quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Machete


Machete é quase uma lenda dentre os cinéfilos desde que seu falso trailer (o filme ainda não existia na época) foi veiculado há três anos junto com Planeta Terror, a metade de Robert Rodriguez no projeto Grindhouse. O personagem-título é um policial mexicano que é traído pelos companheiros corruptos e tem a esposa assassinada diante dos seus olhos. A partir desse prólogo, o filme avança um pouco no tempo e vemos que, depois de cair em desgraça na sua terra natal, Machete agora é um imigrante ilegal nos Estados Unidos e vive de pequenos bicos. A opinião pública está cada vez mais contra a imigração, graças à militância ferrenha de políticos extremistas como o senador John McLaughlin, interpretado por Robert DeNiro. O que Machete não sabe – mas está prestes a descobrir – é que os mesmos marginais que assassinaram sua esposa mantêm estreitas relações com iminentes cidadãos americanos.

Certamente muitas pessoas acusarão Robert Rodriguez de fazer uma colagem de seu próprio cinema, com referências bem claras a seus longas anteriores e ainda ao trabalho de outros diretores, em especial ao do seu chapa Tarantino. Sim, é verdade, mas isso não desmerece em nada a eficácia com que o cineasta orquestra essa colcha de retalhos exagerada, absurda e incrivelmente genial. Com uma incrível cara-de-pau, Rodriguez enche seu protagonista de frases muito clichês, sem o mínimo constrangimento em reverenciar o cinema de sangue e porrada dos anos 80 (a participação do cara de totem Steven Seagal é o exemplo máximo disso). Pérolas como “Machete não manda mensagem de texto” ou “por que ser um homem, quando se pode ser uma lenda?” saem com a maior naturalidade da boca de Danny Trejo, sujeito brutamontes e feio que seduz todas as gatas do filme com sua macheza sem precedentes. Momento mais bizarro? Inúmeros, mas destaco a cena em que Machete descobre uma utilidade prática para o fato de o intestino humano ter vinte metros de comprimento.

Se tudo se resumisse a risos, sangue e metalinguagem, já teríamos um bom filme. Mas Machete vai além, usando a fita de pancadaria para criar uma crônica subversiva do fascismo que repousa sob a fachada da terra da liberdade propagandeada pelos americanos. Rodriguez ridiculariza a extrema-direita e sua incoerência em odiar os “cucarachos”, mas não conseguir viver sem a força de trabalho deles. Também mostra os conservadores todos como pervertidos, sendo todos os mocinhos do filme interpretados por atores de origem hispânica. E o legal é que o filme trabalha bem nesses dois níveis de compreensão, porque o espectador que não estiver nem aí para esse tipo de problema e quiser ir ao cinema apenas para se divertir, tampouco sairá decepcionado, porque o filme é bastante dinâmico e engraçado.

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