terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

César Deve Morrer



Finalmente está para chegar às nossas telas Cesare Deve Morire, vencedor do último Festival de Berlim e um dos filmes mais celebrados na Itália no ano passado. Concebido como um “docudrama”, esse novo e vigoroso trabalho dos octogenários irmãos Paolo e Vittorio Taviani se desenrola durante os ensaios para uma montagem de Julio Cesar, de Shakespeare. Até aí, nada demais. Inusitadas são as circunstâncias, já que o cenário é Rebibbia, prisão de segurança máxima nos arredores de Roma, e o elenco é todo formado por detentos de alta periculosidade.

Com situações encenadas, porém personagens e locações reais, o filme conquista e encanta justamente porque parte de um argumento aparentemente simples para alcançar um efeito emocional dos mais impressionantes, fazendo uma bela reflexão sobre o poder libertador da arte e, ao mesmo tempo, sobre seu caráter ilusório. O inteligente roteiro ainda confirma a impressionante atualidade das palavras do bardo, que, neste caso, se aproximam do universo dos detentos devido ao pedido do diretor de que cada um verse as suas falas para o próprio dialeto de origem. Assim, o grande general romano se assemelha mais a um chefão da Camorra do que a um personagem histórico e as conspirações do senado romano, a uma vendettamafiosa. Desse modo, cada detento torna-se, ainda, coautor do espetáculo. Conflitos reais e encenados se confundem com imagens coloridas e em preto e branco, dissolvendo os limites entre vida real e teatro, criando um terreno lúdico onde tudo pode acontecer e mesmo a um condenado é permitido se reinventar. 


César Deve Morrer é, sobretudo, um filme de caráter muito emotivo e passional, cujo potencial só é plenamente sentido na sala de exibição. Eu tive a sorte de presenciar sua aclamação por um público dos mais heterogêneos numa exibição ao ar livre em uma praça, no ano passado, em pleno verão romano. Uma experiência que certamente estará sempre no meu rol particular de momentos únicos proporcionados pela sétima arte. O filme foi, ainda, o candidato da Itália ao Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano e acabou não conseguindo a indicação, padecendo da mesma injustiça cometida com nosso representante nacional. No caso do italiano, a cegueira da Academia foi um pouco mais grave, eu diria até inexplicável, considerando que o filme já havia chamado atenção para si ao ter sido aclamado com o Urso de Ouro de Berlim. Esperemos que os cinéfilos brasileiros não cometam a injustiça de não assisti-lo.


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