem)
5 – Lembranças (Remember Me)
6 – A Hora do Pesadelo (A Nightmare on Elm Street)
7 – Criação (Creation)
8 – Almas à Venda (Cold Souls)
9 – O Pecado de Hadewijch (Hadewijch)
10 – Sex and the City 2 (idem)

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Globo de Ouro 2011


E saiu hoje a lista de indicados ao Globo de Ouro 2011, sempre considerado uma boa prévia para o Oscar – embora nem sempre a fama se justifique. No segmento cinematográfico, alguns candidatos esperados como A Rede Social, A Origem e O Discurso do Rei dividem as apostas com outros que até então não estavam sendo tão cotados, como Cisne Negro e O Turista. Sobre esse último, causa ainda mais estranheza vê-lo classificado na categoria comédia ou musical, já que tudo indica tratar-se de um thriller de aventura. Mais uma daquelas saias-justas causadas pela classificação reducionista do prêmio em apenas duas categorias.

Dentre os atores, Johnny Depp disputa um Globo consigo mesmo, o que quase nunca é bom, já que a indicação dupla acaba gerando uma divisão de votos e prejudicando o candidato. Vale lembrar que no ano passado Kate Winslet levou os dois prêmios a que concorria, mas em categorias distintas (atriz e atriz coadjuvante).

Embora não se possa ainda comentar a performance em si pelos seus filmes não terem estreado, é sempre bom ver atores da competência de Jake Gyllenhaal, Natalie Portman, Paul Giamatti e Helena Bonham Carter sendo reconhecidos. Das atuações já vistas, são justíssimas indicações para os meninos de A Rede Social, Jesse Eisenberg e Andrew Garfield, e para as fabulosas Annette Bening e Julianne Moore de Minhas Mães e Meu Pai. O que parece fora do tom? Halle Berry, que nunca convenceu (nem mesmo quando de fato ganhou um Oscar), e o sempre superestimado Jeremy Renner (o que o povo de Hollywood vê nesse cara?).

Duas categorias que parecem ter um favorito são filme de animação (Toy Story 3) e filme estrangeiro (Biutiful é o único que vem causando bafafá). No mais, é fazer as apostas e esperar pelos vencedores, que serão divulgados no dia 16 de janeiro de 2011. Confiram abaixo todos os indicados em cinema:

Helena Bonham Carter e Colin Firth em O Discurso do Rei
Filme - Drama
Cisne Negro
O Vencedor
A Origem
O Discurso do Rei
A Rede Social

Filme – Comédia ou Musical
Alice no País das Maravilhas
Burlesque
Minhas Mães e Meu Pai
Red – Aposentados e Perigosos
O Turista

Ator - Drama
Jesse Eisenberg (A Rede Social)
Colin Firth (O Discurso do Rei)
James Franco (127 Horas)
Ryan Gosling (Blue Valentine)
Mark Wahlberg (O Vencedor)

Natalie Portman como a bailarina de Cisne Negro
Atriz - Drama
Halle Berry (Frankie e Alice)
Nicole Kidman (Rabbit Hole)
Jennifer Lawrence (Inverno da Alma)
Natalie Portman (Cisne Negro)
Michelle Wiliams (Blue Valentine)

Ator – Comédia ou Musical
Johnny Depp (O Turista)
Johnny Depp (Alice no País das Maravilhas)
Paul Giamatti (Barney's Version)
Jake Gyllenhaal (O Amor e Outras Drogas)
Kevin Spacey (Casino Jack)


Johnny Depp e Angelina Jolie em O Turista

Atriz – Comédia ou Musical
Annette Bening (Minhas Mães e Meu Pai)
Anne Hathaway (O Amor e Outras Drogas)
Angelina Jolie (O Turista)
Julianne Moore (Minhas Mães e Meu Pai)
Emma Stone (A Mentira)

Ator Coadjuvante
Christian Bale (O Vencedor)
Michael Douglas (Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme)
Andrew Garfield (A Rede Social)
Jeremy Renner (Atração Perigosa)
Geoffrey Rush (O Discurso do Rei)

Atriz Coadjuvante
Amy Adams (O Vencedor)
Helena Bonham Carter (O Discurso do Rei)
Mila Kunis (Cisne Negro)
Melissa Leo (O Vencedor)
Jacki Weaver (Animal Kingdom)

Diretor
Darren Aronofsky (Cisne Negro)
David Fincher (A Rede Social)
Tom Hooper (O Discurso do Rei)
Christopher Nolan (A Origem)
David O. Russell (O Vencedor)

A Rede Social, considerado um dos favoritos
Roteiro
127 Horas
A Origem
Minhas Mães e Meu Pai
O Discurso do Rei
A Rede Social

Longa de Animação
Meu Malvado Favorito
Como Treinar seu Dragão
O Mágico
Enrolados
Toy Story 3
Canção Original
Burlesque (Bound to You)
Burlesque (You Haven't Seen The Last of Me)
Country Strong (Coming Home)
As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada (There's A Place For Us)
Enrolados (I See the Light)

Trilha Sonora
127 Horas
Alice no País das Maravilhas
A Origem
O Discurso do Rei
A Rede Social

Filme em Língua Estrangeira
Biutiful (México)
Io sono L’Amore (Itália)
O Concerto (França)
Kray (Rússia)
Hævnen (Dinamarca)

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Machete


Machete é quase uma lenda dentre os cinéfilos desde que seu falso trailer (o filme ainda não existia na época) foi veiculado há três anos junto com Planeta Terror, a metade de Robert Rodriguez no projeto Grindhouse. O personagem-título é um policial mexicano que é traído pelos companheiros corruptos e tem a esposa assassinada diante dos seus olhos. A partir desse prólogo, o filme avança um pouco no tempo e vemos que, depois de cair em desgraça na sua terra natal, Machete agora é um imigrante ilegal nos Estados Unidos e vive de pequenos bicos. A opinião pública está cada vez mais contra a imigração, graças à militância ferrenha de políticos extremistas como o senador John McLaughlin, interpretado por Robert DeNiro. O que Machete não sabe – mas está prestes a descobrir – é que os mesmos marginais que assassinaram sua esposa mantêm estreitas relações com iminentes cidadãos americanos.

Certamente muitas pessoas acusarão Robert Rodriguez de fazer uma colagem de seu próprio cinema, com referências bem claras a seus longas anteriores e ainda ao trabalho de outros diretores, em especial ao do seu chapa Tarantino. Sim, é verdade, mas isso não desmerece em nada a eficácia com que o cineasta orquestra essa colcha de retalhos exagerada, absurda e incrivelmente genial. Com uma incrível cara-de-pau, Rodriguez enche seu protagonista de frases muito clichês, sem o mínimo constrangimento em reverenciar o cinema de sangue e porrada dos anos 80 (a participação do cara de totem Steven Seagal é o exemplo máximo disso). Pérolas como “Machete não manda mensagem de texto” ou “por que ser um homem, quando se pode ser uma lenda?” saem com a maior naturalidade da boca de Danny Trejo, sujeito brutamontes e feio que seduz todas as gatas do filme com sua macheza sem precedentes. Momento mais bizarro? Inúmeros, mas destaco a cena em que Machete descobre uma utilidade prática para o fato de o intestino humano ter vinte metros de comprimento.

Se tudo se resumisse a risos, sangue e metalinguagem, já teríamos um bom filme. Mas Machete vai além, usando a fita de pancadaria para criar uma crônica subversiva do fascismo que repousa sob a fachada da terra da liberdade propagandeada pelos americanos. Rodriguez ridiculariza a extrema-direita e sua incoerência em odiar os “cucarachos”, mas não conseguir viver sem a força de trabalho deles. Também mostra os conservadores todos como pervertidos, sendo todos os mocinhos do filme interpretados por atores de origem hispânica. E o legal é que o filme trabalha bem nesses dois níveis de compreensão, porque o espectador que não estiver nem aí para esse tipo de problema e quiser ir ao cinema apenas para se divertir, tampouco sairá decepcionado, porque o filme é bastante dinâmico e engraçado.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Megamente


Com a aposentadoria do ogro Shrek, eis que a Dreamworks dá ao público um novo anti-herói esquisito para amar: um alienígena azul, cabeçudo e com sérios problemas de ortografia. Com a iminente destruição de seu planeta, o bebê Megamente é posto numa cápsula espacial, tendo como únicas companhias sua chupeta e um servo – um peixe dentuço chamado simplesmente de Criado. Desde pequeno, Megamente é azarado. Sua nave aterrissa numa penitenciária e ele é adotado pelos detentos, que o educam pelos parâmetros do Mal. Destino oposto ao de outro bebê vindo do espaço que, ao cair numa mansão e receber tudo do bom e do melhor, torna-se o super-herói Metroman. A simbiose entre os dois alienígenas e sua crescente rivalidade é subitamente interrompida quando Megamente, quase sem querer, consegue aniquilar o desafeto e descobre o tédio de não ter mais um opositor. De que adianta ser o manda-chuva sem um inimigo para desafiar?

A partir dessa premissa simples, o filme desenvolve uma trama bastante interessante e divertida. O protagonista é especialmente bem delineado: sob sua capa espalhafatosa de gênio do mal, risadas estridentes e planos mirabolantes, podemos notar os traumas e inseguranças de um personagem que não tem, de fato, uma verdadeira inclinação para a vilania. O que leva à velha discussão sobre o homem ser ou não um produto do seu meio. Não que Megamente seja um cartoon-cabeça; pelo contrário, o ritmo ágil, o roteiro bem azeitado e as ótimas gags visuais não deixam muito espaço para o psicologismo.

O visual colorido e os bons efeitos em 3D certamente farão a festa dos pequenos, enquanto os diálogos debochados e a trilha sonora pop – com direito a Michael Jackson e Guns’n’Roses – entreterão os mais velhos. Assim como ocorria na série Shrek, o filme ainda traz uma série de referências divertidas para o público adulto, desde citações cinematográficas (a de Kill Bill é hilária) até uma tremenda zoação com o presidente americano (o slogan de Megamente ao tomar a cidade é “no, you can’t”). Outra coisa na qual vale a pena ficar de olho é o personagem que imita a voz e os trejeitos de Marlon Brando – ou melhor, de Don Corleone. Impagável.


Fora isso, o carisma enorme do sujeitinho cabeçudo, o charme moderno da mocinha de cabelos curtos e a fidelidade comovente do servo criam uma trinca de personagens apaixonantes, que fazem com que o espectador torça desesperadamente para que aquela princesa consiga descobrir um príncipe escondido dentro daquele sapo azul.

Um programa bacana para toda a família. Sexta nos cinemas.

O Garoto de Liverpool


Como o título já sugere, O Garoto de Liverpool é um filme que biografa um John Lennon anterior aos Beatles. A história acompanha um trecho da adolescência do fundador da banda de rock mais famosa do mundo e é muito mais focada nos conflitos pessoais e familiares de John do que em sua faceta artística. Embora o filme mostre em pinceladas esparsas a influência que o rock teve na formação de sua personalidade e seus primeiros contatos com Paul McCartney e George Harrison, ambos integrantes de sua primeira banda (The Quarrymen), o roteiro está obviamente mais interessado em trazer à baila os fatos mais significativos sobre a infância e adolescência de Lennon, essenciais para que se compreenda melhor a figura multifacetada, transgressora e polêmica que ele viria a ser no futuro.

Um dos focos principais da trama é a relação conflituosa de John com suas duas mães, Julia e Mimi: a primeira é a mãe biológica, que o abandonou aos cinco anos; a segunda, a tia austera que o criou como filho desde então. O relacionamento entre os três é bastante tenso, com o protagonista sempre oscilando entre o afeto explosivo e instável da mãe e a fortaleza fria da tia, e ciente de que cada uma o ama a seu modo – e, no caso de Julia, percebe-se até mesmo uma atmosfera meio incestuosa. Somando-se o drama familiar à pouca paciência de John com a vida acadêmica e com as regras sociais de um modo geral, o personagem é um misto de fúria, carência e rebeldia muito bem interpretado pelo jovem Aaron Johnson. Johnson divide a cena em pé de igualdade com a diva Kristin Scott Thomas e arrasa ao contracenar com os demais colegas de cena, impressionando não apenas pelas nuances dramáticas que dá ao personagem, mas também pelo modo como incorpora o espírito inquieto e debochado do ex-Beatle.

Pena que nem só de acertos seja feito o filme. Debutando na direção de longas, Sam Taylor-Wood exagera um pouco na manipulação de sentimentos e na dicotomia dos opostos. Julia é exageradamente desnorteada, enquanto Mimi exibe uma frieza glacial de grande dama inglesa que chega a ser engraçada, tornando a relação entre as duas personagens um tanto maniqueísta, a despeito das belas interpretações de Kristin Scott Thomas e Anne-Marie Duff. Outra caracterização discutível é a de Paul McCartney, interpretado com pouco empenho por Thomas Brodie-Sangster (o garotinho de Simplesmente Amor). Quando o primeiro encontro entre Paul e John ganha a tela, o espectador já entendeu há muito tempo que aquele é um filme sobre Lennon; portanto, não havia a mínima necessidade de mostrar seu principal parceiro musical de modo tão apático e desinteressante.


Mas, a despeito de sua evidente inexperiência em alguns aspectos, o saldo para Taylor-Wood é positivo. Seu grande acerto foi fazer de O Garoto de Liverpool um filme leve, simpático e despretensioso. Não um filme solene sobre um futuro mito, mas apenas a história de mais um garoto rebelde e com grandes sonhos na cabeça. Mesmo porque a resposta à emblemática pergunta “qual é mesmo o nome da nova banda?”, feita nos minutos finais do longa, já faz parte da História.

Sexta nos cinemas.