sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O Último Mestre do Ar


Já faz mais de uma década que M. Night Shyamalan chamou a atenção do mundo com o impressionante O Sexto Sentido. Na época, o filme esperto sobre o menino que via gente morta deu uma sacudida no gênero suspense e o cineasta chegou a ser saudado por alguns como um novo Hitchcock. Exagero, claro. O problema é que Shyamalan cometeu a imprudência de acreditar em tal disparate. Descontados os elogios de fato merecidos por O Sexto Sentido (seu terceiro longa-metragem, mas o primeiro a que as pessoas realmente assistiram), o tempo mostrou que o cara não estava com essa bola toda. Seus filmes seguintes – Corpo Fechado, Sinais, A Vila e A Dama na Água – estiveram longe de ser unanimidades, mas até tinham suas qualidades. Mas em 2008 veio a bomba suprema: Fim dos Tempos, um abacaxi no qual nada se salvava. E agora Shyamalan enterra de vez qualquer chance de reabilitação com esta sua versão em carne e osso da série animada Avatar.

A trama? Vamos lá: o universo onde se passa a história é dividido em quatro reinos, as nações da água, ar, terra e fogo, sendo que este último grupo tem tendências imperialistas e tenta escravizar os demais. Em cada povo, existem os chamados “dominadores”, pessoas que conseguem controlar o elemento referente à sua nação. Existe, ainda, um ser especial chamado Avatar, que teria o poder de controlar os quatro elementos e, desse modo, garantir o equilíbrio espiritual de todos. Mas o Avatar está desaparecido há um século e, quando reaparece, não é o messias que todos esperavam. Trata-se de Aang, um menino que não completou seu treinamento e ainda não tem domínio sobre seus poderes especiais. Ajudado pelos amigos Katara e Sokka e perseguido pelo príncipe Zuko, que deseja aprisioná-lo, o jovem Aang seria a última esperança para os povos oprimidos.

O Último Mestre do Ar – assim batizado para evitar confusões com o longa de James Cameron – é um filme tão equivocado que fica complicado até de apontar seus defeitos, já que nada parece funcionar a contento. A começar pelo roteiro atropelado, que em certas passagens é irritantemente didático e em outras pula etapas, se apoiando no conhecimento prévio que o espectador teria da trama. Com um ritmo lento demais para a estética videogame que tenta timidamente impor e claudicante para que desenvolva satisfatoriamente qualquer personagem, o fiapo de roteiro simplesmente faz com que seus personagens vaguem por cenários artificialíssimos e protagonizem uma série de lutas muito mal coreografadas; ou seja, o filme fracassa tanto em termos de enredo como nas tentativas de injetar alguma adrenalina. Mesmo quem não conhece o desenho original pode sentir ali uma trama que foi esquartejada e colada de maneira disforme. Também é estranho que o filme não consiga impressionar nem mesmo na parte visual, além de ser mais uma produção a usar mal e sem a mínima necessidade os efeitos em 3D.


As interpretações são igualmente canhestras, não tendo um único ator que se sobressaia positivamente no elenco. O simpático Dev Patel – que esbanjou carisma em Quem Quer Ser um Milionário? – neste filme mostra-se totalmente desconfortável em um personagem sem rumo, que não tem boas motivações, mas, em contrapartida, é oprimido demais para ser um vilão clássico. E o que dizer de Noah Ringer, escolhido com base em suas habilidades em artes marciais e por uma suposta semelhança com o personagem? E que menino da mesma faixa etária não ficaria parecido com Aang depois de caracterizado como tal? O elenco principal se completa com a bonitinha e inexpressiva Nicola Peltz e ainda o sofrível Jackson Rathbone (sim, ele mesmo, o Jasper da saga Crepúsculo).

Apesar de todas as suas deficiências, é possível que O Último Mestre do Ar faça algum sucesso por aqui dentre os aficionados pelo desenho da Nickelodeon. Considerando a enxurrada de críticas ruins e o faturamento razoável que o filme obteve nos Estados Unidos, percebe-se que esta deve ser uma tendência mundial. Sem contar que o nome Shyamalan ainda consegue suscitar algumas polêmicas que acabam tendo como efeito colateral arrastar para o cinema tanto seus resistentes fãs quanto seus ferrenhos detratores. E não será diferente com esta sua primeira incursão ao reino da adaptação (até então, o indiano se orgulhava de só filmar roteiros originais). Posto isso, é bem razoável pensar que as duas sequências previstas realmente sejam feitas. Afinal de contas, sempre há público para tudo.

Um comentário:

  1. Erika, no início do ano estava com grandes expectativas. Até selecionei o filme em meu top 10 de produções que mais aguardava para 2010. Mas confesso que as péssimas críticas me assustaram. Nem "Fim dos Tempos", um filme que gosto, recebeu tantas tijoladas. Porém, como fã de M. Night Shyamalan e suas histórias, eu tentarei assistir ao filme nos cinemas para tirar as minhas próprias conclusões.

    Porém, não acho que o filme tenha sequências. Não que sua bilheteria tenha sido ruim, mas o filme custou muito (150 milhões).

    Bjs!

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