sábado, 16 de junho de 2012

O Cara


Numa época em que se busca cada vez mais um teatro espetaculoso, com tantas recriações de musicais vindos da Broadway e peças que se apoiam em recursos como projeções, slides, enfim, sensações diversas emprestadas das artes visuais – em especial o cinema – e que tentam conquistar o espectador com encenações de encher os olhos e amortecer os sentidos, parece cada vez mais ousado colocar em cena um espetáculo que reduza seus atrativos ao binômio fundamental proposto por Jerzy Grotowski em sua definição de “teatro pobre”: ator e plateia.

Muitos entendem erroneamente tal conceito, deduzindo que ele traduz-se necessariamente em um trabalho carente de recursos financeiros. É bem verdade que essa linha de pesquisa teatral pode até ter como consequência promover uma maior democratização por dispensar os grandes aparatos, mas reduzir proposta artística tão rica ao patamar puramente financeiro é, no mínimo, limitado. O que se vê em um trabalho como O Cara é simplesmente a centralização da experiência teatral na figura do ator. Afinal de contas, é justamente o binômio ator-espectador a única condição essencial para que se faça teatro. Paulo Mathias Jr., a exemplo do que já havia feito Julio Adrião em A Descoberta das Américas, consegue, apenas com seu ótimo preparo corporal e vocal, ser narrador e personagem de si mesmo nesta história sobre poder, ambição e consumismo.

Ao entrar no espaço cênico do Centro Cultural Justiça Federal (que está deixando um pouco a desejar em suas instalações), o público é recebido pelo simpático ator, que toca num radinho jingles de sucesso e conversa com os espectadores enquanto estes se acomodam em seus lugares, principiando aí uma ótima estratégia para ganhar a cumplicidade da plateia. O que nem seria necessário, já que a interpretação do ator como Getúlio Batista, jovem e ambicioso publicitário de sucesso que quer da vida mais, sempre mais, é realmente bastante dinâmica e envolvente. Até mesmo nos poucos momentos em que o bom texto de Miguel Thiré se alonga um pouco além do necessário, Paulo não deixa o ritmo do espetáculo cair, mantendo a plateia ligada o tempo todo em cada gesto e inflexão, além de ser sempre muito claro e preciso ao delinear objetos, cenários e outros personagens. Ele é, de fato, o cara.

Vale a pena conferir o espetáculo, que fica até o dia 15 de julho no Centro Cultural Justiça Federal (Av. Rio Branco, 241), de sexta a domingo, às 19h.

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