quinta-feira, 18 de abril de 2013

Querida, Vou Comprar Cigarros e Já Volto


Ernesto é um corretor de imóveis de 63 anos que tem uma rotina tediosa em um pequeno povoado argentino, com a incômoda sensação de que nunca aproveitou a vida de verdade. Um dia aparece um homem misterioso que lhe propõe um pacto: caso concorde em passar dez anos em uma época qualquer do seu passado, Ernesto receberá uma mala contendo um milhão de dólares quando retornar a 2011. Esses dez anos, no tempo presente, serão somente cinco minutos. Portanto, bastaria que ele dissesse à esposa a frase-título do filme para justificar sua ausência.

O filme foi exibido no Festival do rio de 2011 e ninguém imaginou que um dia chegasse ao nosso circuito comercial. Mas ainda bem que, mesmo tardiamente, alguém acreditou em seu potencial, porque foi um dos mais criativos do evento. Nem tanto pelo argumento, já que a ideia de viajar no tempo é uma constante do cinema moderno, mas pela própria estrutura do longa. Começando sua história pelo dado mais nonsense, ou seja, o tal homem misterioso que ganha poderes depois que um raio o atinge duas vezes, o divertido roteiro ainda tem a cara-de-pau de fazer coisas como colocar na tela o autor do conto que originou o filme ajudando a explicar certas passagens e uma sonora claque aplaudindo o filme ao final.

Ao contrário de outras produções com a mesma temática, nos quais as pessoas costumam querer voltar ao passado para evitar traumas inesquecíveis ou recuperar um grande amor, Ernesto quer mesmo é se dar bem e conseguir fama, dinheiro, belas mulheres, enfim, tudo que nunca teve em sua vidinha modorrenta e, para tanto, inventa expedientes cada vez mais estapafúrdios, que vão desde plagiar Lennon e escrever uma cópia mal-acabada de Imagine – que não é igual ao original porque Ernesto nunca soube a letra – até inventar o formato reality show e vender para a TV local. Esse trecho, aliás, é hilário, porque o protagonista consegue vender a ideia e produzir uma cópia do Big Brother, mas o programa acaba sendo um fracasso porque “numa cidade onde até mesmo as moscas são chatas”, conforme diz o narrador, absolutamente nada acontece dentro da casa.

Estes são apenas alguns exemplos do estilo de humor desta deliciosa comédia protagonizada por um velhinho amoral e uma entidade mágica de origem indefinida. De trapalhada em trapalhada, Querida, Vou Comprar Cigarros e Já Volto é garantia de alto astral e boas risadas.

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