terça-feira, 10 de agosto de 2010

Almas à Venda


O ator Paul Giamatti enfrenta uma grande crise existencial durante os ensaios de uma peça e sente dificuldade em separar os dramas do personagem de suas próprias angústias. Seu agente lhe sugere um novo procedimento no mercado, que consiste no armazenamento da alma. O cliente tem a alma extraída, guardada em local seguro e, desse modo, está livre para viver uma existência mais leve. Mas tudo se complica quando traficantes russos se apoderam da alma de Paul e a contrabandeiam para que a esposa do chefe do tráfico, uma atriz sem talento, possa se dar bem em uma novela.

Ao contrário do que vinha sendo comentado à boca pequena, este filme não é exatamente o “Quero Ser John Malkovich do Paul Giamatti”. O argumento guarda enorme semelhança com o universo do roteirista Charlie Kaufman sim, mas, na verdade, trata-se de uma cópia descarada de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças. Uma cópia bem inferior, que fique bem claro. Embora a diretora Sophie Barthes tenha se apropriado da ideia central, apenas trocando de produto – a alma em vez das memórias –, esqueceu-se de copiar também a poesia, o lirismo e, principalmente, a viagem filosófica. O resultado é um filme raso, que tem lá seus bons momentos como comédia, mas nunca vai além disso. Na maior parte do tempo, é apenas superficial e pueril. Isso sem falar nas incongruências da trama, como, por exemplo, o cara querer se livrar da própria alma por ser soturna demais e depois alugar uma alma alheia, e justo de uma poetisa russa. Eu não consigo imaginar opção mais depressiva para alguém angustiado.

Paul Giamatti, claro, confere certa graça ao papel, principalmente porque o ator dá a impressão de estar satirizando a si mesmo e também alguns de seus trabalhos anteriores. Também é interessante a participação de David Strathairn como o charlatão extrator de almas, ou seja, o papel equivalente ao de Tom Wilkinson em Brilho Eterno... E o filme só não é de todo ruim justamente por causa desses dois bons atores, especialmente quando estão juntos em cena.

O filme, que no original se chama Cold Souls, apareceu na programação do Festival do Rio 2009 como Tráfico de Almas, depois passou no evento como Eu, Ela e Minha Alma (título que está além de qualquer explicação lógica) e agora foi rebatizado como Almas à Venda. Melhor assim.

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