sexta-feira, 18 de março de 2011

Sexo Sem Compromisso


Um casal que começa pelo sexo e tem que seguir o caminho inverso até o amor é tema que tem povoado algumas comédias românticas atuais, numa válida tentativa de injetar frescor em um gênero quase sempre engessado por sua previsibilidade. Some-se isso a dois jovens atores em voga, e podemos ter algo de interessante em meio aos estereótipos. No caso do recente Amor e Outras Drogas, Jake Gyllenhaal e Anne Hathaway até deram algum charme ao longa, mas o resultado final ficou canhestro pela decisão equivocada de misturar romance com drama médico. Fica a lição: seriedade na hora errada pode atrapalhar. O veterano Ivan Reitman sabe disso e deixou as coisas simples neste Sexo Sem Compromisso, que chega aqui no Brasil na esteira do Oscar conquistado por sua protagonista, Natalie Portman.

Natalie é Emma, uma médica muito dedicada ao trabalho e pouco afeita a sentimentalismos. Ashton Kutcher é Adam, jovem que vive à sombra do pai famoso e que vem esbarrando em Emma ao longo dos últimos 15 anos sem conseguir uma boa aproximação com a moça. Tem sempre alguma coisa atrapalhando, seja o ambiente de uma festa de fraternidade ou uma namorada a tiracolo. A oportunidade de conhecer melhor Emma surge da maneira mais constrangedora: depois de tomar um porre fenomenal ao descobrir que sua ex-namorada está vivendo com seu pai, Adam acorda nu no sofá do apartamento que Emma divide com amigos.

Mas a independente Emma não quer saber de romance e, após uma transa-relâmpago, propõe que eles sejam parceiros de cama e se encontrem apenas para sexo, quando tiverem vontade. Adam, pressionado pelas circunstâncias, concorda, mas o espectador pode ver que aquela não é a praia dele. Numa clara inversão dos valores ainda arraigados na nossa sociedade, acompanharemos a partir deste ponto as tentativas românticas de Adam batendo de frente na parede de concreto que Emma construiu para si. Mas – e aqui entra o mérito da boa direção de Reitman e a sorte de ter uma atriz como Portman no papel – a personagem não age de forma arrogante ou masculina e sim com a praticidade de quem simplesmente não tem jeito nem tempo para ser de outra maneira. Emma não é ríspida ou sádica em relação a Adam, ela apenas vê o mundo de modo diferente.


Natalie Portman, obviamente, é o grande atrativo do filme. Mas até que Ashton Kutcher – geralmente expressivo como uma beterraba – demonstra um mínimo de carisma nesse longa. Talvez tenha sido bem-dirigido por Reitman, ou ajudado por Natalie, mas o fato é que, de um modo geral, o marido de Demi Moore não se sai mal dessa vez. Também vale destacar o bom elenco coadjuvante, com o sumido Kevin Kline como o pai egocêntrico de Adam e a ótima Lake Bell, engraçadíssima como uma produtora de TV sexy e cheia de cacoetes bizarros.

O roteiro de Elizabeth Meriwether tem diálogos leves e bem-escritos, com referências cinematográficas divertidas. Um exemplo é quando a colega médica de Emma diz a ela “vamos sair juntas, como em Sideways. Você é o Paul Giamatti. Eu transo”. O diretor Ivan Reitman, famoso nos anos 80/90 por comédias como Os Caça-Fantasmas e Irmãos Gêmeos, não andava em fase muito boa nesse terceiro milênio. O último longa dirigido por ele, há cinco anos, foi o pavoroso Minha Super Ex-Namorada. Com esse novo trabalho, o cineasta se redime e mostra que ainda tem fôlego para ser mais do que o pai de Jason Reitman.

Sexo sem Compromisso é filme para ser visto com o mesmo espírito de diversão descompromissada pregado por Emma. É isso, então, caro leitor: vá ao cinema sem esperar telefonemas no dia seguinte e sairá satisfeito.

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