quarta-feira, 20 de junho de 2012

Sombras da Noite


Tim Burton é um cineasta criativo, original e capaz como poucos de deixar uma assinatura pessoal em um filme. Johnny Depp é seu ator preferencial e não é exagero nenhum dizer que os dois, juntos, criaram os melhores momentos da carreira de cada um, sendo o genial Ed Wood o ponto alto dessa parceria de sucesso. Sombras da Noite, que chega sexta-feira aos cinemas, marca a oitava colaboração da dupla.

O longa é uma adaptação da série Dark Shadows, exibida pela TV americana entre 1966 e 1971. Através de um prólogo demasiadamente demorado, conhecemos a história da família Collins, que migra para o novo mundo no século XVIII e faz fortuna no ramo da pesca, fundando uma pequena cidade que leva o nome da dinastia: Collinsport. Barnabas Collins, filho único e herdeiro do império, atrai para si a desgraça ao desprezar o amor de uma bruxa, que o amaldiçoa a ser um vampiro e depois o enterra vivo. 200 anos depois, Barnabas se liberta de seu tormento e descobre que sua família vive dias de decadência e infelicidade, mas está determinado a devolver aos Collins sua antiga glória.


Pelo trailer, o espectador tem a impressão de que Sombras da Noite é muito mais irreverente do que ele é na verdade. Digamos que o filme, em termos de tom, está mais próximo de A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça do que de Os Fantasmas se Divertem. Nenhum problema quanto a isso e sim com o fato do filme flertar com diversas abordagens sem se decidir por nenhuma. Embora apresente uma penca de situações impagáveis – a maioria delas envolvendo as perplexidades de Barnabas diante das novidades do século XX –, Burton acaba perdendo o fio da meada e entregando um filme simpático e esteticamente deslumbrante, porém meio vazio de ideias. O problema se agrava na meia hora final, quando o roteiro se vale de algumas soluções preguiçosas para o desenlace da trama, deixando ainda mais evidente a sua fragilidade.

Mas nada disso impede que Sombras da Noite seja, no conjunto, um filme agradável de ser assistido. O longa sabe ser bastante sedutor, com sua direção de arte que beira a perfeição e sua galeria de personagens bizarros e adoráveis, além do bom resultado obtido com o casamento entre a habitual trilha de Danny Elfman e vários hits dos anos 70. Outro ponto alto é o excelente elenco, que dá banho de carisma e não deixa o interesse do espectador cair. Dos habitualmente competentes Johnny Depp e Helena Bonham Carter à surpreendente atuação cheia de graça e malícia de Eva Green, passando pelo talento emergente de Chloë Grace Moretz, é um prazer ver cada um dos atores em cena. Destaque para a participação de Alice Cooper e a incapacidade de Barnabas em ver que não se trata de uma mulher.


De qualquer modo, desde o subestimado Sweeney Todd Burton continua devendo aos fãs um filme que tenha de fato a sua marca. Alice no País das Maravilhas não tinha muito o seu toque pessoal, assim como Sombras da Noite tampouco tem. Aguardemos Frankenweenie, versão longa-metragem para seu curta homônimo de 1984 com previsão de estreia para novembro deste ano, esperando que esse remakede si mesmo faça emergir o Tim Burton genial de antigamente.

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