quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O Garoto de Liverpool


Como o título já sugere, O Garoto de Liverpool é um filme que biografa um John Lennon anterior aos Beatles. A história acompanha um trecho da adolescência do fundador da banda de rock mais famosa do mundo e é muito mais focada nos conflitos pessoais e familiares de John do que em sua faceta artística. Embora o filme mostre em pinceladas esparsas a influência que o rock teve na formação de sua personalidade e seus primeiros contatos com Paul McCartney e George Harrison, ambos integrantes de sua primeira banda (The Quarrymen), o roteiro está obviamente mais interessado em trazer à baila os fatos mais significativos sobre a infância e adolescência de Lennon, essenciais para que se compreenda melhor a figura multifacetada, transgressora e polêmica que ele viria a ser no futuro.

Um dos focos principais da trama é a relação conflituosa de John com suas duas mães, Julia e Mimi: a primeira é a mãe biológica, que o abandonou aos cinco anos; a segunda, a tia austera que o criou como filho desde então. O relacionamento entre os três é bastante tenso, com o protagonista sempre oscilando entre o afeto explosivo e instável da mãe e a fortaleza fria da tia, e ciente de que cada uma o ama a seu modo – e, no caso de Julia, percebe-se até mesmo uma atmosfera meio incestuosa. Somando-se o drama familiar à pouca paciência de John com a vida acadêmica e com as regras sociais de um modo geral, o personagem é um misto de fúria, carência e rebeldia muito bem interpretado pelo jovem Aaron Johnson. Johnson divide a cena em pé de igualdade com a diva Kristin Scott Thomas e arrasa ao contracenar com os demais colegas de cena, impressionando não apenas pelas nuances dramáticas que dá ao personagem, mas também pelo modo como incorpora o espírito inquieto e debochado do ex-Beatle.

Pena que nem só de acertos seja feito o filme. Debutando na direção de longas, Sam Taylor-Wood exagera um pouco na manipulação de sentimentos e na dicotomia dos opostos. Julia é exageradamente desnorteada, enquanto Mimi exibe uma frieza glacial de grande dama inglesa que chega a ser engraçada, tornando a relação entre as duas personagens um tanto maniqueísta, a despeito das belas interpretações de Kristin Scott Thomas e Anne-Marie Duff. Outra caracterização discutível é a de Paul McCartney, interpretado com pouco empenho por Thomas Brodie-Sangster (o garotinho de Simplesmente Amor). Quando o primeiro encontro entre Paul e John ganha a tela, o espectador já entendeu há muito tempo que aquele é um filme sobre Lennon; portanto, não havia a mínima necessidade de mostrar seu principal parceiro musical de modo tão apático e desinteressante.


Mas, a despeito de sua evidente inexperiência em alguns aspectos, o saldo para Taylor-Wood é positivo. Seu grande acerto foi fazer de O Garoto de Liverpool um filme leve, simpático e despretensioso. Não um filme solene sobre um futuro mito, mas apenas a história de mais um garoto rebelde e com grandes sonhos na cabeça. Mesmo porque a resposta à emblemática pergunta “qual é mesmo o nome da nova banda?”, feita nos minutos finais do longa, já faz parte da História.

Sexta nos cinemas.

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