Remakes, reboots e infinitas sequências. Desse modo vem funcionado uma parcela substancial do cinema americano. As produções com material requentado têm um foco maior no reaproveitamento de ideias e franquias que deram certo entre os anos 80 e 90. Em sua maioria, as novas versões são cópias pioradas, feitas sem esmero nenhum e destinadas a agradar somente a um público que nunca assistiu aos filmes originais. Também Jurassic World (cujo primeiro filme é de 1993) faz parte desse já batido universo de reciclagem, mas, contra todas as expectativas, o filme funciona ao apresentar novos ângulos e inesperados toques de ironia.
O novo parque temático com dinossauros deixou para trás as tragédias anteriores e funciona a todo vapor, movido por muita eficiência, alta tecnologia e rígidos protocolos de segurança. Afinal, agora milhares de pessoas visitam diariamente o magnífico complexo cujas atrações fariam empalidecer qualquer coisa que seus concorrentes sonhem em oferecer. Só que simplesmente ver de perto dinossauros deixou de ser extraordinário. O parque, bem como seus patrocinadores, tem sede de novidades constantes. Como é dito em um diálogo, “animais maiores e com mais dentes”. E como falar em limites na manipulação genética se a própria recriação de um dinossauro já os ultrapassou todos?
O debate por si só já seria interessante, mas o curioso é que tanto o desejo cego de quem oferece a diversão em agradar como a ânsia e excitação do público pelo “novo” remetem à própria produção do filme, que, devido aos incessantes avanços tecnológicos, também tem a obrigação de entregar ao espectador dinossauros mais terríveis, verossímeis e assustadores do que há duas décadas. E a expectativa é atendida. As criaturas têm um nível absurdo de perfeição de movimentos e expressões faciais, o que torna todas as sequências em que aparecem eletrizantes.
Chris Pratt, impulsionado ao estrelato em Guardiões da Galáxia, se firma de vez como a melhor opção atual para herói de ação. O rapaz tem um carisma infalível e seu estilo “macho alfa, mas gente boa” (há, inclusive, uma boa piada no filme a respeito) faz com que o espectador simpatize com ele, independente de sexo ou faixa etária. Sua parceira Bryce Dallas Howard infelizmente não se sai tão bem, aprisionada no superado arquétipo de mocinha vaidosa que corre dos dinossauros sem quebrar o salto do sapato – o que é literalmente classificado como “ridículo” em uma fala, mas ela segue adiante. Os diálogos espirituosos, aliás, são outro ponto forte do filme. Destaque para o personagem de Jake Johnson, um nerd do controle de segurança apaixonado por dinossauros. Já as inúmeras referências e correlações com Jurassic Park são uma simpática piscadela ao público trintão que vibrou há 20 anos com o longa de Spielberg.
O que não funciona? O 3D é desnecessário e por vezes chega mesmo a atrapalhar, borrando alguns detalhes. Também o exageradíssimo embate final deixa um gostinho de frustração, por exigir demais da suspensão da descrença. É nesse ponto que Jurassic World vira um filme de ação óbvio, coisa que vinha lindamente evitando até então. Mas ok. São detalhes de um longa que, no geral, cumpre o que promete com mérito. O diretor Colin Trevorrow, dono de uma filmografia até então inexpressiva, certamente com este trabalho carimba seu passaporte para novos desafios.