quarta-feira, 21 de maio de 2014

Gata Velha Ainda Mia


Muito surpreendente este thrillermetalinguístico dirigido e escrito pelo estreante Rafael Primot. A trama se passa toda no interior de um apartamento e é centrada em dois personagens: Gloria Polk, uma escritora decadente com fama de reclusa, e Carol, uma jovem jornalista a quem a diva resolveu conceder uma rara entrevista. O que Carol não desconfia é que Gloria concordou em recebê-la por razões ocultas que virão à tona conforme o papo avança e as taças de vinho se sucedem.

O filme é repleto de correspondências cinematográficas bacanas, a começar pelo título, e vai ser bem mais apreciado pelos cinéfilos, que poderão reconhecer as referências diretas a clássicos como Gata em Teto de Zinco Quente, O Que Terá Acontecido a Baby Jane? e Crepúsculo dos Deuses – este último, inclusive, com direito à citação quase literal de uma de suas mais famosas falas. Tampouco deve ser por mero acaso que a personagem de Regina Duarte se chama Gloria. Além disso, é muito inteligente o modo como o roteiro mescla os pensamentos de Gloria sobre a história que está tentando terminar de escrever com a vida real.  

Contudo, mesmo o espectador que não estiver atento ao fator da metalinguagem, poderá se envolver em uma discussão interessante sobre o papel da mulher na sociedade e nas relações amorosas e, ainda, apreciar o belo trabalho tanto de Regina Duarte como de Barbara Paz. Regina mostrando as garras em um papel bem distante de sua zona de conforto e Barbara provando que é boa atriz e que o fato de ter surgido para a mídia através de um reality showfoi mero acaso. Além do mais, é sempre bacana ver um filme nacional que foge daquela série de temas recorrentes em nossa cinematografia.

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