terça-feira, 9 de agosto de 2011

Dylan Dog e as Criaturas da Noite



Não podemos desprezar o poder da inversão de expectativa. Tudo que eu lia e sabia antecipadamente deste Dylan Dog e as Criaturas da Noite, que estreou nos EUA em abril, me desanimava um pouco mais a cada dia. A escolha do ator-protagonista me soava equivocada, as imagens veiculadas pareciam tender ao terrorzinho barato e, principalmente, a supressão de um dos personagens centrais da trama cheirava a heresia completa e irrestrita. Para completar, a direção foi entregue a Kevin Munroe, cujo único longa anterior é Tartarugas Ninja – O Retorno. Do alto da minha condição de fã dos quadrinhos que inspiraram o filme, já tendia a desgostar dele antes mesmo de tê-lo visto. Mas não é que o longa, no final das contas, até se mostrou digno?

Pouco conhecidas por aqui, as surreais aventuras do detetive mediador entre o mundo dos vivos e dos mortos são objeto de verdadeiro culto em seu país de origem, a Itália. Provavelmente não existe um italiano de até seus quarenta anos que nunca tenha lido ao menos um fumetto de Dylan Dog. Criado nos anos 80 por Tiziano Sclavi e publicado ininterruptamente desde então, o personagem pode ser descrito como um Sherlock Holmes de ares bogartianos que vive no universo dos irmãos Winchester do seriado Supernatural. Mas Dylan não é um caçador de monstros, pelo contrário; é a ele que os mortos recorrem quando tem algum problema. Para completar, o cara é assessorado por uma figura bufa chamada Groucho – uma espécie de mordomo com direito a bigodão ao estilo Groucho Marx. Doido? Com certeza, o bagulho é doido mesmo. Mas é justamente isso que vem apaixonando os fãs há três décadas.

No longa, Dylan deixou Londres pela Louisiana e se aposentou dos casos sobrenaturais depois que sua amada foi morta por criaturas do além e ele perdeu seu status de homem de confiança dos seres sobrenaturais. Agora ele se dedica a investigações menos polêmicas, como flagrantes de adultério. Mas o misterioso assassinato de um rico contrabandista de artefatos raros faz com que ele, mesmo a contragosto, volte a ser o mediador entre seres humanos e mortos-vivos.


Como filme, Dylan Dog tem pontos positivos e negativos. O que mais faz falta é a presença do irônico Groucho. Com suas tiradas sarcásticas e totalmente fora de hora, o personagem é um dos toques de bizarrice mais interessantes das histórias. Tampouco Brandon Routh – mais conhecido como “o Superman que não deu certo” – pode ser considerado a melhor escolha para o papel. O ator devidamente caracterizado até fica parecido com o Dylan Dog dos quadrinhos, mas deixa a desejar na interpretação. Sem contar que o intérprete ideal deveria ser um pouquinho mais velho e menos marombado. O destaque no elenco fica por conta do ótimo Sam Huntington como o atrapalhado ajudante Marcus - ironicamente, Huntington havia sido Jimmy Olsen no Superman de Brandon Routh.

O filme peca ainda por ser mais referencial do que seria necessário a sucessos do momento, em especial ao seriado True Blood. Mas nem todas as intertextualidades são negativas: uma que foi muito bem sacada, por exemplo, foi a ideia de batizar uma das criaturas como Sclavi, numa divertida homenagem ao criador dos quadrinhos, Tiziano Sclavi. Resumindo: embora seja bastante infiel à HQ, o filme se salva porque teve o bom senso de manter intactos o humor negro e o tom de deboche que são os aspectos mais característicos do Dylan Dog original.

Vale uma conferida, desde que se mantenha o espírito da diversão e não se vá ao cinema com a expectativa ver a adaptação que o personagem merecia. E eu não consigo deixar de imaginar uma coisa: que filmaço Dylan Dog poderia ser nas mãos de um diretor como Sam Raimi. Pronto, falei.

Sexta nos cinemas. 

2 comentários:

  1. Erika, jamais folheei as páginas em HQ do personagem, mas conheci um pouco da história quando notícias sobre a adaptação para cinema começaram a aparecer. Não tenho expectativas e as exibições dubladas nos cinemas mais próximos só me desanimaram. Também não gosto de Brandon Routh e, lendo a sinopse aqui, dá mesmo a sensação de que Sam Raimi deitaria e rolaria com um material deste. Ou mesmo Guillermo Del Toro.

    Um beijo.

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  2. Alex,

    Exibir esse filme com cópia dublada para mim beira a insanidade, felizmente eu tive oportunidade de vê-lo com som original. A HQ é ótima e, conforme eu disse no post, trata-se de uma verdeira paixão para os italianos.

    Bjs

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