sexta-feira, 8 de junho de 2012

Cinque Terre


O lugar conhecido pela denominação única de Cinque Terre é, na verdade, um conjunto de cinco pequenos povoados incrustados nas montanhas da Ligúria. Cinque Terre foi posto na lista de patrimônios universais da Unesco em 1997, graças à interação harmoniosa entre seus habitantes e a natureza. Eu estive lá em maio do ano passado. Em outubro, a região foi castigada por uma violentíssima tempestade. As chuvas, que provocaram deslizamentos de terra e mortes, atingiram principalmente os povoados de Vernazza e Monterosso al Mare. A notícia que se tem atualmente é que Monterosso (a maior das cinco) já está praticamente recuperada, enquanto em Vernazza ainda se vê os sinais da destruição. Falemos então sobre Cinque Terre, deixando claro que minhas impressões podem não corresponder mais à realidade dos dias de hoje.

O mar verdíssimo de Riomaggiore

Partindo de Firenze, chega-se de trem a uma cidade chamada La Spezia, de onde se pode prosseguir para os vilarejos de Cinque Terre de duas maneiras: no trem que faz a ligação entre os cinco povoados ou de barco. Não tem outra maneira de fazer o percurso, nada de carro ou ônibus. Existe, ainda, uma trilha que serpenteia pelas montanhas, mas apenas os dois primeiros povoados – Riomaggiore e Manarola – são realmente próximos (cerca de quinze minutos de caminhada). O restante do caminho seria indicado somente para quem está acostumado a fazer trilha, por se tratar de longas distâncias por caminhos íngremes. Além do mais, muitas dessas trilhas foram prejudicadas pelo já citado temporal do ano passado.

Ao visitar Cinque Terre, o turista tem a sensação de voltar no tempo. São vilarejos bem rústicos, pequenos, imprensados entre o mar e a montanha, com aquela coisa meio pitoresca de casinhas coloridas e roupas estendidas pelas varandas, enfim, parecem cidadezinhas cenográficas. E o mar é verde, mas de um verde tão dramático e intenso que parece artificial.

Via Dell Amore

De Riomaggiore, se segue a Manarola pela chamada Via dell’Amore, caminho para pedestres que circunda as montanhas e é todo pontuado por manifestações românticas, que vão desde os famosos cadeados que viraram febre na Itália (clique aqui para ler artigo sobre Verona e saber mais detalhes) até pichações nas pedras. A mais pitoresca dizia, logo na entrada do caminho, “cuidado, cupido altamente hiperativo a partir desse ponto”.


O clima de cidade cenográfica continua em Manarola

De Manarola a La Corniglia é melhor seguir de trem, assim chegando à única das cinco localidades que tem um astral meio diferente das demais. La Corniglia já não impressiona bem em sua chegada, já que para se alcançar o vilarejo em si é preciso fazer um breve e arrepiante trajeto a bordo de um veículo pilotado por um louco, que saiu costurando com o pequeno ônibus a toda velocidade por caminhos estreitos e perigosos. Uma vez salva, achei a cidade em si estranhíssima. Principalmente depois que vi uma lojinha onde vendiam cervejas com a cara de Hitler e Mussolini estampadas no rótulo. Confesso que a tal führerbier me deixou assustada.

As estranhíssimas cervejas nazi-fascistas em La Corniglia

Também Vernazza é minúscula, mas com outro clima. Pouco mais que uma vila de pescadores com meia dúzia de ruas, Vernazza destaca-se pelo belíssimo porto – que também parece cenográfico – e uma bela torre-mirante de pedra, na qual o turista pode subir para apreciar tudo do alto, completando o cenário. Dá para ver a cidade inteira em 15 minutos. Uma boa pedida é fazer o trajeto final entre Vernazza e Monterosso de barco.

De volta ao clima bucólico: o magnífico porto de Vernazza

A torre de pedra proporciona uma vista linda do mar e da cidade

Monterosso al Mare é o maior e mais desenvolvido dos cinco vilarejos. Um balneário muito simpático, com aquela simplicidade de cidadezinha rústica misturada a uma altíssima qualidade de vida que faz muita gente de cidade grande sonhar com a vida simples no interior. Embora a esmagadora quantidade de vinhos produzidos na Itália seja tinto, a região de Cinque Terre é famosa justamente por seu ótimo vinho branco. Em Monterosso, a grande pedida é saborear um peixe grelhado fresquíssimo acompanhado do vinho local. E olha que eu não sou exatamente uma admiradora de nenhuma das duas coisas, mas tanto o peixe como o vinho de lá fazem qualquer um rever seus conceitos.

A costa de Monterosso al Mare, maior das cinco localidades e balneário estiloso

Pernoitei em Monterosso, numa casa alugada por uma senhora que conheci pelas ruazinhas da cidade enquanto buscava um hotel. Ela me levou até o apartamento, entregou as chaves e disse que voltaria para buscá-las no dia seguinte, no horário combinado. O detalhe é que ela sequer cobrou a diária antes – é esse tipo de confiança na palavra dada que surpreende e encanta. As dicas do que fazer em Cinque Terre se resumem a um só sentimento, o de relaxar e apreciar a tranquilidade do local e a extrema comunicabilidade e simpatia de seus habitantes.  


4 comentários:

  1. Adorei. A Itália, com certeza, renderá várias viagens! Daniel

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  2. Rende sim, Daniel, a Itália tem atrativos para todos os gostos: arte, cultura, riquezas históricas, belezas naturais, além, é claro, das delícias gastronômicas. É uma terra dos deuses mesmo!

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  3. Ai que saudades!
    Ficaria umas duas semanas relaxando e conhecendo mais cada cantinho de Cinque Terre.
    Tomara que consigam mesmo reconstruir tudo. Cheguei a ler a pouco tempo no La Repubblica que graças a doações, estavam conseguindo rescontruir a escola de Monterosso.

    Bjs

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  4. Que boa notícia, tomara que fique tudo como antes!

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