quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Hitchcock



Em temporada pós-Oscar, ainda mais considerando um ano em que a maioria dos candidatos era formada por filmes longos e de ritmo arrastado, é um alívio poder voltar a se divertir sem compromisso. E divertir-se com Alfred Hitchcock não é nenhum tipo de contradição, já que o chamado mestre do suspense sempre foi dotado de um humor peculiaríssimo, porém muito eficiente. Hitchcock, o filme – que não é e nunca pretendeu ser uma biografia do cineasta – nos leva a partilhar um pouco desse senso de humor deliciosamente pervertido.

A cena de abertura do longa já dá o tom de travessura do que virá a seguir, com Anthony Hopkins falando de seu personagem no mesmo estilo do programa televisivo que o popularizou. O recorte que o roteirista John McLaughlin (o mesmo de Cisne Negro) faz na biografia de Hitch se concentra no período de concepção de um dos maiores sucessos de sua carreira, Psicose. Ironicamente, Hitchcock teve muita dificuldade para conseguir realizar este filme, já que todos consideravam o projeto arriscado, deselegante e até mesmo de mau gosto. Seu filme anterior havia sido Intriga Internacional e ninguém em Hollywood levava muita fé nessa mudança de estilo. O fato de nós, espectadores, sabermos a dimensão mítica que o filme alcançaria na posteridade é um toque de ironia a mais.


O filme é saboroso de ser assistido não somente por suas falas carregadas de sarcasmo e humor negro (em especial nos diálogos entre Hitchcock e a esposa Alma), mas também graças ao acertado casting, com destaque para a incrível performance de Helen Mirren como Alma Reville – a mulher forte e determinada por trás do gênio. Já a atuação de Anthony Hopkins é interessante de ser analisada justamente por aquilo que é apontado como falha por alguns: o gestual e o sotaque exagerados aliados à maquiagem pouco naturalista. O que se percebe é a opção por uma construção brechtiana, ou seja, a ideia é que possamos entrever o ator por trás do personagem. O filme traz, ainda, bons coadjuvantes como Tony Collette e Michael Stuhlbarg e um presentinho para os marmanjos: Scarlett Johansson como Janet Leigh, com direito, inclusive, à cena do chuveiro. Outra curiosidade é ver Ralph Macchio (ele mesmo, o Daniel-san de Karate Kid) numa pequena participação. Deixo ao leitor o desafio de reconhecê-lo. 


Ok, o filme faz algumas escolhas duvidosas. Um bom exemplo disso são as conversas imaginárias do cineasta com Ed Gein, o assassino que serviu de inspiração para Norman Bates. Mas, de um modo geral, Hitchcock é um filme que se destaca por seus aspectos positivos e que deve ser assistido dentro da lógica do que se propõe a ser: uma bela homenagem a Hitch e um ótimo entretenimento para todos nós. Para ser consumido sem contraindicações.  


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