domingo, 9 de março de 2014

12 Anos de Escravidão – o livro

Chiwetel Ejiofor como Salomon Northrup em uma cena do filme

Ao saber que o agora oscarizado 12 Anos de Escravidão fora baseado em um relato verídico publicado há mais de cento e cinquenta anos, logo surge a pergunta: por que ninguém conhecia esse livro antes? Evidente que com “ninguém” quero dizer o grande público – talvez historiadores e sociólogos já o conhecessem. Também não deixa de ser surpreendente que a descoberta do potencial cinematográfico dessa história tenha vindo pelas mãos de Steve McQueen, um cineasta que, não obstante a cor da pele, não apresenta uma filmografia marcada pelo engajamento em questões raciais. Por fim, o fato de também o roteirista John Ridley ter levado seu Oscar pela adaptação das tocantes memórias de Solomon Northup torna ainda mais interessante a leitura complementar deste livro.

Já no prefácio descobrimos que a história, na verdade, foi narrada por Northup a um redator chamado David Wilson. É preciso levar em consideração, ainda, que o objetivo primordial deste relato, mais que literatura, era o seu teor de denúncia. O estilo do texto (ou, pelo menos, do tradutor que o verteu para a língua portuguesa) é um tanto barroco. Também há um detalhismo por vezes desnecessário: são feitas descrições exaustivas não apenas a respeito das fazendas, mas também do processo de semeadura e colheita primeiro do algodão e, posteriormente, da cana-de-açúcar – quatro páginas, neste último caso. Ainda que tenha por finalidade inserir o leitor no universo retratado e na rotina diária do personagem, um pouco de concisão em um assunto tão secundário não faria mal. Por outro lado, a narrativa é rica em diversos particulares pouco elucidados pelo roteiro do filme, como, por exemplo, a transação que fez com que a posse do protagonista passasse do senhor tido como “bom” para o cruel.

Outro aspecto que chama muito a atenção neste livro é a própria atitude do protagonista. Se o Solomon Northup das telas demonstra claramente que está sujeito aos desmandos de seus senhores por pura questão de sobrevivência, o das páginas parece venerar genuinamente os brancos que o trataram com alguma humanidade, dando inclusive a impressão por vezes de que nunca teria lutado pela readquirir a liberdade caso permanecesse como propriedade de pessoas de bom coração. Em diversas passagens, mesmo condenando ferozmente o sistema escravagista, Northup não reprime um certo orgulho por ter se destacado dos demais escravos graças a seus talentos e inteligência. Uma ideia perturbadora, para dizer o mínimo.

Enfim, livro e filme são diferentes entre si, mas, de alguma forma, se complementam. Esse é um daqueles casos em que vale a pena ler o livro e ver o filme para formar um juízo mais completo sobre essa história inacreditavelmente verdadeira. 12 Anos de Escravidão possui duas edições diversas aqui no Brasil. A da Seoman costuma sair mais em conta, oscilando entre R$ 15,00 e R$ 20,00 nas livrarias. 

Clique aqui para ler sobre o filme.



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