quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

As Sessões



Eis um filme que deve ter requerido uma boa dose de coragem para ser realizado, já que bastaria uma direção fora do tom ou um ator mal escalado para arruinar essa surpreendente história e transformar o argumento em um freak show. Felizmente, o desafio foi vencido e o resultado final está mais do que à altura do personagem incrível que a inspirou. As Sessões foi dirigido, roteirizado e produzido por Ben Lewin, que vem de uma carreira basicamente televisiva e entrega um filme que consegue tratar uma questão delicadíssima exalando leveza, bom humor e sensibilidade.

O filme é baseado na história do poeta e escritor Mark O’Brien, que, devido às sequelas de uma poliomielite contraída na infância, possuía mobilidade somente do pescoço para cima. Aos 38 anos, Mark se apaixona pela primeira vez e começa a tomar consciência da sua sexualidade reprimida não somente pelas limitações físicas como também por bloqueios causados pela educação religiosa que recebeu. Com a ajuda de uma inusitada terapeuta, chamada “substituta sexual”, e com o inesperado apoio de seu padre confessor, Mark começa a encarar as próprias frustrações num processo de autodescoberta que lhe exigirá uma boa dose de coragem e honestidade. 


Helen Hunt, que já venceu um Oscar em 1998 (por Melhor é Impossível) e andava atuando em filmes de pouca expressão, tem aqui o melhor desempenho de sua carreira como uma espécie de fisioterapeuta sexual – função que chega a ser confundida com prostituição. Um personagem difícil, que lida com a sexualidade de modo prático e técnico, como se fosse a coisa mais natural do mundo ensinar um homem adulto a ter relações. Helen foi indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo papel e é uma pena que ela concorra com a sensacional (e favorita) Anne Hathaway, já que seu trabalho também é muito especial.

Outra injustiça é que a maioria das premiações tenha deixado de lado o impressionante trabalho de John Hawkes (que também está no elenco de Lincoln). Hawkes, atuando com pouquíssima mobilidade física, consegue compor um personagem engraçado e apaixonante, que transpira força vital. Destaque, ainda, para o sempre eficiente William H. Macy como o padre que mal consegue conter a curiosidade e espanto diante do desabrochar de seu paroquiano.


As Sessões é um filme de ótimos atores e boa direção, que terá como efeito colateral deixar o espectador mais otimista ao final da projeção. É um filme edificante sim, mas sem nenhum ranço de pieguice, moralismo ou paternalismo hipócrita. Num ano em que a Academia indicou somente nove filmes ao prêmio máximo, é inexplicável a ausência de um décimo candidato se considerarmos quanta coisa boa deixou de ser lembrada. As Sessões poderia, com muito mérito, ter fechado essa lista.

Sexta nos cinemas.

Um comentário:

  1. Parece ser um bom filme, já tenho esse e A Hora Mais Escura para assistir no fim de semana :)

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